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Carta Aberta da Fundação Darcy Ribeiro sobre a Aldeia Maracanã

Reproduzo abaixo a carta aberta da Fundação Darcy Ribeiro, que atuou como interlocutora no processo, sobre a desocupação do Museu do Índio, no Rio. Darcy foi o idealizador do museu que agora querem derrubar. “Em todos os lugares do mundo, as cidades cultuam seus monumentos, seus lugares de memória. Constroem-se equipamentos sociais como forma de […]

Cynara Menezes
24 de março de 2013, 17h32

(Índios durante a desocupação, na sexta-feira, 22 de março. Foto: Vanderlei Almeida/AFP)

Reproduzo abaixo a carta aberta da Fundação Darcy Ribeiro, que atuou como interlocutora no processo, sobre a desocupação do Museu do Índio, no Rio. Darcy foi o idealizador do museu que agora querem derrubar. “Em todos os lugares do mundo, as cidades cultuam seus monumentos, seus lugares de memória. Constroem-se equipamentos sociais como forma de valorizar a história e a cultura de seu povo. No Rio de Janeiro, o governo do Estado trabalha na contramão, desconstruindo”, critica o presidente da Fundação.

***

Por Paulo Ribeiro
Presidente da Fundação Darcy Ribeiro

A Fundação Darcy Ribeiro vem publicamente expressar o seu repúdio sobre a decisão do governo do Estado do Rio de Janeiro de interromper abruptamente o diálogo e as negociações, expulsando as diversas etnias que ocupam, há anos, o prédio do antigo Museu do Índio, conhecido popularmente por Aldeia Maracanã.

A Fundação Darcy Ribeiro foi convidada pelas lideranças que ocupam a Aldeia Maracanã para participar do processo como interlocutora qualificada junto ao Estado.

Temos, desde então, mantido contato permanente junto às lideranças das diversas etnias que habitam e circulam pela Aldeia Maracanã e com a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos no sentido de apresentarmos soluções consensuais para a destinação do prédio e acolhimento dos seus moradores.

É importante salientar que a participação da Fundar no litígio tem como princípio preservar a memória e a luta do professor Darcy e do Marechal Rondon, que em 1910 implantou ali o Serviço de Proteção aos Índios-SPI, atual Fundação Nacional do Índio- Funai, e em 1953, junto com Darcy, o Museu do Índio, reconhecido pela Unesco, como o primeiro museu do mundo a combater o preconceito e a discriminação étnica.

Por isso, causa-nos estarrecimento a ausência, em todos os momentos, da Funai, instituição que tem entre as suas atribuições, defender a causa indígena e ser representante de seus legítimos anseios. Assim também a visão do governo do Estado, que reconhece o grupo apenas como aqueles que devem ser transferidos, deslocados de um lugar para outro, e não como um grupo étnico diferenciado que reivindica não apenas o abrigo, mas, sobretudo, espaço apropriado para expressar e difundir sua cultura.

A proposta apresentada pela Comissão, composta pelas lideranças indígenas e a Fundação Darcy Ribeiro, era a de se construir um Centro de Referência Indígena no local, capaz de contemplar a história dos mais diversos grupos brasileiros, com exposição de cultura material e imaterial, servindo também como espaço para que eles pudessem se organizar, discutir e pensar coletivamente seus problemas e potencialidades.

Ao longo do processo fomos informados sobre os possíveis locais para a instalação do grupo, sempre de forma genérica nas “cercanias” da Aldeia Maracanã. Somente na quinta-feira desta semana objetivou-se, por fim, um local próximo à Quinta da Boa Vista e outras duas opções, notícia que provocou positiva expectativa no grupo. Os índios gostariam de conhecer os locais, visitá-los. No entanto, o governo do Estado, ao invés de viabilizar essas visitas, que poderiam levar a um acordo amigável, inflexibilizou o prazo de desocupação e, preferiu, unilateralmente, encerrar o diálogo, acionando a força policial.

Em todos os lugares do mundo, as cidades cultuam seus monumentos, seus lugares de memória. Constroem-se equipamentos sociais como forma de valorizar a história e a cultura de seu povo. No Rio de Janeiro, o governo do Estado trabalha na contramão, desconstruindo, tentando apagar aquilo que um dia serviu de modelo ao mundo pelas mãos do professor Darcy Ribeiro.



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(8) comentários Escrever comentário

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Renato em 24/03/2013 - 18h08 comentou:

Um grande Viva ao grande Darcy Ribeiro, cujas ideias, preservadas e mobilizadas pela Fundação, acentuam ainda mais a pequenez de alguns outros.

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JOice Mendonça Silva em 24/03/2013 - 20h44 comentou:

Em meu entendimento, querem acabar com nossa "Identidade Nacional", (se podemos assim dizer). Já vivemos em uma sociedade permeada da valorização da Cultura do "outro", onde os valores se vão….. E com essa demosntração…… se vão mesmo…..

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Luis em 24/03/2013 - 20h51 comentou:

Cabral é um vermícula.

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miro ouriques em 24/03/2013 - 22h57 comentou:

Talvez esse Governo truculento desconheça a história a dos primeiros habitantes e a importância de difundir sua cultura.

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Camila em 25/03/2013 - 16h51 comentou:

A Aldeia Maracanã do Cabral é o Xingu da Dilma.

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Ton Israel em 30/03/2013 - 19h59 comentou:

E quem termina ditando o direito à memória é o Estado mesmo. Aí entra o que acha mais conveniente. A memória dos povos indígenas é a pedra no sapado dele.

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nilton de souza em 04/10/2013 - 13h56 comentou:

itapebA

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NILTON DE SOUZA em 04/10/2013 - 13h57 comentou:

CORDEIRINHO MORAVA DARCY RIBEIRO

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