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Trabalho

Projeto da direita não é esmagar o Partido dos Trabalhadores, é esmagar a classe trabalhadora

Reforma da Previdência e Trabalhista: os principais projetos aprovados desde o golpe atingem em cheio os mais pobres

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro Onyx Lorenzoni. Foto: Lula Marques
Cynara Menezes
12 de julho de 2019, 12h13

O antipetismo cultivado pela mídia hegemônica levou ao golpe contra Dilma Rousseff, à ascensão de Michel Temer e em seguida à chegada da extrema-direita ao Planalto. Mas quais foram as prioridades dos que tiraram o Partido dos Trabalhadores do poder? Dois projetos que atingem em cheio justamente quem trabalha: a reforma trabalhista de Temer e agora a reforma da Previdência de Jair Bolsonaro. Uma deixou os trabalhadores precarizados e sem direitos; a outra destruiu a possibilidade de que algum dia eles cheguem a se aposentar.

O projeto da direita não é esmagar o PT; é esmagar a classe trabalhadora, fazer com que ela retroceda aos primórdios da revolução industrial, quando não havia jornada de oito horas, férias ou qualquer resquício de humanização, e elas morriam antes de chegar aos 45 anos de idade. Não são por acaso as ideias anticivilizatórias da direita em relação ao emprego, como a de Temer de colocar grávidas para trabalhar em locais insalubres (derrubada pelo Supremo), ou as saudades de Bolsonaro dos tempos em que o trabalho infantil era permitido. Mas a coisa vai além.

Como acabar com a classe trabalhadora? Ora, primeiro retirando direitos, lançando-a na precariedade; desmontando sindicatos e perseguindo movimentos sociais e partidos de esquerda, para que não possam se organizar e se defender

Observem a pirâmide abaixo, que define o sistema capitalista. Ela foi publicada em 1911 pelo jornal sindical norte-americano Industrial Worker, baseado em um panfleto russo de 1906. Na base da pirâmide estão os trabalhadores, acima deles a burguesia se refestelando, o exército ameaçando, a igreja iludindo e o poder ditando as regras. Nada mais parecido do que o Brasil pós-reforma da Previdência: ao contrário do que disse Bolsonaro, nenhum privilégio foi tocado. Militares, igrejas, judiciário, burguesia… Nenhum destes setores será atingido pela reforma. Só aqueles que estão sustentando o festim.

A classe trabalhadora não é tão antiga quanto a humanidade. Ela surge no século 18, com a revolução industrial, quando homens e mulheres (e crianças) foram convocados para suprir a necessidade surgida com as máquinas e o redesenho da vida nos centros urbanos. A industrialização manteve a pirâmide capitalista intacta às custas da miséria dos operários, que viviam e trabalhavam nas condições mais insalubres possíveis, mas o surgimento de uma classe representativa do trabalhador também significou o nascimento do sindicalismo e dos movimentos de luta operária, do socialismo e do anarquismo, reprimidos a ferro e fogo em toda parte, sobretudo na pátria do capitalismo, os EUA.

Neste século, a vida da classe trabalhadora sofreu o abalo da tecnologia, que corroeu os postos de trabalho, e do rentismo: altamente concentrado nas mãos de poucas empresas, o capitalismo já não gera empregos. Há dois anos, a ONU fez um alerta sobre a era dos “lucros sem prosperidade”, em que as grandes empresas ganham dinheiro na bolsa de valores de forma desproporcional ao número de vagas que oferecem. Lucram com especulação, não com produção. É a subversão completa da relação capital-trabalho: há capital, mas ele não gera trabalho. O resultado disso é um aumento tremendo e contínuo da desigualdade no país que Bolsonaro mais admira e quer copiar.

Houve um aumento absurdo da concentração de renda e riqueza no mundo todo desde 2010, de acordo com um relatório da Oxfam de janeiro do ano passado: de toda a riqueza gerada no planeta em 2017, 82% foi parar nas mãos do 1% mais rico. Estrategicamente, a direita brasileira já adotou o discurso de que “desigualdade não é o problema”. Amoêdo, do Partido Novo, não parava de repetir isto na última eleição. “O problema”, eles dizem, “é a pobreza”, como se as duas coisas pudessem ser separadas, e que fosse possível crescer o suficiente para distribuir riqueza suficiente para todo mundo. Não é. Segundo a Oxfam, para acabar com a pobreza, seria necessário que a economia global crescesse 175 vezes. Alguém em sã consciência acha que isso irá acontecer?

No relatório, a ONG destaca a precarização do trabalho, uma prática observada desde 2008, sobretudo por conta da crise mundial. Houve um retorno ao trabalho intermitente e precário, tanto em países em desenvolvimento quanto em países ricos. As pessoas estão trabalhando mais horas e ganhando menos. Não é a toa que a classe média viu sua renda sendo reduzida ao longo dos anos. Os trabalhadores brasileiros estavam protegidos pela CLT, mas, após sua destruição por Temer, dados deste ano mostram que o trabalho intermitente e a jornada parcial foram as modalidades de emprego que mais cresceram. Como prevíamos, o emprego virou subemprego, “bico”.

Altamente concentrado nas mãos das corporações, o capitalismo já não gera empregos. A ONU fez um alerta sobre a era dos “lucros sem prosperidade”, em que as grandes empresas ganham dinheiro na bolsa de valores de forma desproporcional ao número de empregos que oferecem

Há muitos estudiosos que já falam no fim da classe trabalhadora e, com ela, no fim da própria classe média, que, na terra de Trump, está sendo chamada de “novos pobres”. Aqui no Brasil, a “nova classe média” de Lula nada mais era do que a mesmíssima classe trabalhadora que acreditou ter subido na vida, se rendeu à ideologia de direita e com isso só conseguiu retornar à pobreza. Em 2017, mais de um milhão de brasileiros despencaram de classe e a pobreza extrema aumentou pelo segundo ano consecutivo. Em abril deste ano, o Banco Mundial alertou para um aumento da pobreza no país justamente no período em que a direita opta por desestabilizar o país e tirar Dilma do cargo.

O que faz a direita diante desse quadro? Mentir e iludir os brasileiros dizendo que suas reformas irão trazer progresso, quando na verdade o que tramam é o esmagamento dessa parcela da população, enquanto os especuladores, representados no governo pelo colega Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro, lucram com sua miséria.

Não são por acaso as ideias anticivilizatórias da direita em relação ao emprego, como a de Temer de colocar grávidas para trabalhar em locais insalubres (derrubada pelo Supremo), ou as saudades de Bolsonaro dos tempos em que o trabalho infantil era permitido

Disseram que a reforma trabalhista, cujos defensores chamavam de “modernização da CLT”, iria gerar empregos. Chegou-se a falar em até 6 milhões de novas vagas. Era mentira. Nada disso se concretizou e o desemprego continua na casa dos 13 milhões. O que a reforma gerou de fato foi um aumento do subemprego, com 4 milhões de vagas com carteira assinada a menos do que em 2014, quando Dilma ganhou a reeleição.

Da mesma forma que fizeram com a reforma trabalhista, dizendo que a economia ia voltar a crescer se fosse aprovada, agora dizem que a reforma da Previdência é que trará a boa aventurança, quando, na verdade, há risco de que traga mais recessão. Um estudo do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, divulgado esta semana, afirma que a reforma pode ter um efeito recessivo e aumentar a desigualdade de renda entre as famílias.

A direita mente e ilude os brasileiros dizendo que suas reformas trarão progresso, quando na verdade o que tramam é o esmagamento dos trabalhadores, enquanto os especuladores, representados no governo por seu colega Paulo Guedes, lucram com sua miséria

O plano da extrema-direita é esse: ampliar o fosso entre ricos e pobres, fazendo com que o mundo retorne ao feudalismo. Nos EUA, Trump já conseguiu que os ricos estejam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres: hoje um CEO de uma empresa nos EUA ganha em média 312 vezes mais que um trabalhador comum. Em 1965, a proporção era de 20 para 1. Sob Trump, a economia vai bem para os bilionários e pessimamente para a classe trabalhadora. O mesmo tem acontecido no Brasil: desde o golpe, o país ganhou 20 novos bilionários, ao mesmo tempo que 7,3 milhões entraram na pobreza.

Como acabar com a classe trabalhadora? Ora, primeiro retirando direitos, lançando-a na precariedade, e desmontando a Justiça do Trabalho para que não possam reclamar; reduzindo o apoio do Estado e as políticas sociais; atacando as cotas e a educação pública, para que os trabalhadores e seus filhos percam a possibilidade de prosperar pelo estudo; perseguindo sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda para que não possam se organizar e se defender. O plano se completa ao acabar com a aposentadoria dos mais pobres. O futuro é um abismo cada vez maior entre pobres e ricos, com uma multidão de desempregados ou subempregados, fome e miséria. É a volta ao século 19.

O pior disso tudo é perceber que a classe trabalhadora está anestesiada diante de seu flagelo, quando não iludida pelos próprios algozes, aplaudindo o pé que a esmaga.

 

 


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(6) comentários Escrever comentário

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Pedro Gabriel Portugal Junior em 13/07/2019 - 07h48 comentou:

Belíssima análise Cynara. Parabéns! Disse tudo.

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Emilton Xavier em 13/07/2019 - 22h02 comentou:

Enquanto houver idiotas no Brasil que acreditam conhecer o país – e os problemas do país – somente pelo jornal nacional, a direita e a extensa direita vai continuar pisando neles, e apertando o pé em suas cabeças até vê-los sangrar e morrer.

Os pobres ignorantes de direita acreditaram que Lula não prestava, creram na cantilena na imprensa e dos extremistas da direita e agora irão descobrir da pior forma que Lula e o PT era quem os ajudava. Os únicos.

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Omar em 14/07/2019 - 15h06 comentou:

Aqui no Brasil a classe trabalhadora está completamente bestificada. No resto do mundo não é bem assim, o neoliberalismo está perdendo a narrativa. Mesmo por aqui a anestesia não vai durar para sempre. Os “donos” do mundo sabem que no longo prazo a tendência dos povos é de se revoltarem contra a desigualdade. Por isso estão loucos para começar uma guerra nuclear, reduzir drasticamente a população e escravizar os sobreviventes.
No passado isto não seria possível pois eles precisavam dos trabalhadores, agora a tecnologia tornou a maior parte da classe trabalhadora obsoleta( na visão deles é claro).
Pensando bem acho que será uma guerra bacteriológica, pois na guerra nuclear não sobraria nada para reconstruir depois.

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Martha Aulete em 16/07/2019 - 08h55 comentou:

Não é só isso, acima! PT é realmente barango… E ser petista, em pleno arejado século XXI é SER cafonérrimo, barangona, brega e Kitsch: tudo ao mesmo tempo.

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    Cynara Menezes em 16/07/2019 - 13h04 comentou:

    realmente, ser a favor da ditadura e da tortura é superprafrentex!

A procura... em 26/07/2019 - 23h57 comentou:

Parabéns, sua análise está ótima.
Os trabalhadores precisam se identificar como classe de trabalhadores!

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