Socialista Morena
Mídia

O Estadão e as técnicas do marketing político aplicadas ao jornalismo

Hoje pela manhã o leitor Ader Gotardo me mandou, pelo twitter, um achado que me pareceu absurdo: o jornal O Estado de S.Paulo, em seu perfil no facebook, utilizou a foto de uma criança feita por Karel Prinsloo na guerra do Congo, em 2008, para ilustrar um post em que acusa o prefeito Fernando Haddad, […]

Cynara Menezes
18 de abril de 2013, 23h45

(foto de menino congolês usada pelo Estadão)

Hoje pela manhã o leitor Ader Gotardo me mandou, pelo twitter, um achado que me pareceu absurdo: o jornal O Estado de S.Paulo, em seu perfil no facebook, utilizou a foto de uma criança feita por Karel Prinsloo na guerra do Congo, em 2008, para ilustrar um post em que acusa o prefeito Fernando Haddad, do PT, de “tirar” a merenda escolar de alunos da periferia para cortar gastos. Após a repercussão no twitter, o jornal trocou a foto por outra, mas manteve a chamada, igualmente tendenciosa. Na verdade, Haddad não “tirou” a merenda escolar de alunos da periferia, como diz o Estadão, e sim reduziu em até 25% o orçamento de clubes-escola, estruturas esportivas públicas. Não houve confirmação alguma de que o corte atingirá o lanche.

Mas o prefeito que se defenda da acusação do jornal. O que me preocupa aqui é o distanciamento de um veículo jornalístico do jornalismo propriamente dito e sua opção pela utilização de recursos da propaganda, do marketing político. A fórmula: pesa-se a mão em uma chamada e coloca-se, ao lado, a foto que irá confirmá-la –uma criança com aparência faminta, por exemplo, é perfeita. O quadro poderia ser utilizado tranquilamente em um dos programas políticos na tevê durante as eleições. Como, aliás, costuma ser.

Qual o objetivo disso? Noticiar? De jeito nenhum. A intenção clara é fazer oposição à prefeitura. No jornalismo, a foto que ilustra uma reportagem tem que estar relacionada a ela de alguma maneira. Se você pega uma imagem dramática qualquer para reforçar o impacto de uma notícia junto à opinião pública, isso é publicidade, não é jornalismo. A foto do menino negro com um pratinho vazio na boca saiu do ar, mas o estrago já estava feito: “colou” no inconsciente dos paulistanos que passaram pela página (e a repercutiram nas redes sociais) a imagem de que o prefeito de São Paulo está deixando criancinhas com fome. Exatamente como os melhores marqueteiros fazem. E os piores jornalistas.

Tenho me fixado nestes detalhes com mais apuro nos últimos tempos e me dado conta como, até nas pequenas notícias, muitas vezes se pretende direcionar o leitor para concordar com o pensamento do veículo, sob o manto da “imparcialidade”, a maior mentira que um jornal pode vender a seu público. Sou contra toda espécie de censura e tenho restrições até mesmo a algumas ideias sobre “controle” da mídia. O que sou é a favor da conscientização. É o meu papel social como jornalista, não? Fazer os leitores enxergarem além. Felizmente, hoje em dia, existe a internet para mostrar a vocês coisas que antes nunca teríamos condições de propagar.

O que é irônico na história toda é esta manipulação escancarada da notícia com fins claramente políticos ter partido de um dos maiores veículos brasileiros de comunicação, os mesmos que vivem ditando regra sobre a melhor maneira de se praticar jornalismo. Que o jornalismo não é “armazém de secos e molhados”, que notícia boa é notícia contra o governo, não a favor. Os mesmos que se arvoram em baluartes do jornalismo “de primeira classe” no país, o mais independente, o mais honesto, o mais bem-feito. Impecável como um anúncio do horário eleitoral, com direito a favela fake e tudo o mais. Um marqueteiro não faria melhor.


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(5) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Renato em 19/04/2013 - 00h19 comentou:

O Estadão está claramente contra o Prefeito. Outro assunto que pingou, mas de menor repercussão, foi do "jornalista" Livio Oricchio (que mora em Nice, na França), anunciou que São Paulo perderia o GP de Fórmula 1, sem ouvir o prefeito antes de publicar a nota, pois ele teve que vir a publico desmentir o jornalista.

Agora dá pra entender porque eles tão quebrando…

Responder

alexandre de caruaru em 19/04/2013 - 00h42 comentou:

Típico da "grande mídia" brasileira. Como diz o Mino: a serviço dos senhores da casa-grande.

Responder

Exoman em 19/04/2013 - 05h17 comentou:

Bah, acabei de ler no blog do Paulo Henrique Amorim uma carta de um professor de economia reclamando das informações erradas e da falta de citação de fontes quando o jornal O Globo fala (mal) da Venezuela.

Responder

marcelo siqueira em 19/04/2013 - 15h15 comentou:

Estadao virou jornaleco de merda. Sem informação, apenas deturpação. Senhores feudais, facistas!

Responder

Messias Macedo em 19/04/2013 - 18h43 comentou:

… Mais uma ação criminosa do PIG! …

É A IMPUNIDADE, ESTÚPIDO!

República de ‘Nois’ Tomates – perdão, ato falho -, de ‘Nois’ Bananas
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Mídia

“Confronto”: mídia dos EUA desinforma sobre pancadaria de Israel em funeral de jornalista


Estudos mostram como, ao longo dos anos, imprensa hegemônica escolhe palavras a dedo para beneficiar Israel nas narrativas sobre o conflito

Mídia

Três importantes lições sobre o caso Marielle e a manipulação midiática


Duas semanas após a execução da vereadora e do motorista Anderson, uma pensata sobre o papel da mídia comercial no episódio