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Em que tipo de arte você acredita? Ou: a imbecilização da elite

O provocativo artigo de Mino Carta na CartaCapital da semana, A Imbecilização do Brasil, me instigou a escrever um contraponto às palavras dele. Discordo de Mino e sei que, ao escrever o texto, sua principal intenção era justamente levantar o debate. Não, não acho que o Brasil tenha se imbecilizado. A questão, para mim, diz […]

Cynara Menezes
04 de fevereiro de 2013, 16h56

(o fantástico painel do grafiteiro Toz na zona portuária do Rio. Foto do facebook do artista)

O provocativo artigo de Mino Carta na CartaCapital da semana, A Imbecilização do Brasil, me instigou a escrever um contraponto às palavras dele. Discordo de Mino e sei que, ao escrever o texto, sua principal intenção era justamente levantar o debate. Não, não acho que o Brasil tenha se imbecilizado. A questão, para mim, diz respeito ao que se considera arte. Só Portinari é arte? Existe arte “menor” e arte “maior”? Em que tipo de arte você acredita?

Não vejo “deserto cultural” algum no País. Nos últimos anos, uma nova cultura está surgindo, mas é preciso ter olhos para vê-la. É forte a cultura que vem da periferia e cada vez mais será. Não temos mais Portinaris? Temos grafite. O Brasil é hoje referência mundial em arte de rua. Temos grandes artistas como Os Gêmeos, Nina Pandolfo, Nunca. Estava matutando sobre estas coisas e acabei descobrindo outro fera, o baiano Toz, que acaba de pintar, ao lado de oito grafiteiros, um painel gigante na lateral de um prédio da zona portuária do Rio.

Ao olhar o incrível trabalho de Toz, me dei conta de que a “arte” de que muitos sentem saudade é na verdade uma arte que fica trancada nos museus, que tem de ir à Europa para conhecer. A arte dos grafiteiros está na rua, ao alcance dos olhos de quem passa, não precisa pagar ingresso para ver. Portinari, Di Cavalcanti, Volpi –é indiscutível sua qualidade artística. Mas ver de perto um quadro deles não é para todo mundo. O grafite é –e para mim tampouco é discutível seu valor. Detalhe: o grafite no muro, ao contrário do quadro pendurado no museu, faz qualquer um sentir que pode ser artista. Isso é inclusão.

(detalhe do painel de Toz. Foto: Sergio Moraes/Reuters)

Guimarães Rosa, Gilberto Freyre… Entendo a provocação de Mino Carta, mas vários dos nomes que ele cita em seu artigo vieram da elite brasileira. E não é culpa do Brasil se a elite não cria mais. Se, em vez de ir para a Europa se ilustrar e voltar escrevendo ou pintando obras fantásticas, os filhos da elite agora preferem ir a Miami comprar bugigangas, não é culpa do povo. Quem se imbecilizou não foi o Brasil, foi a elite. Já escrevi aqui, em tom de galhofa, sobre os submergentes: a elite brasileira submergiu, emburreceu, se vulgarizou. Por que a imprensa, como diz Mino, está ruim? Porque a imprensa é o retrato dessa elite decadente e inculta.

Mas, prestem atenção: o que tem surgido de manifestação cultural vinda do povo é muito mais do que interessante. Representa o futuro, não o passado que ficou para trás. O mundo mudou, a arte também. “Ah, mas o povo gosta de axé, de sertanejo”. E acaso o axé e o sertanejo vieram do povo? Ou vieram do mainstream, da elite que controla a música, para pegar o dinheirinho do povo? Ivete Sangalo, que cobra 650 mil reais para tocar sua música ruim até em inauguração de hospital, não veio do povo. Luan Santana não veio do povo. Eles se impuseram ao povo por meio de mega-esquemas de divulgação. É completamente diferente.

O rap que vem da periferia de São Paulo vem do povo. “Ah, mas o rap não é brasileiro”. E o que é brasileiro? A bossa nova? Mas ela não veio do jazz norte-americano e ganhou elementos nossos? A mistura está em nosso sangue e em nossa tradição cultural: bossa com jazz, rap com samba, funk com maracatu. Isso é Brasil. Vejo, sim, grandes talentos do rap surgindo, fazendo ótima música e falando a linguagem do entorno onde vivem. Os rappers são os cronistas dos rincões mais longínquos e esquecidos do Brasil urbano. Assim como, gostando-se ou não dele, o funk carioca nasce no subúrbio, em estúdios de fundo de quintal. É original e vibrante. Não é “arte”? Voltamos ao começo: o que é arte, afinal?

Numa coisa Mino tem razão, a TV brasileira oferece muita coisa ruim. É verdade. Mas eu não sou tão pessimista. A Globo, principal emissora do país, de vez em quando brinda seus telespectadores com coisas bacanas, até mesmo em novelas, seu mais popular produto –Avenida Brasil é um exemplo recente. Ironia: as outras emissoras comerciais, que pretendem tirar a “supremacia” da Globo, não têm nenhuma exceção, só oferecem lixo. Mas vejam só, temos TV a cabo, com várias opções (eu gosto muito do Canal Brasil), e ainda tem a TV pública. Ninguém é obrigado a assistir porcaria, é só usar o controle remoto.

Hoje mesmo li o Zeca Pagodinho se queixando de que não toca samba no rádio. Pois eu ouço samba direto no rádio, sabem por quê? Porque só ouço rádio pública, todas com programação de alto nível e variada. Zeca, como tanta gente que reclama do que toca no rádio, devia simplesmente boicotar as emissoras comerciais.

Não vejo imbecilização alguma do Brasil. Temos uma significativa parcela de pessoas recém-incluídas que já estão produzindo cultura e, incentivadas, produzirão cada vez mais. É uma notícia excelente: não são mais só os 5% de brasileiros que tinham acesso à cultura que podem fazer música, pintura, literatura, cinema. Ainda não deu tempo de uma nova geração de intelectuais, oriunda das classes mais baixas da população, como é possível hoje, se formar. No futuro, tenho certeza, virão daí os novos Gilbertos Freyres, os novos Sergios Buarques de Holanda, escrevendo sobre o País, suas mazelas e seus desafios.

Com a diferença de que, para eles, não será só uma paixão intelectual. Sentiram na pele o que estão falando. Escreverão com as vísceras. E é essa, para mim, a melhor definição de arte, sempre: aquela que vem das vísceras.

 


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Pedro Gualda em 04/02/2013 - 17h12 comentou:

E o cinema nacional vive um ótimo momento!

Responder

    Anderson Lima em 07/02/2013 - 15h38 comentou:

    O cinema Nacional não vive um ótimo momento, na minha opinião. Engatinha pra uma indústria e em 100% dos casos sua bilheteria não consegue nem ao menos pagá-lo.

Daniel Moreira em 04/02/2013 - 17h14 comentou:

Concordo em partes com seu artigo. Entendo que não queira perder seu emprego e por isso usa eufemismos para se contrapor ao preconceito classista do Mino Carta,mas acho errado dizer que a Elite se "imbecilizou". Vocês está usando do mesmo problema do texto do Mino ao tentar consertá-lo. Tem muita gente boa e construtiva na arte atual que vem da elite. Veja Chico Buarque,Walter Sales e João Moreira Sales,Maestro Carlos Martins e por ai vai. Compartilho de várias ideias e argumentos seus,mas essa mania de embutir toda a culpa da mediocridade artística na elite é errada .

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    Yuri em 04/02/2013 - 23h29 comentou:

    Mas desses que você citou ai o mais novo é o Walter Sales que deve ter uns 50 anos. Onde está a nova geração vinda da elite?

    MarGGa Duval em 22/02/2013 - 01h50 comentou:

    kkkk Desculpe-me Daniel, mas acho que o Yuri está certo na observação!

    IANELI MAIA em 05/03/2013 - 15h51 comentou:

    Acrescentando um pouco mais o número de gente boa e construtiva na ARTE ATUAL, cito : ERNESTO SIMÕES (BA), DÉIA STEUDEL (mosaicista-PR), OSCAR ARARIPE (MG)… e por aí vai.

Raphael em 04/02/2013 - 17h17 comentou:

Arte é umas das maiores riquezas do Brasil, se não a maior delas. Um Portinari crescendo nos anos 80/90 pintaria da mesma forma como pintou nos anos 20/30? Ou "pixaria" muros da cidade sob uma alcunha mais "de rua", tipo Port Candy haha
A arte evolui, mais do que isso, se expande, cresce. Novas artes não agradam? Amigo, ou contente-se com o que já foi feito ou desce do mundo

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Ralph Grubba em 04/02/2013 - 17h19 comentou:

Para mim o seu texto é poesia. E poesia é arte. Então seu texto é arte.

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    Cláudio em 04/02/2013 - 20h01 comentou:

    Fecho contigo Ralph.

Matheus Lemos em 04/02/2013 - 17h25 comentou:

Havia argumentado isso, mas em outro contexto: as cotas nas universidades públicas. Essa visão, a de classe, é facilmente esquecida ou não percebida pela elite que "teme" associar um diploma de uma federal com a cor da pele dos profissionais…

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marcosfaria em 04/02/2013 - 18h02 comentou:

Assino embaixo.

Quem hoje reclama que não temos mais um Guimarães Rosa reclamaria nos anos 40 por não termos mais um Machado de Assis, e teria reclamado em 1890 que não tínhamos mais um… sei lá, um Casimiro de Abreu. Eu tenho lido muita literatura brasileira contemporânea de arregalar os olhos, escutado muita música brasileira de tirar o fôlego (e viva as rádios públicas), assistido a um filmaço brasileiro atrás do outro. Esta aí para quem quiser.

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jozahfa em 04/02/2013 - 18h02 comentou:

Uma coisa muito legal é a lei que obriga um conteúdo nacional mínimo nas grades das tvs. Tenho visto ótimos filmes nacionais, infinitamente, mesmo quando medianos, melhores que a maioria dos enlatados norte-americanos.

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Gabriele em 04/02/2013 - 18h11 comentou:

Ótima resposta!
Discordo do texto "A imbecilização do Brasil". Não conheço o autor, mas ao ler fiquei com aquela impressão de estar escutando um "velho ranzinza" falando "no meu tempo é que a vida é boa, hoje nada presta" e cheio de mimimi. E pior: um velho totalmente desatualizado em sua crítica (nada contra velhos, mas me irrita quando parece que o sujeito, para defender sua nostalgia, ataca as gerações atuais). Poxa, em tempos de internet ficar falando de Veja e Globo como os centros da vida cultural das pessoas é bem caído. Claro que as duas continuam poderosas, mas não são mais tudo aquilo não – muitos jovens que conheço passam bem mais tempo consumindo /oue produzindo "material indepente" na web do que assistindo televisão ou folheando revistas. A arte nunca esteve tão democratizada como agora: uma banda não precisa esperar ser "descoberto" por uma gravadora milionária para mostrar a sua música; um artista plástico não precisa expor seu trabalho em um museu para se fazer conhecido. E muitas pessoas gostam de passar tempo googleando e compartilhando essa arte independente e espontânea. Quer arte? Vai atrás, uai, tem muita coisa boa sendo produzida no Brasil.

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    dbacellar em 05/02/2013 - 01h55 comentou:

    O tema principal do Mino Carta não eram as artes plásticas e música, era mais a imbecilização (real, não vejo como contestar) dos jornalistas. Acho que, ao extrapolar a situação do caso especial do jornalismo para o geral das artes, ele se equivocou, mesmo.

    A obrigatoriedade do diploma para jornalistas, a pobreza crescente de nossas escolas (o que, aliás, é um fenômeno mundial, ou, ao menos, ocidental) e os novos meios de comunicação, com prevalência de imagens sobre o texto, são fatores que contribuem para jornalistas ruins. Isso não explica a falta de caráter de muitos deles, apenas a falta de competência de vários e de intimidade com o idioma de praticamente todos. O Português, afinal, é o instrumento de trabalho deles, não é?

Helder em 04/02/2013 - 18h26 comentou:

eu não levo Mino Carta a sério… Carta Capital = Veja

Responder

    Helder (o outro) em 04/02/2013 - 19h31 comentou:

    Mas que comparação absurda! rs

    Cláudio em 04/02/2013 - 20h06 comentou:

    Pô Helder… pisaste na bola.

    dbacellar em 05/02/2013 - 01h56 comentou:

    Lamentável. Você nunca leu a Carta Capital ou, pior, leu e não entendeu. Sinto muito!

Gonzo Kastrowiski em 04/02/2013 - 18h30 comentou:

Socialista Morena , tem muita coisa interessante por aí. Eu mesmo estou fazendo arte. Arte para acordar os mortos e desassossegar os vivos. Arte pequena, mas com grandiosas inteções. Gostei da tua letra, da palavra, da ideia. Há braço!

Responder

Guilherme em 04/02/2013 - 18h41 comentou:

Nas artes plásticas temo Beatriz Milhases, Vic Muniz, Adriana Varejão, Cildo Meireles, Nelson Leirner etc
Alguns com obras no mundo inteiro e cujo preço já passa de milhoes.

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    Ricardo em 07/05/2013 - 03h32 comentou:

    Ou seja, restolho de elite, que nos termos da arte da própria elite não passam de pastilhas Vick, varejistas e etc..

jorge em 04/02/2013 - 18h43 comentou:

Fico com Maiakovski: a arte não é espelho do mundo, mas martelo para forja-lo. Parabens pelo texto, Cynara

Responder

pmoraes em 04/02/2013 - 18h46 comentou:

Qto aos intelectuais, de longe já me lembro de vários nomes que traduzem a conjutura atual de forma brilhante. O que dizer de Vladimir Safatler, Andre Singer e Ciro Cardoso, por exemplo?

Responder

Fernando em 04/02/2013 - 18h46 comentou:

Cynara, beleza de texto. Goste-se ou não tem mil coisas acontecendo no Brasil. Rolam cenas culturais interessantes no Pará, por exemplo, como pudemos ver no "Brasil Adentro" produzido pelo Charles Gavin no Canal Brasil. Acho que o debate sobre cultura da periferia e cultura do "centro" urge e seu texto e o do Mino podem ser considerados, em conjunto, um excelente ponto de partida. Beijos.

Responder

fernanda em 04/02/2013 - 18h48 comentou:

Também concordo em parte com o artigo. De fato, a arte é uma força real no Brasil. Isso, sem dúvida, é uma questão do nosso tempo. Mas, penso, ser necessário diferenciar uma discussão de arte de uma de mercado. São coisas bem distintas e, infelizmente, o mercado é forte, tão forte que é capaz de aniquilar a arte.

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Luiz Guilherme em 04/02/2013 - 18h49 comentou:

Falando em arte de rua, vc mencionou vários artistas. Sugiro conhecer o que Thiago Bender está fazendo. É meu filho, mas indico sem o menor pudor…

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Celso em 04/02/2013 - 19h25 comentou:

" elite" que "elite" esse país nunca teve uma classe digna desse nome, sempre tivemos e continuamos tendo oligarquias em todas as areas, tipo esse exemplo lá de sua região que poderia ser de qualquer outra: " mas eu vim pra Paris gastei uma fortuna pra ver esse mulher feia dando risada? (grande cacauicultor mirando o Monaliza no Louvre"..entendo a imbecilização que Mino se refere é a predominância desse modus vivendus aculturado e ignorante..nossa triste Bahia (sou soteropolitano) e sua rica cultura é vitima desse processo e pelo que me consta a música axé foi criada por Luis Caldas que não vem a ser um representante da "elite".

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@daanlima_ em 04/02/2013 - 19h37 comentou:

Adorei sua resposta! A cultura popular sempre é vista como algo de segunda classe e sem valor, é muito bom ver que ultimamente é a mais produtiva.

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    dbacellar em 05/02/2013 - 01h58 comentou:

    Mas não deixa de ser uma pena que tenhamos perdido o resto.

Leandro em 04/02/2013 - 19h49 comentou:

É sempre mais fácil generalizar. Dizer que “o pais se imbecilizou”. Ou – desculpa aí – mesmo dizer que “foi a elite que se imbecilizou”. Rende “uma discussão”? Pode ser, mas é uma discussão meio boba. O que eu achei mais legal do teu artigo, alem de cutucar o Mino Carta, é apontar a qualidade do mural do Toz. E reconhecer a qualidade de Avenida Brasil. A gente ganha mesmo quando o papo se especifica e se aprofunda. É bacana e importante reconhecer a qualidade do grafite nacional, mas precisamos – sim, precisamos – detalhar o papo. Seria ótimo ler um texto comentando o mural do Toz, comparando o estilo dele com o dos Gêmeos, e por aí vai. Critica, quando é boa (sem arrogância, interessada no mundo e na arte), é útil, sim. Faz a gente ver melhor as coisas. A gente vê melhor quando lê um artigo do Antônio Cândido, do Rodrigo Naves, do Ismail Xavier. Ainda mais num mundão que – graças a Deus e a todo mundo que batalha!- multiplica experiências e criações bacanas, espalhadas por aí junto com os tsunamis pré-fabricados de Luans Santanas. Precisamos mesmo garimpar, e mais que nunca, fazer papel de curadoria, ter coragem de dizer o que achamos bom, o que achamos ruim, e porque. Nao precisamos aderir ao papo meio prateleira de supermercado, meio como na letra do Aldir Blanc, tipo “cada um come o que gosta” (Luan Santana, Crioulo ou Macaco Bong, “é tudo Brasil”, tudo é bonito). Podemos e devemos dizer do que gostamos e porque gostamos. Também nao precisamos empacotar estes gostos em grandes guetos e rótulos (“a elite está morta, e arte vive na periferia!” – ah, é? E o Nelson Freire?; ou “a musica do Fora do Eixo vai enterrar a caretice da MPB – uhmm…; ou “o cinema brasileiro vai muito bem” – mesmo? O som ao redor é um filme bacana, mas acho o que Furtado e o Luiz Fernando Carvalho fazem na Globo bem melhor). Isso é assim desde sempre, né? Nelson Cavaquinho foi um gênio, e o Villa Lobos também; Pasolini e Visconti, idem.
E, pra acabar, tem muita critica boa sendo escrita hoje também. O problema é que os grandes veículos de imprensa, um tanto pela queda das vendas, se renderam ao jornalismo “cultural” de serviços (o que comprar, que filme ver etc,), e a critica se dispersou nos blogs, por um lado, e se enfurnou no gueto acadêmico, por outro. Perdemos todos, porque conversar sobre arte – e sobre sua relação com a vida – virou um troço solipsista (um papo do meu umbigo com ele próprio), sem a saudável pressão do espaço público, do debate. Aí, quando surgem livros como Pornopopéia, do Reinaldo Morais, ou Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves – pra citar dois que até que tiveram reconhecimennto -, não sentimos o choque da grande obra. Na musica, então, nem se fala. Como a gente faz pra aprender, na cultura, a fazer como no futebol, com democracia na base (nas peneiras), e meritocracia no topo (no campeonato brasileiro)? Taí um baita desafio pras políticas públicas da cultura.

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Ricardo Gonçalves em 04/02/2013 - 20h22 comentou:

"Não vejo imbecilização alguma do Brasil". Alguma? Que sorte que você tem, viu… Porque almoçar com meus colegas de trabalho é difícil. Desisti há dois anos. Todos os meus amigos minimamente progressistas dizem o mesmo da hora de descanso em seus ambientes de trabalho (indústrias, escolas (isso é o mais chocante!!!), comércio). E tenho cada vez menos amigos imbecilizados diga-se.

Gostei muito do seu texto, concordo plenamente que é na periferia onde brota a arte que mais me emociona atualmente (o boom de saraus na periferia de São Paulo é maravilhoso!!!), mas não perceber a imbecilização que nos cerca, só posso acreditar que é provocação sua, igual a do Mino, como bem percebeste tu.

Também achei meio forçado atribuir a Avenida Brasil (um poço de lugar comum e estereótipos revoltantes) como algo "bacana", apesar de concordar que a capacidade de dirigir cenas com bons atores improvisando (dá-lhe Marcos Caruso!!!) merece elogios.

Enfim, um texto provocativo em resposta a outro texto provocativo, ambos cheios de mérito e algumas derrapadas.

Parabéns pelo blog, gosto muito, principalmente quando não concordo, o que é raro!!!!

Responder

    dbacellar em 05/02/2013 - 02h05 comentou:

    O ambiente é estéril. A maioria de meus colegas de trabalho só sabe falar de futebol. Já trabalhei em outros lugares mais ricos culturalmente, mas, mesmo assim, com pouca diversidade de opiniões políticas: o que a Veja apresenta é a *Verdade*. Sem discussão.

Claudia PAS em 04/02/2013 - 20h54 comentou:

Ave Cynara, concordo em quase tudo. Acho que imbecil sempre foi a elite e, infelizmente, assim ela permance.

Mas o maior cronista das esquinas do Brasil é o samba que não perde energia, nem vitalidade. Não falo só como carioca. O samba é a mais chique, original e erudita expressão musical do Brasil. Seus itmos descendentes são de riqueza sem fim. E o samba, apesar de compulsoriamente excluído pela elite hoje, exatamente como foi desconsiderado pela elite de ontem, é nossa raiz mais forte.

O Zeca tem toda razão. Samba não paga jaba e não toca em rádio. E o samba fino, cronista de tudo, inovador permanece como voz de protesto. Só ele permanece desafiando os truques e clichês do lugar comum dos ritmos importados.

Não é o rap, jamais seria, sem o funk que fazem a crônica das perifas. Não, mil vezes não. Essa gente não inova em nada. Fazem ciência pobre, numa espécie de clonagem de ritmos, linguagem e das atitudes dos guetos americanos. Perdão, mas o rap é a ridicularização absoluta das favelas ou, melhor, a comercialização absoluta das mesma. A adoção desses ritmos, inclui roupas e das atitudes aliens, importadas, inorgânicas.

Só espero que como todo clone, a vida destas manifestações também seja curta. PoIs tudo o que eu vejo no rap e/ou funk brasileiro não são histórias das perifas, mais marcas da mais horrorosa das patologias que há séculos atinge a elite brasileira: a falta de autoestima.

Beijos que eu vou ali ouvir D. Ivone Lara…

Responder

    Alê Martins em 06/02/2013 - 15h26 comentou:

    O samba também se tornou comercial e tbm adota roupas ,atitudes aliens e inorganicas,lembra do pagode ? Excluir coisas como o rap e o funk,só porque não sao originalmente brasileiras ( é o que é ,ja que somos fruto de uma mistura ) é um pensamento facista.
    Se seguirmos seu pensamento,podemos então excluir a Tropicália,a Bossa Nova e até mesmo o forró da nossa cultura,todas essas têm elementos que vieram de fora,pois o Brasil é descendente da mistura, da Europa,da África e dos nativos que ja viviam aqui .
    Pensando como você ,chego a conclusão que a unica cultura originalmente brasileira é a indígena.

José Pantoja em 04/02/2013 - 21h18 comentou:

Parabéns!
Amo a internet pois me deu oportunidade de ler um texto seu.
O mundo dessa galera tá caindo, a verdade vai prevalecer.

Responder

Gustavo Nolasco em 04/02/2013 - 22h43 comentou:

Cynara, tive o prazer de lhe conhecer no simples lançamento de meu livro (Os Chicos) em Brasília. Desde aquele dia, venho acompanhando seu trabalho. E por mais que eu tenha me contido em escrever o que penso sobre o que vc escreve, agora não aguentei. E lá vai: você é foda prá caralho!!!
Este seu texto é primoroso. Parabéns. Estou na torcida pelo blog. Sempre! Saudações mineiras!

Responder

marcelo acrvalho em 04/02/2013 - 23h15 comentou:

A discussão não é simples assim. Mino exagera e vc passa a mão na cabeça. Axé, sertanejo, pagode barato são sim culturas que vem do povo, pois o reconhecimento é que faz esses estilos terem sucesso. Zeca Pagodinho vem do mesmo saco mas é arte. Grafite tb tem qualidade mas pode ser LIXO. Temos que analisar com mais desprendimento e louvar o debate. Tem alguma coisa boa , mas tem muita porcaria. Quantidade tem , mas a qualidade ainda tem que mostrar que está vindo….e se tiver qualidade , vai ficar.

Responder

Henry Albert em 04/02/2013 - 23h40 comentou:

Da hora!

Responder

alexandre a. moreira em 04/02/2013 - 23h51 comentou:

Cynara Menezes e Mino Carta….sinto muito…seu colega de revista tem opiniões muito mais pertinentes lembram disto:
Folha de São Paulo – Opinião — 3/7/2012

O Nome próprio da cultura

Vladimir Safatle

No Brasil, os debates sobre ação cultural normalmente pecam pelo medo de afirmar as exigências da cultura em voz alta.
De um lado, há aqueles para quem os investimentos em cultura se justificam por permitir o desenvolvimento da “economia criativa”. Nessa visão, cultura é bom porque gera empregos, turismo e desenvolvimento econômico.
De outro, há os que veem a cultura como ponta de lança de serviços de assistência e integração social. Mais música e menos violência –é o que alguns gostam de dizer, como se houvesse alguma forma de relação direita possível. O que abre um perigoso flanco: se o índice de violência não baixar, o investimento em música parece perder o sentido.
Por fim, há os que compreendem cultura como um mero complemento para a educação. Todas as ações culturais devem estar integradas em um projeto educacional pedagógico.
Há de lembrar a tais pessoas que a cultura ocidental construiu seu lugar exatamente por meio da recusa dessas três tutelas. Platão e Rousseau, por mais que enunciassem pensamentos distintos, tinham ao menos a similitude de ver a arte como uma pedagogia para o bem-viver em sociedade. Não por outra razão, um expulsou os artistas de sua cidade ideal e o outro brigava para não abrirem um teatro em Genebra. Afinal, Dostoiévski, Francis Bacon, John Cage e Paul Celan não são exatamente companheiros na arte da descoberta do bem-viver.
A arte serve mais para desestabilizar visões de mundo do que para referendá-las.
Já a subsunção das discussões culturais aos imper ativos da nova “economia criativa” é só mais uma maneira de justificar a lógica de mercador de certos administradores culturais. Assim, eles podem financiar o que circula mais, já que a alta circulação é o critério fundamental para a avaliação dos processos de produção econômica.
Como Britney Spears sempre circulará mais do que Anton Webern, fica justificada a transformação do Estado em departamento de desenvolvimento de subprodutos culturais
para a indústria.
Daqui a pouco, teremos baile funk pago pela Secretaria da Cultura ( ainda por cima, com a desculpa de que se trata de manifestação popular ).
Mas o Brasil mereceria um debate cultural que não precisasse de muletas para se justificar e que não tentasse perpetuar f alsos dilemas –como cultura elitista x cultura popular, cultura dos países dominantes x cultura da periferia e outros absurdos do gênero.
Aqueles que acreditam que a cultura serve, sobretudo, para desestabilizar visões de mundo e compreender a força crítica das formas estéticas deveriam parar de falar em voz baixa.

Vladimir Safatle
é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP.
Escreve às terças na Página A2 da ‘Folha’.

Responder

Neli Colombo em 05/02/2013 - 02h05 comentou:

Excelente artigo! Confesso que fiquei meio incomodada com Mino Carta. Acho que o Brasil está com produções novas, talvez ainda de pouco domínio público. Além dos campos de arte mencionados, penso que há outros, como na Política e na Literatura. Por exemplo, acho que está na hora do Brasil apresentar nomes para o Premio Nobel de Literatura, como o de Luis Antonio de Assis Brasil. O seu último livro "A Figura na Sombra", foi o livro mais fascinante que li, pela escrita, pesquisa, história e romance..

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Edu em 05/02/2013 - 02h58 comentou:

Como falar em cultura num universo marcado pelo analfabetismo e pela ausência de um sistema público de educação de qualidade? Como falar em cultura sem a existência de garantia de padrões mínimos qualidade nas programações dos principais canais de radio e televisão. Como falar em cultura numa ambiente dominado pelas exigências do mercado e da publicidade? Como falar em cultura numa sociedade marcada por diferenças sociais e econômicas tão profundas? Como falar em cultura num ambiente de discussão política tão despolitizado? Não falta razões para o pessimismo.

Responder

demary em 05/02/2013 - 05h58 comentou:

Comecei e não termino mais de amar vc… socraticamente

Responder

Wanessa Wilkow em 05/02/2013 - 11h45 comentou:

TV Pública? Misericórdia!

Responder

Gabriel Fausto em 05/02/2013 - 13h37 comentou:

Concordo! A nova música do Pão de Hamburguer fala exatamente sobre isso, a imbecilização das elites, todas elas:

"Dima Roussef, o que é um quadro?
Barack Obama, pra que servem as árvores?
Carla Bruni, onde moram os pobres?
Eike Batista, ainda existe música?"
http://www.youtube.com/watch?v=saHZ642Z9Ow

Responder

ana barros em 05/02/2013 - 13h56 comentou:

Compartilho seu pensamento e percepeção social. Moro em Natal e faço parte do segmento que curte arte de rua. Consegui enxergar o invisível graças à condição de mãe e sogra de grafiteiros, que vivem, pintam, pensam e criam com a grandeza peculiar de todo artista. Aliás, sendo este proveniente da gente do povo ou não, é elite.
Ana Barros

Responder

Sam em 05/02/2013 - 14h48 comentou:

"Se, em vez de ir para a Europa se ilustrar e voltar escrevendo ou pintando obras fantásticas, os filhos da elite agora preferem ir a Miami comprar bugigangas, não é culpa do povo." — Fantástico! Amei.

Responder

Raul Corrêa em 05/02/2013 - 15h44 comentou:

Texto muito esclarecedor e ótimo em muitos aspectos, mas comete um deslize em algo que critica!
(Muita gente já falou bem, então vamos lá pegar no ponto que eu gosto de pegar, hehe)

Não precisava dizer que a Ivete Sangalo é "música ruim" e botar o Luan Santana no mesmo saco, né?
A música de mercado é muito mais complexa do que parece pras pessoas que só ouvem de beira de ouvido e conseguem, não sei como, julgar a qualidade e o valor dela assim, sem viver proximamente.
Essa música também é expoente artístico e está sendo feita de um jeito que não existia, e limá-la do rol das "coisas que são arte" e do que não é, e que é considerado menos inteligente ou elaborado, é ter a mesma atitude que limar o grafite do rol de "artes visuais". Os meios de se viver música são inúmeros, e usar a receita européia pra analisar e dizer o que é sofisticado e o que é pobre musicalmente não é o melhor jeito para se falar de todos esses meios, e muitas vezes acaba sendo mais uma elitisse que pretende julgar, não sei como, o que presta e o que é lixo.

Responder

    THIAGO em 11/02/2013 - 22h02 comentou:

    Realmente, quando você ouve um Chico Buarque e cai numa Ivete Sangalo, é impossível de limar. Ou Milton Nascimento e Luan Santana, rs. Ou Tom Jobim e Michel Teló. Mesmíssimo nível, rs.

    Tenha dó, Raul Corrêa. Esse tipo de música que vem sendo propagada reflete a realidade do intelecto do brasileiro contemporâneo. "Meteoro da paixão" reflete bem um povo que precisa de propagando no carnaval, sendo ensinado que não se deve mijar na rua.

    Sem mais.

    tetsuoishida em 04/06/2013 - 03h09 comentou:

    Não é bem por essa linha extremista de "o que presta e o que é lixo", mas é possível diferenciar uma obra mais esmerada que outra. Não é preciso ser um gênio para ver que a obra de Cartola ou Luiz Gonzaga é superior à de MC Naldo, todos artistas da classe oprimida. Da mesma forma é notável que a música de Ivete e Luan (dois membros da elite) é superficial., quando comparada à de Arnaldo Antunes ou Gilberto Gil.

João Negrão em 05/02/2013 - 16h20 comentou:

Perfeito!

Responder

Elaine em 05/02/2013 - 16h37 comentou:

Olá pessoas

Cynara e todos, eu costumo ler aqui mas nunca escrevi.
Apenas agora resolvi escrever, pois eu também concordo com o colega acima, que diz que sertanejo, axé e pagode vem sim do povo e merecem respeito, como qualquer outros estilo musical considerado "maior", "melhor", etc.

Não é possível ainda pessoas fazerem pouco caso da música SERTANEJA, seja de raíz, misturada, antiga, atual, solo, dupla, trio…não cabe mais. Em todos os estilos existe o que é melhor, mais ou menos ou pior. E a música sertaneja é um estilo musical que precisa ser respeitado como outro qualquer.

A Ivete, gostando ou não, não pode ser considerada ruim, é uma cantora que agrada a muitos e pronto. E eu nem ligo para o que ela canta, mas adoro música sertaneja desde muito nova, sofri preconceito e acho que chega!!
Se é verdadeiro e de coração, não importa, merece respeito. Nada é perfeito, nunca será!
Um abraço e obrigada

Responder

Elaine em 05/02/2013 - 16h44 comentou:

Olá pessoas

Olá Cynara, só mais uma coisa:
eu gosto de muitos de seus textos e idéias, mas queria dizer que Zezé Di Camargo & Luciano, por exemplo, me emocionam muito, a voz de Zezé é a que mais me toca nesse mundo, eu não tenho vergonha disso, ninguém tem que ter, eu luto (e conheço outros que também fazem o mesmo, gente que gosta de ler, estuda, gosta das mais variadas formas de arte…) para acabar com esse pouco caso que tantos chamados "intelectuais" e afins demonstram com esses artistas. Nós não temos um gosto ruim, nós gostamos daquilo que nos toca a alma e é isso que importa! Obrigada

Responder

    tetsuoishida em 04/06/2013 - 03h15 comentou:

    Não é pouco caso, é uma visão que você não tem por não ter contato com uma arte mais sofisticada e complexa. Pouco caso não é a palavra adequada, mas sim uma avaliação mais técnica, que não visa criticar estilos, mas mostrar que uma arte mais qualificada e menos vendida pode ser feita por qualquer artista. Desde que ele tenha este ideal de privilegiar o desenvolvimento do ofício artístico em detrimento do dinheiro fácil.

Leo em 05/02/2013 - 17h50 comentou:

Complicando e aprofundando ( ou ao ponto e contraponto , o terceiro olho , a terceira margem do rio ,como escreveu GR ) :Ortega y Gasset, filósofo espanhol, definiu como mente colonizada, aquela que ignora o seu espaço e seu tempo. Eis a enorme confusão que se faz entre cultura e arte . Como sugestão , a leitura do brilhante artigo do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães , " Por uma politica cultural eficaz",
com seus 39 muito bem escritos ítens ( ver em http://resistir.info/brasil/politica_cultural.htm… ).

Responder

Wu Ming em 05/02/2013 - 19h40 comentou:

Cynara, entende o esforço em nuançar as posições do Mino, mas acho que vc não entendeu o texto dele.
Ou, pelo menos, não captou o diagnóstico de fundo: o Brasil, intelectualmente, regrediu. Isso é fato.
O que prova isso? Justamente os exemplos que vc quer dar. Arte popular é uma coisa, arte ruim é outra.
Não dá pra levar a sério tecnobrega, Criollo, Ferrez etc. Sinto muito. É ruim demais, é de doer.
Arte é aquilo que te transforma. Tecnobrega, Criollo e Ferrez não transformam nada nem ninguém.

Responder

Shogun em 06/02/2013 - 00h14 comentou:

Os argumentos dela são muito fracos. "É só usar o controle remoto"? Como se todo mundo tivesse Tv paga. Na TV aberta brasileira de modo geral, tem no máximo 5 canais que não precisa de uma TV nova e uma antena potente, para se ver sem muitas dificuldades. E destes 5 canais, nenhum presta.

Tv por assinatura é algo que, como todos sabemos, é dominada pela GLOBO. Que controla, além de metade dos canais, algumas das maiores operadoras do país, como a SKY e a NET. E mesmo com a nova lei de tv paga, a Globo se considera no direito de controlar o conteúdo nacional nestas operadoras. Até o canal citado pela autora, é da Globo. E pelo que o ator, Caio Blat, revela, tudo tem que pagar um certo 'jabazinho', para ser passado na Globo.

Funk, se ela não sabe, é proveniente do que se tocava nos bailes cariocas do começo dos anos 90, que era essencialmente o pior do que se possa chamar de RAP, o Miami Bass (especie de RAP acelerado com letras mais vulgares e com uma batida incessante). Veja aí a Originalidade do Funk -> (http://www.youtube.com/watch?v=u6VTj7LhCtE ) De original no Funk carioca, nem as popozudas, que são derivadas das vagabundas norte-americanas. Veja algumas ai (http://www.youtube.com/watch?v=RDx-3CTQV8c)

O RAP se originou na Jamaica e, mesmo assim, não é algo totalmente original que não tem nenhum paralelo no mundo. No Brasil, de norte a sul, temos nossos repentes e trovadores, que se assemelham muito com a proposta do RAP e, até o Forró, tem uma certa semelhança, mas desta vez com a estrutura, compasso e etc. E pelo contrario do que ela pensa, o RAP está morrendo, justamente por seus novos artistas, serem cada vez mais "midiáticos", e fazerem exatamente o que o mercado manda.O RAP está cada vez mais voltado para as demandas do capital e menos para "reportar" a própria "quebrada". Não se encontra com facilidade um Racionais MC's, hoje em dia – ainda mais com a mão pesada do governo em cima das rádios comunitárias e piratas, que era onde esse tipo de arte tinha espaço – , o que se encontra hoje, é algo que possa ser passado nas rádios comerciais,e em TVs opcionalmente na GLOBO, em seus milhares de canais fechados.

A autora podia citar como arte, o teatro de rua, que vem crescendo bastante, a literatura marginal, que a cada dia nos surpreende, encabeçada em SP pelo escritor Ferrez( que por sinal escreve em revistas progressistas e acabou de lançar um novo livro). Podia citar a cooperifa, podia citar a dança de rua, que já te espaço em muitas companhias de dança por aí…

Mas pelo que vemos, ela está tão imbecilizada, ao ponto de dizer que a Globo passa coisa boa e as rivais só LIXO. Eu hein!? É cada uma.

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Silvio Piovani em 06/02/2013 - 04h15 comentou:

Cynara,
primeiramente não enxergo total discordância entre o seu texto e do Mino… A ideia da renovação cultural vinda da periferia, das ruas, do popular, em oposição ao pacotão de música/novela/livrodeautoajuda está presente em ambos os textos… No do Mino em conclamação, embora haja conclamação também para um movimento de renovação artística vinda da elite, e no seu uma análise otimista de que o objeto da conclamação já está aí para quem quiser ver… A questão entra em dificuldade quando atinge a ideia de que "está aí para quem quiser ver", já que na verdade não é assim tão fácil….
Primeiro é preciso ter acesso à internet. Segundo, é preciso saber onde encontrar na internet. Ao ouvir falar que as rádios públicas tocam sons além de clichês (como diriam no Caipirinha Appreciation Society), é só googleá-las, mas antes de saber disso, a vontade de ouvir tais músicas esbarra na barreira da falta de divulgação. É preciso força de vontade excessiva para encontrar a cultura e arte não puramente mercadológicas. E, depois, com afinco, conseguir tempo para desfrutá-las, já que não é todo mundo que dispõe dessa estrutura no trabalho, no carro, no metro, no onibus… Em contrapartida, o pacotão prefabricado sem genuinidade está presente na vida das pessoas em todos os momentos, ainda que à revelia… Eu sou um resistente inverterado a modinha de facebook, ai-se-eu-te-pegos e afins, mas é simplesmente impossível permanecer incólume por muito tempo. A desproporção das forças é absurda e muitos tomam o caminho mais fácil, que tende a resumir a si mesmo no final, como se não houvesse alternativas a Ivete Sangalo e genéricas ou sertanejos melodramáticos…
Em suma, a iimbecilização toma a forma daquilo que é amplamente difundido e assim torna-se a cultura dominante. E, não se engane, as novelas da Globo contribuem demais para isso, com seus roteiros quadrados e que seguem pesquisas para agradar ao grande público.
A constatação de que nos imbecilizamos não nega as luzes que existem, e que não são mesmo poucas. Ela apenas indica que a grande massa "consumidora de cultura" não tem acesso às suas formas verdadeiramente artísticas e expressivas, sendo gradativamente mais condicionada à simplificação da visão cultural pela "arta" de mercado, como um ciclo vicioso, ou uma bola de neve…
Parabéns pelo texto! O debate é essencial!

Responder

@contactombio em 06/02/2013 - 05h16 comentou:

Hip Hop Brasileiro – p. ex.:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/01/24/livro
http://www.amanhaoudepois.com/2012/06/hip-hop-mov

V.!

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Assis Medeiros em 06/02/2013 - 11h48 comentou:

O simples fato de "vir do povo" não transforma algo em arte. Funk carioca é ruim porque sua estética é tosca. Tosca também é a mente do Mino Carta. Carta e Veja são, no fundo, a mesma coisa (só que ao contrário). Onde está o meio termo??? Falta meio termo.

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Ale Martins em 06/02/2013 - 15h18 comentou:

Ótimo texto, mas ao meu ver, tudo sempre veio do povo ,mas foi comercializado pela elite, o samba veio com os escravos,o forró,baião,com o povo sertanejo e etc . O que acontece é que tudo isso é lapidado e vendido por intelectuais,Caetanos e Chicos da vida ,que possuem uma visão ( por terem estudo,referencias ) de que toda cultura vem da massa,mas a mesmas não conhece o poder da sua arte…inclusive as que você citou,vieram sim do povo,a diferença é que foram " plastificadas",embaladas e comercializadas pela elite,tirando qualquer essência que antes existia nessas culturas,apenas transformando-as em produto pra vender.
Não sou contra intelectuais de elite,pelo contrário,sou contra o monopólio da cultura,isso sim,por isso concordo com você,e graças a internet,hoje em dia todos estamos podendo divulgar nossas artes,ja que televisão e rádio são concessões publicas ,facebook,myspace e outros,não .

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Waldir Rocha em 06/02/2013 - 16h01 comentou:

Cinara,
Acho que alguns dos seus pontos são certeiros: realmente temos muitos artistas florescendo Brasil afora e muitos deles fazendo coisas boas. Entretanto, acho que você transformou inadequadamente a discussão que o Mino fez em uma discussão sobre "o que é arte", e acho que fez isso por, de certa forma, confundir a produção, distribuição e acesso à arte. Não adianta muito haver inúmeros conteúdos disponíveis na internet e controles remotos se as pessoas não mudam o canal (pra não entrar na discussão de quantos têm acesso decente à internet e tv a cabo com uma boa seleção de canais). Chomsky diz que "as pessoas assistem e leem em grande parte aquilo que está prontamente disponível e intensamente promovido". Existe uma elite intelectual que faz proveito mais profundo da internet, mas a massa continua sendo imbecilizada (por estratégia das elites econômicas); quem discordar pode verificar quais são os videos mais assistidos do youtube, conferir as audiências das tvs e as tiragens das revistas e comparar o número de salas de cinema que passam o "Som ao redor" (13) com as que passam "De pernas pro ar 2" (718). Existem sim conteúdos e produções boas, mas a sua distribuição é muito dificultada por questões econômicas, e mesmo quando há a distribuição, a maioria das pessoas prefere o que está intensamente promovido. São causa e sintoma de uma imbecilização profunda.

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Carol Simionato em 06/02/2013 - 18h54 comentou:

Nem 8, nem 80. Ainda que Mino tenha exagerado, sinto um exagero nesse texto também.

Não discordo que há arte brotando no Brasil, e não seria cega o suficiente para negar. O grafite é lindo e deve ser motivo de orgulho, assim como o rap e até mesmo o funk e o technobrega – que embora eu não tenha tanta vontade de defender quanto os dois primeiros, também têm seu valor. São manifestações do povo e para o povo, e há pouca coisa mais legítima que isso. E, principalmente pelo País ser tão grande, é muito interessante como refletem a sua região, ao contrário da "cultura de massa" – o enlatado de cada dia, nojento como os enlatados alimentícios – que ao tentar alcançar a todos não alcança verdadeiramente a ninguém.

Ainda assim há imbecilização, e não vejo como negá-la – e há imbecilização em tudo. Nas artes, no meio acadêmico, nas padarias, nos almoços com colegas de trabalho, na televisão e – e eu até diria principalmente – nas escolas. Talvez haja uma corrente artística forte brotando no Brasil, mas eu não vejo sinal dela ainda. Eu diria que essa arte (e, repito, que arte linda) que vem brotando é dos gatos pingados, e não um movimento com força e característica, um momento artístico. Não dá para dizer que o Brasil é deserto, mas também não dá para dizer que tudo corre bem, nem de longe. E acho que até podermos dizer isso falta mudar muito – começando pela educação que damos aos pequenos.

Não discordo totalmente do seu texto e nem do outro – embora ambos apresentem uma certa fantasia do autor.

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    Carol Simionato em 06/02/2013 - 18h58 comentou:

    Uma adição: pôr a culpa na elite – econômico-cultural e não só econômica – também não dá certo. Acredito que o cenário atual é muito mais culpa de todos do que da elite – que creio que ainda produz, mas em menor quantidade e menos brilhantismo.

Ivan Porto em 07/02/2013 - 03h02 comentou:

É salutar um contraponto ao artigo de Mino Carta. Mas o contraponto feito tem alguns problemas. Por exemplo, cultura não é rigorosamente sinônimo de arte, portanto, a cultura que vem da periferia – e sempre virá – não é necessariamente arte. Outra coisa, arte não é pra acreditar, crença é da ordem da teologia. Mais: na medida em que as artes (música, pintura, teatro, etc.) são transformadas em indústria do entretenimento, claro que há um processo de imbecilização das massas. E no caso do Brasil, não reconhecer isso – embora os pontos de resistência continuam produzindo, inclusive o grafite e rapper), parece ingenuidade. Depois, não sei se Ivete Sangalo veio da elite baiana, dos senhores do cacau, de gente do toinho malvadeza, etc., ora, tem gente, por exemplo, dos chamados sertanejos, que vem do povo e só produz porcaria e imbeciliza o povo. Depois, essa nova arte que vem da periferia, que vem do povo um dia nos dará um novo gilberto freire? um novo chico buarque?… Peraí, é isso o futuro da arte que vem…? E só uma coisa final: a bossa nova não veio do jazz, a bossa nova veio do samba e, algumas vezes, interagiu com o jazz; na verdade, a bossa influenciou muito mais os músicos americanos do que o contrário. Por exemplo, Tom não gravou sinatra, mas Sinatra gravou Tom. Bem, mas contraponto é necessário, pra não cair em um elitização. E no brasil o risco disso acontece é muito pequeno, uma vez que a arte que vem do povo sempre se impõe: por exemplo, Luiz gonzaga, Cartola, os bonecos de Vitalino, etc.

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Fernando Morais em 07/02/2013 - 17h42 comentou:

Prezada Cynira:
Também acho que o Mino – o nosso grande Mino Carta – errou a mão. No que diz respeito à televisão, por exemplo. Concordo com ele em que programas de auditório e atrações do tipo BBB provocam náusea aos portadores de mais de um neurônio. É preciso lembrar, porém, que nem uns nem outras nasceram aqui – mas na Europa, o berço da civilização ocidental. De lá vieram e lá continuam fazendo o maior sucesso. Quem quer que sintonize um televisor num canal de TV aberta nas tardes de Madri, Roma, Lisboa ou Berlim se fartará com versões espanholas, italianas, portuguesas ou alemãs de Gugus e Silvios Santos. E o BBB, essa verdadeira casa dos horrores, é uma franquia de propriedade da holandesa Endemol, vendida a peso de ouro à TV Globo e a canais de mais 23 países. É melancólico, eu sei, mas trata-se da imbecilização da Humanidade.
Do leitor e admirador,
Fernando Morais

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wanderson em 07/02/2013 - 18h03 comentou:

Cynara Cynara… tá muito atraente depois desse texto heim. Escreve mais assim que eu enlouqueço!

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Liza em 07/02/2013 - 19h35 comentou:

Ficou ótimo o texto. É disso que eu falo quando digo pra mãe que arte é o que é bonito, não é só o que vale uma fortuna. Adorei o texto e a argumentação!

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Pitanga do Amparo em 07/02/2013 - 20h02 comentou:

Parabéns Bonita! Corrigiu magistralmente a trajetória do míssil do grande Mino Carta.

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Sônia Gutierrez em 07/02/2013 - 22h04 comentou:

Uma contribuição nesse parágrafo de "O que resta -arte e crítica de arte", de Lorenzo Mammi-ciadasletras, que estou lendo no momento. Havia lido o Carta e discordo também de sua reflexão;acho no entanto que nada é, está/pode ser 'puro' hoje, nem mesmo o grafite com sua democratização. Muito a discutir. A CCapital, aliás poderia fazer uma edição especial e dar voz a artistas -visuais, cineastas, acadêmicos, críticos de arte, estudiosos da cultura brasileira, etc., para pensar esse momento no BR.

"A arte precisa da indústria cultural, embora a negue a cada gesto;a indústria cultural precisa da arte, como de um sustentáculo subterrâneo que todavia se esforça em encobrir, preenchendo cada buraco da superfície. Dessa negação recíproca se desperende algo como a sombra de um valor, o ectoplama de uma verdade.É pouco, mas é o que nos resta." 1996

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THIAGO em 07/02/2013 - 23h50 comentou:

NUNCA LI TANTA PORCARIA!

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE CARTOLA? DOS BAMBAS DO SAMBA?
OU DOS BAMBAS DO BLUES E DO JAZZ AMERICANO?

JA OUVIU FALAR DE JANIS JOPLIN? JIMI HENDRIX?

DE FREEDA KALU?

OU JÁ OUVIU FALAR DE ELIS REGINA QUE SAIU DO BAIRRO DOS NAVEGANTES NO RIO GRANDE DO SUL PRA SER UMA DAS MAIORES CANTORAS DO SÉCULO XXI?

JÁ VOU DIZER DE MILTON NASCIMENTO?
E VAN GOGH?

PRA CITAR ALGUNS.

DIGAMOS TAMBÉM QUE O GENIAL SEJA ELITISTA (E NÃO É, MAS DIGAMOS), COMO VOCÊ TENDENCIA EM SEU TEXTO… EU FICO COM UMA DÚVIDA? SÓ TEM VALOR O LEONARDO DA VINTE SE EU ADENTRAR O MUSEU DO LOUVRE PRA VER MONALISA NA PAREDE PESSOALMENTE?

E SABE O QUE É PIOR QUE A INCLUSÃO SOCIAL NAS ARTES? É A INCLUSÃO SOCIAL DO JORNALISMO, QUE FAZ VOCÊ SENTADO DO SEU COMPUTADOR, NUM APARTAMENTO CLASSE MÉDIA ELITISTA (RISOS), SE SENTIR APTO, COMO QUALQUER CACHORRO DE SOCIALITE QUE CAGA NA CALÇADA A FAZER ARTE (PORQUE NÃO CONSIDERAR, NÃO?), A ESCREVER OPINIÕES!
SE VOCÊ NÃO VÊ IMBECILIZAÇÃO ALGUMA NO BRASIL, CREIO DEVA MORAR EM OUTRO PLANETA E CUMPRIR EXPEDIENTE AQUI. E DE VEZ EM QUANDO.

NEM DEVERIA RESPONDER A QUEM DEFENDE A GLOBO. MAS É QUE FIQUEI INDIGNADO COM TANTA ASNEIRA!

Responder

    morenasol em 08/02/2013 - 00h32 comentou:

    olhe, amigo, normalmente só comentários CIVILIZADOS são publicados, mas é que achei tão hilária a forma como você, que chegou com tanta empáfia, escreveu FRIDA KAHLO (como é, freeda kalu???), que resolvi publicar… se você quiser saber mais sobre a frida, você pode ler aqui mesmo no blog: tem DOIS posts sobre ela. procure. e leia mais, viu? ; )

    alexandre a. moreira em 09/02/2013 - 16h55 comentou:

    Apesar da sua deselegância não posso deixar de concordar com sua linha de raciocínio. Por isto postei no comentário que fiz um texto de um dos colunistas da Carta Capital , o Vladimir Safatle que desmistifica estas questões que o Mino e a Cynara fizeram questão de perpetuar. Se há uma coisa que o texto dela não foi é contrário ao do Mino embora muita gente pense…ela apenas torceu para outros times; a pobreza na análise da questão cultural foi a mesma. Esta história de achar que a arte, como o arroz tem na análise "sociologóide" com seu peso ideológico sua lente de sabedoria é na verdade um Gulag da expressão cultural, muito mais libertária do ser humano do que o que se diz por meio de análises carregadas de "discurso" e não efetivamente de "analise" empírica. Uma armadilha intelectual tão acariciada e diluída entre intelectuais da esquerda que parece aquele cachorro de estimação levados com coleiras de pérolas verdadeiras da real "elite" "burguesa.

Helena em 08/02/2013 - 00h57 comentou:

Cynara, você manda e comanda!

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Nilson Moura Messias em 10/02/2013 - 01h18 comentou:

Cynara, belo texto! Existem divergências nos textos de Mino e Cynara, mas, acho os dois se completam. Dois grandes, com J maiúsculo, jornalistas.

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mauricioeo gomes em 12/02/2013 - 01h58 comentou:

Imbecilização da elite ou imbecilização do Brasil? Ou imbecil somos nós leitores?

Hoje, com a liberdade da escrita, da palavra, da linguagem, espalhadas e visualizadas por todos os cantos e rincões, é fácil lermos o que o outro escreveu, pontuou e marcou com seus dogmatismos, reacionarismos, pedantismos e mais ismos. Todos querem deixar sua marca expressada, seja em blogs, facebooks, enfim nas redes/paredes sociais. Alguns escrevem e não dizem nada, vazio total, outros escrevem e não entendem nada, outros são tão ingênuos que acreditam no que escrevem. Há outros que têm por finalidade combater o que o outro escreveu. Há outros soberbos intelectuais ou vaidosos intelectuais ou reacionários intelectuais ou inquisidores intelectuais ou intelectuais de plantão, ou intelectuais ratos de academia ou intelectuais exibicionistas e por aí se vão. Todos eles querendo mostrar que há algo para dizer/escrever e querem ser ouvidos/lidos e combatidos. Não é interessante e perde o sentido se o outro não combater, não contrapor, não evidenciar suas ideais, assim eles se sentem felizes, compensados , pois alguém os leu e escreveu sobre.
Gladiadores da palavra, sim, uma luta incessante, uma luta vaidosa. Quem convence mais, quem convence melhor, quem se mostra mais, quem tem maior informação, maior conhecimento, quem cita mais filósofos, quem cita mais pensadores de esquerda e de direita?
Vaidades, nada mais!
Leio e leio e ninguém me convence. Vejo lutas e mais lutas, aqueles que querem vencer. Um exibicionismo nada interessante, nada para acrescentar. Duas lutas incessantes que se mostram, os ditos intelectuais de esquerda(os maleáveis, os reacionários, os falsos, os de sobrecasacas) e os de direita(idem). Esperam, prontificados, o que outro diz sobre política, economia, arte, cultura, futebol, carnaval, programas de televisão e muito mais. Cada um com sua visão, seu olhar, seu conhecimento, seu cabedal de vivência intelectual, suas linhas de pensamento e muito mais, começam a tecer seus comentários, suas teses, seus artigos, seus ensaios, alguns escrevem nas redes, outros utilizam os jornais e revistas e outros, os livros.
Todos tentando conduzir seus pensamentos. Persuadem, convencem, duvidam, ignoram, ofendem, enfim, seguem a linha de sempre.
As revistas, jornais e tvs são matérias para vida toda, muito engraçado. Todos os comentaristas de plantão ou não, traçam seus ódios e simpatias a estes meios de comunicação. Alguns contradizem, outros apoiam, outros debocham, outros vacalham, outros usam de escárnio, outros dizem a mesmice de sempre, outros repetem o que os outros disseram, outros tentam ser polêmicos e outros verdadeiros puxa-sacos e outros vazios de argumentação, e outros desastrosos na escrita, e outros zombeteiros e outros só querem ser parasitas.
Buscarei alguns exemplos. A Carta Capital, Mino Carta e seus asseclas, batem sempre nos mesmos botões, a elite(Casa Grande) e a Senzala, não quero contestar e nem afirmar se está correto ou não, mas deixemos as teorias de Gilberto Freire e a nostalgia de lado e o combater Veja e Globo. Há tantas formas de fazer-se entendido, fazer-se contra, fazer-se indignado.
Quem lê Veja, Carta Capital, Folha de S. Paulo e congêneres? A senzala ou a elite? É neste ponto que Mino Carta tem que tocar. A elite que ele combate é a elite que o lê, como a Veja e Folha etc.
O que é ser de esquerda, hoje? O que é ser de direita, hoje? Pregam-se isto diariamente. O que é arte? O que não é arte? Por que ler ou não ler determinada publicação, de determinado meio de comunicação? Por que ser contra ou a favor do governo? Quem o povo deve acreditar?
O jornalismo deve ser mudado, radicalmente. A mentalidade está imbecilizada. O povo é mero espectador das artimanhas do poder. As mesmices não estão somente na Arte/cultura, mas o modus operandi está no topo de toda esta enxuvalhada de vaidades intelectuais que rolam em nosso país desde a simbólica Semana de Arte Moderna. Quem sabe mais? Quem entende mais? Quem dá mais? Quem segue a linha da imposição do status quo? Os críticos, hoje, usufruem de que Crítica, de que Práxis? Mentes vazias de autocríticas e vazias de crítica original.
Há aqueles que usam de seus textos para buscar material, para possíveis teses ou artigos ou ensaios e os comentadores não passam de seres virtuais de laboratório, para não falar ratos de laboratório.
Sou um imbecil!
(Maurício GOmes – [email protected])

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EDUARDO CATALOGNA em 22/02/2013 - 12h29 comentou:

A arte de ser compreendida por todos e ser atemporal E a arte personal será la ao autor gosta e não está nim ai da opinião dos outros

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denis camargo em 24/02/2013 - 14h29 comentou:

Excelente reflexão e provocação. Adorei!

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Thais Santos em 25/02/2013 - 17h49 comentou:

Polêmico e arrebatador! Esse artigo me lembra minhas primeiras aulas no curso de Letras. A discussão sobre o que seria a arte e se é possível defini-la. Acredito muito no que vem surgindo no Brasil como arte, principalmente a arte urbana que vejo nos muros da minha cidade. Outro dia fui pesquisar sobre um artista do meu bairro (periferia de São Paulo) que tem várias obras expostas nos muros por aí, assinadas por "Galo Surreal". Descobri que ele já ganhou prêmios e participou de vários encontros de grafiteiros importantes em diversos lugares do mundo: Europa, África, América do Sul. Fico feliz em saber que haja pessoas assim, que acreditam na arte do hoje, do agora e do real!
Sobre a discussão do que seria a arte, não conseguimos buscar apenas uma definição. Arte, para mim, é a técnica em conjunto com algo pulsante que vem da obra, algo vivo.
Mas sei que há um longo caminho, principalmente nas escolas, para trazer o cidadão para um novo conceito sobre arte.

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henriquealdias em 13/03/2013 - 06h58 comentou:

Quer arte que vem das vísceras? Diga a Mino para pesquisar um pouco sobre Sérgio Vaz, nosso Guimarães Rosa da ponte pra cá. Ou melhor, pesquise você mesma, Cynara.
P.S.: Adoro seu blog!

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razumikhin em 16/03/2013 - 20h29 comentou:

Quando o socialismo vier todos os pintores de parede serão Van Gohgs; quando o socilismo chegar todo autor de sambinha será Sebastian Bach; quando o socialismo estiver entre nós, todo operário será um Rockefeller!

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Ana Palin em 16/03/2013 - 22h30 comentou:

Quem não acha que o Brasil se imbecilizou culturalmente talvez precise dar uma boa voltinha nas ruas, principalmente da periferia. Abram bem os ouvidos, aliás, nem precisa, a "música" sai pelos alto-falantes dos carros, sem respeitar decibéis ou o gosto alheio. Atrás da imbecilização cultural, promovida pela péssima educação escolar brasileira, vem a falta de educação e a violência. Uma agressividade generalizada. Há arte que sensibiliza e não tem sido o funk e similares que tem feito isso. Mas ao pobre é dada a lata para bater. Violino, jamais. Afinal é caro e bonito. Vamos dizer que é de elite.

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Mateus Matias em 23/05/2013 - 23h28 comentou:

Interessante lembrar como, no início do século XX, tanto a mídia quanto as elites despejavam desagrados com a "arte moderna", interpretada como badernização, vulgarização e falta de talento e verve. Agora, um século depois, quando os grandes artistas de então se consagraram como referências inarredáveis e percebeu-se que a ojeriza a eles traduzia unicamente um gosto decrépito e antiquado, vemos a mesma atitude renovar-se. Com uma pequena diferença: soma-se a rejeição aos protagonistas destas novas artes, sua ascendência, sua origem social, seus gritos políticos. Até quando seremos reféns do passado e só seremos capazes de reconhecer nossos gênios depois que forem enterrados pelo peso dos séculos?

Viva a arte que se produz a todo instante, e não cessa, reconheço-o a classe dominante, as academias e seu paladinos ou não.

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nightwishjp em 13/06/2013 - 15h54 comentou:

Só um adendo, não é fácil escutar rádios públicas nas maiorias das regiões do país.

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Nobre em 16/03/2014 - 03h31 comentou:

Não sei quanto a outros lugares, mas aqui na Bahia, a cada um artista original, inteligente, ou "visceral", posso citar 5 ou 6 imbecis em sentido amplo, e todos advindos da cultura popular, inclusive utilizando-se disto como argumento para a legitimação da propagação da música.Como se fosse um tipo de resistência muito bem estruturada e ou válida. Aqui temos o Príncipe(daí você percebe a humildade do sujeito) do gueto, grupos musicais com nomes como Gueto é Gueto_tipo "sou da favela",mereço atenção_ , que não necessariamente condizem com o pensamento periférico, que contribuem significativamente para a "imbecialização" do povo e que também ascendeu aos padrões de elite, como o hit: Lepo Lepo, apesar de ser este uma pérola (no bom sentido, sem sarcasmo) diante de clássicos populares regionaisl como " Rala a tcheca do chão" e " Desce com a mão no tabaco" assim como " Machuca" e "Perereca pisca".

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Leandro Dubost em 12/04/2014 - 14h45 comentou:

Bom texto e concordo contigo. Sempre fui fã de videogames e me doía ver essa discussão "videogame é arte?", pq eu simplesmente não entendia como alguém poderia argumentar contra! Hoje em dia existem inúmeros estudos e livros discutindo até jogos de Game Boy, em toda sua simplicidade, elaboradas em 300 páginas de argumentação. Mas aí vem um besta, que dormiu assistindo "Cidadão Kane" e não sabe descrever um único enquadramento do filme, querer dizer que videogame não é arte ou funk é lixo. Eu odeio funk, eu adoro "Cidadão Kane", eu amo "Super Mario Bros.", e é tudo arte. Tem inúmeras artes por aí que eu não gosto e inclusive consigo elaborar minhas razões, mas elas continuam sendo arte ainda assim – apenas que me desagradam. O problema é esse pessoal que não sabe escrever uma linha de pensamento razoável querer definir seu padrão de "luxo contra lixo" de maneira generalizada e absolutista.

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