Eu odeio minha geração
Uma dose de poesia para alegrar o dia, aliviar a secura da alma e dos tempos
Meditei
Refleti
Fiz análise
Tomei psicotrópicos
Desbundei
Fumei maconha
Viajei
Mas continuo um merda.
Eu odeio minha geração
Toda bundamolice, egoísmo, choradeira e egolatria
Eu canto minha geração e vomito na minha geração
Porque cada átomo que pertence a vocês
Pertence a mim
E isso me dá náusea.
Hoje arranquei os olhos da televisão
Queimei os campos de futebol
Flanei pelas farmácias espaciais que vendem alegria artificial
Ri das revistas que prometem corpos perfeitos para o verão
E das universidades que preparam moleques para vender seus sonhos no mercado de mentiras
Eu peguei todos meus sonhos, embrulhei num pacotinho reciclado
e troquei por uma plaqueta escrita “empreendedor”
um amigo que era DJ fez a trilha sonora ideal para que inscrevêssemos tudo isso num edital do governo
Perdemos o prazo porque um pequeno grupo de caraspintadas fez um protesto relâmpago que parou a rua
Protestavam contra a erupção do Vulcão
Protestavam contra o passar veloz do tempo
Protestavam contra as árvores que fazem striptease no outono violento Protestavam contra os rios que se despedem sem dizer adeus
O mundo entorta os certos
e premia os cuzões
O mundo alimenta seu ego
E te faz crer que você é especial
Não acredite
Você é bosta
Adubo de plantas
Poeira cósmica
Carbono
água
acaso
O poema mais bonito que Deus jamais escreveu
Fred di Giacomo Rocha, 33 anos, é jornalista, poeta e músico. Este poema está no livro Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI, que, assim como Canções para ninar adultos, foi lançado pela editora Patuá
Renata Lacerda é artista plástica e ilustradora
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Fred Di Giacomo em 26/10/2017 - 19h23 comentou:
Obrigado, Cynara! 😀 beijos
Paulo Martins em 27/10/2017 - 09h10 comentou:
Excelente! O retrato fiel de uma geração tão decepcionante.Eu,que conheci 68 sempre afirmo que minha geração é a culpada por ter legado estas cabeças de merda que hoje dominam o cenário da vergonha nacional.
Cláudia em 27/10/2017 - 15h12 comentou:
Lindo! Também tenho raiva da minha geração, e olha q eu devo ser pelo menos 10 anos mais velha que vc.
Fred Di Giacomo em 06/11/2017 - 14h15 comentou:
Obrigado, Cláudia, se se interessar, pode conferir mais poemas no meu livro aqui: http://editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=129
PAULO em 27/10/2017 - 17h14 comentou:
Simplesmente arrebatador!!!
Fred Di Giacomo em 06/11/2017 - 14h14 comentou:
Obrigado, Paulo! Tem mais poemas no meu livro aqui: http://editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=129
Ângela Valério Horta de Siqueira em 28/10/2017 - 14h50 comentou:
Meu sentimento está estampado em cada letra, cada vírgula. Nossa expectativa talvez tenha sido grande demais e nos alimentamos dela, afinal, transformaríamos o mundo. Realmente, o transformamos para pior. O buraco em que nos metemos e quase passivamente nele permanecemos é o retrato de minha geração, como se o que era forte e decidido tivesse sido, segundo a encomenda, eliminado pelo golpe anterior e ficamos só com a força da adaptação a todos os horrores. Ressalva feita aos inconformados, sempre poucos, que vão às ruas gritar seu desacordo.
Fred Di Giacomo em 06/11/2017 - 14h13 comentou:
Fico feliz que tenha gostado do poema, Ângela! Espero que os demais poemas do livro “Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI” também possam te despertar reflexões e inconformismo 🙂
Vicente Jouclas em 31/10/2017 - 11h12 comentou:
Minha geração?! Sei lá onde se encontra. Mas gostei de ver esse poema.
Fred Di Giacomo em 06/11/2017 - 14h13 comentou:
Obrigado, Vicente!