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Katia, Nicole, Katrina, Irma… São piores os furacões com nome de mulher?

Em Cuba, a impressão de muita gente é que os ciclones com nomes femininos foram mais destruidores do que os que tiveram nomes masculinos. Será verdade?

O furacão Irma visto do espaço. Foto: NASA
Orfilio Peláez
09 de setembro de 2017, 23h19

O costume de colocar nomes nos ciclones tropicais em Cuba remonta à época da colônia, na primeira metade do século 20, quando se costumava chamá-los pela denominação do santo cuja festividade coincidisse com o dia da chegada do furacão, o lugar onde passavam, ou por ser algum acontecimento célebre.

Se nos referimos à primeira das razões mencionadas podemos citar, por exemplo, os casos da Tormenta de Santo Agostinho (27 a 28 de agosto de 1794), a Tormenta de São Francisco de Assis (4-5 de outubro de 1844) e a Tormenta de São Borja, reconhecido como o furacão mais intenso que já atingiu Cuba.

Na sua passagem por Havana se registrou o valor mais baixo de pressão atmosférica documentada em nosso país, com 916 hectopascal, enquanto seus ventos abarcaram desde a atual porção oriental de Pinar del Río até quase o limite entre Matanzas e Villa Clara.

Dentro do segundo grupo aparecem o furacão de Trinidad (14 de outubro de 1882), o de Nova Gerona (25 a 27 de setembro de 1917), e o de Santa Cruz do sul de 9 de novembro de 1932, que causou o maior desastre natural ocorrido em Cuba, ao provocar a morte de cerca de três mil pessoas.

Outros ciclones tropicais adquiriram relevância e passaram à história por causar acontecimentos dramáticos ou castigar durante muito tempo uma mesma zona do país.

Foi assim com o furacão de 9 de setembro de 1919, que provocou o afundamento, em águas do estreito da Flórida, do vapor espanhol Valbanera, com mais de 400 passageiros a bordo, e ficou identificado para sempre pelo nome do barco, e o famoso furacão dos Cinco Dias, de 14 a 18 de outubro de 1910, o qual se manteve descarregando sua fúria sobre Pinar del Río ao longo de umas 120 horas, principalmente em seu extremo ocidental.

Em 1941, o escritor estadunidense George Stewart publicou um romance chamado Tormenta (Storm), onde o personagem principal é um meteorologista jovem que põe o nome de sua namorada em um furacão.

Este livro teve muito sucesso editorial nos Estados Unidos e, quando o país do norte entrou na Segunda Guerra Mundial e começou a bombardear as bases japonesas no Pacífico, os pilotos começaram a utilizar nomes de mulheres, basicamente as esposas, namoradas e amigas, para identificar as atividades ciclônicas que apareciam nos mares desta região do planeta, seguindo a forma que Stewart adotou em seu romance.

Durante mais de 20 anos só foram empregados nomes femininos para os furacões, até que, em 1979, se acabou com esta discriminação, ao se utilizar pela primeira vez designações masculinas

Em 1953, como uma forma mais acertada de favorecer o trabalho de acompanhamento dos ciclones tropicais e distinguir claramente cada um deles, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) tomou a decisão de dar nomes oficiais a estes sistemas, seguindo uma ordem alfabética e utilizando de forma alternada os idiomas inglês, espanhol e francês, no caso específico de nossa área geográfica.

Vale esclarecer que os ciclones tropicais recebem uma denominação quando alcançam a fase de tempestade tropical (de 63 a 118 quilômetros por hora).

Durante mais de 20 anos só foram empregados nomes femininos, até que, a partir de 1979, se acabou com esta discriminação, ao se utilizar pela primeira vez designações masculinas.

O Comitê de Furacões da IV Região da OMM, ao qual Cuba pertence, utiliza uma lista de 21 nomes previamente confeccionada nos idiomas antes citados, que se repete a cada seis anos. Não incluem as letras Q, V, X e Y, porque não são muitos os que começam com estas letras.

Quando há uma temporada incrivelmente ativa e acaba a lista correspondente, se lança mão do alfabeto grego, como ocorreu em 2005, quando houve 28 ciclones tropicais, dos quais 15 foram furacões.

Também são retirados da lista os nomes daqueles fenômenos que ocasionaram grandes perdas materiais e de vidas humanas. Assim sucedeu, por exemplo, com Flora, Andrew, Mitch e Katrina, para citar alguns exemplos.

E, embora não poucas pessoas compartilhem a impressão de que, pelo menos em Cuba, os furacões com nome de mulher sejam mais complicados de seguir, percorram rotas imprevistas e costumem ser muito mais destrutivos, a vida demonstra que, de ambas as denominações de gênero houve furacões bem daninhos, inclusive talvez os masculinos tenham sido piores em termos gerais (recordar a Iván, Gustav, Ike, Dennis, Matthew), ainda que Irma já ocupe um lugar de destaque, ao ser o primeiro da máxima Categoria 5 na escala Saffir-Simpson a tocar algum ponto do território desde que o furacão Fox chegou a Cayo Guano del Este, ao sul de Cienfuegos, em outubro de 1952.

Do Granma, em Cuba

 

 


(1) comentário Escrever comentário

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Kire em 16/09/2017 - 11h40 comentou:

Um furacão, ou “furacoa”, ganha seu nome quando ele/ela “nasce”. Neste momento do seu nascimento ainda não é possível saber se elx será um furacão/furacoa de categoria 5 ou apenas uma tempestade tropical.

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