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Cultura

Alvim propôs companhia de teatro ao governo antes de se dizer “perseguido pela esquerda”

Diretor de teatro montou farsa para justificar adesão à agenda da extrema-direita e a criação de uma companhia com dinheiro público

Teófilo, à esquerda, o secretário no centro e Alvim à direita. Foto: Ronaldo Caldas/Ministério da Cidadania
Cynara Menezes
18 de junho de 2019, 18h14

Antes de dar entrevista à Gazeta do Povo afirmando que iria fechar sua companhia, o Club Noir, por causa do “boicote” e “perseguição” de autores e artistas de esquerda, o diretor de teatro de extrema direita Roberto Alvim esteve com integrantes do governo em Brasília para propor a criação de uma companhia nacional-bolsonarista. A entrevista saiu no jornal reacionário do Paraná em 11 de junho; em 30 de maio, 12 dias antes, Alvim esteve com o secretário nacional de Cultura, Henrique Medeiros Pires, como consta da agenda oficial, acompanhado do diretor da cinebiografia de Olavo de Carvalho, Josias Teófilo.

Veja o print da agenda:

No dia da reunião, a assessoria de imprensa da pasta publicou reportagem dizendo que ele e o secretário “conversaram sobre a criação de uma companhia teatral especializada em obras clássicas do teatro brasileiro”. “Outro tema da reunião foi a Escola Brasileira de Artistas, que terá como objetivo a formação de novos artistas, com cursos permanentes de história do teatro, dramaturgia, direção e atuação. As aulas serão posteriormente disponibilizadas on-line”, diz o texto.

No facebook, Alvim chegou a atribuir “a um milagre” a ligação telefônica que recebeu de Jair Bolsonaro “durante a missa”, como se nunca tivesse procurado o governo

A matéria cita inclusive que a primeira obra a ser montada seria Dois Demônios, de Vladimir Safatle, contrariando o que disse Alvim na entrevista, onde o filósofo é apontado como seu “ex-melhor amigo”. Trata-se, portanto, de uma farsa montada pelo diretor para tentar justificar sua adesão à agenda da direita extremista e a criação de uma companhia de teatro ideológica pró-bolsonarismo bancada com dinheiro público. Alvim chegou a divulgar no facebook uma mensagem onde atribui a um “milagre” a ligação telefônica que recebeu, “durante a missa”, de Jair Bolsonaro, como se nunca tivesse procurado o governo.

Dois dias depois, Alvim publicou na rede social que tinha conversado com o secretário de cultura, como se fosse pela primeira vez.

E nesta segunda-feira, o diretor de teatro oficial do regime se encontrou com Bolsonaro em pessoa, exclamando “Deus vult” ou “Deus quer isso” para dar continuidade à sua narrativa aloprada de atribuir a um “milagre” o encontro que ele mesmo planejou.

O “fechamento” do teatro por “perseguição da esquerda” foi parte da farsa, pois Alvim já previa se mudar para Brasília para tocar a companhia reaça na capital federal e não faria sentido manter o teatro em São Paulo. A primeira peça do grupo deve acontecer entre janeiro e fevereiro de 2020. Nesta terça-feira, a mulher do diretor, a atriz Juliana Galdino, publicou no instagram a abertura de inscrições para artistas e técnicos. Após ser criticada por colegas, ela fechou a conta.

A própria “falência” da companhia do diretor, a Club Noir, tem mais a ver com sua incompetência e falta de talento para gerir o espaço do que com questões ideológicas. Tanto é que, em 2015, antes de ter o “tumor no intestino” que teria lhe causado a “epifania” que o levou à conversão religiosa e à adoração por Olavo de Carvalho, já pedia dinheiro ao público em “vaquinhas” para manter o teatro. Na época, eles estavam com o aluguel atrasado havia quatro meses, mas não fizeram nenhuma menção a “perseguição político-ideológica”.

Em 2015, antes de ter o “tumor no intestino” que o levou à conversão religiosa e à adoração por Olavo de Carvalho, Alvim já pedia dinheiro em “vaquinhas” para pagar o aluguel atrasado do teatro, sem fazer nenhuma menção a “perseguição político-ideológica”

“Os diretores de teatro Roberto Alvim e Juliana Galdino conseguiram os fundos para manter aberta sua companhia de teatro Club Noir através de uma campanha numa plataforma nacional similar ao Kickstarter, o Catarse. O projeto acabou angariando pouco mais de 52 mil reais, o que, a priori, garante apenas a manutenção do espaço e as três estreias, mas já caracteriza a empreitada como bem-sucedida. ‘Estamos esperando receber esse dinheiro. Assim que ele chegar, conseguiremos pagar quatro meses de aluguel atrasado e dar continuidade às nossas atividades pelo menos até o fim desse ano’”, disse Alvim então.

O sonho de Roberto Alvim é se tornar o Nelson Rodrigues do bolsonarismo. Só lhe falta o talento.

UPDATE: O diretor acaba de ser nomeado diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte. Ganhou a teta com dinheiro público que tanto queria desde o princípio. Quem precisa de Lei Rouanet, não é mesmo?

UPDATE2: O cara que levou Alvim a Brasília recebeu a autorização da Ancine para captar 530 mil reais para um filme sobre Bolsonaro. Aqui se faz aqui se paga!

 


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(2) comentários Escrever comentário

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edna freitas em 19/06/2019 - 23h24 comentou:

de boas… será que não está na hora da ARTE, SER ARTE, ATOR/ATRIZ.. SEREM GRANDES PESSOAS A DEIXAR UM LEGADO??… teatro sempre foi referência… hoje é bandeira!, nada contra apoiar, mas hoje os “atores”, tem bandeiras, que você pensar (telespectador), pra que essa pessoa está falando estas coisas???… sejam os melhores, como artistas… isso cansa

Responder

Deus Carmo em 20/06/2019 - 09h23 comentou:

Assim fica fácil fazer teatro, estes cara tem de ser desmascarados e boicotados.
Por isto que deixei o teatro, para me dedicar só à literatura. Estou publicando no meu blogue Noite-em-paris o romance Noite em Paris onde não preciso de ninguém e posso ter total independência.

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