O direito ao veraneio

O senador Cristovam Buarque tem uma proposta que põe a felicidade na Constituição. Acho bacana, senador, mas a felicidade, deste jeito colocada, parece algo perene demais –além de intangível. Felicidade não é para sempre. Proponho algo mais passageiro e que, por sinal, também traz felicidade, imediata, e muita: o veraneio. Por que não incluir o veraneio entre os direitos fundamentais do ser humano? Inalienável.

Todo mundo devia ter o direito de veranear, nem que fosse uma semaninha por ano. Aí vocês me dizem: mas veraneio? Se o povo não tem nem educação, saúde… Ora, saúde e educação deveriam ser o mínimo a que as pessoas têm direito, obrigação de qualquer governo. Estou falando de sonho, de um plus, não do básico.  Na minha idéia de socialismo, haveria veraneio garantido para todos. Ou não seria socialismo.

Veraneio é assim: você trabalha o ano todo e depois dá um trabalho danado viajar com a família. Tem que pegar avião, ônibus, carro. Tem que fazer mala e desfazer. Dá até preguiça só de imaginar. Mas depois que você chega lá, lembra na hora por que é que foi. É um repouso, um sossego, um não lembrar que dia é da semana, que valeu tudo, o ano trabalhado, a confusão da viagem, as malas, a estrada cheia… O melhor lugar do mundo é ali. E agora.

Primeiro, a brisa da praia, se for perto dela. Tem coisa mais deliciosa do que brisa? Ou o banho de rio à tardinha, se for no interior. As crianças enlouquecidas de felicidade de estar juntinho dos pais, livres da preocupação do dia a dia, inteirinhos delas… E os primos! Tem amigo mais legal do que primo? Sair de veraneio com os filhos é garantir a eles lembranças boas de infância para o resto da vida. Quando eu era criança, o veraneio era tão importante para as famílias que tinha até um carro chamado Veraneio. Para colocar a filharada dentro (e sempre eram muitos) e sair por aí.

Porque tem um detalhe: mesmo que fosse garantido pela Constituição, o veraneio ainda assim exigiria empenho, vontade da pessoa. Tem gente que não liga para o veraneio, ou não percebe como é necessário. Não é só uma questão de não ter dinheiro para viajar, é uma questão de priorizar, de achar que vale a pena tirar uns dias de folga para ficar à toa com os amigos ou parentes queridos. Às vezes é preciso planejar, separar uma graninha para tornar o veraneio possível. E às vezes dá para decidir de última hora. Mas tem gente, infelizmente, que não prioriza o veraneio. Não sabe o que está perdendo.

Com os amigos, com a família, na praia, no campo, na montanha. Tirar uns dias de veraneio é fundamental para começar o ano revigorado, zerado do ano que ficou para trás. Andar na praia, olhar o pôr do sol, comer comida de mãe, enfrentar as ondas com o pai, fazer novos amigos, namorar, construir castelos de areia, pescar no riacho… Veraneio para todos já!

P.S.: pensei em incluir também as caipiroscas na Constituição junto com o veraneio, mas acho que aí seria exagero, né?