Socialista Morena
Mídia

Portal, não. Um bistrô de notícias contra o fast-food da mídia comercial

Quem inspira este site? Certamente não os donos da mídia. Nos inspiram os criadores de jornais socialistas, anarquistas e comunistas que existiram no Brasil desde a época do império. Não enxergamos o jornalismo como negócio

Gerda Taro, fotógrafa e jornalista anarquista durante a guerra civil espanhola. foto: Fred Stein
Cynara Menezes
01 de agosto de 2017, 14h55

Quem inspira este site?

Certamente não a mídia comercial e seus poderosos e influentes proprietários, capazes de erguer e derrubar governos. Este site não se espelha em nenhum grande empreendimento midiático de sucesso do planeta. Não aspiramos ser os novos magnatas da comunicação. Ser os novos Randolph Hearst ou Roberto Marinho não nos motiva. Nem mesmo Pulitzer, a não ser a versão arrependida do dono de jornal sensacionalista que enxergou, no final da vida, que uma imprensa mercenária e corrupta formaria um público tão vil quanto ela mesma.

Inspiram este site as dezenas de operários das letras que varavam noites escrevendo e imprimindo os panfletos que iriam entregar, insones, nas portas das fábricas e nas ruas às primeiras horas da manhã. Nos inspiram os criadores de jornais socialistas, anarquistas e comunistas preocupados em conscientizar a classe trabalhadora mesmo que, para isso, tivessem de arriscar suas vidas diante da perseguição da polícia e do Estado, sob o silêncio cúmplice das famiglias donas dos impérios midiáticos, legítimas representantes dos patrões.

O que nos distancia de uns e nos aproxima dos outros? Não enxergamos o jornalismo como um negócio, mas como um instrumento para mudar o mundo e a vida dos trabalhadores, da gente mais sofrida. Não queremos nos tornar os próximos milionários das comunicações, mas apenas subsistir dignamente de nosso ofício com a máxima liberdade possível, sem as censuras impostas pelo capital.

Não enxergamos o jornalismo como um negócio, mas como um instrumento para mudar o mundo e a vida dos trabalhadores, da gente mais sofrida

Existiram centenas de jornais operários no Brasil desde a época do império. Inclusive um, vejam só, que se chamava O Socialista em 1845, no Rio de Janeiro, mais de 70 anos antes da revolução russa. O tipógrafo anarquista paulista Edgard Leuenroth, um dos artífices da greve geral de 1917, esteve envolvido com mais de 20 jornais proletários… São estes homens e mulheres jornalistas, não os donos de jornais (nem os empregados deles), que inspiram este site e a quem ele presta homenagem cotidiana.

Em 2012, o blog Socialista Morena surgiu como um canal onde eu pudesse me expressar, já que, em minha longa carreira como repórter, sempre relatei fatos, não opinava. Nestes cinco anos, tirei a venda dos meus olhos sobre o ofício de jornalista e entendi melhor o funcionamento da indústria da notícia. Tive a dimensão exata de que a mídia comercial representa o pensamento das classes mais altas e que não era a minha a única opinião excluída. Percebi que este espaço poderia representar a voz de milhões. O “Socialista Morena” deixou de me pertencer; já não sou eu, somos muitos “socialistas morenos” necessitando falar, escrever, gritar.

Este site nasce, portanto, com o sonho de que se torne, no futuro, uma cooperativa de jornalistas horizontal, onde todos possam receber seu sustento de forma igualitária. A experiência está começando, com a possibilidade que o leitor tem de contribuir financeiramente com os autores ao final de cada reportagem, até que alcancemos o número de assinantes necessário à remuneração justa de uma equipe. Só o financiamento pelo leitor pode garantir a independência completa de um veículo de comunicação, tanto em relação aos políticos quanto às grandes corporações. O acesso continuará livre a todos, sem paywall. Assina quem quer, porque gosta e deseja que o site continue existindo.

Penso no Socialista Morena não como um portal, nem mesmo como um miniportal, mas como um bistrô jornalístico: poucas mesas, mas tudo delicioso

Penso no Socialista Morena não como um portal, nem mesmo como um miniportal, mas como um bistrô jornalístico: poucas mesas, mas tudo delicioso; poucas notícias na home, mas tudo feito com apuro artesanal, não em linha de produção. Se não concorremos com o fast-food das grandes corporações midiáticas (por enquanto), pelo menos podemos nos orgulhar de apresentar pratos elaborados, que possam surpreender os paladares mais exigentes. Quem disse que a massa não gosta de biscoito fino?

Reparem que as editorias mudaram. Uma coisa que sempre me incomodou no velho jornalismo é o engessamento das seções. Em pleno século 21 não se justifica mais ter, por exemplo, editorias cafonas voltadas para as mulheres, “femininas”, com foco em culinária, estética e moda, até porque estes assuntos despertam o interesse dos homens, também. Por outro lado, o feminismo interessa cada vez mais às mulheres. Pronto: temos uma editoria de Feminismo. E mais: Política, Cultura, Maconha, Capital, Trabalho, Mídia, Direitos Humanos. Assuntos que considero no epicentro dos interesses dos leitores atuais.

Por destacar xs autorxs dos textos já na capa, o novo projeto gráfico possibilita que uma variedade enorme de temas sejam abordados, inclusive pontos de vista sobre os quais a editora do site não esteja de acordo. O único critério é o amor pela palavra escrita, a qualidade da informação, a seriedade na apuração dos textos e o imperativo de despertar no leitor uma perspectiva nova, desafiar suas crenças, instigá-lo a refletir. Não acredito em jornalismo que não promova o pensamento crítico.

Por que “jornalismo anticapitalista” na epígrafe? Porque para ser a favor do capital já existem os outros, oras

Há poucas janelas de publicidade, porque o site pretende ser um local de leitura agradável, e um local de leitura agradável não pode ser perturbado por “ruídos”. Além disso, em minha opinião, a proliferação de anúncios aleatórios do Google tem enfeiado muito o meio digital. Em jornalismo, estética é importante. Quero que este seja um site visualmente bonito, elegante e gostoso de ler. Por que “jornalismo anticapitalista” na epígrafe? Porque para ser a favor do capital já existem os outros, oras.

Sob as bênçãos do mestre Darcy Ribeiro, razão do nome do site, o principal objetivo do Socialista Morena permanece o mesmo: compartilhar conhecimento, que considero o principal papel social do jornalismo, sua razão de existir. Espero, com este trabalho, contribuir para formar brasileiros mais conscientes de seu papel como cidadãos, mais engajados, mais atentos.

Bem-vindos e boa leitura.

 

 


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(10) comentários Escrever comentário

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ideraldo gomes silva em 01/08/2017 - 17h25 comentou:

Quero cumprimentá-la por esta vitória. O País precisa (e muito) de jornalismo desta forma – contra o senso comum vigente nas grandes mídia nacionais.
Parabéns e sucesso pra vc e seus parceiros/colegas que se juntarem nesta luta diária.
Conte comigo para participar desta ” guerra” atual contra o Capital mercenário e injusto que tenta mandar no Brasil.
Por um Brasil livre.

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Omar em 01/08/2017 - 17h51 comentou:

O melhor slow food de notícias!!!!

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Andréa Glória em 01/08/2017 - 17h51 comentou:

Que lindo o texto, e que lindo o novo site. Arrasou, Socialista Morena! Sucesso, sempre! Beijos!

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Felipe em 01/08/2017 - 19h03 comentou:

Parabéns Cynara. Ficou muito bonito.

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jupira correa em 01/08/2017 - 19h23 comentou:

Parabéns brava Cynara, que o site tenha vida longa e que pessoas inquietas, questionadoras, criativas , sensíveis e sobretudo sábias façam parte da cozinha do bistrô, um beijo.

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Renata em 02/08/2017 - 00h25 comentou:

Sou leitora contumaz, especialmente dos sites independentes. Fico feliz, por um lado, e angustiada, por outro, por ver todos eles pedindo contribuição, pois não posso dar, a não ser compartilhando, divulgando. Queria contribuir com todos, dos grandes, como Carta Capital, aos pequenininhos. Torço muito por essa janela que nos oferecem. Vou divulgar, para que amigos apoiem o Socialista Morena.

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Luiz Alves - Bahia em 02/08/2017 - 05h07 comentou:

Maravilha! E você está conquistando um monte de socialistas morenos, viu? Grande Cynara. Acredito neste tipo de jornalismo também. Vida longa ao “bistrô de notícias do Brasil”!

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Clodoaldo Rocha Novais em 02/08/2017 - 10h17 comentou:

Tentei fazer uma assinatura mas não vejo como me inscrever utilizando o meu cartão de crédito. A única opção visível é a do Pay Pal. Favor esclarecer.

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Neri SEvero Malheiros em 03/08/2017 - 14h49 comentou:

Olá, Cynara!

Parabéns pelo novo visual, projetos e metas do Socialista Morena, este “bistrô de notícias” anticapitalista pautadas pelo interesse em escarafunchar assuntos plenamente identificados com o papel social do jornalismo e que possam de alguma forma contribuir para um mundo melhor. Mesmo que para isso seja preciso trilhar caminhos mais tortuosos e inacessíveis. Muito sucesso nos propósitos da equipe toda! Abraços.

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Sergio Vauduro em 04/08/2017 - 12h40 comentou:

Parabéns pela nova roupagem Cynara.
Retirar aquele “way of life” foi o ponto alto, para mim.
Usar termos em inglês, mesmo havendo palavras fáceis em português, soava como algo contraditório, já que é o idioma do capitalismo, da nociva globalização.
Pessoas que têm esse hábito representam um problema para a nossa confirmação cultural, que é a base para o nosso fortalecimento como nação independente.

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