Socialista Morena
Direitos Humanos, Maconha

Vamos falar de maconha?

“Já fumamos a macumba ou diamba. Produz realmente visões e como um cansaço suave; a impressão de quem volta cansado dum baile, mas com a música ainda nos ouvidos” (Gilberto Freyre) Está quase no fim o mensalão, acabou a eleição: vamos falar de maconha? Para começar, não acredite em nada do que diz a direita […]

(Ilustração de John Tenniel para Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, 1865)
Cynara Menezes
29 de outubro de 2012, 23h54

(Ilustração de John Tenniel para Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, 1865)

Já fumamos a macumba ou diamba. Produz realmente visões e como um cansaço suave; a impressão de quem volta cansado dum baile, mas com a música ainda nos ouvidos” (Gilberto Freyre)

Está quase no fim o mensalão, acabou a eleição: vamos falar de maconha? Para começar, não acredite em nada do que diz a direita brasileira sobre a maconha. Eles não têm a menor ideia do que estão falando. Sua visão é impregnada de ideologia. Seus “estudos científicos” têm viés. É impossível enfiar numa cabeça fechada dessas um pensamento mais contemporâneo. Faz parte da ideologia deles e de seu plano de dominação ser contra a maconha.

Existe uma visão disseminada pela direita brasileira de que a pessoa que usa maconha, por mais eventualmente que seja, participa do narcotráfico, o incentiva, porque o alimenta. Não é meu tipo de filme e eu não vi, mas Tropa de Elite reforçou este tipo de pensamento. Em uma cena, o capitão Nascimento quase espanca um moleque que sua tropa surpreende numa “boca de fumo” no morro, culpando-o por todas as desgraças do Rio de Janeiro.

Culpar o usuário é um raciocínio estúpido. As pessoas que fumam maconha compram-na de traficantes porque é proibido, no Brasil, plantar uma planta. A maconha não necessita de nenhum “refino” ou algo do gênero para ser consumida. Como planta que é, é perfeitamente possível ter dois vasos de maconha em casa e isso, além de eliminar a figura do traficante, tampouco causaria mal a alguém a não ser ao próprio usuário (o que, aliás, ainda se discute cientificamente; no entanto, tem comprovados efeitos medicinais). Ou seja, o usuário só “alimenta” o narcotráfico porque a proibição o obriga a recorrer ao traficante. Se fosse permitido, não recorreria.

Existem drogas e drogas, e a maconha vem se confirmando como a menos danosa delas –inclusive do que o álcool, que é liberado. A comissão de juristas que elaborou o projeto de modificação do Código Penal, atualmente em análise no Senado, incluiu a legalização do uso e do plantio da maconha. Se aprovado, seria mais do que suficiente para resolver metade do problema do tráfico em relação à maconha, tenho certeza. Mas a direita, com seus tentáculos midiáticos, já começou a se mobilizar contra. Fique esperto, nada é por acaso.

Outra mania da direita que nada sabe sobre maconha é misturar alhos com bugalhos. Critica experiências “desastrosas”, em outros países, de liberação das drogas, mas isto é sinônimo de coisas pesadas, como heroína. Para que liberar o crack, por exemplo? Neste momento, seria um desastre. Maconha é outra coisa – existem, por sinal, experiências sendo feitas com a maconha para livrar pessoas do vício do crack em alguns países como o vizinho Uruguai, nossa aldeia gaulesa ao Sul, que já legalizou o aborto e estuda atualmente a legalização da cannabis, com a venda pelo Estado de baseados.

Com a palavra o presidente Pepe Mujica, um dos ídolos deste blog, dando a real sobre o tema da droga: “Aos uruguaios lhes custa admitir que tivemos uma explosão do crime quando começou a se massificar o consumo de pasta base de cocaína, que em outros países se conhece por outros nomes (crack, “paco”) e que se vende a preços miseráveis. Temos milhares de presos por causa do tráfico dessa imundície e apareceram os delitos por ajuste de contas. Os traficantes não mandam advogados para cobrar os que não pagam. Lhes dão um tiro. Isso era desconhecido no Uruguai.

“Vamos combatê-los tirando-lhe um pouco do mercado, porque se trata de um negócio. Eles usufruem de um monopólio e, como o Estado lhes persegue, o transforma em uma atividade de alto risco e isso faz subir o preço e então a ganância e a corrupção são enormes. O consumidor se transforma em vendedor, até por necessidade. É interminável.

“O consumo de maconha já existe, às escondidas. A ideia é tratar de regulamentá-lo. Primeiro, entregando um produto melhor, que não cause tanto mal às pessoas. Depois, identificar o consumidor e assim, quando passe dos limites, poderemos dizer ‘meu filho, vamos nos tratar porque assim não está bom’. E terceiro, combater com mais efetividade todas as outras drogas.”

O presidente uruguaio disse ainda que não se oporá ao auto-cultivo, ou seja, plantar para consumo próprio. O “gaulês” Mujica já andou se posicionando favoravelmente a outra ideia moderna para liberação da maconha: as cooperativas de uso e plantio que existem na Espanha graças a uma brecha legal. Um grupo de pessoas se reúne e arca com os gastos do cultivo. Depois, a maconha é rateada em cotas entre os associados. Uma cidade espanhola surpreendeu ao aprovar o aluguel de terras do município para o cultivo de maconha por um “clube de cannabis” de Barcelona. Aproveitará para pagar a dívida e gerar empregos, o que, em meio à crise europeia, parece ser uma solução interessante e nem um pouco hipócrita.

A direita não vai informá-lo, mas em alguns lugares liberar as drogas deu muito certo. É uma mentira deslavada que tenha dado errado em todos. Portugal comemorou no ano passado dez anos de descriminalização de todas as drogas e a experiência foi saudada pelo think tank norte-americano Cato Institute como um sucesso retumbante. “Portugal está muito melhor do que antes, em muitos aspectos, do que outros países da União Européia que preferiram uma abordagem dura, criminalizante, das drogas”, diz o relatório especial do instituto sobre o país. O abuso de drogas caiu pela metade por lá após a descriminalização.

No Brasil, só se fala do problema das drogas em época de campanha eleitoral, quando não é exatamente debatida, mas usada nos debates como “pegadinha” pelos candidatos. Já passou da hora de as drogas em geral, e a maconha em particular, serem discutidas no País fora do calendário eleitoral. Urge olhar o assunto sem hipocrisia e sem fazer de conta que vivemos na Idade Média. Proibir a maconha é arcaico, é do tempo da onça. E não funcionou.

Temos dois anos pela frente sem eleição. Seria bom aproveitar este vácuo para encarar temas importantes, sem que os políticos fiquem com medo de desagradar a marqueteiros, eleitores e parte da mídia por tomarem posições mais contemporâneas. Até 2014, seria possível ao País seguir o exemplo uruguaio e legalizar o uso e o plantio da maconha. Com a palavra, o Congresso Nacional, que tem em suas mãos a oportunidade única de mudar o código penal. Esperamos que não se deixe intimidar pela direita ignorante disfarçada de porta-voz da ciência.


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(18) comentários Escrever comentário

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Priscila Aguiar em 30/10/2012 - 00h14 comentou:

Cynara,
drogas, assim como aborto e outras questões, devem ser discutidas com a sociedade civil, e não usá-las apenas em período eleitoral, como se faz em terras tupiniquins,
Excelente texto! Parabéns!

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pulsiva em 30/10/2012 - 00h31 comentou:

É mais um tema do qual eu, por mais gentil que seja quando expressar minha opinião, vou ser chamada de baderneira, drogada, etc etc por metade dos "amigos" que tenho no facebook*, muitos realmente me conhecem pessoalmente e se dirão decepcionados, porque, afinal, não uso mais e "pareço tão gente boa". E a outra metade vai se omitir, como sempre. Eu tenho vontade de discutir, sim, mas coragem, vontade de ser apedrejada acho que cansei.
* resolvi postar aqui, talvez alcance mais audiência ainda hheehhe

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Domênico Queiroz em 30/10/2012 - 12h53 comentou:

Este trecho ,
"Existe uma visão disseminada pela direita brasileira de que a pessoa que usa maconha, por mais eventualmente que seja, participa do narcotráfico, o incentiva, porque o alimenta…", me fez volar +/- 20 anos e lembrar do Whisky. Servido na casa de magistrados, editores e arcebispos, pelo critério de qualidade, deveria ser adquirido de um " contrabandista idôneo", já que o produto sacoleiros trazido de Foz, era o verdadeiro KING'S ARCHER- Uma flexada no seu fígado.
In short, mais uma vez "as Elites" continuam contraditórias.

Responder

Vinicius Cabral em 30/10/2012 - 16h08 comentou:

Cynara, não lembro qual foi o perfil que twittou seu blog, mas voltarei mais vezes, certeza.

Quanto ao texto, acho que tem que descriminalizar o uso sim. Não sou usuário e confesso que não estou por dentro das pesquisas científicas que pretendem provar (ou não) a eficácia da maconha, mas se podemos vender bebidas alcoólicas e principalmente cigarros (estes, verdadeiros entulhos de substâncias nocivas), por que não a maconha?

O tráfico só gera um combate ineficaz do poder público (por que será???) e gasta-se recursos que poderiam ser empregados em outras coisas, em combate a outras drogas mais "perigosas" e "nocivas", como o crack, por exemplo.

Enfim… concordo com seu texto. Abraço!

Responder

Guilherme Jorge em 30/10/2012 - 17h51 comentou:

Bastante completo o texto, parabéns. Muito importante citar o uso de maconha no tratamento ao crack e outras drogas pesadas. Há também a questão da maconha como parte de ritual religioso, como em Americana > http://www.hempadao.blogspot.com.br/2012/09/ras-g
Só não concordo c/ monopólio da direita sobre o argumento que vc combate no texto. Não é exclusivo da direita. O argumento moralista qto a maconha é senso comum nacional, seja de esquerda ou direita. Apesar de bastante discutido, a criminalização da maconha ainda é tabu em qualquer corrente ideológica.

Pra ajudar a enriquecer o debate:

texto sobre o proibicionismo e os paliativos que estão sendo discutidos > http://coletivodar.org/2012/10/drogas-mudanca-de-

dica de livro que revisa estudos científicos sobre a maconha > http://www.comunidadesegura.org.br/pt-br/MATERIA-

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José Huertas em 30/10/2012 - 23h05 comentou:

Acredito que este texto tem a ver com um anterior "O direito à preguiça". Quase todos concordam que o trabalho dignifica o homem, então a maconha diminui a produtividade e por isso é criminalizada. Penso que o trabalho só dignifica se a pessoa faz o que gosta e está sendo bem paga para isso. E a maconha só diminui a produtividade se a pessoa faz algo que não gosta.
Parabéns pelo blog é minha primeira visita de muitas…

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Daniel Dantas Lemos em 31/10/2012 - 01h13 comentou:

Cynara,
No Tropa 2 Padilha mostrou um Cel Nascimento consciente de que era um ingênuo anos antes. O filme mostra perfeitamente que era inocência útil acreditar que o usuário financia o tráfico.
Sempre acreditei que foi essa discussão/constatação que fez com que o segundo filme fosse muito mais visto que o primeiro, mas muito menos comentado: é como se o espectador não quisesse falar sobre a própria imbecilidade ao acreditar na visão ingenua dos protagonistas do primeiro filme.

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Toledo em 31/10/2012 - 18h11 comentou:

Se não posso acreditar em nada do que diz a direita brasileira sobre a maconha, onde estão os artigos científicos da esquerda? Aliás, quem seria esta direita que não têm a menor ideia do que estão falando? Quem tem? Onde encontro? Onde acho uma visão de esquerda que não está impregnada de ideologia?. Onde encontro os “estudos científicos” da esquerda sem viés? Onde encontro, para abrir minha cabeça fechada um pensamento mais contemporâneo? Por favor Cynara, me liberte da ideologia deles e de seu plano de dominação….Quem ou o que me recomenda ???????????????????????????????????????

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lucas em 02/11/2012 - 02h56 comentou:

Faz o seguinte

Coloca seu neto,seu filho, sua mae ,pra fumar maconha,
Se eles gostares, vc pode dar maconha pro resto da sua familia.
Se ela gostar, vc pode dar maconha pro bairro inteiro.
Se eles gostarem, vc pode dar maconha pra cidade inteira.
Se eles gostarem vc pode falar de dar pra pais inteiro.
Comece bem perto de vc, ai vem aqui dizer que maconha é bom.
OK ?

Responder

    Beto em 09/11/2012 - 00h32 comentou:

    Hahahahahaha pelo amor… Isso que da le muito,a veja

    Cláudio em 04/03/2014 - 02h22 comentou:

    Deve ter sofrido algum trauma com relação à maconha. E é meio doido.

Régis em 08/11/2012 - 15h30 comentou:

Acho que a grande questão não é moral / comportamental do indivíduo.

Convenções internacionais consideram que as relações produção, distribuição e consumo da maconha devem ser proibidas; a forma dos Estados adotarem esta regra é criminalizar o seu uso e exercer os meios repressivos para corrigir quem transgride as normas vigentes.

Um estado soberano como o Uruguai não pode / deve decidir se é permitido ou não a liberação. Ou todos concordam o seu uso ou não. Imagina o problema que irá gerar em todos os países em que esta discussão for diferente por essas bandas… a maconha, assim como a carne e os produtos de Rio Branco, se tornaria uma Commodity e um problema social ao resto da AL.

Acredito que as decisões individuais das pessoas não devam ser reguladas por ninguém; algo em discussão que é considerado prejudicial a sociedade (crimes devido a manutenção do tráfico) é um problema que atinge a todos os fumantes e não-fumantes. Precisamos abrir o debate.

Responder

Marcelo Procopio em 07/01/2013 - 20h09 comentou:

Olá Cynara,
legal sua matéria.
Nós que fazemos o jornal O Cometa (publicamos quando em vez artigos de Leandro Fortes: autorizado por ele já há uns cinco anos) somos desde sempre a favor da liberação do aborto, da maconha…
Na edição de dezembro último publicamos reportagem sobre a plantação em larga escala pela cidade de Rasquera, financiada por um dos Clubes de consumidores de Barcelona (matéria do repórter Juan Mota da revista Cañamo também de Barcelona.
Matérias sobre assuntos assim são constantes no Cometa.
Gostariamos de publicar o seu artigo na próxima edição.
E gostararíamos antes de enviar uma ou duas edições do Cometa para você conhecer.

— O email do cometa: [email protected]

abraços,
Marcelo Procopio – do Conselho Editorial de O Cometa

Responder

    morenasol em 07/01/2013 - 20h12 comentou:

    pode publicar, marcelo. basta dar o crédito. obrigada ; )

Andrew C em 12/04/2013 - 14h32 comentou:

Fumei por muitos anos maconha, morei em países onde existe um relaxamento por parte da população sobre o consumo da erva e realmente achava que o Brasil necessitava de leis que não colocassem um pessoa comum em uma situação perigosa de ser preso ou cair em um emboscado na favela pra comprar maconha, ou seja, não há possibilidade de consumir a droga tranquilamente como se faz em um bar tomando álcool. ( mas agora com a lei seca isso complicou) Mas depois de muitos anos fumando maconha desde os 15, hoje tenho 31 tive que tomar uma decisão quanto ao uso, eu nunca tive problemas e sempre consegui me comportar bem e ter uma relação saudável com o uso da maconha, seja no meu trabalho ou em casa mas isso me incomodava pois comigo era que eu conseguia manter esta relação próxima e não havia nenhum problema relacionado, ou seja até melhorava minha percepção criativa e de trabalho em alguns casos. Mas o lado desagradável é que tomei conhecimento de que a maconha pode desencadear problemas como a esquizofrenia e tendo pessoas próximas com o problema resolvi não aumentar essa chance, mas depois de tanto fumando maconha tive uma depressão e comecei a frequentar um psiquiatra do qual relatei o problema e ele havia dito que a maconha funciona como um ansiolítico, tempos antes eu havia feito a escolha de fumar e não tomar remédios, mas hoje essa escolha inverteu e me sinto bem com menos efeitos colaterais que a maconha me dava. Eu digo isso sem preconceito, pois não fiquei "louco" ou só porque tinha disponibilidade genética de problemas de adicção e isso pode ocorrer com os remédios que faço uso em vez de maconha, a erva é uma planta um medicamento…acredito que que se houvesse maconha em pílulas com menos efeito colaterais do THC que a fumaça eu com certeza continuaria fazendo o uso da substância mas hoje optei pelo remédios que são estudados e tem seus problemas, mas minimizados pois houve estudos para isso. Ou seja minha conclusão sobre a Maconha é a seguinte: Antes de tudo é preciso investimento em informação sobre o uso de drogas algo parecido como este site: http://www.quedroga.com.br/ e centros de apoios para dependentes e uma conversa franca e SEM DISCRIMINAÇÃO contra usuários de qualquer tipo de droga. Um investimento maciço em Saúde Mental e pesquisa em universidades brasileiras para os efeitos ( positivos/negativos) da substância do THC. Depois deste passo e de uma conversa franca sobre os pontos de vista, liberar o uso da maconha mas também ter apoio aos que não desejam fazer uso e incentivar aos mais jovens sobre o risco de usar a substância assim como acontece com o álcool e com o cigarro e todo o dinheiro arrecadado com este comércio seria pra auxiliar os transtornos causados pela a substância nos usuários.

Responder

Tiago Masutti em 11/06/2013 - 20h51 comentou:

Concordo com tudo. Exceto com a indisfarçável preguiça (no mínimo um desleixo jornalístico), citando no texto um filme que não assistiu (e não compreendeu a abordagem e a complexidade também, mas seria até perdoável se tivesse ao menos assistido). E também discordo da sua posição simplista, ao afirmar: "As pessoas que fumam maconha compram-na de traficantes porque é proibido, no Brasil, plantar uma planta", que é o mesmo simplismo do qual o filme em questão foi acusado, ao dizer que ele reforça um tipo de pensamento de cumplicidade do usuário. Agora pergunto: é correto fechar os olhos para esta realidade? Eu argumento que pensar isto – que o usuário é puramente inocente – ou melhor, é vítima – é pensar que um erro justifica o outro. É como dizer: "o consumidor só compra um produto pirata porque os originais não têm preços acessíveis" ou "Não posso ser vegetariano porque a maioria dos alimentos vendidos tem ingredientes de origem animal; porque o churrasco faz parte de nossa cultura". Os dois lados tem culpa e, na verdade, é um pensamento muito raso inocentar totalmente o usuário de maconha, como se os mesmos fossem desprovidos de raciocínio. É evidente, a criminalização da maconha é um erro grosseiro da legislação. Mas isto não isenta o usuário de cumplicidade com a violência ao comprar de um traficante, enquanto o produto estiver nas mãos destes e, principalmente, enquanto o usuário está totalmente ciente da violência que o tráfico gera para a sociedade. É fácil dizer: "a culpa é do legislador, eu lavo minhas mãos deste sangue!". É o discurso do anti-ativismo político. Mas bem, no mais, seu texto é ótimo, e todo o resto é coerente, correto e sensato. Abraços!

Responder

Frank W. em 12/10/2014 - 17h49 comentou:

Como vocês são imparciais! Que tal falar da ideologia da maconha que deprava tanto jovens como adultos e os aliena a ponto de acharem que são algo além de produtos ideológicos?

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