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Rosário pede proteção à Câmara e à PF contra ameaças e insultos de Bolsominions

Assediada cotidianamente por seguidores do deputado Jair Bolsonaro há quase 15 anos, a deputada petista clama por providências. E agora, a PF finalmente vai fazer alguma coisa?

Bolsonaro é contido ao avançar sobre Rosário na Câmara em 2016. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Katia Guimarães
19 de agosto de 2017, 11h19

Nessa sexta, 18 de agosto, um áudio do militar Aldimar Torres da Silva, sargento da Aeronáutica, ameaçando e xingando a deputada Maria do Rosário (PT-RS), causou horror e foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. “Tá satisfeita agora, sua desgraçada? Vou te derrubar, vou grampear seu telefone com ou sem mandato (sic). Pra mim você não passa de uma puta de bandido. Vou te rasgar ao meio”. Essas foram algumas das frases gravadas por ele no grupo do WhatsApp em que o número do celular de Rosário foi incluído por apoiadores do deputado Jair Bolsonaro (PEN-RJ), condenado esta semana por incitação ao estupro. A misoginia contra ela, que foi ministra dos Direitos Humanos do governo Dilma, não é bem uma novidade, infelizmente.

Desde 2003, Rosário vem sendo ostensivamente atacada pelo deputado de extrema-direita e perseguida na internet pelos Bolsominions, como são chamados os seguidores do pré-candidato a presidente. Defensor da intervenção militar e de torturadores da ditadura, como o coronel Brilhante Ustra, Bolsonaro atacou Maria do Rosário após ela afirmar ser contra a redução da maioridade penal. Bolsonaro sugeriu então que ela contratasse, para ser motorista de sua filha, o Champinha (Roberto Alves da Silva), que participou, naquele ano, do estupro e assassinato de Liana Friedenbach e seu namorado Felipe Caffé. Desde então, os Bolsominions, com a ajuda do próprio parlamentar, têm espalhado a notícia falsa de que Rosário defendeu Champinha.

Tá satisfeita agora, sua desgraçada? Vou te derrubar, vou grampear seu telefone com ou sem mandato (sic). Pra mim você não passa de uma puta de bandido. Vou te rasgar ao meio

Na discussão, filmada pela RedeTV, a deputada acusou Bolsonaro de promover violência, inclusive sexual: “O senhor promove, sim”, afirmou ela. “Grava aí que agora eu sou estuprador”, ele retrucou. “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”, acrescentou. Depois de dizer que reagiria caso ele tentasse alguma coisa, a deputada foi chamada de “vagabunda” e Bolsonaro foi contido por seguranças. A partir daí, os Bolsominions passaram a divulgar também a mentira de que Rosário chamou o deputado de “estuprador”, contrariando a lógica: se fosse verdade, o deputado teria acionado a colega no Conselho de Ética, coisa que nunca fez.

Defensora das minorias desassistidas, como negros e quilombolas, mulheres, crianças e adolescentes e a comunidade LGBTI, Maria do Rosário voltaria a ser atacada diretamente pelo parlamentar de direita, em 2014, quando Bolsonaro, em discurso no plenário da Câmara, insultou a deputada no Dia Internacional dos Direitos Humanos, quando a petista elogiou o trabalho da Comissão da Verdade e defendeu as vítimas da ditadura militar. Quando Maria do Rosário deixava o plenário, Bolsonaro falou: “Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir”. Em entrevista a um jornal e nas redes sociais, ele repetiu as ofensas.

Em fevereiro deste ano, a filha de Maria do Rosário, de 16 anos, seria a nova vítima do ódio dos Bolsominions, que retiraram fotos do perfil da menina no instagram, e republicaram, sem autorização, em um site de extrema-direita hospedado na Austrália, o Faca na Caveira, conhecido por publicar ofensas recorrentes a mulheres e gays. Nas legendas das fotos, a adolescente é identificada e apontada como “anoréxica e drogada”, além de haver citações levianas de que ela havia tentado suicídio.

Em fevereiro deste ano, a filha de Maria do Rosário, de 16 anos, seria a nova vítima do ódio dos Bolsominions, que retiraram fotos do perfil da menina no instagram, e republicaram, sem autorização, em um site de extrema-direita

Os ataques chegaram ao ápice esta semana, quando Maria do Rosário fez Bolsonaro morrer pela boca e venceu a ação por danos morais que movia contra o deputado, condenado a pagar multa de 10 mil reais e a se retratar publicamente, durante um mês, no jornal em que ele deu entrevista e em suas páginas nas redes sociais, como facebook e youtube. De forma virulenta, a deputada foi mais uma vez assediada e xingada por admiradores do parlamentar, que é militar da reserva e é conhecido por sua homofobia e machismo. “Maria de merda”, “filha da puta”, “bandida”, “comunista de merda”, “traidora da nação” foram alguns dos ataques no whatsapp denunciados por Rosário no twitter.

Nem mesmo a ministra relatora do caso no Superior Tribunal de Justiça (STF), Nancy Andrighi, que em um voto histórico condenou os insultos de Bolsonaro, foi poupada. Nessa sexta-feira, o jornal Folha de S.Paulo noticiou que ela também tem sido vítima de misoginia e alvo de ligações e e-mails com xingamentos. Em seu voto, Nancy jogou por terra o manto da imunidade parlamentar sempre utilizado pelo deputado para encobrir as barbaridades que diz. Apesar de ter direito a recurso no Supremo Tribunal Federal (STF), as chances do deputado são nulas, pois a ministra utilizou de jurisprudência da própria Suprema Corte para dizer que imunidade tem limites.

Maria do Rosário acionou novamente a Polícia Federal para abertura de inquérito penal pelas ameaças e ofensas pelo Whatsapp e pediu à presidência da Câmara dos Deputados segurança pessoal por causa das inúmeras ameaças que tem recebido, que colocam em risco sua integridade física e sua vida. No passado, a parlamentar também havia pedido providências à PF, mas nada foi feito até agora. No CD entregue à polícia, constam as mensagens e áudios de todos, inclusive do sargento da Força Aérea Brasileira, um dos mais ofensivos. Ali, aparecem os números dos celulares e supostos nomes dos agressores. “Pela maioria do teor dos comentários gerados, é visível que as publicações não tinham outra finalidade a não ser ameaçar, incitar a violência, o crime, atacar a honra e dignidade da representante”, diz o ofício assinado pela deputada.

Até onde pretendem ir esses agressores? E a Polícia Federal, afinal vai tomar providências? As Forças Armadas vão punir e expulsar o sargento?

Os agressores de Rosário podem ser enquadrados por crime de ‘ameaça’, descrito no artigo 147 do Código Penal, no capítulo que trata dos crimes contra a liberdade individual. São, portanto, criminosos, o que não deixa de ser curioso em se tratando de uma turma que fala “bandido bom é bandido morto”.

Jair Bolsonaro responde ainda a duas outras ações que correm no STF, desta vez na esfera criminal, por injúria e incitação ao estupro. Na quarta, 23 de agosto, a deputada irá depor. Até onde pretendem ir esses agressores? E a Polícia Federal, afinal vai tomar providências? As Forças Armadas vão punir e expulsar o sargento?

Cabe ao STF julgar rapidamente a ação contra o deputado para dar exemplo aos misóginos que atacam não só Rosário, mas inúmeras mulheres brasileiras todos os dias. A cada 2 segundos, uma é vítima de violência verbal ou física. Milhares são insultadas, assediadas e ameaçadas como Maria do Rosário e outras milhares são violentadas a cada 11 minutos. A violência contra a mulher insuflada pelos Bolsonaros – sim, porque não é só o pai – e os Bolsominions está sendo contada no site Relógios da Violência, projeto do Instituto Maria da Penha.

 

 


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(8) comentários Escrever comentário

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Maria de Fatima Lima em 19/08/2017 - 12h04 comentou:

Inacreitavel esse cara andar por ai, livre.

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Antonio Carlos Bregensk do Nascimento em 19/08/2017 - 22h21 comentou:

Parabéns à Rosario! De COVARDIA já basta a dos ricos contra os pobres. Que ela continue na luta!!!

Bolsonaro não passa de um escroto “à lá Trump” que infelizmente ainda atrai atenção dos que a ele se igualam…

Se esse cara virar presidente do Brasil, coitados dos mais fracos desse país (pretos, pobres, mulheres, etc), pois vão comer “o pão… “, inclusive os que nele votarem. Triste situação do Brasil…

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    Mara em 20/08/2017 - 10h20 comentou:

    Tenho muito medo da eleição deste pulha, pois para eles qualquer um que pense dierente é comunista, é ladrão, é bandido. O mundo inteiro clama por direitos humanos, mas no Brasil as pessoas não entendem isto. Os índices de violência cotidiana contra as minorias vai disparar se ele for eleito.

    Reinaldo Saraiva Da Rocha em 21/08/2017 - 11h25 comentou:

    Desejo que à Vossa excelência seja tratada com mais dignidade e respeito,Pois é muito triste e lamentável à maneira que à Sra. Vem sendo humilhada por esses facínoras.

CARLOS ANTÔNIO DA SILVA em 20/08/2017 - 14h38 comentou:

Parabéns a Deputada Maria do Rosário pela coragem em denunciar o deputado Jair Bolsonaro. Estamos cansados da intolerância, ódio, machismo e da apologia que o deputado e seus seguidores destilam nas redes socias.

Para Rousseau, o homem só se torna homem, ou seja, torna-se humano pela piedade. A piedade é um sentimento natural presente em todos os homens. Dessa virtude natural é que resultam as virtudes sociais como a generosidade, a clemência, a bondade, a benquerença. É a piedade que nos leva “sem reflexão em socorro daqueles que vemos sofrer; é ela que, no estado de natureza, faz as vezes de lei, de costume e de virtude, com a vantagem de que ninguém é tentado a desobedecer a sua doce voz; é ela que impede todo selvagem robusto de arrebatar a uma criança fraca ou a um velho enfermo sua subsistência adquirida com sacrifício, se ele mesmo espera poder encontrar a sua alhures; é ela que, em vez desta máxima sublime de justiça raciocinada, ‘faça a outrem o que queres que te façam, inspira a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem menos perfeita, porém mais útil, talvez, do que a precedente: faze o teu bem com o menor mal possível a outrem” ¹

1 Rousseau, J Discurso sobre a origem da desigualdade.

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Fabio em 21/08/2017 - 05h17 comentou:

Acho muito estranho Lula ter chamado as mulheres de grelo duro! Ou a ministra do STF ter soltado Roger Abidel! E outros casos q não obtiveram algum protesto dos mesmos.

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Lucas Vasconcelos Ponzo em 21/08/2017 - 19h00 comentou:

Como oficial militar da reserva, sou solidário à Sra. Rosário e espero que todos esses criminosos sejam exemplarmente punidos. Não há mais espaço em nosso país para extremismos retrógrados que atentem contra a dignidade das mulheres e minorias étnicas e religiosas. Nós, militares e civis progressistas deste país, não permitiremos que o obscurantismo se alastre em nossa arena política. Combateremos até o fim pelo respeito aos princípios democráticos, pelos direitos humanos, contra o fascismo!

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