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Como seria o Brasil de Bolsonaro (de acordo com suas próprias palavras)

Um exercício futurístico sobre o destino que nos reserva se o candidato de extrema-direita for eleito no próximo domingo

"Deus está conosco", um dos lemas dos nazistas. Charge de Carlos Latuff
Cynara Menezes
24 de outubro de 2018, 00h15

Com a Câmara Federal presidida por um dos filhos do presidente da República e o Senado pelo outro filho, o Brasil virou uma dinastia militar-civil-teocrática desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder. A expressão “estado policial” é a exata tradução do que vivemos: violência, repressão e banhos de sangue se tornaram parte do cotidiano do brasileiro.

Depois que o presidente Jair liberou as armas de fogo para toda a população, os atentados a bala, antes raros no país, tornaram-se frequentes. A exemplo do que acontecia nos Estados Unidos de Donald Trump, que não foi reeleito, pelo menos um massacre por mês é perpetrado. O número de pessoas, muitas delas crianças, atingidas por tiros acidentais dentro de casa se multiplicou em 3000%.

A lista de animais em extinção já tem mais de 100 espécies desde que o ex-militar ocupou o poder e extinguiu o ministério do Meio Ambiente. Com a caça “esportiva” liberada em todo o território nacional, animais da fauna brasileira estão desaparecendo com uma rapidez nunca vista desde a colonização do país pelos portugueses. Os órgãos de meio ambiente nada fazem, até porque uma das primeiras ações de governo de Bolsonaro foi transformá-los em órgãos sem nenhum poder de fiscalização e punição.

A polícia e as Forças Armadas têm mantido os moradores das comunidades carentes acuados, com medo de sair de casa. O toque de recolher foi instituído em todas as regiões pobres das grandes cidades. De acordo com pesquisas clandestinas, já que o governo controla os dados oficiais, o número de jovens negros inocentes mortos em “autos de resistência” subiu 500% desde que Bolsonaro concedeu excludente de ilicitude para os policiais, uma espécie de salvo-conduto para matar. Parte da população, porém, não parece se solidarizar com as mães de família pobres que perderam seus filhos. “Se morreu é porque alguma coisa fez”, defendem os bolsonaristas.

O número de jovens negros inocentes mortos em “autos de resistência” subiu 500% desde que Bolsonaro concedeu excludente de ilicitude para os policiais, uma espécie de salvo-conduto para matar

Mesmo com os cidadãos armados e a polícia matando “suspeitos”, todos eles negros, a rodo, os índices de criminalidade não param de subir, impulsionados pelo aumento da desigualdade social e da miséria. Expulsos de suas terras, índios e quilombolas engrossam a multidão de brasileiros desabrigados e sem casa para morar, vivendo em barracos na periferia das grandes cidades. Tampouco há quem os defenda, já que os líderes dos sem-terra e dos sem-teto estão presos acusados de “terrorismo” e as ONGs foram proibidas de atuar em território nacional.

Até mesmo as lideranças do agronegócio, velhos aliados de Bolsonaro, têm mostrado insatisfação com os rumos do governo, já que o país perdeu vários mercados após o ex-deputado assumir a presidência. Ao tirar o Brasil do acordo de Paris, Bolsonaro viu as portas da União Europeia se fecharem para nossos produtos. E graças à atitude do presidente de apoiar Israel irrestritamente, os pecuaristas perderam também as exportações para os países islâmicos, principais importadores da carne e do frango brasileiros. A China também reduziu o comércio conosco devido às críticas de Bolsonaro às empresas chinesas.

Ao tirar o Brasil do acordo de Paris, Bolsonaro viu as portas da União Europeia se fecharem para os produtos brasileiros. E graças à atitude do presidente de apoiar Israel irrestritamente, os pecuaristas perderam as exportações para os países islâmicos

Mas as entidades ruralistas não podem reclamar, porque apoiaram a iniciativa do PSL, partido do presidente, de enfraquecer os sindicatos, acabando com a unicidade sindical. As empregadas domésticas voltaram a ser trabalhadoras de segunda classe, porque Bolsonaro revogou a lei que as igualava aos demais trabalhadores, com direito a carteira assinada, férias remuneradas e 13º salário. Aliás, nenhum trabalhador tem férias e 13º, e tampouco conta com os sindicatos para pressionar o governo: a lei de greve também foi revogada e os protestos nas ruas só podem ocorrer com autorização da polícia. Com o fim do 13º salário, o comércio natalino foi destruído e muitas lojas que apostavam no movimento da época fecharam, aumentando o número de desempregados.

Nas escolas, policiais militares chegam a algemar crianças pequenas que “se comportam mal” como forma de castigo, parte da “repressão democrática” imaginada pelos assessores educacionais do presidente. Nos livros escolares, a ditadura é chamada de “movimento” e aspectos positivos da prática da tortura em seres humanos são apresentados aos alunos. À frente do Ministério da Educação, um general concretiza o que a direita acusava o PT de fazer: doutrina criancinhas.

Professores que não aceitam os novos parâmetros curriculares são perseguidos e demitidos, como aconteceu nos EUA na época do macarthismo, graças à obrigatoriedade da aplicação do “Escola Sem Partido” em toda a educação pública. Estudantes são estimulados a gravar e denunciar docentes que fogem da cartilha. Os alunos também são obrigados a orar antes das aulas, de acordo com a Bíblia protestante. Outras religiões não são aceitas. Nas aulas de ciências, ensina-se o criacionismo.

Nos livros escolares, a ditadura é chamada de “movimento” e aspectos positivos da prática de tortura em seres humanos são apresentados aos alunos. Os alunos são obrigados a orar antes das aulas e ensina-se o criacionismo nas aulas de ciências

O desmatamento atinge níveis recordes. As previsões são de que a Amazônia, após a permissão da exploração do parque Nacional do Xingu por uma mineradora dos Estados Unidos, seja reduzida a um quarto do tamanho nos próximos dez anos. O presidente também estabeleceu, via decreto, áreas para “desmate legal” de madeira. Com isso, muitas árvores amazônicas também entraram para a lista de espécies em extinção.

LGBTs são caçados nas ruas por “esquadrões bolsonaristas” e obrigados a se vestir de acordo com as “normas de conduta” baixadas pela presidência da República: para manter a “moral e os bons costumes”, a polícia pode enquadrar em “atentado ao pudor” quem se vestir “em desacordo” com o gênero de seu registro civil. Homossexuais não podem manifestar afeto abertamente nas ruas e, ao se assumirem, ficam impedidos de ocupar cargos públicos. Se continuarem no armário, tudo bem. Bolsonaro revogou a lei que dá o direito aos transgêneros de ter um documento de identidade de acordo com seu nome social, marginalizando-os da sociedade.

O presidente também revogou a lei do feminicídio, que tipificou o crime que atinge mulheres por sua condição de gênero. Com isso, este tipo de crime está cada vez mais em ascensão, dando o Brasil o triste recorde de campeão mundial em feminicídios. O fato de o presidente ter defendido que apenas armar as mulheres seria suficiente para diminuir mostrou-se falso, já que os ex-maridos e companheiros também andam armados.

Com a venda da Petrobras para uma estatal norueguesa, os preços do combustível e do gás de cozinha triplicaram em relação ao governo Dilma Rousseff, do PT. O litro da gasolina já custa 10 reais e o botijão sai por até 200 reais em algumas regiões, maior preço de toda a história. O preço do diesel também explodiu, mas os caminhoneiros não podem protestar porque Bolsonaro sancionou um projeto de sua própria autoria que pune com até 4 anos de cadeia quem obstruir estradas.

A Globo e a Folha, perseguidas por Jair Bolsonaro desde o primeiro dia no cargo, estão à beira da falência. Os outros jornais, TVs e revistas que apoiaram abertamente sua campanha mostram apenas os aspectos favoráveis do governo, aprovadas por um “supervisor” da própria empresa de comunicação. “É preciso transmitir otimismo, isso é bom para o país”, justificam os donos da mídia. Os veículos alternativos foram proibidos, acusados de disseminar “fake news”.

O litro da gasolina já custa 10 reais e o botijão sai por até 200 reais. O diesel também explodiu, mas os caminhoneiros não podem protestar porque Bolsonaro sancionou um projeto de sua própria autoria que pune com até 4 anos de cadeia quem obstruir estradas

A perseguição a pessoas de esquerda é cotidiana, como prometeu o candidato durante a campanha: “ou vão para fora ou vão para a cadeia”. Uma reforma política extinguiu o PT e o PCdoB foi proibido de usar a palavra “comunista” em sua sigla. Um projeto do filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, tornou crime o comunismo no país. Utilizar os símbolos da foice e do martelo já é motivo suficiente para ir para a prisão.

Líderes opositores e cidadãos comuns fazem fila diante das embaixadas de países europeus em busca de asilo, enquanto a propaganda governamental repete o slogan da ditadura, ops, do movimento militar: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Lá fora, o país já é conhecido pela alcunha de “as Filipinas da América do Sul”.

 

 


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Conselho Simples em 24/10/2018 - 07h41 comentou:

Dei o devido crédito ao conteúdo que me chamou a atenção pelo título. Porém, parei de ler no primeiro parágrafo, onde lemos que o governo Bolsonaro irá promover um “banho de sangue”.

Gente. Ter outra ótica sobre os fatos é de extrema importância. Ter um ponto de vista diferente sobre o sistema pode ser a chave para abrir os olhos para algo que pode não ser o que parece. Mas começar um texto dizendo que o Bolsonaro promoverá um banho de sangue é um grande “tiro no pé”.

O banho de sangue já está feito. Abram os índices de violência do país. Vejam o que acontece com as pessoas de bem todos os dias. Não estou brincando. Vão olhar os números disso. 70 mil homicídios até o momento! E o ano não acabou! Chegaremos aos 100 mil até janeiro?

Planeja uma estratégia melhor na próxima vez para evitar o tipo de reflexão óbvia à qual você mesma me submeteu.

Outro detalhe: seu slogan prega o anti capitalismo. Pergunta: como é o socialismo (na prática) sem dinheiro? Não responda para mim. Busque exemplos REAIS e responda à si mesma. (Não vale regime novo, igual ao Brasil. Tem que ser um que já está implantado e consagrado)

Sinceramente… Eu não esperava mais do que isso.

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João Batista em 24/10/2018 - 08h32 comentou:

Perfeito e perverso. Esqueceu de um ponto importante nas propostas bolsonaristas. A esterilização das mulheres pobres. Em sua própria futurologia, o filho mais novo do coiso propôs e aprovou a obrigatoriedade de as donas de casa participantes do bolsa família realizarem uma cirurgia para retirada do útero (matando dois coelhos com uma cajada, ao diminuir a incidência do câncer) não seria mais necessário obrigar a manter as crianças na escola, pois, o ensino em casa está em vigor.

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ANTONIO FELIPE em 24/10/2018 - 08h37 comentou:

Como disse no início da notícia … Todos esses argumentos usados são com base em especialistas…. Mais a reportagem não fala que aqui no Brasil não temos especialista …os juristas são apenas advogados que em muitas das vezes não passaram nem no exame da OAB .
Por exemplo temos ministros do supremo que não passou por por uma prova da OAB .
Com base em que que segundo a reportagem faz um comentário desses …será que foi realizado alguma pesquisa ?
O jornal não leva em conta a capacidade de raciocínio de grande porte do povo brasileiro .
Querem usar suas influências para forma opiniões .
Essa prática não cola mais .

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Samile em 24/10/2018 - 11h40 comentou:

Muito bom o texto, você se superou Cynara…Parece ser cômico mas pode ser a tragédia anunciada. Desejo fortemente que esse cenário assustador não saia vitorioso nessa eleição. Sigamos com coragem na resistência. Parabéns pelo texto!

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Fábio P. R. em 24/10/2018 - 19h05 comentou:

Cara, isso é revoltante.

Estamos fodidos.

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Mário em 25/10/2018 - 13h17 comentou:

boa tarde Cynara

Esqueceu de falar sobre o pronunciamento do presidente acerca das “mudanças” nos rumos do País: “Todos os problemas econômicos e sociais são culpa do PT e de governos anteriores. Estamos administrando uma herança maldita.”…

Parabéns pelo seu trabalho.

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Luciano em 25/10/2018 - 19h43 comentou:

Boa noite! Aquela jovem que teve uma suástica desenhada no corpo está sendo indiciada por falsa comunicação de crime, eu não sou perito criminal, más desde a primeira vez que vi a imagem eu notei que a suástica estava muito bem desenhada, pois se ela tivesse realmente sido atacada ela ofereceria resistência logo, a suástica sairia toda torta, mesmo que digam que ela foi dopada a história não iria colar.

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Mauro em 25/10/2018 - 22h14 comentou:

Nestas eleições, os aspectos grotescos, truculentos e boçais do candidato Jair Bolsonaro tendem a tornar-se o centro das atenções. No entanto, eles não devem fazer esquecer as questões de fundo que agora estão em causa.

Em termos práticos, os promotores da candidatura Bolsonaro ocultam medidas que estão na forja como:

– Privatização da Segurança Social, ou seja, a sua entrega a seguradoras privadas com o saqueio da poupança de milhões de trabalhadores em benefício do capital financeiro;
– A anulação de conquistas dos trabalhadores brasileiros, promovendo a sua precarização;
– A reprimarização da economia brasileira, acelerando a sua desindustrialização (já em curso);
– O afunilamento econômico rumo à exportação de produtos do agro-business e de minérios em bruto;
– O aumento do desemprego;
– A repressão feroz contra os movimentos sociais;
– A entrega do país à US Army, US Navy, US Air Force, além da Wall Street e transnacionais.

Medidas como estas terão reflexos por gerações.

Os que embarcarem na demagogia anti-corrupção deste candidato, um politiqueiro profissional ao longo de 28 anos, estarão assumindo uma responsabilidade terrível também para com os seus filhos e netos.

É dever de qualquer brasileiro lúcido votar contra o que representa a candidatura de Jair Bolsonaro.

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Leon Dalaedovick em 28/10/2018 - 12h13 comentou:

Senhor Conselho Simples, dar-lhe-ei um conselho simples: releia o texto de Cynara Menezes do princípio ao fim, depois coteje-o, como sugere o texto, com as falas e as condutas de Bolsonaro, de seus filhos e de seus principais apoiadores no MBL e no Vem Prá Rua. Pode confrontá-lo também com as falas de seus apoiadores parlamentares, como a “Véia do Relho” de RS e dos parlamentares das bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia, e também não deixe de fazer um paralelo com as pregações de líderes religiosos evangélicos, como o Silas Malafaia. Após seguir o meu conselho, senhor Conselho Simples, reflita, examine a sua consciência e volte a esse texto e , se o quiser, faça considerações baseadas em fatos e realidades e não no mero senso-comum, no achismo desprovido de sentido e de inteligência.

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Luiz Rodrigues em 29/10/2018 - 22h22 comentou:

DECRETARAM A MORTE DOS CONSUMIDORES E AS EMPRESAS ESTÃO MORRENDO
Quando menino, conheci muitos comerciantes com sotaques arrastados, os chamávamos de turcos. Esses comerciantes negociavam muito com seus clientes e repetiam sempre: “o freguês tem sempre razão, sem eles não existo!”.
Nos anos 30 do século passado, o Presidente americano Franklyn Roosevelt chamou Henry Ford para presenteá-lo por ter introduzido o fordismo, a partir das teorias de Taylor, e com isso aumentou a produtividade de forma incrível. Ford respondeu que não queria um prêmio pela produtividade e preferia que o presidente decretasse o aumento do salário mínimo e a diminuição da jornada de trabalho, pois só assim conseguiria vender os carros produzidos.
Observando que tem muita gente da classe média e pequenos empresários embarcando em ondas, com os dois parágrafos acima de introdução, eu pretendo desenvolver o tema e ajudar, principalmente os pequenos empresários a decidir sobre o futuro dos seus negócios e da geração de empregos, uma vez que sem emprego não há consumo e sem consumo não há atividade econômica, portanto há dependência entre essas duas partes. Eliminando-se uma das partes, ao invés de se levar vantagem, acaba-se dando um tiro no pé. Então, vamos lá.
Um dos grandes problemas de uma empresa é seu custo fixo. Não importa o seu tamanho, seja um indivíduo que comprou um táxi, um Uber, um consultório, um pequeno comércio, ou uma multinacional.
Mas quais são os custos fixos de um negócio? Por exemplo, se você comprou um táxi zero, a depreciação do veículo é um custo fixo, passado 4 anos da sua aquisição, se você conseguiu fazer muitas viagens, ou poucas viagens, não importa, você tem um carro que não vale mais o que pagou. Se não ganhou o suficiente para comprar um carro novo, perdeu e quanto mais tempo passar, menos valerá. A manutenção periódica do carro, usando ou não é outro custo fixo.
Se você tem um comércio, um escritório, uma indústria, ou um consultório e etc. o aluguel é um custo fixo, você vendeu, ou não vendeu tem que pagar o aluguel, se você é dono do imóvel a depreciação é um custo fixo, a energia gasta com iluminação, com refrigeração, os equipamentos e sua depreciação e etc. Tudo isso é custo fixo, você comercializou, vendeu, prestou serviço, ou não o custo está lá pra ser pago.
Vamos criar uma situação, caso, para entendermos esses custos.
Um indivíduo que saiu de uma empresa, recebeu seus direitos e resolveu montar um boteco. Alugou uma garagem e vai pagar pelo aluguel R$ 300,00 e pela energia com geladeira e iluminação R$ 50,00; vamos considerar só esses dois custos para entender o raciocínio, depois é só vocês considerarem outros custos. Então ele vai gastar R$ 350,00 reais de custo fixo. Vendeu, ou não vendeu, tem que pagar R$ 350,00.
Vamos pensar pelos extremos dos absurdos pra gente entender:
– Imagine que passou o mês todo e o boteco só vendeu uma dose de pinga por R$ 2,00. Desses R$ 2,00; ele pagou para o distribuidor da matéria prima pinga R$ 0,50. Portanto sobrou R$ 1,50, que foi o seu lucro. Extrapole esse raciocínio para o dono do consultório, ou escritório que só teve um cliente e precisa pagar o aluguel, ou uma indústria de automóvel que só vendeu um carro. Como esses empreendedores vão pagar o custo fixo? Sinto muito! Não vão pagar, vai ter que usar suas reservas, se tiver, e quando não puder mais vão fechar.
– Vamos para o outro extremo, o mesmo boteco, os mesmos custos fixos de R$ 350,00 e o boteco vendeu 10.000 doses de pinga, se cada dose vendeu por R$ 2,00 o seu faturamento será de 10.000 x 2 igual a R$ 20.000 será o seu faturamento; como pagou pela matéria prima, pinga, R$ 0,50 por cada dose 10.000 x 0.50; então seu custo variável será de R$ 5.000. Retirando do seu faturamento o custo fixo de R$ 350,00 e o custo variável de R$ 5000,00 (total de R$ 5350,00); 20.000 menos 5350 seu lucro será de R$ 14.650,00. Conclusão terá que ampliar o boteco para atender tantos clientes. Extrapole esse raciocínio para escritórios e consultórios com muitos clientes e indústria de automóvel vendendo milhares de automóveis.
A quantidade de vendas, ou consultas, ou fabricação de produtos, ou prestações de serviços é o que se chama de economia de escala.
Agora pense o seu país com milhões de assalariados, a soma de todos os salários do seu país chamamos de massa salarial. Essa massa salarial é o potencial de compras. Agora, introduza uma reforma trabalhista cruel, com trabalho intermitente, terceirização plena, onde todos os salários são reduzidos pela metade, consegue enxergar que o potencial de consumo cairá pela metade?
Lembra que quando o consumo era pequeno o negócio se tornava inviável e fechava. Dá para perceber porque tem muitas portas se fechando, a partir das reformas e desmontes que o Temer está fazendo? Some se a isso, grandes empresas nacionais foram fechadas por conta da justiça. Ao invés de punir o empresário corrupto, mas manter a indústria e seus empregados, puniu as empresas e muitas fecharam, gerando desemprego e assim diminuindo o número de consumidores.
Aí, o Bolsonaro diz que vai aprofundar essas reformas porque tem amigos empresários que venderam patrimônio para pagar direitos trabalhistas! E quem vê, ele falando chega dá dó dos empreendedores.
Eu sei que o maior abaixo-assinado para pressionar os congressistas veio dos donos de boteco, bares, restaurantes, hotéis, supermercados e etc. foi um tiro no pé. Muitos estão fechando e com o Bolsonaro aprofundando a precarização mais fechamentos de empresas e mais desemprego, consegui passar a idéia? Por que virá com a tal da carteira verde amarela, ou seja, emprego com baixa remuneração.
Não se esqueça que muitos direitos são salários indiretos e retirá-los diminuirá o consumo, diminuirá a escala, aumentará o custo fixo com isso e aumentarão as falências.
O custo da folha de pagamento nas grandes empresas, hoje não chegam a 4 por cento do faturamento, é quase nada e o retorno do lucro mais de 40 por cento.
E as empresas pequenas? Depende, tem empresa pequena que tem uma taxa de retorno maior que a da VW, proporcionalmente o faturamento é menor, mas se seu lucro for de 100 por cento? Porque é pequena nem sempre é uma coitadinha!
Tem empresa pequena e até empresa grande que tem problemas, mas a solução de diminuir salários diretos e indiretos em toda economia pra resolver problemas de uma parte não é solução.
Tem que se debruçar encima dos problemas e tentar resolvê-los.
Por exemplo, tem empresa particular que ao invés de modernizar os produtos da empresa, o dono que sempre tem incentivos do estado, comprou patrimônio e a empresa perdeu mercado.
E aí não quer vender patrimônio para pagar Direitos, ou modernizar a empresa.
Capitalista que não leu Adam Smith dá nisso!
O que não se pode é matar o mercado, reduzindo o salário de todos, por conta da incompetência de alguns, ou particularidades, que não podem extrapolar pra tudo e todos
Essa generalização diminuirá a escala de vendas, aumentará os custos fixos e matará muito mais empresas, compare o número de falências do período do FHC que implementou as mesmas políticas que o Bolsonaro está propondo, com as falências que estão ocorrendo com o Temer com as mesmas políticas e depois comparem com o período petista.
Foi no período petista que menos empresas fecharam, aliás, foi o tempo que mais se abriram empresas.
Além disso, Bolsonaro tem alto grau de ignorância prática e teórica com uma assessoria medíocre. Vive citando os EUA, como sinônimo de eficiência! As empresas americanas estão atrasadas tecnologicamente. Enquanto a Europa , China, Japão, Coreia do Sul estão desenvolvendo a indústria 4.0 Eles estão lutando para não fechar suas empresas. Os EUA tem a maior dívida pública do Planeta! Vivem sugando patrimônio e riquezas de outros países, inviabilizando países com bloqueios aos mercados mundiais! Esse modo de viver americano está esgotado. O Trump está fechando o mercado americano, que é para defender seus negócios e querendo obrigar que todos os países abram os seus.
Outra coisa. O que o Bolsonaro pretende fazer aqui, a Argentina está aplicando lá, vcs estão acompanhando que os grandes meios de comunicação não estão falando da Argentina. A Argentina voltou a fazer empréstimo do FMI e este voltou a dizer o que Argentina tem e o que não tem de fazer, perdeu assim sua soberania. As reformas que o Temer fez aqui e o Bolsonaro quer aprofundar, foi o que fizeram lá, inviabilizou empresas e empregos, o Macri arrochou o povo, inviabilizou o país, mas tem que remeter divisas, pagar banqueiros e rentistas. E olhem que a Argentina não está sofrendo nenhum bloqueio como outros países por parte dos americanos e seus aliados.
O Brasil só não chegou na situação da Argentina, porque tem uma reserva deixada pelos governos petistas de mais de 300 bilhões de dólares que o Temer está torrando.
Vamos pesquisar gente! Boa parte do pessoal que foi para rua, com ódio, não está defendendo seus interesses.
Se nossos capitalistas lessem mais seus pensadores, como Adam Smith, David Ricardo e outros liberais, mais o porquê que a Europa adotou o estado de bem estar social, nós estaríamos bem de elite, mas enquanto não fazem a lição de casa, daquilo que dizem acreditar, vamos vê-los com todo poder econômico correndo atrás de uma besta como o Bolsonaro e dando tiro no pé.
Citam-se, também, países como Alemanha, Japão, Coréia do Sul como modelos, acontece que esses países fizeram distribuição de renda, internamente, e assim reduziram seus custos fixos e passaram a exportar, a ter multinacionais. E tem mais, fizeram reforma agrária, acabando com o latifúndio e assim tornaram milhares de agricultores em proprietários de terras, esses se tornaram consumidores para aumentar sua economia de escala, reforma agrária não tem nada de socialista, é capitalismo para aumentar a economia de escala e viabilizar os negócios do país. Nós ficamos aqui com um monte de latifundiários que vem da tradição das capitânias hereditárias, das sesmarias, da lei de terra de 1850, coisa de país atrasado, de colônia, que mantém muita terra como reserva de valor e a economia parada. Cadê os empreendedores? Cadê os capitalistas? Cadê a classe produtora? Que tanto pregam? Ainda se situam no feudalismo.
No Brasil tivemos muita luta para o fim da escravidão, mas a Inglaterra pressionava para o fim da escravidão, não por uma questão humanitária, mas porque tinha interesse em exportar para o Brasil. Escravo não consome, mas assalariando os se tornariam consumidores. Aqui estão querendo voltar ao tempo da escravidão. E pior, agora querem a escravidão de toda classe trabalhadora.
O que quero deixar claro que o pequeno empreendedor não é rico, se não trabalhar não paga suas necessidades. Agora não pode olhar só para seu umbigo. Tem que olhar o lado do consumo da economia, os direitos fazem rolar a economia, por isso tem que negociar os conflitos de interesses. Se colocar um canhão do exército para garantir a retirada de direitos não resolvem os problemas, vocês matam a freguesia.
A ditadura fez isso durante muito tempo e matou o mercado. Não estou desqualificando os bons militares, que cumprem sua função de proteger o país e não extrapolam suas funções porque tem armamentos! Que nós contribuintes oferecemos para nos proteger. Alerto que se desviando de suas funções constitucionais perderão seu prestígio, já fizeram isso e deixaram uma dívida que pagamos até hoje, porque não desenvolvemos nossas potencialidades, foi um tempo que mais se concentrou renda e de muita corrupção, como Coroa Brastel, Delfin, Luftala e etc. e ainda deixaram uma dívida pública, interna e externa, que pagamos até hoje.
Nessas eleições, sugiro que cada um pare de olhar o outro como inimigo, pergunte se: quais os meus reais interesses, como vou defendê-lo? Será que atendendo o desejo dos outros, os viabilizando, não realizo os meus e ainda me viabilizo? Como vamos negociar para que todos ganhem?
Não deixem de considerar que o Estado tem que estar no jogo, como facilitador da viabilização dos negócios e do emprego, ajudando a desobstruir gargalos da produção, do emprego e fomentando a infra-estrutura para propiciar um ambiente de negócios para atingir economia de escala competitiva. Tem que haver um governo e um povo com essa determinação política.
Não defenderei minha família, morando num palácio com um monte de miseráveis em sua volta!
Quero fazer mais duas considerações finais, a primeira é que o assalariado também precisa do consumidor de seu trabalho, pois se não houver trabalho para os outros trabalhadores, o seu trabalho também corre risco de ser consumido. A segunda é muito importante levar em consideração que o consumo agride a natureza e temos de refletir como atender as necessidades humanas e não agredir o ambiente.
Por esses motivos que o projeto para o nosso país passa por eleição de Haddad e Manuela 13. O outro projeto mata teu freguês, que somos nós, seus consumidores e inviabiliza seus negócios

Responder

Luiz Rodrigues em 29/10/2018 - 22h26 comentou:

Texto escrito antes das eleições
Temer com as reformas diminuiu o consumo e o Bolsonaro pretende aprofundar.

Responder

Luiz Rodrigues em 29/10/2018 - 22h34 comentou:

As coisas não são simples, precisamos estudar mais, não vou entrar em outros aspectos, por exemplo, da segurança que precisa ser tratado do ponto de vista holístico e o Bolsonaro trabalha do ponto de vista cartesiano, por exemplo, como não criarmos mais bandidos?
É importante termos polícia. Sim. Só isso basta?
Bem, paro por aqui. Deixa pra outro momento.
Só aproveitei o texto da Cynara para mostrar que é muito mais complexo. O texto que postei é longo e no fundo não dá conta de toda problemática econômica, senão isso ia virar um livro.
Desculpe Cynara e leitores.
Minha contribuição
Abraço
Luiz

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