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Mídia

Antes nós não podíamos falar em “golpe”; agora até Temer chama assim

No Roda-Viva, o vice de Dilma usa a palavra que a esquerda sempre usou e a mídia sempre recusou: foi golpe, sim

Temer no Roda-Viva. Foto: divulgação
Cynara Menezes
17 de setembro de 2019, 10h07

Antes, durante e depois da deposição da presidenta Dilma Rousseff, os petistas e boa parte da esquerda chamavam o processo de impeachment sem crime de responsabilidade, de “golpe”.

Fomos criticados pela imprensa comercial, insufladora e parceira do golpe capitaneado por Eduardo Cunha, hoje preso, contra uma presidenta honesta e legitimamente eleita, por usar a palavra correta para definir o que aconteceu: um GOLPE parlamentar e judicial.

Até o golpista-mor, Michel Temer, utiliza a palavra “golpe” para nomear o que de fato aconteceu –golpe que, de forma cínica, diz não ter “jamais” apoiado. Vai haver mea culpa da mídia? Um “erramos” coletivo?

Era preciso evitar a palavra “golpe” como se fosse um Voldemort, “aquele-que-não-se-nomeia”, sob a pena de não obter espaço na mídia ou futuro na política. Para não melindrar a imprensa e possíveis eleitores, o petista Fernando Haddad chegou a dizer que “golpe” era “uma palavra um pouco dura”. Dias depois, recuou e disse que ter havido um “golpe brando”. A derrota de candidatos esquerdistas nas eleições para prefeito (inclusive Haddad), em 2016, foi atribuída ao uso do “discurso falacioso do golpe”, como repetiam dez entre dez analistas políticos.

Publicações estrangeiras deram pitaco, como a The Economist, que cravou em setembro de 2016 que “não foi golpe”. Já o El Pais desferiu um tapa na cara nos jornais brasileiros ao sustentar que não só houve um golpe como ele seria fatal para o futuro da democracia. “A destituição de Dilma Rousseff implica um dano imenso às instituições brasileiras”, disse, em editorial. O El Pais avisou.

Era preciso evitar a palavra “golpe” como se fosse um Voldemort, “aquele-que-não-se-nomeia”, para conseguir espaço na mídia. A derrota de esquerdistas nas eleições de 2016 foi atribuída ao “discurso falacioso do golpe”, repetiam os analistas

A ministra Rosa Weber, do STF, chegou a dar “prazo de 10 dias” para a presidenta, já afastada do cargo, se explicar sobre o uso do termo “golpe”, a pedido do PSDB, DEM, SD, PP e PPS. Dilma havia declarado em entrevistas estar sendo vítima de um “golpe de Estado”. A interpelação ganhou farto espaço no Jornal Nacional da Rede Globo em maio de 2016.

https://twitter.com/rodaviva/status/1173766185399271425

No twitter, Dilma sambou na cara do vice traidor: “sincericídio”.

A narrativa que precisa passar à história é esta: em 2015, logo após a posse, se iniciou uma conspiração contra uma presidenta legitimamente eleita com a participação da mídia, do candidato derrotado, Aécio Neves, e de seu vice, Temer. Sem que tenha cometido crime de responsabilidade, como prevê a Constituição, Dilma foi submetida a um processo de impeachment com a participação do judiciário, que grampeou seus telefonemas e criou uma farsa sobre Lula que reforçou a animosidade popular contra a presidenta. Sabotaram a economia e impediram Dilma de governar até arrancarem-na do poder.

Foi golpe, sim.

 


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(4) comentários Escrever comentário

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Rivellino Batista em 17/09/2019 - 18h19 comentou:

Moro: culto e leitor de bons livros. Exemplar. Sr. Moro é daqueles poucos funcionários de caráter ilibado e trabalhador robusto. Moro é inteligente e corajoso. PT é canalha. Vigarista. e dilma uma inacapaz. Já os filhos de BOLSONARO comparados com o Sr. MORO são como um mingualzinho aguado. Pobrezinhos. Moro: gigante herói. Brasileiro honrado.

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Omar em 20/09/2019 - 11h37 comentou:

Rivelino, está falando sério, ou está sendo sarcástico?

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Helio em 22/09/2019 - 00h00 comentou:

Esse Rivellino deve ser um terraplanista a procura da tão procurada muralha de gelo, onde pretende saltar para o abismo eterno. Outra hipótese é de que sua “conge” o colocou para dormir no corredor do condomínio. Entrou em parafuso.

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Joselito em 24/09/2019 - 22h39 comentou:

Quando vejo as palavras “Moro” e “Leitor” na mesma frase lembro de imediato da entrevista pro Bial em que o Moro ficou vinte minutos pensando pra responder o que ele lê e mais vinte pra citar o último livro que leu… E olha que o programa nem é ao vivo, no estúdio deve ter levado mais tempo que o Peter Jackson pra gravar a trilogia de o Senhor dos Anéis…

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