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Cadê os monarquistas para impedir que o Banco do Brasil vire Bank of America?

Criado por D. João em 1808, o banco brasileiro será rifado por Bolsonaro com a anuência dos próprios descendentes da família real

Litogravura do Banco do Brasil por Pieter Gotfred Bertichem, na rua da Alfândega, Rio,, 1854
Da Redação
20 de maio de 2019, 15h49

Em Dallas, na semana passada, Paulo Guedes, ministro da Economia do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, declarou que pretende anexar nosso Banco do Brasil ao Bank of America. “Vamos procurar fazer uma fusão entre o Banco do Brasil e o Bank of America. São bancos bons para empréstimos agrícolas. Já fizemos uma nova relação entre a Embraer e Boeing. Vamos construir empresas transnacionais. Vamos ultrapassar as nossas fronteiras na procura de melhores oportunidades econômicas”, disse o ministro, na tradução feita pela NBR.

É curioso ver como não houve nenhuma reação dos setores conservadores e ditos “patriotas” contra a intenção do ministro de transformar o Banco do Brasil, uma instituição com mais de 200 anos de história, na filial de um banco privado norte-americano. Mais espantoso ainda: como é que os monarquistas, aliados de Bolsonaro, não deram nem um pio em favor do banco criado pelo príncipe regente D. João em 1808, quando a família real se mudou para o Brasil? Por que o “príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança, deputado federal pelo partido do presidente, não defende uma instituição criada pelos seus antepassados?

Havia apenas três bancos emissores no mundo –na Suécia, na França e na Inglaterra– quando D. João decidiu fundar o Banco do Brasil. É bem verdade que, desde o princípio, os Bragança nunca tiveram muito amor pela instituição que criaram. Quando a família real retorna para Portugal, em 1821, promove um verdadeiro desfalque no banco, levando absolutamente todos os metais e joias que haviam nos cofres, deixando os clientes que confiaram suas economias à entidade literalmente a ver navios. O banco acabou fechando em 1829, mas foi recriado em 1853 pelo imperador Dom Pedro II, tetravô do “príncipe” bolsonarista atual.

É bem verdade que a família real nunca teve muito amor pela instituição que criou. Quando retorna para Portugal, em 1821, promove um verdadeiro desfalque no banco, levando absolutamente tudo e deixando os clientes literalmente a ver navios

Em julho daquele ano, Dom Pedro sanciona a Lei nº 683, que cria o Banco do Brasil, iniciativa do Presidente do Conselho de Ministros e Ministro da Fazenda, Joaquim José Rodrigues Torres, futuro Visconde de Itaboraí. Seus novos estatutos foram aprovados pelo decreto n. 1.223, de 31 de agosto de 1853, que autorizou a fusão do Banco Comercial do Rio de Janeiro, criado em 1838, e do Banco do Brasil, fundado em 1851 por Irineu Evangelista de Souza, o futuro barão de Mauá, reunindo, assim, os capitais necessários para sua abertura. É este o Banco do Brasil que Paulo Guedes quer transformar em Bank of America.

Os monarquistas parecem não estar nem aí para isso, embora durante as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff andassem pela avenida Paulista e outros pontos de encontro da extrema direita distribuindo uma “cartilha monarquista” onde se gabavam dos “benefícios trazidos pelo império ao país”, como… o Banco do Brasil, a Casa da Moeda e a Caixa Econômica Federal, outros alvos da sanha privatista de Guedes.

Detalhe da “cartilha monarquista”

Que “patriotas” são estes que não defendem o patrimônio brasileiro? Que “patriotas” são esses que aceitam ver o Banco do Brasil transformado em Bank of America? E que monarquistas são esses que não saem em defesa de uma instituição criada por seus próprios antepassados?

 


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(9) comentários Escrever comentário

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arthur em 21/05/2019 - 13h29 comentou:

pessoal, vcs não tem um podcast não? seria ótimo criar e ouvir vcs discutindo sobre variados assuntos com essa pitada ácida que tanto adoro. hahajha

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Alice Vasconcelos em 21/05/2019 - 22h59 comentou:

Todos estão surdos, cegos e loucos

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Clelton Ramos Da Rocha em 18/09/2019 - 20h51 comentou:

Por que a boa Ciência Econômica ensina que Empresas públicas são, antes de tudo, anti éticas e que instituições geridas pelo Estado são em suma ineficientes ou cabides de emprego que sugam a riqueza da população que n ganha um centavo sequer com o lucro “do patrimônio público”. O Estado n deve gerir empresas, como propõe a teoria dos direitos naturais, propostos por John Locke, o Estado nada mais deve fazer do q ser garantidor dos DIREITOS NATURAIS e n violador destes.
Por fim o patrimônio físico do Banco permanece preservado, como: prédios, Documentos etc. Espero ter ajudado.
Sinceramente, Clelton Monarquista.

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Genaro Júnior em 19/09/2019 - 06h57 comentou:

O monarquismo é uma ideologia política e não econômica. Se quem entende de economia acha melhor privatizar este banco, quem sou eu para ser contra. Aliás, o melhor ser humano é aquele o qual percebe seus próprios erros, mesmo que no ponto de partida tenha sido um ótimo acerto.

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Diego Fernandes Mendes em 19/09/2019 - 09h25 comentou:

Como monarquista, sinto-me enveegonhado pelo que está acontecendo. A família real do Brasil virou militância de um gruo filofascista que está destruindo o que sobrou do Brasil.

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    Cynara Menezes em 19/09/2019 - 16h10 comentou:

    exatamente

jonh em 19/09/2019 - 15h16 comentou:

Bom saber que a esquerda está estudando história e começando a reconhecer inúmeros benefícios que a Família Real e o império trouxeram para este país.

Mas ainda é estranho ver a esquerda anti-capitalista defendendo um banco…kkkkkkkkk

Nós, monarquistas, apesar de estarmos num movimento crescente, ainda não temos força política para nada, ainda não conseguimos sequer restaurar a nossa monarquia, imagina então impedir a união de bancos! Mas quem sabe um dia chegaremos lá que tal se a esquerda ajudasse a restaurar a monarquia no Brasil? Já imaginaram como a nossa política tornar-se-ia mais sofisticada e elegante? Trago um artigo para pensarem a respeito:
http://monarquiaagora.blogspot.com/2019/01/12-vantagens-da-monarquia.html

Ademais, há monarquistas que defendem bancos estatais e há aqueles querem privatização total. Eu, particularmente, defendo esta última. Em assuntos econômicos não há consenso ou unanimidade entre monarquistas, o que nos une é o desejo de restaurar a monarquia e ter um sistema político mais respeitoso e nobre.

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    Cynara Menezes em 19/09/2019 - 16h10 comentou:

    a esquerda sempre defendeu BANCOS PÚBLICOS. a ignorância da extrema direita é gigante

Gustavo em 20/09/2019 - 04h25 comentou:

Se os diretores do Banco do Brasil fossem monarquistas; nós é que estaríamos comprando bancos pelas 3 Américas !
Viva o império do Brasil ! Único governo que deu certo no país. Não continuem apoiando o golpe de estado republicano de 1889.

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