Socialista Morena
Trabalho

A vida do trabalhador sem direitos trabalhistas. Ou: como era boa minha CLT

A retirada de direitos do trabalhador foi a força motriz de um golpe travestido de pedaladas fiscais, feito sob medida para enganar a classe média

Bye, bye, CLT. Foto: Alan White/Fotos Públicas
Guilherme Coutinho
13 de novembro de 2017, 20h05

Foi bom enquanto durou, mas acabou. O último sábado, 11 de novembro, será lembrado por ter marcado o fim de uma era no Brasil: a vigência da Consolidação das Leis do Trabalho. Como todo tempo bom, esses 74 anos deixarão saudade ao menos para a classe trabalhadora, que via nela uma fonte garantidora de direitos. Quem foi beneficiado pela mudança (os patrões) começa agora a colher os frutos de um movimento político iniciado tão logo o resultado das eleições presidenciais de 2014 foi anunciado. Àquela altura já estava mais do que claro que a “reforma trabalhista”, anunciada como solução para a crise financeira, jamais seria sancionada por Dilma Rousseff. Era necessário dar um golpe no povo brasileiro em favor de uma elite empresarial.

Se o nascimento da CLT, pelas mãos de Getúlio Vargas, veio como resposta à criação da Justiça do Trabalho em 1939, foi justamente o atual presidente do Tribunal Superior do Trabalho, o ministro Ives Gandra Filho, quem melhor sintetizou os motivos de sua morte, em entrevista à Folha de S.Paulo: “Vou ter que admitir que, para garantia de emprego, tenho que reduzir um pouquinho, flexibilizar um pouquinho os direitos sociais”. Como de costume, o sacrifício para sanar a crise virá da base da pirâmide. Como sabemos, rico não paga conta por aqui.

É importante perceber que foi a promessa das reformas (sobretudo a trabalhista) que fez a campanha do fora-Dilma ganhar corpo, a partir de 2015. Os maiores financiadores do golpe viram nelas a moeda de troca a ser paga por Temer ao chegar no Planalto. A FIESP, dona do famoso pato de borracha, que chegou até a fornecer filé mignon para os manifestantes verde-amarelos, teve interesses óbvios na reforma. Afinal quem teria mais a lucrar com a perda de direitos dos trabalhadores que a maior federação de patrões do País?

Como de costume, o sacrifício para sanar a crise virá da base da pirâmide. Como sabemos, rico não paga conta por aqui

Os outros articuladores do golpe, como as Organizações Globo e o PSDB, também tiveram na reforma trabalhista sua grande motivação. A Globo, como porta-voz das maiores empresas do país (seus anunciantes), e os tucanos, porque a possuíam em seu plano de governo, reiteradamente derrotado nas urnas. Com o terreno preparado nos bastidores por esses agentes, o caminho ficou livre para o PMDB de Cunha, Jucá, Padilha e companhia consumar o golpe parlamentar.

O compromisso de Temer em assassinar a CLT, perante seus apoiadores, era tão grande que o discurso na posse ilegítima tratou o tema com um cuidado especial: “Há matérias, meus amigos, controvertidas, como a reforma trabalhista e a previdenciária. A modificação que queremos fazer, tem como objetivo, e só se este objetivo for cumprido é que elas serão levadas adiante, mas tem como objetivo o pagamento das aposentadorias e a geração de emprego”, bradou, em um dos atos mais patéticos e antidemocráticos da história.

Talvez haja mesmo alguma lealdade entre os ladrões: a reforma trabalhista foi a primeira promessa, de fato, cumprida pelo presidente golpista. A retirada de direitos do trabalhador foi a força motriz de um golpe travestido de pedaladas fiscais, feito sob medida para enganar a classe média. E não deixaram nem o cadáver esfriar. No dia de sua morte, a CLT deixou seu primeiro órfão: um juiz do trabalho, no estado da Bahia, sentenciou um empregado a pagar 8.500 reais para o empregador por litigância de má-fé. Nos bons tempos dos direitos trabalhistas, seria uma causa ganha para o trabalhador com base na CLT. O magistrado chegou a citar a nova legislação em sua decisão que fundamentou a sentença.

Que belo começo! Já há relatos de trabalhadores sendo contratados a 4,45 reais por hora, o que daria cerca de 35 reais por 8 horas de trabalho. Em 30 dias, o trabalhador receberia 1050 reais, pouco mais de um salário mínimo, sem direito a sábados e domingos, férias, 13º ou qualquer garantia. E se reclamar, quem é indenizado é o patrão.

 

 


(15) comentários Escrever comentário

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Fernando em 13/11/2017 - 23h51 comentou:

Nos “bons” tempos, o trabalhador ganharia um processo por ter sido assaltado FORA da empresa? Por quê? Por que motivo o empregador deveria arcar com uma ocorrência que não é de sua responsabilidade? Ou empresas são responsáveis pela segurança pública nas ruas e devem pagar pela violência urbana?

Decisão mais que justa.

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eigoL em 14/11/2017 - 10h02 comentou:

“Que belo começo! Já há relatos de trabalhadores sendo contratados a 4,45 reais por hora, o que daria cerca de 35 reais por 8 horas de trabalho. Em 30 dias, o trabalhador receberia 1050 reais, pouco mais de um salário mínimo, sem direito a sábados e domingos, férias, 13º ou qualquer garantia. E se reclamar, quem é indenizado é o patrão.”

Pelo menos agora ele está empregado.

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    Cynara Menezes em 15/11/2017 - 12h53 comentou:

    “pelo menos ele está sendo explorado”

Sergio em 14/11/2017 - 11h41 comentou:

Por que não houve luta? Porque a esquerda não lutou como prometeu com o golpe: NÃO VAI TER GOLPE, VAI TER LUTA! Acho que não houve mobilização. Muita gritaria dos partidos que se dizem lutar pelos trabalhadores, mas muito pouca ação. E aí? Eles fizeram!

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    Cynara Menezes em 15/11/2017 - 12h53 comentou:

    você lutou?

akaqueijo em 14/11/2017 - 18h47 comentou:

Cynara, seus colaboradores são devidamente registrados em regime de CLT ou emitem notinha no final do mês? Deveria ter sido mais clara na exposição do caso do baiano que o juiz condenou… desonestidade intelectual ou mau jornalismo?

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    Cynara Menezes em 15/11/2017 - 12h52 comentou:

    o texto é de um colaborador, acho que está escrito em cima, não? quanto à carteira assinada, no dia em que eu puder ter funcionários, certamente terão carteira assinada e todos os direitos. detestaria ser como os empresários vagabundos que apoiaram este golpe

José Tarcísio Furtado Arruda em 15/11/2017 - 18h06 comentou:

DAS REFORMAS
Do Parlamento um “presidentezeco”
Merecedor de chuva de ovo goro,
Junto aos canalhas que lhe fazem eco
Por falta de vergonha e de decoro,

Faz algo que é danoso e indecente,
Pois busca cercear nosso futuro
Com outro pulha, nosso Presidente,
No golpe a cada dia bem mais duro.

Até o dantes protegido emprego
Vai tornar-se um trabalho só de escravos
Como quer essa Lei do Desemprego;

Em nosso hino maior nós somos bravos,
Mas se a ele não temos mais apego
Que tal as ferraduras com seus cravos?!
Tarcísio Arruda
15/11/17

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Sérgio Pestana em 15/11/2017 - 19h45 comentou:

Cynara,
continue assim, sempre denunciando esses manipuladores, exploradores, predadores espoliadores dos trabalhadores. Creia, tens o apoio de milhões de brasileiros e não dessa canalha golpista.
As opiniões desses desclassificados em apoio à reforma trabalhista vem de “empresários pequenos, médios e grandes”. Conheço alguns deles e já ganhei causas contra esses malfeitores. Poucos se salvam! A maioria, e põe maioria nisso, pensa, age e prejudica os trabalhadores e suas famílias. E ainda se dizem cristãos…

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Ney em 15/11/2017 - 21h26 comentou:

O inacreditável é ter gente aqui defendendo o golpista, faz parte dos 3 por cento, são os mesmos que dizem que fomos nos que elegemos esse desgraçado, mas não enxergam que o governo é do cara que eles votaram e depois do Golpe caiu em desgraça, o Aecim!

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Sergio em 16/11/2017 - 10h47 comentou:

Ontem, 16.11.2017, enviei uma mensagem sem ofensas nem foi nomeado nomes e fui descartável. Qual a razão?

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    Cynara Menezes em 16/11/2017 - 16h47 comentou:

    às vezes demora um pouco, por razões de não termos ainda uma equipe, mas está aprovado seu comentário, sim

Mann em 16/11/2017 - 12h27 comentou:

Boa tarde.

Acredito que, na mentalidade pequeno burguesas do nosso empresariado, o sinônimo de “exploração” seria “oportunidade”. Agora tem justificativa para tirar 200 do trabalhador, todos os meses, para pagar o condomínio ou a cara escola de seus filhinhos pequeno burgueses.
O trabalhador, se reunindo com outros trabalhadores, pode criar uma cooperativa de trabalho, para fazer frente a fome insaciável do capitalista.
Ganha o trabalhador, a sociedade, o erário, a economia, e até o burguês esfomeado, que vai passar a pagar R$ 4,45 por horas para sua mãe, pai, esposa, filhos e outros parentes.

Certo?

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Marcelo em 29/12/2017 - 18h45 comentou:

Disse Zygmunt Baum: “A desigualdade não está apenas aumentando, ela muda sua natureza, sua estrutura e está ligada a esses limites que o capitalismo se impõe para manter as coisas em ordem, digestíveis, toleráveis, aceitáveis. Eles desapareceram e, como resultado, a desigualdade mudou sua natureza porque as vítimas da desigualdade da sociedade eram, antigamente, as pessoas que viviam na pobreza, na base da sociedade, os párias da sociedade. Hoje não é mais assim, porque estamos testemunhando o processo que Guy Standing, um sociólogo muito ativo, chamou de “precariado”. O que chamamos de classe média, que era a parte da sociedade mais bem sucedida e confiante, está se transformando muito rapidamente no precariado, que é uma espécie de equivalente ao antigo proletariado: pessoas que estão inseguras em relação à sua posição”.
Com a CLT, bem ou mal, trabalhador era cidadão, e com a terceirização um precariado Com a Reforma Trabalhista converte-se em zumbi, a fase final do precariado.

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Raimundo em 31/08/2018 - 12h00 comentou:

Nós é que não fizemos nada s,só ficamos esperando eles nos lascarem.

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