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Cristina e Dilma denunciam perseguição judicial a políticos de esquerda na América do Sul

A ex-presidenta argentina é a mais recente vítima de lawfare, o uso indevido de recursos jurídicos com o objetivo de perseguir adversários políticos

Da Redação
10 de dezembro de 2017, 13h05

A ex-presidenta e atual senadora Cristina Kirchner e a presidenta eleita do Brasil, Dilma Rousseff, denunciaram ontem em Buenos Aires a prática de lawfare, o uso indevido de recursos jurídicos com o objetivo de perseguir adversários políticos. É o que aconteceu com Dilma e acontece com Lula e com Cristina, cuja prisão foi pedida por um juiz esta semana por “traição à pátria”.

A acusação contra a ex-presidenta argentina é mirabolante: Cristina teria orquestrado um plano junto ao ex-ministro das Relações Exteriores para encobrir a participação de iranianos no atentado ao centro judaico AMIA, que matou 85 pessoas em 1994. “Sem fundamentos, me acusam de traição à pátria. É um insulto à inteligência dos argentinos. Não creio que os argentinos, independentemente de como veem nossa política, nosso governo e as medidas que tomamos, possam acreditar que sejamos capazes de nada mais nada menos que trair a pátria”, disse Cristina em coletiva à imprensa na quinta-feira.

O objetivo, em termos locais, segundo a ex-presidenta, é tirá-la do Senado para que os opositores não tenham voz no Congresso argentino. “Não querem nossa voz no Senado, mas nós não vamos calar, não vamos nos assustar, não vão baixar nossa cabeça diante das reformas e do saque e tampouco vamos ceder às provocações”, disse.

É um insulto à inteligência dos argentinos. Não creio que os argentinos, independentemente de como veem nossa política, possam acreditar que sejamos capazes de nada mais nada menos que trair a pátria

Após o encontro com Dilma, que definiu como “entrañable” (profundo, encantador), Cristina K. afirmou que a perseguição judicial está disseminada por todo o continente como “estratégia” da direita contra políticos de esquerda. “Conversamos sobre uma realidade que está se impondo em nossos países. Um processo que se denomina mundialmente lawfare e que consiste na utilização do aparato judicial como arma para destruir a política e os políticos opositores. Uma matriz que tem outro braço fundamental nos meios de comunicação, uma instância central na estratégia de perseguição. O objetivo é o mesmo no Brasil e aqui: ocultar o desastre econômico que os governos neoliberais estão realizando na região”, publicou.

Em sua página na rede social, a presidenta Dilma foi no mesmo tom: é perseguição judicial o que está ocorrendo no Brasil e na Argentina contra opositores, assim como já aconteceu em Honduras e no Paraguai. “Tratamos de discutir a estratégia de combate ao sistemático lawfare –o uso da lei e da máquina judiciária como arma política contra adversários– a que vários líderes políticos, como ela, eu e o presidente Lula, estão sendo submetidos na América Latina, num esforço de desgaste permanente e intimidação. Cristina é uma líder política forte e uma guerreira incansável na defesa dos interesses do povo argentino. Ela está disposta e firme em resistir. Como todos nós”, disse Dilma.

Filho do ex-presidente argentino Raúl Alfonsín, o deputado Ricardo Alfonsín, do mesmo grupo político do presidente Mauricio Macri, criticou o pedido dizendo que “não há motivo” para prisão. “A prisão preventiva tem interpretação e aplicação muito restrita. Não deve deixar dúvida alguma de que existem condições legais para aplicá-la e, até onde sei, elas não se verificam neste caso. A justiça não pode atuar no limite da legalidade; no caso de dúvida sobre a legalidade de uma decisão, não se pode tomá-la. Seria preocupante que pensássemos o contrário”, declarou o deputado, que é advogado.

Em sua página na rede social, a presidenta Dilma foi no mesmo tom: a perseguição jurídica a que vários líderes políticos, como ela, Cristina e o presidente Lula, estão sendo submetidos na América Latina

Já Macri pareceu comemorar a situação. “(Cristina) tem que presar contas à Justiça, têm muitas denúncias. Tem que se submeter à Justiça, dar as explicações e os juízes decidirão. O presidente não tem por que se meter nisso”, disse, em entrevista à CNN. Suas palavras não deixam de confirmar o que Cristina e Dilma denunciaram: hoje os presidentes de direita não precisam sujar as mãos; os juízes cuidam de tudo.

 

 


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Ângela Valério Horta de Siqueira em 17/12/2017 - 13h07 comentou:

Horrível voltar a conviver com esse fantasma do arbitrarismo que assombrou toda a minha adolescência e juventude, e agora aos meus 66 anos de vida redesperta levando embora a possibilidade de se viver num país decente, onde todos tenham direito ao essencial à condição humana. Tristes países latino-americanos e suas eternas elites torpes obrigando-nos a essa dança maldita de um passo à frente e para trás quantos forem imaginados por suas consciências demoníacas. Salve-nos Deus!!! Ou a revolução…

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