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Cultura

Um romance sobre assédio e vingança, na perspectiva de um matador de aluguel

Baseado em uma história real, Degrau por Degrau, estreia do economista mineiro José Carlos Peliano na ficção, será lançado hoje em São Paulo

Cabeça, de Oswaldo Goeldi, 1926
Da Redação
29 de setembro de 2017, 11h52

Em algum lugar no interior do Brasil, três adolescentes assediam uma garota constantemente. Um deles invade a casa dela, e causa a queda de uma escada, acidente que destrói a vida da menina. A família da vítima quer justiça, que não chega: os acusados são de família rica, e filhos de gente rica não são presos nem na ficção. Os pais encontram a “solução” que buscavam nas mãos de um matador de aluguel, Tino, sob cuja perspectiva se desenrola a trama.

O romance de estreia do economista mineiro José Carlos Peliano, Degrau por Degrau, vai ser lançado hoje à noite em São Paulo e no próximo dia 3 de outubro, em Brasília. Antes de se lançar à ficção, Peliano já publicava poemas em seu site, além de artigos, inclusive aqui neste site. Ele conta que partiu de uma história real, que lhe foi confidenciada pela mãe da menina, muitos anos atrás. Quando decidiu escrever o livro, achou que tinha chegado a hora de contá-la.

“Eu disse a ela na época que, se algum dia fosse escrever um romance, o que ela me contou seria meu argumento. Foi assim, o dia que decidi escrevê-lo peguei o laptop, sentei, e me perguntei, e agora?, o que escrevo?, foi quando a lembrança me veio, peguei o argumento e a história saiu do jeito que está escrita. Sem roteiro, sem qualquer preparação. Veio saindo, capítulo a capítulo. A entrada do justiceiro foi decisão minha. Mas teve uma forte indicação. A mãe não me confirmou quando lhe perguntei se teria tomado alguma providência com o desfecho da tragédia: sem punição para os delinquentes, sem ação da polícia, sem justiça. Ela me olhou no fundo dos olhos e sorriu. Não confirmando, nem desmentindo, mas entendi que o sorriso foi a senha. Ela, de fato, fez alguma coisa e foi radical pela raiva e angústia acumulada conforme me revelou.”

Peliano conta que, apesar de estreante, preferiu seguir o instinto em vez de ir atrás de dicas. “O que me disseram, sobre um conto que escrevi numa antologia, era que eu tinha uma boa capacidade de descrever situações, quase uma cena de filme. Acho que isso é fruto da observação das coisas da vida, em todos os sentidos, e de uma inspiração malandra que me leva sempre longe. Um espírita me disse quando menino que meu guia literário era o Álvares de Azevedo! Quem sabe não tem cochichos dele nessas dicas?”

TRECHO

Lembrou-se, enquanto aguardava, assim de súbito, sem mais nem menos, de sua entrada na senda das encomendas, da reparação de brutalidades. Como pegou pela primeira vez em arma para reparar dano físico causado por terceiro. Como executou sem dó nem piedade o agressor de uma vez e sem tremer. Arrependimento, nenhum. Pagamento, tampouco. Mas um forte abraço e consideração por merecimento. O agressor tentou roubar o pouco dinheiro que a velha mantinha no pote colocado no canto da prateleira de duas madeiras perto do fogão.
Entrou pelos fundos, onde a velha, na cozinha, preparava arroz no fogão. Colocava uma pitada de sal na água já fervendo quando sentiu um tranco por trás e um braço apertando seu pescoço. O outro, em volta da barriga, a prendia junto ao corpo do homem que lhe perguntou onde ela mantinha o dinheiro.
– Que dinheiro? – esganiçou ela com a curva do braço e antebraço dele apertando sua garganta.
– O que você veio buscar para pagar sua compra ao dono da venda agora há pouco. Ouvi você dizer isso. Quero ele, estou precisando.
Percebendo o buraco fundo em que foi metida, uma encrenca perigosa, respondeu ela que ele a soltasse para poder pegar o dinheiro. Ele tirou os braços de seu pescoço e barriga e ficou ao lado dela, observando. Ela não pensou duas vezes. Agiu rápido, um bote de cobra. Pegou o cabo da panela de arroz, virou-se para o lado e, zás trás, atirou de vez tudo o que tinha dentro em direção à cara do homem, mais alto que ela dois palmos de mão, magro, barbado, cabelo comprido e despenteado.

LANÇAMENTO: hoje, a partir das 18h, em São Paulo, no bar Genial (r. Girassol, 374, Vila Madalena) e dia 3/10 a partir das 18h, em Brasília, no restaurante Carpe Diem (CLS 104).

 

 


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