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Padilha diz ter sido extremamente fiel aos fatos em filme sobre sequestro de avião

"A verdade não precisa de defesa, a mentira precisa", disse o cineasta em Berlim ao lançar Sete Dias em Entebbe, que estreia no Brasil

O diretor José Padilha em Berlim. Foto: divulgação
Da Redação
23 de abril de 2018, 10h29

O diretor José Padilha está em cartaz nos cinemas brasileiros com mais um trabalho baseado em fatos reais: Sete Dias em Entebbe. O filme conta a história do sequestro do vôo Tel Aviv-Paris da Air France com passageiros israelenses a bordo que foi desviado por radicais alemães pró-Palestina para Uganda, em 1976. Mas, ao contrário do que ocorreu com a polêmica série da Netflix O Mecanismo, onde Padilha colocou a famosa frase de Romero Jucá na boca de Lula, no filme hollywoodiano ele disse ter se preocupado em ser extremamente fiel aos fatos.

“Era muito importante para mim tentar obter o máximo de detalhes possível”, declarou o diretor ao site Hollywood Reporter em fevereiro, quando o filme estreou no festival de Berlim com péssimas críticas. “Nós falamos com um monte de pessoas que estiveram lá naquela época, incluindo cinco ou seis soldados que fizeram parte da operação em si. O critério foi trabalhar com testemunhas diretas, em vez de pessoas que disseram ‘eu ouvi falar’ ou ‘eu acredito’ que tenha sido assim. Então eu acho que nós estamos próximos à verdade.”

Na entrevista coletiva em Berlim, Padilha insistiu que sua versão dos fatos foi acurada. “A verdade não precisa de defesa, a mentira precisa”, disse. “Quando filmei a sequência (do tiroteio final), tinha a meu lado Amir Ofer, que foi o primeiro soldado a entrar no terminal. Quando coloquei as marcas para os atores na sequência final, os soldados que estiveram presentes na missão de resgate me ajudaram a recriar a realidade. Eu respeito as versões de todos que realmente estiveram lá porque foram testemunhas oculares. Versões de pessoas que não estiveram lá são versões de pessoas que não estiveram lá.”

Amir Ofer, um ex-membro do Exército israelense que participou da operação, disse que Padilha foi absolutamente fiel ao que aconteceu. “Claro, é um filme, e foi preciso material adicional. Mas ele estava realmente buscando criar a mais autêntica representação do que foi a operação”, disse Ofer. O diretor também contou ter ido pessoalmente a Tel Aviv conversar com muitos dos soldados e também com os reféns para chegar o mais próximo possível da realidade.

O ator alemão Daniel Bruhl, que interpreta o líder dos sequestradores, Wilfried Böse, deu entrevistas falando como o filme de Padilha se preocupou em reproduzir os fatos exatamente como eles aconteceram. “Nós trabalhamos com um dos soldados, na verdade o que matou meu personagem, e isto ajudou os outros atores e figurantes a recriar a operação da maneira mais autêntica. Ele se sentiu um pouco estranho quando viu que nós reconstruímos o terminal em Malta, porque achou que era tão incrivelmente acurado que sentiu um impacto forte”, disse Bruhl.

Era muito importante para mim tentar obter o máximo de detalhes possível. O critério foi trabalhar com testemunhas diretas, em vez de pessoas que disseram 'eu ouvi falar'. Então eu acho que nós estamos próximos à verdade

Quanta diferença para o que o diretor fez em O Mecanismo! Além da frase de Jucá na boca de Lula, várias outras “liberdades” foram tomadas, como situar o escândalo do Banestado durante o governo do petista, quando aconteceu no governo FHC, e criar uma amizade que nunca existiu entre Dilma e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Quando a presidenta eleita, em texto publicado em seu site, o acusou de “inventar fatos”, Padilha disse que Dilma “não sabe ler” e que a série, embora baseada em fatos reais, era uma “obra-comentário” (sic).

“Na abertura de cada capítulo da série avisamos que fatos foram alterados para efeitos dramáticos. Quem é que detém o domínio da ‘realidade dos fatos’ a que você se refere? O Lula? O Temer? O STF? O Marcelo Odebrecht?”, disse Padilha, para quem a cobrança de precisão na série sobre a Lava-Jato era “boboca”. Pelo visto, isso só vale quando a “ficção” é sobre petistas.

Ironicamente, todo o empenho do cineasta brasileiro em ser “fiel à realidade” no caso do sequestro do avião não o fez ficar imune às críticas, pelo contrário: foi acusado por israelenses de “recontar” a história. Até o filme, o irmão do atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Yoni (Yoanatan), único soldado morto na operação, era tido como um “herói” e líder da operação de resgate. O filme de Padilha dá a ele um papel apenas lateral na trama.

 

 


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(5) comentários Escrever comentário

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Luiz em 24/04/2018 - 19h48 comentou:

O Mecanismo é a serviço do governo dos EUA, é só verificarem quem é o dono da Netflix

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Alexandre em 25/04/2018 - 12h07 comentou:

A visão de Padilha, é o ponto de vista médio do coxismo. O “Sistema”, o verdadeiro nome do “Mecanismo”, já usado inclusive em Tropa de Elite. Algo externo, superior, incompreensível , consciente e violento que massacra a sociedade brasileira “de bem”. Um pensamento raso que esquece de incluir a si mesmo ao tal “Sistema” quando reproduz, preconceitos, violências históricas e, sobretudo, desigualdades., em nome de um purismo moralista, provinciano de tez religiosa e pior: Antipolítico (sentido original e verdadeiro da palavra).

https://novoexilio.blogspot.com.br/2018/01/o-gatilho-caneta-e-os-dois-brasis-por.html

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Allan Patrick em 25/04/2018 - 16h50 comentou:

Não quero saber de mais nada desse cidadão. O caráter e o tipo de pessoa que ele é já ficou devidamente claro com O Mecanismo.

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FJ Santos em 27/04/2018 - 13h00 comentou:

O cara faz um filme para os israelenses e consegue desagradar os israelenses, rs?

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Luciano em 25/10/2018 - 20h33 comentou:

A frase do Padilha no titulo da matéria é mais que uma frase, é um chute bem dado no meio da cara da mentira e da maquiagem dos fatos eu já gostava desse cara desde os tempos de Tropa de Elite agora ele ganhou meu respeito.

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