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Direitos Humanos

Para proteger indígenas, Acampamento Terra Livre não divulga local do encontro

Lugar onde será montado o acampamento só será anunciado na última hora para preservar participantes da violência bolsonarista

Cartaz do ATL 2019
Da Redação
23 de abril de 2019, 15h43

Pela primeira vez desde 2004, ano de início do Acampamento Terra Livre, permanece um mistério o local exato em que o encontro de indígenas vai acontecer a partir de amanhã até sábado na capital federal. A informação que circula nos bastidores é que o lugar do acampamento só será anunciado na última hora. O motivo: proteger os indígenas da violência bolsonarista e da repressão policial. A ameaça de ataques é real, já que, também pela primeira vez, o governo federal autorizou preventivamente o uso da Força Nacional na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes durante 33 dias.

A portaria foi publicada na última quarta-feira no Diário Oficial da União e é assinada pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, a pedido do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). O próprio presidente estimulou os ataques aos indígenas ao criticar, no facebook, o “uso de dinheiro público” para trazer os participantes a Brasília, algo que nunca aconteceu nem mesmo durante os governos petistas. O evento é realizado por meio de uma campanha de doações. Inclusive ainda é possível contribuir.

Bolsonaro quer falar que quem banca o Acampamento Terra Livre é você, e é mesmo, só que de forma espontânea, contribua agora: bit.ly/vakinhaatl2019#atl #terralivre #direitosindigenas #bolsonaromentiroso

Posted by Sonia Bone Guajajara on Friday, April 12, 2019

 

“O ATL não recebe nada de dinheiro público, ele é feito com a doação de milhares de pessoas”, disse Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), esclarecendo que as doações podem ser financeiras ou de alimentos. A APIB soltou uma nota no mesmo dia em que o decreto foi publicado condenando o uso de força contra o acampamento. “Nosso acampamento vem acontecendo há mais de 15 anos sempre em caráter pacífico, buscando dar visibilidade para nossas lutas cotidianas, sempre invisibilizado pelos poderosos. Se é do interesse do General Augusto Heleno desencorajar o uso da violência, que ocupe os latifúndios que avançam sobre nossos territórios e matam os nossos parentes”, diz o texto.

“Do que vocês têm medo? Por que nos negam o direito de estar nesse lugar? Por que insistem em negar a nossa existência? Em nos vincular a interesses outros que não os nossos? Em falar por nós e mentir sobre nós? Parem de incitar o povo contra nós! Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado à livre manifestação com tropas armadas, o direito de ir e vir de tantas brasileiras e brasileiros que andaram e andam por essas terras desde muito antes de 1500.”

Parem de incitar o povo contra nós! Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado à livre manifestação com tropas armadas, o direito de ir e vir de tantas brasileiras e brasileiros que andaram e andam por essas terras desde muito antes de 1500

O texto também cita a frase do então deputado federal Jair Bolsonaro, que agora diz “querer o melhor” para os índios, em 1998: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país.” Não é à toa que ele autorizou a cavalaria a reprimir uma manifestação que pretende reunir mais de 4 mil indígenas na capital.

Na semana passada, Sonia Guajajara reafirmou à Folha de S.Paulo que o encontro acontecerá na Esplanada dos Ministérios. “Nós pretendemos instalar o acampamento na Esplanada dos Ministérios mesmo, porque não há motivo de a gente se esconder, já que são eles quem estão nos ameaçando”, disse Sonia. Nesta terça-feira, porém, a programação do ATL foi divulgada sem o local onde os participantes estarão acampados. A chegada das caravanas está prevista para hoje e a instalação do acampamento, para amanhã. Além da Esplanada dos Ministérios, outra possibilidade de local é o Memorial dos Povos Indígenas.

Este ano, a pauta do Acampamento Terra Livre é protestar contra a MP 870,editada nos primeiros dias do governo Bolsonaro, que desmonta a FUNAI, transferida para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (sic), de Damares Alves. A mesma medida concedeu aos ruralistas a demarcação de terras indígenas e licenciamento ambiental das Terras indígenas, tirando a atribuição da FUNAI para a Secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA. O ATL também luta contra as mudanças no atendimento à saúde indígena, com o desmonte da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI).

 


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