Socialista Morena
Maconha

Desmontando o velho mito de que maconha emburrece as pessoas

Novos estudos científicos utilizando gêmeos mostram que não existe relação direta entre o uso de cannabis durante a adolescência e diminuição do QI, déficit cognitivo ou piora da performance escolar

Jovem na Marcha da Maconha no ano passado. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Paul Armentano
11 de agosto de 2017, 17h48

Do Alternet

Tradução Cynara Menezes

“A maconha torna as pessoas retardadas, principalmente quando elas são jovens”, disse a comentarista conservadora norte-americana Ann Coulter durante o seminário Politicon, no começo de agosto.

Embora este tipo de discurso inflamado vindo de guerreiros culturais como Coulter sejam esperados –e devam ser prontamente desprezados– a noção de que fumar um baseado causará impactos negativos sobre a inteligência é recorrente, e frequentemente feita por ambos os lados do espectro político, ainda que as últimas descobertas científicas tragam pouca ou nenhuma base para esta afirmação.

Pesquisas de longa duração recentemente publicadas online pela revista científica Addiction relatam que fumar maconha não está associado isoladamente a efeitos adversos no cérebro em desenvolvimento. Uma equipe de pesquisadores dos EUA e do Reino Unido avaliou se o uso de maconha está diretamente ligado a mudanças ao longo do tempo na performance neuropsicológica através de um estudo com gêmeos adolescentes. Os autores reportaram que “fatores familiares”, e não o uso de cannabis, impactaram negativamente a performance cognitiva dos adolescentes.

Eles escreveram: “descobrimos que jovens que usaram cannabis (…) tinham QI menor aos 18, mas há pouca evidência de que o uso de cannabis esteja associado ao declínio do QI entre os 12 e os 18 anos. Na verdade, apesar de o uso de cannabis ter sido associado com o QI baixo e a deficiência cognitiva aos 18, estas associações não foram em geral aparentes em pares de gêmeos da mesma família, sugerindo que são fatores familiares que explicam por que a performance dos adolescentes que usam cannabis é pior nos testes de QI e de controle cognitivo.

A noção de que fumar um baseado causará impactos negativos sobre a inteligência é recorrente, e frequentemente feita por ambos os lados do espectro político, ainda que as últimas descobertas científicas tragam pouca ou nenhuma base para esta afirmação

Os pesquisadores concluíram que “o uso a curto prazo de cannabis na adolescência não parece ser a causa do declínio do QI e da deteriora do controle cognitivo, mesmo quando o uso de cannabis alcança o nível de dependência”.

Eles não estão sozinhos em suas conclusões. Em 2016, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles e da Universidade de Minnesota chegaram a uma análise similar em relação ao impacto da maconha sobre o QI em um grupo separado de gêmeos adolescentes. Eles reportaram não haver nenhuma relação entre a exposição à maconha e o declínio do QI aos 20 anos, e observaram não haver diferenças significativas na performance entre os gêmeos que usavam maconha e seu par que não usava.

Os pesquisadores concluíram: “Na maior pesquisa de longo prazo sobre uso de maconha e mudança de QI (…) nós encontramos pouca evidência para sugerir que o uso de maconha na adolescência tenha um efeito direto no declínio intelectual… A falta de relação dose-efeito e a ausência de diferenças significativas entre os gêmeos nos levaram a concluir que os déficits observados entre os usuários de maconha são atribuídos a fatores complicadores que influenciam tanto na iniciação na substância quanto no QI, e não a um efeito neurotóxico da maconha”.

As descobertas da UCLA repetem as de um estudo publicado anteriormente no Journal of Psychopharmacology Investigators. Pesquisadores analisaram o QI e a performance escolar em um grupo de 2235 gêmeos adolescentes. Eles também reportaram que, após levarem em conta os potenciais complicadores (como o uso de tabaco e álcool), os adolescentes que usaram cannabis “não se diferenciavam dos que nunca usaram, tanto em QI quanto em performance escolar”.

Pesquisadores da Flórida examinaram o tema no início deste ano. Na revista Drug and Alcohol Dependence, eles escreveram a respeito do impacto da exposição à maconha sobre a inteligência em indivíduos durante um período de 14 anos (entre os 12 e os 26). E concluíram: “Nossas descobertas não mostram uma associação significativa entre uso cumulativo de maconha e mudanças nos índices de inteligência.”

Apesar disso, os opositores à revisão da política a respeito da cannabis continuam a opinar que fumar maconha “reduz o QI de 6 a 8 pontos”. Este argumento deriva de um estudo neozelandês largamente difundido em 2012, publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences. O estudo afirmava que o uso contínuo de cannabis do início da adolescência até a idade adulta estava associada com um QI ligeiramente mais baixo aos 38 anos de idade.

Entretanto, um outro estudo publicado depois na mesma publicação sugeria que as mudanças observadas foram resultado de uma falha dos pesquisadores em controlar as variáveis complicadoras, principalmente as diferenças socioeconômicas entre usuários e não usuários, e não foram devidamente influenciados pela história de uso de cannabis pelos indivíduos.

Um estudo posterior do principal pesquisador do trabalho feito na Nova Zelândia igualmente reportou que a presença de fatores complicadores torna difícil e até impossível atribuir mudanças na performance acadêmica apenas ao uso de maconha, apontando que os efeitos do uso contínuo de cannabis por adolescentes “não são significativos após controlar o uso contínuo de álcool e tabaco”.

Paul Armentano é diretor do NORML (Organização Nacional para a Reforma das Leis sobre a Maconha, na sigla em inglês) e atua como conselheiro sênior do Freedom Leaf, Inc. Ele é co-autor do livro Marijuana Is Safer: So Why Are We Driving People to Drink? (Chelsea Green, 2013).

 

 

 


(6) comentários Escrever comentário

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Marcelo em 30/10/2017 - 12h40 comentou:

Bom…. sou usuário há 20 anos, e sim, concordo que a maconha pode prejudicar o aprendizado.
Eu e outros amigos que fumam há bastante tempo, percebemos que a capacidade de aprendizagem diminuiu sim.

Mas continuo a fumar, mas numa frquencia menor. É como o fumante de cigarro normal, que sabe o quão mal faz o cigarro, mas continua a fumar.

Isso se chama: assumir as consequencias dos seus atos. Eu assumo que a maconha não faz bem, mas como gosto muito do barato que ela dá, conmtinuo fumando.

simples assim.

Não estou me baseando em estudo nenhum. Estou me baseando em experiência pessoal, a qual é muito semelhante com o de outras pessoas que conheço.

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Marcello Castellani em 17/09/2018 - 12h24 comentou:

Um estudo sobre o efeito do uso de drogas por longo prazo mostra que aqueles que começaram a utilizar maconha quando adolescentes podem chegar à meia-idade com uma deficiência de oito pontos no QI (quociente de inteligência) se comparado aos não usuários.

A pesquisadora Madeline Meier, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, utilizou como base um estudo que acompanhou mil pessoas em Dunedin, Nova Zelândia, desde o nascimento até os 38 anos de idade. Os dados permitiram comparar os teste de QI feitos com os participantes na idade dos 13 — antes do uso de maconha — com os testes de QI quando adultos; em alguns casos, depois de anos de uso da droga.

O estudo mostrou que aqueles que desenvolveram uma dependência da droga apresentaram maior declínio de QI, perdendo seis pontos na média, independentemente do quão cedo o hábito começou. Dentro desse grupo, aqueles que começaram a usar a droga antes de seu aniversário de 18 anos apresentaram um declínio subsequente de 8 pontos em média no QI.

Além disso, amigos e parentes próximos dos usuários de maconha informaram que eles tiveram problemas cada vez mais frequentes de memória e de atenção. Segundo os pesquisadores, o dano não parece ser reversível depois de os usuários deixarem o hábito. Mas eles afirmam que quando o uso da maconha começa após o 18º aniversário, os danos são menores.

— Este estudo é o primeiro a oferecer evidências de que a maconha provoca, de facto, efeitos neurotóxicos em cérebros jovens — diz Meier.

Segundo o psiquiatra, especialista em dependência química, Jorge Jaber, presidente da Associação Brasileira de Álcool e Outras Drogas, a pesquisa só confirma o que na prática é notado pelos médicos:

– Há pelo menos dez anos já vínhamos percebendo esta perda cognitiva, principalmente nos jovens, porque neles não se deu o amadurecimento completo do cérebro.

O especilaista explica que a maconha provoca a contração dos vasos sanguíneos e, portanto, diminui o aporte de sangue no cérebro. Com isso, reduz-se a chegada de oxigênio e de glicose, importantes substâncias para o desenvolvimento das células cerebrais. Isto afeta principalmente o lobo frontal, região relacionada ao pensamento abstrato e à memória. Jaber alerta que o comprometimento cerebral pode ser notado em cerca de 70% dos adolescentes que fazem uso contínuo da droga. Segundo o psiquiatra, a cannabis também pode provocar a diminuição do volume dos neurônios, assim como a sua destruição.

– A linguagem é a primeira a ser afetada. O uso frequente de gírias, tida como normal da idade, em alguns casos, já pode ser um sintoma. Depois, o usuário vai perdendo a motivação intelectual e os interesses alternativos, como no esporte e na cultura- alerta Jaber.

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    Cynara Menezes em 01/10/2018 - 14h04 comentou:

    este estudo foi desmentido, o próprio texto diz. você chegou a ler?

Marco Antonio em 18/06/2020 - 06h29 comentou:

Quem acredita em tudo o que lê apenas por ideologia, joga no lixo os benefícios que a Verdade Científica pode proporcionar.

Houve ainda estudos em 8 países que comprovaram o mesmo que na Nova Zelândia, principalmente na Suécia, realizado durante 15 anos e que se comprovou o mesmo. Após 1986 pararam de ser contestados, devido aos rigores de sua metodologia.

Depois a defesa da droga ressurgiu, em contraposição a do cigarro, embora os dois compartilhem das mesmas 400 substâncias cancerígenas que suas fumaças exalam, com uma diferença: o cigarro não poda os neurônios, mas ambos destroem os pulmões.

Infelizmente, o discurso, quando tendencioso, omite o que não interessa.

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Marco Antonio em 18/06/2020 - 06h44 comentou:

Eu Parabenizo muitos artigos aqui publicados, mas não sou gado. A ciência vem em primeiro lugar. Na época que os Estudos foram feitos (à partir do final dos anos 60 e concluído nos anos 80 do século XX) em vários países como a Suécia, não existia o estranho interesse em legalizar essa droga como hoje, onde os interesses Capitalistas de lucros e convergem com os Socialistas de liberalização.

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Malu Motta em 10/09/2020 - 15h45 comentou:

Interessante que, passados pouco mais de três anos, pesquisas científicas derrubaram a veracidade desse artigo.

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