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Horrores do capitalismo: escolas públicas dos EUA marcam crianças sem dinheiro pro lanche

No início de abril, a governadora do estado do Novo México, Susana Martinez, sancionou uma lei proibindo estigmatizar e expor as crianças que não têm dinheiro para a merenda, prática conhecida no país como lunch shaming. Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos as crianças das escolas públicas precisam pagar pelo lanche e, em algumas […]

“I NEED LUNCH MONEY”. REPRODUÇÃO FACEBOOK
Cynara Menezes
30 de abril de 2017, 10h37

No início de abril, a governadora do estado do Novo México, Susana Martinez, sancionou uma lei proibindo estigmatizar e expor as crianças que não têm dinheiro para a merenda, prática conhecida no país como lunch shaming. Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos as crianças das escolas públicas precisam pagar pelo lanche e, em algumas delas, se os estudantes não têm dinheiro, recebem um carimbo no braço com a frase “eu necessito dinheiro pro lanche” e são colocadas para fazer pequenos trabalhos em troca da merenda, como limpar as mesas e esfregar o chão do refeitório.

Foi a primeira iniciativa surgida no país mais rico do mundo proibindo a prática. O criador da lei, chamada Declaração dos Direitos dos Estudantes Livres da Fome, o senador democrata Michael Padilla, se inspirou em sua própria história. Criança pobre, cresceu em abrigos e nunca tinha dinheiro para pagar a merenda. Quando estava na escola, era obrigado a esfregar o chão do refeitório para poder comer. “Crianças não têm poder para resolver isso”, ele disse à rádio pública NPR. “Se os pais delas devem à cantina, não é algo que as crianças possam contornar e eu não sei por que são punidas. Então esta lei proíbe isto, criminaliza esta prática e foca mais no bem-estar da criança do que na dívida.”

Por incrível que pareça, a regra de carimbar as crianças sem dinheiro para a merenda é nova em muitas escolas públicas norte-americanas. Com as redes sociais, estão vindo à tona histórias de crianças pequenas de vários estados sendo humilhadas e expostas aos colegas por não poder pagar o lanche. Algumas vezes não é nem por que seus pais não podem pagar, mas porque seu crédito estava baixo –imaginem o que acontece com as pobres de verdade. Em vez de telefonarem ou mandarem algum comunicado para os pais, as escolas preferem marcar o braço dos pequenos com um carimbo, humilhando-os diante de todos, além de jogar o lanche fora na frente deles.

Foi o que aconteceu com o filhinho de Tara Chávez, do Colorado, no princípio de abril: o menino chegou em casa chorando porque recebera um carimbo no braço dizendo “money lunch” (dinheiro para o lanche) em letras maiúsculas. “Ele foi humilhado, nem queria que eu tirasse uma foto daquilo”, disse Tara ao BuzzFeed. Ela explicou que normalmente a criança leva dinheiro extra em caso de necessidade, mas naquele dia não levou e só tinha alguns centavos de crédito na cantina. A foto, postada por um amigo da mãe do menino, viralizou.

Em junho do ano passado, a Gardendale Elementary School, do Alabama, foi acusada de carimbar o braço de uma criança de 8 anos com os dizeres “I need lunch money” (eu preciso de dinheiro para o lanche) e uma smiley face. O pai do menino, Jon Bivens, ficou furioso. “É uma forma de bullying, de envergonhar as crianças”, afirmou. Segundo ele, a escola costumava mandar emails quando o crédito na cantina estava baixo, embora o menino normalmente levasse o lanche de casa e o dinheiro fosse apenas para o sorvete. Ele tirou o filho da escola.

Funcionários de cantinas que desobedecem a norma e servem lanches a crianças que não têm dinheiro para pagar pela comida também correm o risco de ser punidos. Em 2015, Della Curry deu merenda a uma criança com fome, mas sem dinheiro para pagar, e foi demitida da Dakota Valley Elementary School, em Aurora, no Colorado. “Eu estava com uma menininha em frente a mim, chorando porque não tinha dinheiro suficiente para o lanche. Sim, eu dei a ela a merenda”, disse Della a uma TV local.

Em setembro do ano passado, Stacy Koltiska, funcionária de uma cantina de Pittsburgh, resolveu pedir demissão ao receber a ordem de retirar o lanche quente de duas crianças que não podiam pagar e lhes dar apenas um pão frio com uma fatia de queijo. “Os olhos dele estavam cheios de lágrimas. Nunca esquecerei o nome dele, o olhar em seu rosto”, declarou Stacy. A ordem na escola é dar pão frio às crianças com dívida de até 25 dólares e nada aos que deverem mais que isso.

A nova lei do Novo México que proíbe o lunch shaming é válida para todas as escolas públicas, privadas ou religiosas que recebam subsídios governamentais para a merenda. Ela obriga as escolas a fornecer lanche saudável a todas as crianças, sem importar a condição financeira, e facilita o acesso de famílias carentes a programas de lanches gratuitos para seus filhos.

Segundo o senador Michael Padilla, parlamentares de outros estados já se mostraram interessados em fazer leis similares. Mas um assessor de Donald Trump disse recentemente ser contra dar lanche grátis porque “não está comprovado” que fornecer a merenda aumente o rendimento escolar das crianças pobres. Ou seja, vale mais a pena mantê-las famintas.

 

 

 


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(2) comentários Escrever comentário

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Adyneusa em 21/08/2017 - 01h04 comentou:

Morei um tempo nos EUA, na cidade que estive as escolas são todas gratuítas, e vai até o colegial, e oa comida era gratis, levava lanche ou almoço quem quisesse. Mas como muda de estado para estado. Ouvi dizer que pelo lado do Texas tudo é diferente.

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Sergio Luiz de Souza em 26/08/2017 - 14h44 comentou:

Até nisso Doriano, o prefake de São Paulo, é fake. Até isso ele copiou.

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