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As duas vidas de Aécio: a que poderia ter sido e a que ele escolheu

O que teria acontecido com o neto de Tancredo se ele tivesse simplesmente aceitado o resultado da eleição em que foi derrotado?

Foto: Lula Marques/Agência PT
Cynara Menezes
05 de junho de 2018, 20h44

O que poderia ter acontecido:

26 de outubro de 2014. Derrotado na eleição por uma margem estreita de votos, o senador Aécio Neves saúda a presidenta reeleita Dilma Rousseff e anuncia que irá tirar alguns meses de férias com a família. Afinal, tem um casal de filhos gêmeos nascidos durante a campanha.

“Vou aproveitar para tirar um tempinho para mim, para a Letícia e pros meus bebês. Família em primeiro lugar”, diz Aécio, sorridente, ao embarcar para uma temporada de férias em Cancún, seguida de uma temporada de estudos na Califórnia. Durante a estadia nos EUA, Aécio é flagrado em cenas cotidianas, comprando fraldas no supermercado, andando de bicicleta e a pé, e concede inúmeras entrevistas aos jornais brasileiros, sedentos por estampá-lo em suas páginas, e também à imprensa estrangeira.

Em janeiro de 2015, mais magro e com aspecto saudável, Aécio volta à cena política como o grande líder da oposição. De forma republicana, rejeita as investidas de Eduardo Cunha para ajudá-lo a derrubar a presidenta eleita. “Tenho DNA de democrata, que herdei do meu avô Tancredo. Quero a vitória, mas quero nas urnas. Não me unirei a corruptos”, afirma o senador, repelindo também os chamados do vice de Dilma, Michel Temer, à conspiração.

Aécio volta à cena política como o grande líder da oposição. Rejeita as investidas de Eduardo Cunha para derrubar a presidenta eleita. “Tenho DNA de democrata, que herdei do meu avô Tancredo. Quero a vitória, mas nas urnas”

Na liderança da oposição, Aécio torna a vida de Dilma difícil, barrando todas as iniciativas do governo. Monta um governo paralelo onde analisa e rebate imediatamente cada medida anunciada pelo Planalto. Pede uma CPI sobre a política de preços da Petrobras, se junta aos caminhoneiros e faz brilhantes discursos semanais da tribuna do Senado contra a presidenta. O objetivo é transmitir aos cidadãos a eficiência de seu projeto diante do petista, que classifica como “antiquado”, “ultrapassado”.

Em viagem pelo exterior, se apresenta como o “novo”, ao lado de outros próceres liberais no mundo. Na Argentina, posa ao lado do presidente Macri. Na França, com Macron. No Uruguai, se encontra com Lacalle Pou, também derrotado, para um chimarrão. Fica íntimo do líder venezuelano Henrique Capriles. A imprensa os saúda como os “garotos de ouro” da nova direita.

Milhões de brasileiros identificados com o liberalismo enxergam no mineiro o seu modelo: dinâmico, audacioso, playboy. Embora nunca tenha dado duro na vida e deva a carreira ao sobrenome do avô, Aécio encanta os pobres de direita com seu discurso sobre meritocracia. Atlético, bronzeado, é constantemente fotografado nas praias do Rio de Janeiro nos dias de folga, sempre ao lado da família e de jogadores de futebol. Cada vez mais celebridades da música, da TV e do esporte viram “aecistas”. A atriz Luana Piovani lança uma coleção de camisetas infantis com a frase: “Não tenho culpa, mamãe votou no Aécio”.

Com o governo Dilma ainda mal avaliado pelos eleitores, Aécio Neves chega a outubro de 2018 em sua melhor forma e é um dos candidatos favoritos à sucessão, empatado tecnicamente com Lula nas pesquisas

O candidato derrotado à presidência se torna colunista de todos os jornais do país, de O Globo ao Diário do Amapá. Durante os quatro anos posteriores à eleição, o tucano soma mais de 50 horas de notícias positivas no Jornal Nacional, superando inclusive as notícias negativas dedicadas ao ex-presidente Lula. Aécio é convidado a opinar sobre política, economia e até sobre amenidades, como as últimas tendências da noite carioca. “Acho a batida do funk um barato, só não sei rebolar”, declara, gargalhando, ao lado da cantora Anitta.

Com o governo Dilma ainda mal avaliado pelos eleitores, Aécio Neves chega a outubro de 2018 em sua melhor forma e é um dos candidatos favoritos à sucessão presidencial, empatado tecnicamente com Lula nas pesquisas.

O que de fato aconteceu:

Inconformado com a derrota, Aécio pede a recontagem dos votos apenas quatro dias após o segundo turno, o que não dá em nada. Alia-se a Eduardo Cunha, a Temer e à Rede Globo para derrubar Dilma, e consegue. Em vez de honrar o mandato de senador como um político sério, dedica-se a pedir dinheiro ao empresário Joesley Batista, que chega a falar pelo amor de Deus para ele parar. Gravações com os pedidos vêm à tona, Aécio cai em desgraça e é limado da disputa à presidência. Aecistas de primeira hora começam a pregar que querem vê-lo preso. Como um fantasma em vida, o neto de Tancredo raramente aparece em Brasília. Às vésperas da eleição de 2018, não sabe nem se vai conseguir continuar no Senado, ameaçado de perder a vaga para… Dilma Rousseff.

FIM

 


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(15) comentários Escrever comentário

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Ita em 05/06/2018 - 21h19 comentou:

Em alguns momentos lembrei do Collor…

Responder

Vera Lúcia Diniz em 05/06/2018 - 22h30 comentou:

Nossa! Quase que acreditei na primeira parte do texto, “de forma republicana” talvez o avô dele fosse esse personagem. Perdeu uma grande chance de fazer história. Ele é muito pobre de espírito, acho que nunca trabalhou na vida, ganhou tudo pronto e fácil, por isso não aguentou a derrota, principalmente para o PT, e mais, para uma mulher. Na verdade, ele nunca deixou de ser um playboy, por isso, jamais será um democrata. Ele é uma fraude, um nada.

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Jorge em 06/06/2018 - 06h21 comentou:

Acontece que nem honrou a própria palavra. Juntou-se a banda podre, em nome da ambição a todo custo. Esse já era.

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Paulo de Tarso Alves em 06/06/2018 - 13h23 comentou:

Brilhante o artigo, irretocável, parabéns.

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arthur em 06/06/2018 - 13h43 comentou:

o grito que eu dei kkkkkkkkkkk

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Marcos Neves em 06/06/2018 - 19h28 comentou:

Muito bom!!! Ótimo texto.

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ANTONIO CARVALHO em 06/06/2018 - 20h59 comentou:

Ainda bem que ele escolheu o pior caminho. Um caminho sem volta. Porque seu governo seria uma tragédia para a nação e para todos nós…

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Áureo Inácio Esteves de amorim em 07/06/2018 - 00h21 comentou:

O Aécio não se juntou a banda podre , ele é a própria banda podre
Um bandido dá pior espécie
Quebrou Minas
O nióbio q só tem em minas ele deu a troco de banana para os países ricos
O Canadá q só tem 2% do nióbio do mundo sustenta a saúde e a educação só com os recursos do nióbio
O playboy carioca q sempre iludiu os mineiros queria quebrar tbm o nosso BRASIL

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Rodrigo Pacheco em 07/06/2018 - 06h59 comentou:

Alguém postou que ele se juntou à banda podre da política, mas para mim ele é que sempre foi a banda podre.
Está crítica que vc fez ao Aécio eu comentei algo parecido sobre a ex candidata da Rede… Se ela, no momento em que não conseguiu legitimar o partido, saísse a público dizendo que não concorreria a eleição, não apoiaria ninguém, que ia fazer oposição responsável e lutar por um projeto de governo que ela disse que tem, talvez hoje ela fosse favorita, mas ela, assim como outros, também virou piada.

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Luiz Antônio em 07/06/2018 - 08h55 comentou:

Só sei que os feitiços estão voltando contra os feiticeiros!

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Omar Dario em 07/06/2018 - 13h01 comentou:

Brilhante obra de ficção, que sem dúvida seria realidade, caso Aécio e a nossa direita golpista tivessem um pingo de HONRA, e respeito pelas regras do jogo.
Mas a síndrome de abstinência após 13 anos de governos petistas tinha que falar mais alto não é mesmo?

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Rodrigo em 08/06/2018 - 16h15 comentou:

Gzuis Áureo Inácio Esteves de amorim, eu moro no Canadá, para de falar bobagem… Primeiro que saúde e educação são assuntos provincianos e não federais, segundo que nosso imposto de renda de 42% que sustenta isso (e nós pagamos com gosto).

Responder

Anagrama Blue em 09/06/2018 - 11h36 comentou:

Anagrama:

ASU (ae-s-iu) (Aeciu)
=
USA (iu-s-ei)

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mario em 09/06/2018 - 15h06 comentou:

Oi Cynara

A sua ficção ficou bem boa , só que deu uma carregada nas tintas…Aécio Neves nunca esteve com essa bola toda.Parabéns pelo site.

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EUGÊNIO em 10/06/2018 - 18h08 comentou:

Texto porreta, porretíssimo.

Dá um curta didatíssimo. Sobre a natureza humana, até.

Só que penso que a tal da vida, ” a que poderia ter sido e a que ele mesmo escolheu”,
não existe, as máfias são donas das almas golpistas,

ele pecou por não vencer a eleição COM TUDO a favor.

A ordem: “agora tira aquela vagabunda de lá, seu merda!”

Tirou.

E morreu.

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