Socialista Morena
Politik

A desenvoltura do PSDB no governo Temer. Ou: como chegar ao poder sem ganhar eleição

Num regime presidencialista democrático, só há uma maneira de se chegar ao poder: ganhando eleições. Devemos estar ficando loucos, então, porque o partido derrotado em 2014 está aboletado no governo federal como se tivesse recebido votos para tal. Com Michel Temer como aliado e fantoche, os tucanos voltaram a decidir os destinos da nação. Quem […]

Cynara Menezes
08 de julho de 2016, 11h10
serratabare

(FHC com o presidente do Uruguai, como se tivesse voltado a governar o Brasil, e Serra)

Num regime presidencialista democrático, só há uma maneira de se chegar ao poder: ganhando eleições. Devemos estar ficando loucos, então, porque o partido derrotado em 2014 está aboletado no governo federal como se tivesse recebido votos para tal. Com Michel Temer como aliado e fantoche, os tucanos voltaram a decidir os destinos da nação. Quem não votou no PSDB na última eleição presidencial, como eu e a maioria dos eleitores do país, tem toda a razão para acreditar que fomos passados para trás pelo partido de Aécio Neves.

Há outras duas possibilidades de se arrancar um presidente do cargo e passar a governar: o golpe e o impeachment. Como as justificativas para o impeachment, as famosas pedaladas, estão cada dia menos comprovadas e como muitos juristas defendem que as pedaladas não constituem “crime de responsabilidade”, condição sine qua non para o impeachment segundo a Constituição, resta-nos a opção do golpe. É tão claro que foi um golpe que não é, na realidade, o PMDB, vice de Dilma, quem fornece as diretrizes do governo, mas o PSDB, o partido derrotado nas urnas em 2014.

Comparemos com o que ocorreu no impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. Collor tinha derrotado Lula em 1989, mas, arrancado do poder, não foi Lula quem se tornou governante do país e sim o vice de Collor, Itamar Franco. O PT nunca participou da administração Itamar, pelo contrário: suspendeu Luiza Erundina por um ano do partido por ter aceitado participar do governo como ministra da Administração Federal.

Quem participou do governo de Itamar Franco foi, ora vejam só, o PSDB, que tinha ficado em quarto lugar na disputa em 1989, com Mário Covas como candidato. Vemos, portanto, que governar sem ser eleito é um clássico tucano. Com o detalhe de que Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda de Itamar, iria lhe usurpar o título de “pai do plano Real”. FHC, aliás, por pouco não participou do próprio governo Collor. Foi preciso Covas interceder para impedi-lo de se tornar ministro das Relações Exteriores da República das Alagoas.

A desenvoltura com que o PSDB circula no governo ilegítimo de Michel Temer é evidente e sem disfarce, desde o primeiro dia. O candidato derrotado Aécio Neves aderiu à primeira hora, e, sem mais delongas, posou alegremente para fotos ao lado de Temer na “posse”.

aeciotemer

Ao mesmo tempo, os tucanos foram se instalando no governo ilegítimo: Alexandre de Moraes, ex-secretário de Geraldo Aclkmin, na Justiça; José Serra nas Relações Exteriores; Bruno Araújo, ministro das Cidades; Aloysio Nunes Ferreira, líder do governo no Senado. Na embaixada brasileira em Washington, outro tucano estrategicamente colocado, o porta-voz da presidência durante o governo Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Amaral.

Esta semana, “entrou” no governo Temer quem faltava, a eterna eminência parda, a sombra por trás dos movimentos do tucanato: o ex-presidente FHC em pessoa. Na maior cara dura, sem nenhum cargo oficialmente no governo, FHC acompanhou Serra ao Uruguai para tentar convencer o presidente Tabaré Vázquez a se aliar ao Brasil e ao Paraguai para impedir a Venezuela de assumir a presidência do Mercosul. Pelo rodízio estabelecido, o país de Nicolás Maduro tem o direito de presidir o bloco neste segundo semestre.

Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, FHC viajou no avião da FAB (Força Aérea Brasileira), aquele mesmo negado à presidenta eleita Dilma Rousseff para viajar pelo país. O ex-mandatário chegou a se encontrar com Tabaré, como se tivesse voltado a governar o Brasil, mas o presidente uruguaio brecou a ilusão de Serra e seu “assessor” de impedir a Venezuela de presidir o Mercosul, dizendo que “é preciso respeitar as regras”. O prestígio de FHC, por sinal, anda em baixa no país vizinho: a revista “Caras e Caretas” o citou em título de sua edição online como um anônimo “ex-presidente”.

expresidente

Enquanto o “príncipe” voa pelo mundo às nossas custas sem ter sido eleito para isso, no Senado, outro tucano, o ex-governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, dá as cartas. Como presidente da comissão do impeachment, ele é o senhor do destino de Dilma. Está tudo dominado.

aecioanastasia2

(Foto: Lula Marques)

Aprendam com o PSDB: é assim que se chega ao poder, numa democracia, sem ganhar eleição. E ainda reclamam quando são chamados de golpistas.

 

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
Nenhum comentário Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

Ministro da Cultura sugere a Dilma que monte tribunal internacional contra o golpe


Por Manuca Ferreira, especial para o blog O ministro da Cultura, Juca Ferreira, afirmou na quarta-feira 20, em uma roda de conversa sobre Cultura, Comunicação e Conjuntura Política, no Museu de Arte da Bahia, em…

Politik

Câmara rejeita investigação contra Temer; panelas continuam mudas


Praticamente as mesmas caras-de-pau que apareceram gritando "Sim! Sim! Sim!" para aceitar a abertura de investigação contra Dilma em nome da "luta contra a corrupção", voltaram a repetir "Sim!" para livrar a cara de Temer