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Estancaram a sangria: PSDB inclui Temer no clube privê dos inimputáveis

Depois de gastar 32 bilhões de reais do dinheiro do povo comprando deputados, presidente derruba denúncia na Câmara pela segunda vez

Temer deixa o hospital. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Katia Guimarães
25 de outubro de 2017, 23h19

A Câmara dos Deputados voltou a protagonizar, nesta quarta-feira, 25 de outubro, o teatro do absurdo ao salvar pela segunda vez o presidente golpista Michel Temer, apontado pela Procuradoria-Geral da República como chefe de uma organização criminosa que assaltou os cofres públicos. Malas de dinheiro, filmagens e delações com provas não foram suficientes para conter a sanha dos deputados governistas por verbas, cargos públicos e venda de leis que retiram os direitos dos trabalhadores e entregam o patrimônio público. Foram 251 votos a favor do relatório do tucano Bonifácio de Andrada (MG) pelo arquivamento da denúncia. 233 deputados, entre eles todos os parlamentares dos partidos de esquerda, votaram “não” ao relatório.

A vitória de Temer teve direito a dancinha do deputado governista Carlos Marun (PMDB-MS). “Tudo está no seu lugar, graças a Deus”, cantarolou em vídeo feito pelo jornal Folha de S Paulo. “Surramos mais uma vez essa oposição que não consegue nada ganhar”, completou debochando do povo brasileiro.

O país pagou caro, segundo a própria mídia comercial, que execrou o PT e a presidenta eleita Dilma Rousseff para dar o golpe junto com o PSDB e o PMDB de Temer –foram gastos 32 bilhões de reais para rejeitar as duas denúncias da Procuradoria-Geral da República. Ficou mais que comprovado que nunca foi contra a corrupção, como sustentavam os coxinhas liderados pelo candidato derrotado em 2014, senador Aécio Neves (PSDB-MG), e os MBLs da vida. Aliás, o PSDB, como sempre em cima do muro, lavou as mãos na votação e tentou fingir que o relatório não era seu. O líder Ricardo Trípoli (SP), liberou o voto da bancada com a seguinte ressalva: “O relatório de Bonifácio de Andrada não é do PSDB, mas do PSC”, disse, em relação ao deputado tucano, aliado de Aécio, que fez o relatório.

O PSDB, como sempre em cima do muro, lavou as mãos na votação e tentou fingir que o relatório não era seu

Marcada para as 9 horas da manhã, a votação da segunda denúncia só terminou doze horas depois. Desta vez, a oposição, sabendo que não teria votos para afastar o ocupante do Palácio do Planalto, mudou de estratégia e obstruiu a sessão até o fim da tarde. A tentativa era, em um primeiro momento, evitar que a denúncia fosse rejeitada e fazer Temer sangrar. Seriam necessários pelo menos 171 deputados para evitar a votação, mas a oposição, comandada pelo PT, PCdoB, PSOL, PDT e Rede, não passa dos 120, e, mesmo com os dissidentes da base aliada, não conseguiu evitar a queda definitiva da sessão.

Como os governistas alcançaram os 342 deputados para dar início à sessão, a oposição conseguiu que, pelo menos, a votação não acontecesse no horário de expediente do trabalhador. A ideia foi expor ao vivo em TV aberta os deputados que votaram para manter no comando do país um homem que, desde que sentou na cadeira de presidente da República, só adotou sórdidas medidas contra o brasileiro e está acabando com o país. Sob sua mão pesada passaram o congelamento dos gastos com a área social, a lei da terceirização, a revogação da CLT, o fim do combate ao trabalho em condições de escravidão, a venda do patrimônio público e a entrega do pré-sal para as multinacionais petrolíferas.

A oposição conseguiu que a votação não ocorresse durante o expediente, para expor ao vivo em TV aberta os deputados que votaram a favor de Temer

Diante da falência financeira do Estado brasileiro, Michel Temer vem optando por outros métodos para comprar votos: deixar avançar leis conservadoras no Congresso, como a liberação do porte de armas e a redução da maioridade penal, o fim da demarcação de terras indígenas e quilombolas e a devastação das áreas de preservação ambiental. Optou ainda por perdoar e dar descontos de pai para filho para os grandes devedores. Uma das últimas medidas foi a sanção do chamado Refis e o decreto que deu desconto sobre multas por crimes ambientais.

O governo e o Brasil estão reféns das bancadas BBB, Bíblia, Boi e Bala, como são chamados os fundamentalistas religiosos, os ruralistas e os defensores das armas. Outras negociatas envolvendo inclusive concessões de serviços públicos virão por aí, segundo denúncias da mídia comercial. Assim como na primeira denúncia, a compra de votos foi explícita no plenário da Câmara.

O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) atuou como um bedel, chamando a base para votar. Foi flagrado pelo fotógrafo Lula Marques checando a presença de cada governista e conferindo em uma lista de demanda de verbas por município e com valores previamente estabelecidos. “Quero fazer um reforço à base, tão consciente, tão competente nos 17 meses do governo Michel, que venha. Saiam dos seus gabinetes, do cafezinho, interrompam a audiência, o telefonema. Quanto mais rápido nós dermos o quórum, e vamos votar mais vezes para enfrentar a oposição acovardada, vamos ter mais votações. Quanto mais rápido, mais rápido nós vamos sair, com o Brasil livre da oposição ‘quanto pior, melhor’ e dessa denúncia tenebrosa”, dizia.

Ao lado de outros governistas, Perondi acusou a oposição de se esconder nos banheiros da Câmara para não ir ao plenário votar. Os aliados de Temer chegaram a pedir punições administrativas como corte de salários para forçar a oposição a dar quórum no plenário. Mas o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), que anda às rusgas com o Planalto, refutou a ameaça. Até porque, a obstrução é um recurso legítimo da minoria no Parlamento.

Os argumentos dos deputados governistas para defender Temer foram os mais surreais possíveis: “é preciso deixar o presidente recuperar a economia e tirar o país da lama”; “ele vai responder às duas denúncias de corrupção ao final do seu mandato”. Marco Feliciano (PSC-SP) chegou a dizer que iria votar a favor de Temer para que ele seja investigado por Sérgio Moro… depois do mandato. Os mesmos se revezam na tribuna enquanto outros, envergonhados na hora do voto se limitavam a dizer apenas “sim”. O deputado Wladimir Costa (SDD-PA), que tatuou o nome do presidente em seu braço e sofre dois processos no Conselho de Ética da Casa, voltou a fazer presepadas no plenário, xingando a esquerda e bajulando Temer.

O Temer é preparado, tem biografia, uma história maravilhosa como advogado, professor. A inveja dói

A despeito dos 3% que aprovam o governo, o parlamentar afirmou que o Brasil quer a continuação de Temer e chamou os governistas de “éticos” e “compromissados com a causa pública”. Foi um dos discursos mais inusitados da sessão. Wladimir chegou a saudar a biografia do presidente e a “recuperação” do país, ignorando o desemprego estratosférico e a estagnação da economia.

“Os avanços estão aí nos olhos de cada um dos cidadãos brasileiros. A quem interessa a queda do Temer? Rede Globo? Ah! Ah! Rede Globo, engole porque o Temer não treme na tua frente, assim como os cidadãos brasileiros. A quem interessa a queda do Temer? É o PT, porque não aceita que nós destronamos aquela incompetente, despreparada Dilma Rousseff? O Temer sairá ovacionado daqui na noite de hoje. O Temer é preparado, Temer tem biografia, tem uma história maravilhosa como advogado, como professor universitário, como um dos maiores juristas deste País. A inveja dói”.

Como muitos da direita, “Wlad”, ao mesmo tempo que votava com Temer, acusava a esquerda de “corrupta”, destilando ódio ao PT. “Esta oposição covarde, falsa moralista, sensacionalista, mentirosa, barata e rasteira não aceita o sucesso do presidente Temer. Adeus à corrupção do PT, à bandidagem, à formação de quadrilha, ao roubo, ao assalto, ao bando de batedores de carteira que assaltou o povo brasileiro, aos apoiadores da zoofilia e da pedofilia. Engulam! Vocês não vão dormir. Temer quer trabalhar, gosta de trabalhar, não é preguiçoso, e vocês são covardes, despreparados! Deixem o homem trabalhar! Deixem o homem trabalhar! Deixem o Temer trabalhar, Brasil!”, disse, provocando os oposicionistas.

Surpresas macabras devem continuar no governo Temer. O próximo golpe no país está marcado para esta sexta-feira, 27 de outubro, quando Temer irá realizar dois leilões de campos de petróleo do pré-sal. Estarão à venda oito áreas, que possuem cerca de 12 bilhões de barris de petróleo e serão entregues a preço de banana. A equipe econômica quer também votar a reforma da Previdência, apesar de estar comprovado que o déficit não existe. Em meio às discussões no plenário, Michel Temer foi parar no hospital com um problema urológico.

Assim como a votação da denúncia, a farsa da votação somada ao “mal estar” do presidente virou piada nas redes sociais:

Mesmo com a vitória, Temer sai desmoralizado. “Um governo que gasta bilhões em emendas, negocia legislação, comercializa o meio ambiente e ainda procura acabar com o combate ao trabalho escravo pra tentar comprar votos, mas não consegue nem a maioria absoluta dos votos no plenário, mostra que o que o que estamos vendo é um governo moribundo à espera do fim do mandato. O governo já acabou”, definiu Alexandre Molon (Rede-RJ) ao final da sessão.

 

 


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Sergio em 26/10/2017 - 10h22 comentou:

É a hora do povo lembrar disso! e dar o troco nas urnas! Lá, sim, não há demora de justiça em punir o parlamentar, não há votações a base de emendas parlamentares, não há imunidade parlamentar. Infelizmente esses senhores estão lá, porque nosso povo os colocou. Que sirva de lição ao PT. O TEXTO FOI FELIZ QUANDO COLOCOU: “PT, PC do B, PSOL, PDT e REDE (…)”. Que o PT tenha aprendido a lição, e em 2018, não presenteie com gente como Temer, Eliseu Padilha, Sarney, Jade Barbalho, Romero Jucá, Renan Calheiros e cia. Temer, não caiu do céu de um dia para a noite, já havia um histórico e muito bem conhecido, ainda assim, em nome da coalização, o PT deu as mãos a ele. Hora de pensar nisso!!!

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cristinica de cervantes em 26/10/2017 - 10h29 comentou:

Mas qual é a questão da desmoralização? Não há. O judiciário é casta intocável com aquela capa preta de bandidagem, o legislativo, em sua maioria é lixo que pensa que pensa, os milionários são mi aqui e na cochinchina. A pequena burguesia é Ignorante. O que sobrou? A Imbecilidade Triunfante, que a mim não deixa sossego. Eu só queria a minha presidenta de volta.

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