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Até o Paim explodiu

Por Katia Guimarães* Sempre calmo e gentil, o senador gaúcho Paulo Paim foi contaminado pelo clima à flor da pele da política brasileira. Nunca se viu Paim assim. Veemente, indignado, emocionado; já foi até às lágrimas. Indignado com a “reforma” trabalhista de Temer, que retira inúmeros direitos dos trabalhadores, o petista tem sido protagonista não […]

(O senador Paulo Paim, de costas, com o dedo na cara de Romero Jucá. Foto: Pedro França/Agência Senado)
Cynara Menezes
08 de junho de 2017, 19h25
(O senador Paulo Paim, de costas, com o dedo na cara de Romero Jucá. Foto: Pedro França/Agência Senado)

(O senador Paulo Paim, de costas, com o dedo na cara de Romero Jucá. Foto: Alessandro Dantas/PT no Senado)

Por Katia Guimarães*

Sempre calmo e gentil, o senador gaúcho Paulo Paim foi contaminado pelo clima à flor da pele da política brasileira. Nunca se viu Paim assim. Veemente, indignado, emocionado; já foi até às lágrimas. Indignado com a “reforma” trabalhista de Temer, que retira inúmeros direitos dos trabalhadores, o petista tem sido protagonista não se conteve com a pressa e o desrespeito ao regimento pelos governistas. A revolta dele é com o que chama de “falta de sensibilidade” de seus pares na Casa, que vêm cumprindo à risca as ordens do Palácio do Planalto de andar com as reformas e medidas neoliberais, enquanto um presidente da República investigado e sob julgamento se ocupa de sua defesa.

Na noite de quarta-feira, 7 de junho, Paulo Paim subiu à tribuna para denunciar outra tentativa de manobra para apressar a votação e chamou de “molecagem” a atitude dos governistas. Nesta quinta-feira, seria o responsável pela vitória da oposição durante mais um embate, desta vez na sessão da Comissão de Assuntos Sociais (CAS). A intenção do governo era ler o relatório, que havia sido pautado, sem, entretanto, respeitar o prazo regimental de 48 horas e em um dia que a comissão nunca se reúne. Como a reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) foi encerrada, na terça-feira (6), depois das 19 horas, a reunião da CAS para apresentação do novo relatório favorável teria de ser depois desse horário, em respeito ao Regimento Interno do Senado. O governo foi obrigado a recuar e a leitura será na próxima terça-feira, 13 de junho.

O cordato Paim perdeu a paciência, colocou o dedo na cara do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) e chegou a gritar com sua ex-colega de PT Marta Suplicy para que respeitasse o regimento. Pouco depois, em conversa com os jornalistas, relatou ter se desculpado com Marta e chorou.

(Foto: Alessandro Dantas)

(Foto: Alessandro Dantas)

“Isso que estão votando aqui envolve a vida de milhões de trabalhadores. Eu sempre estive dentro das fábricas e estou aqui porque o destino quis. Como eu disse, aqui tem que prevalecer o bom senso, ninguém é melhor do que ninguém, mas alguns defendem com alma, com coração e às vezes com a própria vida”, disse. O senador de 66 anos tem origem sindical, e é metalúrgico formado no Senai, exatamente como Lula. É filiado ao PT desde 1985.

Na véspera, Paim acusara o golpe da base aliada em fazer uma urgência disfarçada para acelerar o andamento da reforma trabalhista. Indignado, o senador disse que o governo quer aprovar o texto no grito. “Espero que não queiram fazer mais essa sacanagem, porque é sacanagem, é maldade, é molecagem. Nós só queremos que cumpram o mínimo do regimento. No Senado não tem moleque. O confronto em querer ganhar no grito não interessa a ninguém”, reagiu. Segundo Paulo Paim, a aprovação apertada na CAE ocorrida nessa semana comprovou que o projeto é ruim, perverso, desumano e rasga conquistas asseguradas aos trabalhadores na Era Vargas e pela Constituição de 88.

O senador petista demonstrou revolta e condenou a justificativa do governo de que é preciso aprovar a reformas para dar um sinal positivo ao mercado financeiro e mostrar que o Congresso Nacional continua trabalhando apesar de Michel Temer estar na berlinda. “Não está tudo bem. Está tudo bem? Tudo bem porcaria nenhuma. Está tudo mal!”, desabafou. Para ele, o Senado está dando uma de avestruz que enfia a cabeça na areia para não ver a tempestade passar. “Eu não sei se choro ou se me sento ali naquela cadeira esperando as horas passarem”, confessou.

Há duas semanas, Paim também esteve no embate ocorrido na reunião da CAE durante as discussões da reforma, quando oposição se rebelou contra outro atropelo regimental. Naquele dia, cobrou o relator da reforma trabalhista, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), por não cumprir o acordo. “Eu confiei plenamente no relator. Vocês acham que num país sério, com o governo despencando… Digamos que fosse época do impeachment da Dilma, e a Dilma inventasse de mandar uma reforma profunda como esta, o que aconteceria? Este Senado não votaria, não deixaria nem tramitar”, disse. Numa sessão marcada por agressões verbais e empurrões, o senador petista saiu em defesa de seu colega Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que foi atacado pelo senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Ataídes ainda tentou agredir Paim, que foi empurrado.

Nascido em Caxias do Sul, numa família de nove irmãos, Paim começou a trabalhar aos oito anos de idade, amassando barro em uma fábrica de vasos, foi vendedor de quadros e marceneiro antes de trabalhar como metalúrgico profissional. Foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, da Central Estadual de Trabalhadores e Secretário Geral e vice-Presidente da CUT Nacional. Eleito por quatro mandatos como deputado federal, o senador participou da Assembleia Nacional Constituinte. Conhecedor do chão de fábrica, Paim deu uma aula aos senadores brancos e bem nascidos, que nunca precisaram bater cartão e são favoráveis à reforma trabalhista, como o próprio relator, o tucano Ferraço, que nunca trabalhou.

Ao avaliar os embates em torno da reforma, Paim disse que, quanto mais tempo a oposição ganha na tramitação, melhor para que a população tenha conhecimento do absurdo que ela é e se mobiliza para pressionar os senadores contra a votação. “Com isso a população vai pressionando os senadores e mostrando que esse monstro construído pela Câmara pode ser rejeitado. Nós vamos pelar ate o fim. Nosso papel é pressionar o máximo para que não passe”, afirmou.

Pelo acordo firmado, o texto da reforma trabalhista será lido na CAS na próxima terça (13) e a previsão é que a votação aconteça em 20 de junho. O relatório ainda precisa passar pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) antes de seguir para votação no plenário do Senado. O governo quer votar a matéria no plenário no dia 28 de junho, às vésperas da greve geral marcada para o dia 30. Mas a oposição já avisou que, no plenário, não há acordo.

 

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