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13 anos depois, carne dos EUA se livrou da “vaca louca”, mas não dos hormônios (e está vindo para cá)

Ninguém lembra mais por que o Brasil e outros 14 países proibiram, em 2003, a importação de carne dos Estados Unidos. Em dezembro de 2003, o Departamento de Agricultura norte-americano confirmou o primeiro caso da chamada “doença da vaca louca” no país. Causada pela má alimentação do gado, que recebia ossos triturados de outros animais em […]

(O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, Temer e a embaixadora dos EUA assinam acordo)
Cynara Menezes
16 de maio de 2017, 10h49
(O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, Temer e a embaixadora dos EUA assinam acordo)

(O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, Temer e a embaixadora dos EUA assinam acordo liberando a carne gringa)

Ninguém lembra mais por que o Brasil e outros 14 países proibiram, em 2003, a importação de carne dos Estados Unidos. Em dezembro de 2003, o Departamento de Agricultura norte-americano confirmou o primeiro caso da chamada “doença da vaca louca” no país. Causada pela má alimentação do gado, que recebia ossos triturados de outros animais em sua ração (sendo que é herbívoro), a “vaca louca”, ou Encefalopatia Espongiforme Bovina, afeta, como o nome diz, o estado mental do animal, que deixa de se alimentar e tem de ser sacrificado.

Nos seres humanos, a doença da “vaca louca” pode causar uma desordem psiquiátrica chamada de Doença de Creutzfeldt-Jakob, com espasmos musculares, problemas nos sentidos e outros distúrbios que podem levar à morte. Em consequência da suspeita, milhares de bois e vacas foram sacrificados em vários países desde então. Mas a carne norte-americana, depois de anos banida, começou agora a se reabilitar: em agosto de 2016, Temer anunciou um acordo com os EUA liberando a importação de carne da terra de Donald Trump; na semana passada foi a vez da China, que assinou um acordo em que comprará carne norte-americana e venderá a eles frango cozido.

Houve gritaria dos ambientalistas por lá, porque há muita desconfiança sobre a qualidade sanitária da comida chinesa, com um histórico condenável de venda de carne de rato como se fosse de cordeiro e o fornecimento de carne fora do prazo de validade embalada novamente como se fosse nova. Mas o que é a saúde pública diante de um mercado de 2,5 bilhões de dólares que reabre para os pecuaristas norte-americanos na China?

Na Europa, a carne norte-americana não chegou nem a ser banida em virtude da “vaca louca”, porque já não é permitida a sua entrada lá desde 1989 por conta dos hormônios de crescimento usados para acelerar a produção da carne de gado, como o 17 beta- estradiol, o benzoato de estradiol e o Zeranol, que, segundo os especialistas da União Europeia, aumentam o risco de câncer nos seios e na próstata. No Brasil eles são proibidos.

A carne norte-americana também é pior em relação a maus tratos aos animais. Aqui, o gado utiliza pastagem e apenas uma parte é confinada antes do abate. Nos EUA, ao contrário, a maior parte da produção é realizada em confinamento, do nascimento ao abate. A expressão “vida de gado” ganha uma conotação ainda mais tristonha.

Há quem diga que a operação Carne Fraca foi feita justamente para quebrar as pernas do setor brasileiro de carne e favorecer o norte-americano, já que, no acordo fechado pelo governo entreguista de Temer no ano passado, os EUA impuseram cotas para a carne brasileira, enquanto o Brasil não impôs limites para a entrada de carne norte-americana. O governo brasileiro comemorou que a carne brasileira tenha recebido o “aval” dos norte-americanos, mas aparentemente não está nem aí para a qualidade da carne que virá de lá.

“A partir deste momento, em que temos esse status sanitário resolvido, outros países virão. A nossa vitória é poder dizer que o status sanitário brasileiro é compatível com o norte-americano”, ressaltou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Na verdade, a carne brasileira é melhor que a dos EUA. A carne norte-americana foi certificada como sem risco para a doença da “vaca louca”, mas não que esteja livre dos hormônios. A União Europeia continua a só importar apenas a carne norte-americana sem hormônios.

O problema aqui é outro: o monopólio de carne na mão de apenas três frigoríficos, prejudicando os pequenos. E não é a importação de carne norte-americana que vai mudar isso: a brasileira JBS, maior produtora de carnes do mundo, já anunciou que irá trazer para cá picanha dos EUA para um mercado “premium”, ou seja, gente que considera chique comer carne gringa.

Em termos nutricionais, é preciso que o consumidor esteja atento para a entrada da carne dos EUA no mercado. Se a carne brasileira está sob investigação pela Operação Carne Fraca, a norte-americana, cheia de hormônios, não parece mais apetitosa. A propósito, o mercado orgânico de carnes (sem hormônios e com melhores condições para os animais) é o que mais cresce nos EUA hoje.

 

 

 


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