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A direita usa o PT para tentar esmagar a esquerda (com uma mãozinha da “Justiça”)

Ora, ora, ora. E não é que a proverbial ruindade da Justiça brasileira subitamente acabou? Mas apenas quando se trata do PT, claro. Para os demais brasileiros, a Justiça continua morosa, falha e injusta (sobretudo para os mais pobres) ou inexistente (para os ricos). Subvertendo o mito grego, a “Justiça” brasileira não é cega, é […]

São Paulo - Polícia Federal faz buscas na sede do PT em São Paulo (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Cynara Menezes
23 de junho de 2016, 15h28

(Polícia Federal invade sede nacional do PT. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Ora, ora, ora. E não é que a proverbial ruindade da Justiça brasileira subitamente acabou? Mas apenas quando se trata do PT, claro. Para os demais brasileiros, a Justiça continua morosa, falha e injusta (sobretudo para os mais pobres) ou inexistente (para os ricos). Subvertendo o mito grego, a “Justiça” brasileira não é cega, é caolha: só enxerga petistas.

Com a invasão da sede do PT pela Polícia Federal dentro da Operação Custo Brasil, a “luta contra a corrupção”, eufemismo para a perseguição pura e simples a membros do Partido dos Trabalhadores, atinge um novo estágio, aterradoramente similar ao que vivemos durante a ditadura militar: a sede de um partido político foi devassada por policiais, não por coincidência vestidos com uniformes camuflados, como se fossem do Exército. Para completar o clima de revival, só faltaram os tanques.

Não acontecia algo assim desde a volta da democracia, em 1985. E inocente (ou cúmplice) é quem acredita que acontecerá novamente com algum dos demais partidos e seus membros citados nas delações que vieram à tona nas últimas semanas. Sabem por quê? Porque isso não é nem nunca foi uma batalha contra a corrupção; é uma tentativa da direita, usando os erros cometidos pelo PT, de esmagar a esquerda, de tentar colar nela a pecha de “corrupta” enquanto permite que os grandes ladrões da nação continuem roubando, como fazem há 500 anos.

Se há uma coisa que a operação Lava-Jato deixou clara é a maneira como funcionam as campanhas eleitorais no país. As empreiteiras dão dinheiro aos partidos para fazer sua pirotecnia eleitoreira; em troca, o eleito dará as maiores obras do governo para as empreiteiras. Absolutamente todos os partidos (à exceção, talvez, do PSOL) fizeram campanhas sob essa lógica imoral e criminosa, porém tolerada ao longo dos anos pela mídia (que sempre soube disso) e pelo próprio Judiciário –até que, burramente, o PT se beneficiou dela.

Deixando os flancos abertos, o PT se tornou alvo fácil para uma Justiça aparelhada pela direita, que tem a faca e o queijo na mão para utilizar a eventual prisão de petistas como instrumento de destruição da esquerda. (Uma ilusão, porque é no confronto que a esquerda cresce, além de ser uma tendência em ascensão até mesmo nos EUA, “pátria do capitalismo”, principalmente entre os jovens. Uma pesquisa divulgada em abril pela Universidade de Harvard mostra que a rejeição ao capitalismo nunca foi tão alta: 51% dos cidadãos entre 18 e 29 anos são contrários ao sistema, e nada menos que 33% apoiam o socialismo.)

Como pessoa honesta e de esquerda, me indigna assistir à Justiça se prestar ao papel totalitário de perseguir um partido e uma ideologia, que queira nos transformar em párias diante da sociedade. Tenho minhas críticas ao PT, mas não aceito que o partido se torne o bode expiatório da forma como a política é feita no Brasil. A Justiça que vale para o PT deveria valer para todos os partidos envolvidos na bandalheira que são as campanhas eleitorais e que nenhum dos partidos de direita pretende mudar. A esquerda, sim.

Mas, ainda que a esquerda desaparecesse, o que deveria incomodar os chamados “cidadãos de bem” do país é ter a certeza, em momentos como este, de que enquanto o PT paga o pato, a direita corrupta que hoje engana os tolos fingindo ser honesta continuará impune. O que não chega a surpreender, sendo a impunidade um clássico da “Justiça” brasileira.

 

 


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