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Criador diz que Zé Gotinha com metralhadora é “um péssimo exemplo para as crianças”

Darlan Rosa, artista que criou o personagem em 1986, se diz agredido por desenho divulgado por Eduardo Bolsonaro: "uma barbaridade"

Desenho divulgado por Eduardo Bolsonaro
Cynara Menezes
12 de março de 2021, 21h28

Darlan Rosa, o artista plástico que criou o Zé Gotinha em 1986, durante o governo José Sarney, se disse “indignado e assustado” com o desenho divulgado pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, em que o simpático personagem empunha uma metralhadora em forma de seringa. “O Zé Gotinha é um personagem do bem, criado com fins educativos. Colocá-lo com uma arma na mão é um péssimo exemplo que se pode dar a uma criança. Apologia de arma é coisa séria”, lamentou Darlan, que tem 74 anos e mora em Brasília. Ele contou que recebeu a primeira dose da vacina contra o coronavírus ontem.

A ilustração grotesca foi uma “resposta” dos Bolsonaro à cobrança feita por Lula em seu histórico discurso de quarta, 10: “Cadê o Zé Gotinha?”, perguntou o ex-presidente. Nas redes sociais, a imagem de Zé Gotinha com uma metralhadora causou revolta e o nome do personagem foi parar no topo dos tópicos mais comentados do twitter. O pacífico Zé Gotinha acabou ganhando o apelido de “Zé Milicinha” por conta da arma e da ligação dos Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro.

Eduardo havia postado a ilustração pela primeira vez com o texto “Nossa arma agora é a vacina”, mas, ao se dar conta de que admitia que o governo nunca se preocupou com a vacinação, apagou e postou novamente com os dizeres: “Nossa arma é a vacina”.

O desenhista Darlan Rosa criticou que a versão armada do Zé Gotinha contraria a intenção original do personagem. “O Zé Gotinha foi criado justamente para combater esse tipo de pensamento. Quando eu o criei, havia essa temática de terror, de que se você não vacinasse ia morrer. Eu sempre achei que tinha de educar e não coagir, por isso criei um personagem que fizesse a criança desejar ser vacinada, e já estamos na terceira geração que passou pelo Zé Gotinha.”

Darlan lembrou que o personagem sobreviveu tranquilamente a todos os presidentes, sem nenhum problema. Passou de Sarney para Fernando Collor, de Collor para Itamar Franco, de Itamar para FHC, de FHC a Lula, de Lula a Dilma… Até pelo golpista Michel Temer o Zé Gotinha passou sem problemas –menos por Bolsonaro. “O personagem não pode virar moeda de troca política, estou assustado, nunca vi o Zé Gotinha entrar numa discussão assim, fora do habitat dele, que é a saúde pública”, disse. “É um personagem que pertence ao povo brasileiro, deve ser preservado, devia ser tombado. Eu estou em pânico, é uma barbaridade.”

O artista disse que não pretende, por enquanto, ir à Justiça contra o desvirtuamento dos propósitos do personagem pela família que está no poder. “Me sinto incapaz de fazer isso, não tenho essa força, não sou empresário. O que eu posso fazer é denunciar para o máximo de pessoas possível”, diz Darlan. “O direito autoral diz que a criação é extensão do caráter da pessoa. É como se estivessem me agredindo.”

 


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(5) comentários Escrever comentário

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wagner barja em 13/03/2021 - 00h45 comentou:

Vacina sim. Arma não Viva o Zé Gotinha.

Responder

Laerthe Abreu Junior em 13/03/2021 - 14h00 comentou:

Será que não há ninguém na direita com pelos menos dois neurônios, ou um neurônio e meio, vá lá, para não fazer tanta bobagem?????

Responder

Eugênio BH em 15/03/2021 - 14h54 comentou:

Batracofobia

Cá no Patropi, “engolir sapos” é uma expressão muito comum e todo mundo, ou quase, sabe muito bem o que significa: suportar uma contrariedade sem chiar nem fazer cara feia.

Certo. Mas de onde ela vem?

Aqueles que foram obrigados a engolir o tal do Catecismo na infância hão de se lembrar de algumas aventuras bíblicas. No caso, a das pragas do Egito.

Uma delas foi a invasão de centenas de milhares de sapos e rãs por todo o território do país. Enviados pelo Deus Barbudo, os animais não apenas invadiam todos os ambientes – quartos, banheiros, cozinhas -, como também os pratos dos habitantes do reino. Verdadeira balbúrdia.

Os estudiosos que expliquem, mas é fato que, em alguns indivíduos, mesmo apenas a visão, o ruído ou a ideia da presença de sapos pode desencadear uma série de sintomas como taquicardia, ansiedade, gritos, agitação, choro, sudorese. tremores, insônia e desespero.

Há casos severos em que a vítima tende a pensar que um sapo vai saltar em sua cabeça ou rastejar debaixo de sua pele, causando uma crise de histeria ou ainda intensa paralisia de medo, pavor.

A boa notícia é que há tratamento, e simples, bastando que os indivíduos batracofóbicos tentem expor-se gradualmente aos bichinhos que lhes causam tanto mal: ouvir constantemente gravações dos sons emitidos por eles, ver fotos, e principalmente falar e discutir o assunto com amigos e familiares.

Grupos de ajuda psicoterápica também costumam resolver rapidamente. É o que ensinam sítios fidedignos da internet.

A espécie de sapo mais conhecida no Brasil é o Sapo-Cururu, que o diga o Manoel Bandeira. Já o Sapo Barbudo é pura e carinhosa invenção do Leonel, o do socialismo moreno.

Houve um tempo em que camadas de batracófobos conseguiram evitá-lo, mas houve outros em que tiveram que engoli-lo com barba e tudo. Por um tempo razoável.

Não se sabe ao certo porque não gostaram, mas devem ter lá seus motivos, sempre mais ocultos que claros.

Sabe-se, no entanto, que conseguiram contaminar uma imensa legião de pessoas que não têm razão alguma para temer o tal sapo, que na verdade tem nome de molusco.

A boa notícia, como se viu acima, é que há tratamento.

Rápido e barato.

Responder

Mário Gomes em 16/03/2021 - 23h47 comentou:

Parabéns. Muita saúde.

Responder

Maria Arnete em 10/04/2021 - 20h11 comentou:

Salve, Lula que o trouxe de volta! E que pena não lembrarem da criança que deu nome ao Zé Gotinha! Eu também não me lembro. Fui no Google e só aparece o artista plástico! Me parece injusto! Conheci o pai dele!

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