Socialista Morena
Politik

Ana Prestes escreve sobre a avó, Maria, viúva de Prestes, que faleceu hoje aos 92

"A mais linda abuela", diz a cientista política sobre Maria Prestes, que morreu em decorrência da Covid-19 no Rio

Maria e a neta Ana em 2018. Foto: divulgação
Ana Prestes
04 de fevereiro de 2022, 23h00

A gente pensa que para todo o sempre, do outro lado da linha do telefone memorizado desde a infância, digitado como se fosse a própria extensão das mãos, vai atender aquela mesma voz.

Que por trás da porta do endereço mais amado de toda a vida vai estar aquele abraço único.

Que as janelas estarão sempre abertas e ventiladas, que no ambiente haverá música ou som da tv e que as estampas das roupas e das almofadas serão coloridas e sobrepostas.

Que o café da tarde será regado a risadas e pão quentinho. E de surpresa vai surgir uma torta da geladeira.

Que ela vai gritar que o banho tá demorado e que é pra apagar a luz pois não é sócia da light.

Que o plano pra manhã seguinte será o de partir para a praia sem hora pra voltar.

Que no almoço vai estar na mesa o melhor feijão do mundo.

Que a sobremesa vai ser uma bacia de mangas que ela vai descascando e picando enquanto conta histórias.

Que de tardezinha, depois do chá, vamos deitar na cama da abuela para ver a novela.

Que ela vai dormir antes do fim do capítulo e vai acordar antes do amanhecer ouvindo as notícias no radinho de pilha.

Que no café da manhã a gente vai ouvir as histórias da infância dela em Pernambuco. E vai rir, e vai chorar e se indignar.

Que ela não vai aceitar choro na despedida e vai encher nossa mala de presentes aleatórios.

Que um dia, sem motivo, vai chegar em casa uma caixa sortida com ítens que vão da goiabada, a livros e pares de meia.

Que nas eleições ela vai fazer campanha, vai torcer e acertar o resultado eleitoral.

Que não vai te deixar desistir, que vai te apoiar, que vai te dar bronca e perguntar quais os planos para as próximas férias, os próximos trabalhos e os próximos amores.

Que nunca vai haver Rio de Janeiro sem ela.

A mais linda abuela.

A gente pensa que é pra sempre.

Não estamos preparadas para o inverso, reverso e transverso da vida sem ela.

 


(5) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Pierre em 05/02/2022 - 09h38 comentou:

Que bela homenagem à sua querida abuela!
Força pra vocês.

Responder

Bernardo Santos Melo em 06/02/2022 - 14h58 comentou:

Amém !
Abuela , virou luz …

Responder

Marli Picorelli em 06/02/2022 - 16h00 comentou:

TIVE OPORTUNIDADE DE CONHECER PRESTES E A ESPOSA NUM ENCONTRO ORGANIZADO PELO AMIGO DIMAS PERRIM E EVARISTO GARCIA. MUITO SIMPATICO O CASAL, MAS ELA EU CONHECI DEPOIS DO FALECIMENTO DELE, NUM NOVO CONTATOS COM O PARTIDO. MEUS SENTIMENTOS À FAMILIA E AOS AMIGOS. MAIS UMA GRANDE PERDA PARA TODOS OS COMPANHEIROS DA ESQUERDA..MARLI PICORELLI

Responder

Fátima de Oliveira em 07/02/2022 - 16h23 comentou:

Conheci Luiz Carlos Prestes , em Belo Horizonte, durante entrevista exclusiva feita por mim, quando o cavaleiro completou 80 anos. Nela praticamente não falamos de família, para quem a política perdia terreno. Não falamos das lutas, dos desejos, das perdas ou dos medos vividos
pela esposa, em função das atividades de Prestes. Mas como mulher ,esposa e mãe sei dos dias difíceis e solitarios vividos por ela na lida com a meninada. Não devem ter sido fáceis. Uma perda triste.

Responder

Luciane em 06/03/2022 - 10h25 comentou:

Que linda sua avó! Que linda homenagem! Meus sentimentos 🌹

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Direitos Humanos

Morrer faz parte da vida, mas morrer baleado fazendo um café na cozinha é…


No Brasil, morrer deixou de ser um ato isolado para virar um número frio, uma manchete óbvia, um fato corriqueiro

Cultura

Rouge – Mulheres socialistas (série): Frida Kahlo


Ilustração Alessandra Menezes Não é exagero afirmar que o tesão que a pintora mexicana Frida Kahlo, aos 29 anos, sentiu pelo comandante do Exército Vermelho Leon Trotsky, aos 58, tivesse menos a ver com sexo…