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O IPhone ou a vida

Você sabe o que é nomofobia? O pânico de ficar sem o celular. A pessoa esquece o celular em casa e surta com a incapacidade de se comunicar. Rói as unhas. Sua frio. Fica deprimida. Vem do inglês No-Mo, abreviatura de No-Mobile. Sem-celularfobia, por aí. Eu acho hilário, é muita agonia de ficar incomunicável. Síndrome […]

Cynara Menezes
30 de março de 2013, 16h16

Você sabe o que é nomofobia? O pânico de ficar sem o celular. A pessoa esquece o celular em casa e surta com a incapacidade de se comunicar. Rói as unhas. Sua frio. Fica deprimida. Vem do inglês No-Mo, abreviatura de No-Mobile. Sem-celularfobia, por aí. Eu acho hilário, é muita agonia de ficar incomunicável. Síndrome de abstinência, como qualquer droga.

Já existem vários estudos sobre o vício em smartphones. A Universidade de Stanford, nos EUA, pesquisou seus estudantes e 44% se confessaram adictos ao Iphone (isso em 2010). 41% disseram que perdê-lo seria “uma tragédia”. Bom, nem precisa de estudo para ver que os smartphones estão em toda parte. Nos últimos anos, a cena do dedinho correndo pela pequena tela passou a integrar a paisagem urbana nos ônibus, metrôs, shopping centers. E aeroportos. Me impressiona toda vez que eu pego um avião: mal o bicho estaciona e as pessoas ligam seus aparelhos e começam a deslizar os olhos pela correnteza de informação sob o indicador. Enquanto a esteira da bagagem roda, todo mundo encosta o braço no carrinho de bagagem e se distrai no IPhone. Esperando o táxi, idem. Dentro do táxi.

Qualquer espera é desculpa para “checar”. Quantas vezes você checou seu celular hoje? É como se o mundo fosse uma imensa e eterna sala de espera e o IPhone fosse a Caras, aquela revista de fofocas que a gente folheia enquanto aguarda a vez no dentista. Muito melhor, eu sei, com mais informações sobre outros assuntos, mas, no fundo, igual. O objetivo é distrair, fazer o tempo passar. Normal. Mas tem uma questão que me incomoda: quando foi que perdemos a capacidade de observar o que acontece ao redor para nos distrair? De observar personagens, detalhes, lugares? Quando perdemos a capacidade de nos entretermos simplesmente pensando? Ou será que fugimos das coisas que ocupariam nossa cabeça? O medo de ficar sem IPhone, a nomofobia, não seria, na verdade, o medo de ficar sozinhos com nosso próprio pensamento?

O celular e o smartphone viraram as nossas muletas. Nos apoiamos neles quando nos sentimos sós, carentes ou tristes. É o mesmo que acontece com as redes sociais –eu também faço isso, não pensem que não. Fugir para as redes sociais quando é preciso desanuviar a cabeça, assim como fazia (e tem muita gente que ainda faz) com a televisão. Estar conectado muitas vezes é uma maneira de não pensar. A diferença é que, com o smartphone, você leva as redes junto. As minhas ficam em casa, só tenho um celular comum. Gosto de me distrair com minha mente, toca música na minha cabeça muitas vezes, e eu pretendo sempre me disciplinar a prestar atenção no lado de fora da tela, em quem me cerca.

Fugir dos próprios pensamentos é péssimo, mas é ainda pior quando se junta à falta de educação que parece ser um aplicativo dos aparelhos. Tem gente que agora leva os smartphones para seus encontros com os amigos e, em vez de prestar atenção na conversa, fica olhando para o celular, dedinho rolando, rolando… A vida dentro dos aparelhos, as notícias, os vídeos, se tornou mais interessante do que a vida e as pessoas do mundo real? Que perigo.

Não tenho nada contra os gadgets eletrônicos, acho interessantes, úteis. Mas desconectar é bacana e bota seu cérebro para funcionar, aperta o botãozinho das ideias próprias. Não permita que o Iphone se torne seu melhor amigo. Nem o cigarro. Nem o álcool. Nem droga nenhuma.


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(9) comentários Escrever comentário

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Rafael R em 30/03/2013 - 19h02 comentou:

Eu concordo com a maior parte.
As vezes tenho a impressão que toda essa conectividade está matando nossa imaginação. Nossa capacidade de viajar nos pensamentos.
Sobre qualquer assunto, basta entrar na internet pra ver opiniões e teorias prontas pra tudo. Sobre tudo.
Eu realmente to numa fase onde pretendo me conectar um pouco menos. Não vou abrir mao da internet, logico, isso é impossível. Mas é melhor tentar olhar mais pro mundo real msm. Os olhos ja estão cansados de tantas telas. O tempo todo. As vezes é tanta informação que a gente desaprende a pensar por conta propria.

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Lucas S. em 30/03/2013 - 19h24 comentou:

Tocar uma música dentro da cabeça é um dos melhores passatempos da era pré-celular! É uma pena que os pequenos e diabólicos controles-remoto de iZumbis estejam extinguindo essa diversão!

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pulsiva em 30/03/2013 - 20h07 comentou:

Hoje chequei somente o horário no celular 🙂 e diariamente é assim, e quando toca me deixa nervosa, ler que é da escola das crianças me cria uma ansiedade sem fim, ou, melhor, tem fim: 2 segundos para conectar que o botão da esquerda recebe a chamada e poder ouvir que estão todas bem e é somente um lembrete sobre a reunião de pais e mestres.
Não tenho smartphone e por meses o desejei quase mais do que receber meu salário, não podia pagar por um e de repente sosseguei, pensei que viveria mais um pouco sem acessar a internet de qualquer lugar, afinal, desempregada, não precisava mesmo.

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marcia mendes em 30/03/2013 - 20h29 comentou:

Servidão aos I-Phones, NÃO !!!!!! Ontem cometi a temeridade de insistir distraída em apagar uma cópia de nota fiscal eletrônica no meu I-PAD ( uma roubada só ). Resultado: apaguei também no great I-MAC e se eu não tivesse outra cópia… iria sofrer umas boas horas. Esses menorzinhos cansam a vista , já dizia uma velhota que detestava ler. O tempo que se perde – irrecuperável – com estas engenhocas só saberemos mais tarde.

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luiz seixas em 30/03/2013 - 21h45 comentou:

Deixei de fumar há tempos, e meus amigos presença física morreram, Só me restaram os amigos virtuais e os companheiros de ideias e propósitos, aos quais me ligo pelo smart. Ah, sim, o whisky e os vinhos também continuam comigo. Você, por exemplo, é uma pessoa que só pude conhecer e admirar graças ao mundo virtual. Beijo.

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Lais em 31/03/2013 - 11h57 comentou:

Sim, sim… Tem coisas que só podemos usufruir porque existe a internet . Minha pesquisa de TCC e futura tese de mestrado, toda pela rede… Mas detesto atender telefone… então só este ano de 2013 já perdi a conta de quantas vezes esqueci a tranqueira do celular em casa…. Devo dizer q são dias felizes e absolutamente normais.. Quem precisa MESMO falar comigo, me acha…Meu celular já tem 2 anos de uso e só foi trocado porque um gentil de menor quebrou o vidro do meu carro e levou minha bolsa..com um perfume que eu amava, uma caneta tinteiro Parker q eu tinha ganho de presente..ah ! e o celular q já tinha uns 3 anos de uso…e também tinha sido trocado via assalto ( esse à mão armada)….Não tem preço, acessar as coisas maravilhosas do mundo, a um toque dos dedos, mas cabe a nós por filtro, por limite… Agora vou parar de "perder tempo" , rsrsrsr Só liguei o computador para pegar uma receita de bacalhau para o almoço de domingo, rsrsr Beijos a todos, Feliz Páscoa !

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Dina mota em 02/04/2013 - 00h17 comentou:

Concordo plenamente com você!! se estou com meus amigos, namorado, filho, nem ligo, nem entro na net.
O bom da vida é a companhia das pessoas….
Adoro a internet, mas tudo tem a sua hora e limite.

beijo!

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lil em 02/04/2013 - 13h03 comentou:

Sim, perfeito. É a incapacidade de estar a sós com os próprios pensamentos e sentimentos que faz alguém escravo desses aparelhinhos. É pra não pensar, não sentir. Você foi certeira.

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Guilherme Sati em 12/01/2014 - 16h10 comentou:

Só para te dar mais ideias: http://www.youtube.com/watch?v=RadIP53qXhU … é fantástico!!

Minha outra recomendação é: Aproveite esse período triste que é o início de mais um reality show para escrever algo bom para quem te segue!

Use: George Orwell 1984 (livro); The Truman Show (filme) e disserte sobre o fantasioso mundo desses reality e o quão inúteis somos quando perdemos nosso valioso tempo assistindo tudo aquilo.

(esse: "somos" é extremamente abrangente… e eu não estaria ali dentro, como acho que você também não… mas mesmo assim eu me coloco, pois no final das contas, a espécie é essa mesmo.. o tal do ser humano que é igual um ao outro, só que uns são mais iguais) haha, tenha um ótimo domingo!
Abraços.

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