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O vício em confraternizações

Ouvido numa reunião do C.A. (Confraternizadores Anônimos): “Começou na festa da firma, e não parou mais. Logo em seguida, um amigo sugeriu que fizéssemos um Natal antecipado, sem parentes incluídos. Topei. Dias depois, mais uma vez reunimos um pequeno grupo em casa para celebrar em torno de algumas garrafas de prosecco e um prato de […]

Cynara Menezes
17 de janeiro de 2013, 12h44

Ouvido numa reunião do C.A. (Confraternizadores Anônimos):

“Começou na festa da firma, e não parou mais. Logo em seguida, um amigo sugeriu que fizéssemos um Natal antecipado, sem parentes incluídos. Topei. Dias depois, mais uma vez reunimos um pequeno grupo em casa para celebrar em torno de algumas garrafas de prosecco e um prato de polvo a vinagrete. Veio o Natal propriamente dito, o revéillon e, nem bem desfizemos a mala da viagem à praia, alguém teve a ideia de fazer um revéillon fora de época, uma espécie de micareta, para brindar com os amigos. Quando me dei conta, já estava envolvida numa espiral sem fim.

Qualquer coisinha passou a se transformar em razão para confraternizar: o amigo que veio de São Paulo; a carne de sol que a mãe de um conhecido mandou do Nordeste; a vizinha chata que se mudou para longe; o fim do defeso da lagosta. Absolutamente tudo servia como desculpa. Uma loucura.

Duas semanas haviam se passado desde o ano novo, mas as confraternizações continuavam. Eu me conformava pensando que depois do Carnaval conseguiria abandoná-las de vez. Que nada! Na quarta-feira de Cinzas organizamos uma mega-confraternização de despedida do rei Momo que se estendeu até o domingo. Fiz promessa de não confraternizar durante a Semana Santa. Fraquejei. Perdi a conta de quantas confraternizações fizemos dizendo que seria a última, a saideira. Puro auto-engano.

Aos poucos, o vício foi se alastrando. Quando, após alguns dias limpa, eu achava que as confraternizações finalmente tinham acabado, recebia a ligação de uma amiga, cochichando:

– Ó, pintou uma confraternização. E parece que é da boa, não é da palha, não.

Eu tentava me desvencilhar, programava viagens a lugares bucólicos nos finais de semana para desintoxicar, mas o problema eram as más companhias. Volta e meia, alguém telefonava para cobrar:

– E aí, vai rolar mais uma? Tô na seca!

E novamente eu recaía. Surgiram as confraternizações temáticas: mexicanas, baianas, indianas. Também variavam as bebidas: regadas a tequila, champanhe, vinho, cachaça com caju, cerveja de taperebá, caipirosca de kiwi com carambola… As confraternizações se estendiam madrugada adentro, minhas olheiras estavam enormes e meu chefe já começava a desconfiar. Cheguei ao fundo do poço quando me dei conta que passava mais tempo arquitetando a próxima confraternização do que trabalhando. Decidi que era hora de parar.

Há quatro dias e 13 horas não confraternizo. Não é fácil, mas sei que é um dia de cada vez. Sinto tremedeiras com a crise de abstinência de prosecco e gambas al ajillo, mas o pior mesmo é ter que evitar os amigos. Desliguei o celular. Parei de responder e-mails. No facebook só apareço offline. Tenho que resistir. As confraternizações estavam destruindo a minha vida. O mais assustador é que daqui a pouco chega o fim-de-ano novamente e… Melhor nem pensar.

Só por hoje.”


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(1) comentário Escrever comentário

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Rafa da peste em 28/03/2015 - 00h05 comentou:

Tenho pavor de confraternização, aniversário, batizado, casamento, funeral, chá de bebê, jantar em casa de amigos, igreja, discursos ou contadores de piadas anônimos.

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