Socialista Morena
Mídia

Gazeta do Povo reconhece erro e tira do ar plataforma para dedurar professores

Ferramenta foi excluída por “incitar, na escola, o clima de denuncismo e perseguição”, reconheceu a Gazeta, admitindo estar correto o argumento dos sindicatos

Professores dos EUA protestam contra perseguições em 1941
Cynara Menezes
11 de dezembro de 2017, 11h40

O jornal Gazeta do Povo, sediado na República de Curitiba, resolveu tirar do ar a “plataforma X9” que criou com o objetivo de denunciar professores por supostamente “doutrinarem” seus alunos. Espécie de Escola Sem Partido do jornalismo, a plataforma gerou protestos de entidades de professores por ressuscitar as perseguições do macarthismo. A ferramenta foi excluída do site por “incitar, na escola, o clima de denuncismo e perseguição”, reconheceu a Gazeta, admitindo estar correto o argumento dos sindicatos de classe contra a ideia. O jornal também disse ter sido influenciado pela reação de “parte dos leitores, professores, advogados e empresários”. Quer dizer, é possível que o recuo tenha sido motivado por medo de processos na Justiça.

“A reação nos levou a refletir se a ferramenta era condizente com o papel da comunicação, a finalidade editorial e a personalidade da Gazeta do Povo. Se contribuía efetivamente para a construção de um ambiente permanente de debate cordial e construtivo. Se nos colocávamos de forma amiga, respeitosa e inspiradora para fortalecer a educação brasileira. Se estávamos, de fato, cumprindo o propósito de dar poder às pessoas para compreender e transformar para melhor o seu ambiente. Se colocávamos, nesta ferramenta, a comunicação a serviço do desenvolvimento de nossa terra e nossa gente, como é missão deste veículo”, escreveu o jornal.

Estimular a quebra de confiança é capaz de ferir mortalmente a democracia e a busca pelo bem comum. O dano é amplificado quando se trata de crianças e jovens sem maturidade para avaliar se a postura de quem está diante de si é adequada ou não

A Gazeta, que pertence ao mesmo grupo da Globo local, reconheceu ainda que estimular o denuncismo em sala de aula seria, como disseram as entidades dos professores, estimular a quebra de confiança mestre-aluno. “Um dos grandes males da sociedade é a quebra de confiança. Estimular essa ruptura, no segmento que for, é capaz de ferir mortalmente a democracia e a busca pelo bem comum. O dano é amplificado quando se trata de crianças e jovens ainda sem maturidade para avaliar corretamente se a postura de quem está diante de si para ensiná-los é adequada ou não.”

O “mea culpa” vai além e o jornal se insurge contra os próprios princípios do famigerado projeto Escola Sem Partido, ao admitir que é impossível separar o professor daquilo que acredita enquanto cidadão, seja ele de direita ou esquerda. “Entendemos, ainda, ser impossível que se prescinda totalmente de que se acredita. Nossos valores e visão de mundo são pano de fundo para nossos atos e manifestações. É algo inafastável da realidade humana. Naturalmente, vale também para docentes. Portanto, torna-se utópico querer que, em sala de aula, o professor apresente um conteúdo sem que isso seja influenciado por aquilo em que ele acredita.”

Infelizmente, a Gazeta, ligada à direita paranaense, insiste em ver “abusos” no conteúdo propagado pelos professores, sem que exista evidência disso e se coloca no absurdo papel de querer julgar o que é “certo” ou “errado” em educação

Infelizmente, a Gazeta do Povo insiste em ver “abusos” no conteúdo propagado pelos professores nas escolas, sem que exista qualquer evidência disso. Novamente, o jornal, ligado à direita paranaense, se coloca no absurdo papel de querer julgar o que é “certo” ou “errado” em educação. “Não concordamos com situações de abuso. Elas existem e têm se tornado muito frequentes, tanto com a manifestação recorrente de opiniões de caráter partidário quanto com a exposição de temas moralmente inadequados”, diz o texto. O que é “moralmente adequado”, Gazeta do Povo? Submeter criancinhas ao ensino religioso obrigatório?

 

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
Nenhum comentário Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Kapital

Câmara aprova financiamento que deixa estudantes com a corda no pescoço


MP transforma o Fies em um sistema escorchante, como ocorre nos EUA, onde o jovem sai da faculdade com uma dívida gigantesca nas costas

Cultura

Pedagogia da ignorância: reaça usa rede do governo federal para atacar Paulo Freire


Apenas um mês atrás, um levantamento feito com base na ferramenta de busca Google Scholar apontou a Pedagogia do Oprimido, do educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997), em terceiro lugar entre os livros mais citados por pesquisadores…