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Ministério Público do Trabalho quer impedir jogos com sol a pino na Copa

Jogador de futebol é trabalhador? Claro. E o Ministério Público do Trabalho quer impedir que eles trabalhem durante a Copa com o sol quente na cachola, correndo durante mais de 90 minutos, por causa do risco à saúde. O procurador Valdir Pereira da Silva acionou a Fifa para que mude os horários dos jogos marcados […]

Cynara Menezes
20 de março de 2014, 17h27

(O jogador Douglas passou mal esta semana por causa do calor. Foto: Léo Pinheiro/FuturaPress)

Jogador de futebol é trabalhador? Claro. E o Ministério Público do Trabalho quer impedir que eles trabalhem durante a Copa com o sol quente na cachola, correndo durante mais de 90 minutos, por causa do risco à saúde. O procurador Valdir Pereira da Silva acionou a Fifa para que mude os horários dos jogos marcados para as 13h por considerar que se trata de um horário insalubre para se praticar esporte em um país tropical como o Brasil. Na Copa de 2010, na África do Sul, não houve jogos neste horário: de acordo com a tabela, os jogos aconteceram às 08h30, 11h e 15h30. Na Copa 2014, porém, foram agendados 24 jogos à uma da tarde, sete deles no Nordeste e cinco em Brasília, em plena época da seca.

Itália e Uruguai, por exemplo, se enfrentam neste horário no dia 24 de junho, em Natal (RN). Estados Unidos e Alemanha jogam sob o sol recifense à uma da tarde do dia 26 de junho. Se para os brasileiros já é difícil, os gringos vão aguentar? O procurador acha um abuso. “Sou maratonista, não há condição de se praticar esporte neste horário, no calor”, diz Silva. Ele citou a morte de um atleta ocorrida em 2011 na maratona de Chicago, nos EUA, sob suspeita de que foi causada pela alta temperatura –os resultados da necrópsia  foram inconclusivos. Em 2007, o calor foi tão grande em Chicago que centenas de participantes da maratona desmaiaram ou vomitaram durante o percurso. Em janeiro deste ano, o canadense Frank Dancevic desmaiou durante uma partida do Aberto de Tênis da Austrália. Nove atletas abandonaram o torneio na primeira rodada por causa do forte calor, que chegou a atingir 45ºC.

No futebol também ocorreram casos semelhantes. Em 2009, o jogador russo Piotr Bystrov sofreu um derrame cerebral por insolação nos minutos finais de uma partida, sob uma temperatura de 33 graus. Em 2008, o atacante chileno Mauricio Pinilla, então no Vasco da Gama, não resistiu ao calor de 40ºC no Rio e vomitou após o treino. Em 2010, o jogador Moysés, do América de Minas Gerais, desmaiou em campo durante uma partida de futebol às 11h, com os termômetros marcando 40ºC. Esta semana, o lateral direito Douglas, do São Paulo, quase desmaiou no gramado enquanto treinava, provavelmente vítima do calor.

“Não é porque os jogadores de futebol ganham bem que vamos deixá-los trabalhar sob estas condições desumanas. Eles são trabalhadores, sim”, defende Silva. De acordo com o procurador do Trabalho, a Fifa não forneceu informações suficientes para garantir que não haverá risco para a saúde dos atletas ao jogar neste horário. Ele perguntou o porquê da escolha, e o órgão não respondeu. Disse apenas que a entidade possui respaldo médico para isso. “As explicações foram insuficientes”, afirmou o procurador. Alguns técnicos estrangeiros já reclamaram do calendário feito pela Fifa para o Brasil. “Acho quase irresponsável que se jogue futebol num lugar desses no meio da selva, no meio da Amazônia… Acho que o lado comercial assumiu a precedência, e não estou de acordo com a Fifa”, disse o treinador da seleção suíça, Ottmar Hitzfeld, em fevereiro.

O MPT foi acionado pelo Sindicato dos Atletas Profissionais e pela Federação Internacional de Jogadores de Futebol, preocupados com a saúde e a segurança dos jogadores durante a Copa. O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valck, garantiu que haverá paradas de 30 minutos entre os tempos caso a temperatura exceda os 32º C, mas a Federação quer que o limite seja de 27,9ºC. “O FIFPro, a voz de todos os jogadores no mundo, pede para que a Fifa considere novamente a saúde e a segurança dos jogadores durante a Copa de 2014 como prioridade. Recomendações da Faculdade Americana de Esportes e Medicina indicam que todas as atividades contínuas e atividades de competição precisam ser canceladas quando o nível excede os 27,9ºC. Se a Fifa decide organizar jogos sob estas condições extremas, então deveria, ao menos, se obrigar a introduzir paradas para descanso”, diz uma nota divulgada pelo sindicato no final do ano.

O médico Turíbio Barros, especializado em Medicina Esportiva, publicou um texto na internet alertando para os riscos de se jogar futebol neste horário. “No jogo da Copa das Confederações realizado em Fortaleza dia 23 de junho passado entre Espanha e Nigéria, chamou a atenção o sofrimento dos jogadores espanhóis com o calor da cidade do Nordeste brasileiro. Vale lembrar que o jogo foi iniciado às 16 horas e a temperatura estava absolutamente dentro da média para esta época do ano”, escreveu –na volta do intervalo, o jogador Sergio Busquets passou mal e quase desmaiou. “Se os espanhóis já sofreram com o calor, chegando mesmo a solicitar atendimento médico no jogo realizado às 16 horas, o que vai acontecer numa partida realizada às 13 horas? Certamente quem definiu este horário não terá nenhum problema com o calor! A decisão inclusive deve ter sido tomada em uma sala com ar condicionado mantendo uma temperatura muito agradável.” Para o médico, “o impacto desta sobrecarga térmica para atletas disputando uma competição de alto rendimento causa grande temor”.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, já declarou que não irá fazer nenhuma alteração nos horários porque “os jogadores estão acostumados a jogar em condições que nem sempre são as melhores”. Mas isto foi antes de o Ministério Público do Trabalho entrar em ação para defender os operários da bola.


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(12) comentários Escrever comentário

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Bacellar em 20/03/2014 - 18h27 comentou:

13:00h só é bom para os telespectadores europeus. Nnao só atleta que sofre trabalhando no calor ao meio dia, fotografando nesse horário, com todo o equipamento, e obrigado pelo empregador a usar camisa e calça já cheguei a perder um maço de cigarros no bolso da camisa de tão encharcado de suor que ficou…Affe!

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    Vitor em 21/03/2014 - 18h22 comentou:

    Já pensou em parar de fumar?

    Maia Kaefman em 22/03/2014 - 05h06 comentou:

    Ja pensou em chupar meus testiculos?

    Bacellar em 24/03/2014 - 22h39 comentou:

    Desculpem leitores e blogueira, principalmente ao Vitor, estava irritado na hora e cometi essa grosseria estupida.

Marco em 21/03/2014 - 00h04 comentou:

Cortar cana pode! Varrer rua pode! cade o MPT? quer somente aparecer….

Responder

    Luciano alencar em 21/03/2014 - 19h07 comentou:

    É verdade. Aqui no Nordeste garis e operários capinam ruas, varrem, fazem trabalhos pesados na construção civil etc. Nunca se viu procurador nenhum preocupado com isso.

Paulo Cezar Soares em 21/03/2014 - 02h48 comentou:

Espero que o Ministério do Trabalho seja bem sucedido em não permitir jogos às 13hs. Trata-se de um desrespeito aos jogadores. Tudo é feito no sentido do lucro. Na Copa dos Estados Unidos os jogos também foram realizados às 13hs, se a memória não me falha. Excelente iniciativa.

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andreromeo em 21/03/2014 - 21h08 comentou:

Brasil campeão na copa do México com jogos ao meio dia do verão, contra europeus saídos diretamente do inverno… (não lembro de ter ouvido algum brasileiro reclamar)

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    Marcilio em 22/03/2014 - 17h52 comentou:

    A copa do México/70 foi de 31 de maio a 21 de junho, portanto ainda no final da primavera no hemisfério norte (México e Europa incluídos, claro), onde (diferentemente do Brasil) o verão começa exatamente em 21 de junho. Mas já estava quente mesmo.

Marcilio em 22/03/2014 - 16h27 comentou:

O horários dos jogos leva em conta (ou são determinados) pela audiencia do telespectador europeu.
Com a diferença do fuso horário (4, 5, 6 horas) ficaria muito tarde na noite para eles.
E como a transmissão televisiva da Copa é na verdade paga pelos anunciantes, certamente estes não estariam dispostos a desembolsar tantos milhões para pagar imagens para uma Europa que estaria dormindo e, portanto, não vendo os seus anúncios.
A FIFA está pouco se importando com o bem-estar dos atletas.
Quer mais é encher os cofres e o resto que se dane!

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Tutameia em 23/03/2014 - 20h53 comentou:

e a importância desse tema é…não sei

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Ricardo em 24/03/2014 - 22h39 comentou:

Tô de acordo com o MPT, todos têm direito a ter sua integridade respeitada, não importa o quanto ganhem. Mas espero só pelos preconceituosos de sempre dizendo "só ganham pra jogar bola, não estudaram" e bla bla bla, com se futebol fosse uma profissão fácil. Quem já jogou sabe que não.

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