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Adeus, cubanos: governo da ilha retira médicos após insultos de Bolsonaro

Durante a campanha, presidente eleito ameaçou "expulsar" os cubanos e pôs em dúvida a formação dos médicos cubanos, reconhecida pela ONU

O médico Ángel Batalla Domínguez examina criança na ilha do Marajó. Foto: Gisele Netto/OPAS
Da Redação
14 de novembro de 2018, 15h28

O ministério da Saúde de Cuba publicou nesta quarta-feira um comunicado avisando que vai retirar do Brasil até dezembro os 8,5 mil médicos que participam atualmente do programa Mais Médicos. Quem mais irá perder com a decisão são as populações dos municípios mais isolados do país, os moradores das periferias das grandes cidades e as aldeias indígenas, locais onde os médicos brasileiros se recusam a trabalhar. Graças ao programa, iniciado em 2013, mais de 700 municípios tiveram um médico pela primeira vez. A razão apresentada para o fim do convênio foram os insultos do presidente eleito Jair Bolsonaro aos profissionais de saúde do país, situados entre os melhores do mundo pela ONU.

Durante a campanha, Bolsonaro, que teve o apoio das mesmas entidades corporativas de médicos que se opuseram ao programa do governo Dilma Rousseff, chegou a declarar que iria utilizar o exame Revalida, que avalia médicos formados em universidades estrangeiras, para “expulsar” os cubanos do Brasil. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal julgou o programa constitucional e autorizou a dispensa de validação do diploma.

Bolsonaro, que teve o apoio das mesmas entidades corporativas de médicos que se opuseram ao programa do governo Dilma, chegou a declarar que iria utilizar o exame Revalida para “expulsar” os cubanos do Brasil

Bolsonaro também colocou em dúvida o preparo dos profissionais. “Nós não podemos botar gente de Cuba aqui sem o mínimo de comprovação de que eles realmente saibam o exercício da profissão. Você não pode, só porque o pobre que é atendido por eles, botar pessoas que talvez não tenham qualificação para tal”, disse. Uma pesquisa feita pela UFMG mostrou que, pelo contrário, dois anos depois de iniciado o programa, a maioria dos pacientes preferia ser atendidos por cubanos, que oferecem um atendimento “mais próximo” e “mais atencioso”. Os médicos do programa receberam nota 9 em média.

No comunicado sobre a ruptura, o ministério da Saúde de Cuba não poupa críticas ao político de extrema-direita. “O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, fazendo referências diretas, depreciativas e ameaçadoras à presença de nossos médicos, declarou e reiterou que modificará termos e condições do Programa Mais Médicos, com desrespeito à Organização Panamericana da Saúde e ao conveniado por ela com Cuba, ao pôr em dúvida a preparação de nossos médicos e condicionar sua permanência no programa a revalidação do título e como única via a contratação individual”, diz o texto.

“As mudanças anunciadas impõem condições inaceitáveis que não cumprem com as garantias acordadas desde o início do Programa, as quais foram ratificadas no ano 2016 com a renegociação do Termo de Cooperação entre a Organização Panamericana da Saúde e o Ministério da Saúde da República de Cuba. Estas condições inadmissíveis fazem com que seja impossível manter a presença de profissionais cubanos no Programa. Por conseguinte, diante desta lamentável realidade, o Ministério da Saúde Pública de Cuba decidiu interromper sua participação no Programa Mais Médicos.”

Para o ministério da Saúde de Cuba, é inaceitável que “se ponham em dúvida a dignidade, o profissionalismo, e o altruísmo dos colaboradores cubanos que, com o apoio de seus familiares, prestam serviço atualmente em 67 países”. De acordo com o órgão, em 55 anos já foram cumpridas 600 mil missões internacionalistas em 164 nações, nas quais participaram mais de 400 mil trabalhadores da saúde, “que em não poucos casos cumpriram esta honrosa missão mais de uma vez”.

O ministério da saúde de Cuba disse ser inaceitável que “se ponham em dúvida a dignidade, o profissionalismo, e o altruísmo dos colaboradores cubanos que, com o apoio de seus familiares, prestam serviço atualmente em 67 países”

“Destacam as façanhas de luta contra o ébola na África, a cegueira na América Latina e o Caribe, a cólera no Haiti e a participação de 26 brigadas do Contingente Internacional de Médicos Especializados em Desastres e Grandes Epidemias “Henry Reeve” no Paquistão, Indonésia, México, Equador, Peru, Chile e Venezuela, entre outros países.
Na grande maioria das missões cumpridas, as despesas foram assumidas pelo governo cubano. Igualmente, em Cuba formaram-se de maneira gratuita 35 mil 613 profissionais da saúde de 138 países, como expressão de nossa vocação solidária e internacionalista.”

Para Cuba, “o povo brasileiro, que fez com que o Programa Mais Médicos fosse uma conquista social, que desde o primeiro momento confiou nos médicos cubanos, aprecia suas virtudes e agradece o respeito, a sensibilidade e o profissionalismo com que foram atendidos, poderá compreender sobre quem cai a responsabilidade de que nossos médicos não possam continuar oferecendo sua ajuda solidária nesse país”.

Pelo twitter, Bolsonaro culpou Cuba por “não aceitar” as condições propostas para a continuidade do convênio.

Leia a íntegra do comunicado aqui.

 


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ari em 15/11/2018 - 20h06 comentou:

Morando na área rural do sertão norte baiano, sou testemunha do trabalho fantástico desenvolvido por esses profissionais, para quem medicina vai além do mero conhecimento de doenças e medicamentos. Os médicos brasileiros deveriam estagiar nas universidades cubanas para aprender, entre outras coisas, que paciente não é sinônimo de cliente. Ao mesmo tempo, não posso deixar de louvar a atitude de Cuba, esse minúsculo país que, ao longo de sua história, mostrou-se um gigante, inclusive por peitar os poderosos americanos.

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Marcos Jr em 17/11/2018 - 21h00 comentou:

Parabéns pelos apontamentos, e a matéria ficou muito clara e objetiva.

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Sergio em 20/11/2018 - 10h22 comentou:

Escrevi um comentário aqui ontem, sobre o posicionamento que o governo cubano deveria ter para destruir a narrativa do presidente brasileiro eleito. Repito em linhas gerais. Se fosse o governo cubano diria que “nossos médicos possuem uma formação de excelência, e farão a prova do revalida, e terão um excelente desempenho. Como democratas que somos, permitiremos que eles recebam integralmente seus vencimentos, cabendo livremente e conscientemente, destinar partes de suas receitas para a formação dos futuros médicos que estudam em Cuba. E por último, permitiremos que familiares dos médicos possam visitar ou morar com esses profissionais nos países em que atuam”.

Queria ver alguém levantar o contraditório?!

Hoje lemos uma matéria no portal UOL que mostra que brasileiros e cubanos têm desempenhos semelhantes no REVALIDA:

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/11/medicos-de-cuba-e-brasil-tem-desempenho-similar-em-prova-exigida-por-bolsonaro.shtml

É só fazer a prova! Conseguirão um bom desempenho!

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Ricardo em 23/11/2018 - 02h01 comentou:

Sérgio, é uma questão de dignidade cara. Esse nazista acha que pode sair falando qualquer absurdo e que os outros países vão abaixar a cabeça, como ele mesmo faz para os EUA. Ele questionou a integridade e motivação dos médicos cubanos e faltou com o respeito ao país deles. O mínimo a fazer é retirar mesmo todos os médicos. Cuba fez muito bem, estão de parabéns, não são subservientes como nós, que aceitamos um troglodita no poder.
Cuba tem um trabalho incrível em dezenas de países e a formação lá é gratuita. O seu nazista quis tripudiar e quem vai pagar são os 30 milhões de pacientes que ficarão sem atendimento. Está feliz agora?

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José DeSouza em 26/11/2018 - 16h08 comentou:

A troco de absolutamente nada. Espero que os valorosos médicos cubanos nos perdoem algum dia por esta demonstração de ingratidão e de profunda estupidez por parte de nosso governo recém-eleito.

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