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Política de preços derruba tucano Pedro Parente da presidência da Petrobras

Presidente da estatal decidiu alinhar tarifas dos combustíveis ao mercado internacional, levando preços do diesel, gasolina, etanol e gás à estratosfera

Foto: Tania Rêgo/Agência Brasil
Da Redação
01 de junho de 2018, 16h02

Fracassou o experimento neoliberal do tucano Pedro Parente, tido como bom gestor, na presidência da Petrobras. Em carta de demissão divulgada nesta sexta-feira, Parente admite que a política de preços que adotou na estatal, fazendo as tarifas dos combustíveis irem à estratosfera, está no centro da crise que levou os caminhoneiros a pararem o país. O ex-presidente da Petrobras não faz, porém, qualquer mea culpa, e dá a entender que sai por não concordar com a decisão do governo Temer de subvencionar o diesel para atender a categoria.

“A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento”, diz Parente na carta, preferindo, no entanto, explicar a alta dos preços não às suas decisões, mas a efeitos externos.

“Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel”, disse Parente, conhecido como o “ministro do apagão” por ter sido um dos responsáveis pela crise elétrica no final do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001.

Em carta de demissão, o ex-presidente da Petrobras não faz qualquer mea culpa, e dá a entender que sai por não concordar com a decisão do governo Temer de subvencionar o diesel para atender aos caminhoneiros

Sua administração à frente da empresa foi, em suas palavras, “acertada”. Parente não relacionou em nenhum momento a subida dos preços ao fato de, em sua gestão, a Petrobras ter aumentado as exportações de petróleo cru e em 80% as importações de diesel dos EUA. “Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços”, afirmou. “Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue.”

Desde que a greve de caminhoneiros começou, há duas semanas, Pedro Parente tem sido bombardeado com críticas que atribuem à mudança na política de preços da estatal os aumentos abusivos do combustível nos últimos meses. O gás de cozinha já subiu quase 70% e a gasolina chegou a 5 reais o litro. Até o golpe contra Dilma, a Petrobras  mantinha os preços baixos como forma de controlar a inflação e para não afetar os consumidores mais pobres com um aumento abusivo do gás de cozinha, exercendo um papel social.

Com os neoliberais à frente da empresa, a Petrobras passou a se nortear pela lógica do mercado para agradar aos acionistas, como bem lembrou Parente em sua carta: “a trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas”. Em julho de 2017, a Petrobras anunciou novamente uma mudança na política de preços que, em vez de trazer reajustes mensais, traria reajustes diários aos combustíveis.

“Temos muito respeito pelo consumidor, que merece muita atenção, mas a Petrobras não tem a obrigação legal de observar critérios macroeconômicos (como a inflação) na fixação de seus preços”, disse Parente, em café da manhã com jornalistas, em janeiro do ano passado, justificando a nova política de preços da empresa.

Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços. Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue

O que vai acontecer agora? Em vez de retornar à política antiga, a Petrobras vai adotar uma terceira: tirar recursos da educação e da saúde para financiar o subsídio ao diesel e assim acalmar os caminhoneiros. Não há nenhum indicativo de que haverá alguma mudança positiva em relação à gasolina e o etanol.

A esquerda comemorou a demissão no twitter, mas alertou que nada adianta sua saída sem mudança na política de preços.

A íntegra da carta de Pedro Parente a Temer:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.

Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.

Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.

A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país.

E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.

A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País.

Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.

Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidencia da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.

Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.

Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.

A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.

Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.

Respeitosamente,

Pedro Parente

 


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(2) comentários Escrever comentário

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Ângela Valério Horta de Siqueira em 01/06/2018 - 18h08 comentou:

Esses golpistas traidores da Pátria, cheios de salamaleques, a tripudiar sobre o povo do Brasil. Seus deveres e obrigações são para com seus patrões reais, aqueles que acobertam todo o tipo de desmando a que submeteram a Pátria Brasileira. Fora golpistas sem vergonha!!! Lula livre!!! Anular o golpe!!!

Responder

João Junior em 01/06/2018 - 20h33 comentou:

Que é que o povo em sua maioria não entende sobre a Petrobras? É que ela é uma figura jurídica ambígua, uma estatal que deve produzir lucro. Isso é incoerente, pra dizer o mínimo. A Petrobras deve voltar a ser autarquia, pois provado está que a política de preços sobre o petróleo brasileiro deve atender aos interesses dos legítimos donos, os brasileiros.

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