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Rouge – Mulheres socialistas (série): Frida Kahlo

Ilustração Alessandra Menezes Não é exagero afirmar que o tesão que a pintora mexicana Frida Kahlo, aos 29 anos, sentiu pelo comandante do Exército Vermelho Leon Trotsky, aos 58, tivesse menos a ver com sexo do que com comunismo. Frida sempre sonhou em ser uma revolucionária, e dar uns amassos no piochitas (cavanhaquezinho), como ela […]

Cynara Menezes
08 de março de 2017, 19h47

fridaalessandra

Ilustração Alessandra Menezes

Não é exagero afirmar que o tesão que a pintora mexicana Frida Kahlo, aos 29 anos, sentiu pelo comandante do Exército Vermelho Leon Trotsky, aos 58, tivesse menos a ver com sexo do que com comunismo. Frida sempre sonhou em ser uma revolucionária, e dar uns amassos no piochitas (cavanhaquezinho), como ela chamava Trotsky, deve ter sido uma deliciosa travessura.

Frida era absolutamente livre sexualmente, e se relacionou com homens e mulheres, mesmo estando casada a maior parte da vida com o também pintor Diego Rivera. A jovem nascida em Coyoacan se unira às Juventudes Comunistas aos 17 anos e se  filiara ao PC mexicano aos 20, pouco após sofrer o grave acidente que marcaria sua vida: o bonde onde ela estava se chocou com um trem e as ferragens perfuraram-lhe o corpo, causando danos à coluna. Obrigada a ficar na cama, Frida começou a pintar. Mais tarde, sobre o colete ortopédico de gesso que a acompanhou até o fim, gravaria o símbolo da foice e martelo.

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(Frida e Diego na marcha do Dia do Trabalhador em 1929. Foto: Tina Modotti)

Paralelamente à pintura, a atividade política seria constante na vida de Frida Kahlo, sobretudo após conhecer Rivera. Não houve greve, protesto ou manifestação nos anos 1930 no México em que o casal não estivesse presente. Mas, ao contrário do marido, sua obra nunca foi panfletária. Enquanto Diego pintava enormes murais em que apareciam trabalhadores, operários e líderes comunistas, Frida olhava mais para dentro de si, em quadros que retratam as dores e os amores humanos.

fridastalin

Não que ela não tivesse também retratado comunistas, como no Auto-Retrato com Stalin, de 1954. O casal Rivera flertara com o trotskismo, mas voltara a admirar o líder soviético e se aproximar do Partido Comunista nos anos que se antecederam à morte de Frida. Na cabeceira de sua cama, na Casa Azul, em Coyoacan, onde pintava deitada nos períodos em que a saúde frágil se agravava, há um painel com fotos dos ídolos que a inspiravam: Karl Marx, Friedrich Engels, Lenin, Mao Tsé-Tung e o próprio Stalin. “Eu os amo por serem os pilares do novo mundo comunista”, escreveu em seu diário.

Nas anotações, a pintora mostra que a relação com Trotsky não a tornou uma “contra-revolucionária”, como se dizia na época. “Não estou de acordo com a contra-revolução. Nunca fui uma trotskista”, escreveu Frida, para quem a revolução era “a única razão real para viver”. Quando Stalin morreu, a pintora confessou que sempre quis conhecê-lo. É preciso lembrar que os horrores do stalinismo só foram inteiramente revelados ao mundo após a morte de Frida, em 1956, com Nikita Kruschev.

A frustração de Frida em não ser uma pintora “útil ao movimento comunista” e cujo trabalho “servisse ao partido” soa absurda hoje, diante da grandeza de sua obra –certamente não seria assim se tivesse se dedicado à arte “engajada”. Mas a exploração capitalista de seu trabalho com certeza a deixaria furiosa. “Só pintei a honrada expressão de mim mesma”, escreveu. “Sou um ser comunista. Li a história do México e de outros países, conheço seus conflitos de classe. Sou apenas uma célula do complexo mecanismo revolucionário dos povos pela paz das novas nações soviéticas – tchecas – polonesas – ligadas a mim pelo próprio sangue.”

Sobre o caixão de Frida Kahlo, em julho de 1954, repousava a bandeira vermelha, com a estrela amarela e a foice e o martelo, do Partido Comunista Mexicano.

 

 

 


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