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Mino Carta: “o PT perdeu a linha, demoliu seu passado honrado”

Eu já tinha falado aqui sobre a necessidade de o PT fazer um mea culpa após o mensalão. Agora foi a vez de Ricardo Kotscho e de Mino Carta, velhos amigos e admiradores de Lula, a pedir o mesmo. Reproduzo abaixo o editorial de CartaCapital da semana, em que Mino defende a necessidade de o […]

(a primeira capa de revista com Lula, em 1978. Mino que fez)
Cynara Menezes
30 de novembro de 2012, 22h49

(a primeira capa de revista com Lula, em 1978. Mino que fez)

Eu já tinha falado aqui sobre a necessidade de o PT fazer um mea culpa após o mensalão. Agora foi a vez de Ricardo Kotscho e de Mino Carta, velhos amigos e admiradores de Lula, a pedir o mesmo. Reproduzo abaixo o editorial de CartaCapital da semana, em que Mino defende a necessidade de o PT olhar para dentro de si e corrigir seu rumo.

***

A traição do PT

Por Mino Carta

Dizia um velho e caro amigo que a corrupção é igual à graxa das engrenagens: nas doses medidas põe o engenho a funcionar, quando é demais o emperra de vez. Falava com algum cinismo e muita ironia. Está claro que a corrupção é inaceitável in limine, mas, em matéria, no Brasil passamos da conta.

Permito-me outra comparação. A corrupção à brasileira é como o solo de Roma: basta cavar um pouco e descobrimos ruínas. No caso de Roma, antigos, gloriosos testemunhos de uma grande civilização. Infelizmente, o terreno da política nativa esconde outro gênero de ruínas, mostra as entranhas de uma forma de patrimonialismo elevado à enésima potência.

A deliberada confusão entre público e privado vem de longe na terra da casa-grande e da senzala e é doloroso verificar que, se o País cresce, o equívoco fatal se acentua. A corrupção cresce com ele. Mais doloroso ainda é que as provas da contaminação até os escalões inferiores da administração governamental confirmem o triste destino do PT. No poder, porta-se como os demais, nos quais a mazela é implacável tradição.

Assisti ao nascimento do Partido dos Trabalhadores ainda à sombra da ditadura. Vinha de uma ideia de Luiz Inácio da Silva, dito Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo até ser alvejado por uma chamada lei de segurança nacional. A segurança da casa-grande, obviamente.

Era o PT uma agremiação de nítida ideo­logia esquerdista. O tempo sugeriu retoques à plataforma inicial e a perspectiva do poder, enfim ao alcance, propôs cautelas e resguardos plausíveis. Mantinha-se, porém, a lisura dos comportamentos, a limpidez das ações. E isso tudo configurava um partido autêntico, ao contrário dos nossos habituais clubes recreativos.

O PT atual perdeu a linha, no sentido mais amplo. Demoliu seu passado honrado. Abandonou-se ao vírus da corrupção, agora a corroê-lo como se dá, desde sempre com absoluta naturalidade, com aqueles que partidos nunca foram. Seu maior líder, ao se tornar simplesmente Lula, fez um bom governo, e com justiça ganhou a condição de presidente mais popular da história do Brasil. Dilma segue-lhe os passos, com personalidade e firmeza. CartaCapital apoia a presidenta, bem como apoiou Lula. Entende, no entanto, que uma intervenção profunda e enérgica se faça necessária PT adentro.

Tempo perdido deitar esperança em relação a alguma mudança positiva em relação ao principal aliado da base governista, o PMDB de Michel Temer e José Sarney. E mesmo ao PDT de Miro Teixeira, o homem da Globo, a qual sempre há de ter um representante no governo, ou nas cercanias. Quanto ao PT, seria preciso recuperar a fé e os ideais perdidos.

Cabe dizer aqui que nunca me filiei ao PT como, de resto, a partido algum. Outro excelente amigo me define como anarcossocialista. De minha parte, considero-me combatente da igualdade, influenciado pelas lições de Antonio Gramsci, donde “meu ceticismo na inteligência e meu otimismo na ação”. Na minha visão, um partido de esquerda adequado ao presente, nosso e do mundo, seria de infinda serventia para este País, e não ouso afirmar social-democrático para que não pensem tucano.

O PT não é o que prometia ser. Foi envolvido antes por oportunistas audaciosos, depois por incompetentes covardes. Neste exato instante a exibição de velhacaria proporcionada pelo relator da CPI do Cachoeira, o deputado petista Odair Cunha, é algo magistral no seu gênero. Leiam nesta edição como se deu que ele entregasse a alma ao demônio da pusilanimidade. Ou ele não acredita mesmo no que faz, ou deveria fazer?

Há heróis indiscutíveis na trajetória da esquerda brasileira, poucos, a bem da sacrossanta verdade factual. No mais, há inúmeros fanfarrões exibicionistas, arrivistas hipócritas e radical-chiques enfatuados. Nem todos pareceram assim de saída, alguns enganaram crédulos e nem tanto. Na hora azada, mostraram a que vieram. E se prestaram a figurar no deprimente espetáculo que o PT proporciona hoje, igualado aos herdeiros traidores do partido do doutor Ulysses, ou do partido do engenheiro Leonel Brizola, ­obrigados, certamente, a não descansar em paz.

Seria preciso pôr ordem nesta orgia, como recomendaria o Marquês de Sade, sem descurar do fato que algo de sadomasoquista vibra no espetáculo. Não basta mandar para casa este ou aquele funcionário subalterno. Outros hão de ser o rigor, a determinação, a severidade. Para deixar, inclusive, de oferecer de graça munição tão preciosa aos predadores da casa-grande.


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(2) comentários Escrever comentário

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Messias Macedo em 03/12/2012 - 00h50 comentou:

2014 É AGORA!…

… Se o PIG emplacar a chapa Joaquim Barbosa para presidente [sob o 'sloogan' e o mantra 'Joaquim, o Inclemente, o novo e verdadeiro caçador de marajás'], tendo como vice o Eduardo Campos e o apoio do [José] (S)erra, Aécio 'Never', Artur Neto, ACMalvadeza Neto &$ nefasta e famigerada Cia…
… Bom, aí, a chapa ideal, vitória no primeiro turno da nação brasileira: Dilma Rousseff, A Magnífica, o Brasil crescendo a 4% do PIB e em situação de pleno emprego… E para vice-presidente a doutora Eliana Calmon, baiana "arretada"!… A dobradinha contando com o apoio do eterno presidente Luis Inácio Lula da Silva e do povo trabalhador brasileiro!

BRASIL (QUASE-)NAÇÃO
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

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Sergio em 28/11/2017 - 13h57 comentou:

E ainda quer voltar em 2018. Para quê????

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