Socialista Morena
Direitos Humanos

Comissão Interamericana de DH pede ao Brasil que proteja a vida de Jean Wyllys

Alvo de ameaças, deputado vive praticamente em cárcere privado; governo deve investigar também as fake news que estimulam ataques

O deputado protegido por agente da Polícia Legislativa no corredor das comissões. Foto: Lula Marques/Liderança do PT
Da Redação
28 de novembro de 2018, 16h13

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA solicitou formalmente ao Estado brasileiro que tome medidas para proteger o direito à vida e à integridade pessoal do deputado federal Jean Wyllys e investigue as ameaças de morte e a difamação de que ele é vítima através de calúnias e fake news que aumentam sua situação de vulnerabilidade. Wyllys tem recebido ameaças de morte por email, pelas redes sociais e, durante a campanha, notou a presença de homens estranhos em suas atividades públicas.

“Há ameaças horrendas, mas a que mais me desestabilizou foi a que elencou os nomes completos dos meus irmãos e da minha mãe dizendo que, se não conseguissem me matar, matariam eles”, disse o deputado do PSOL ao site. “Tenho evitado descrever as ameaças para não dar ideia a outros psicopatas. A antropóloga Débora Diniz está exilada por conta de ameaças.”

Jean já está andando com escolta da polícia legislativa da Câmara há oito meses, desde a execução da vereadora Marielle Franco, quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, entendeu que o risco das ameaças contra o deputado era real. Mas a escolta o acompanha apenas nas atividades de trabalho.

Há ameaças horrendas, mas a que mais me desestabilizou foi a que elencou os nomes dos meus irmãos e da minha mãe dizendo que, se não conseguissem me matar, matariam eles. Tenho levado uma vida de quase cárcere privado

“Não me sinto à vontade de ir para atividades de lazer com escolta, embora eu tenha ido a algumas nos últimos meses (teatro e uma vez no cinema). Fico constrangido em estar nesses lugares com escolta. Então, tenho levado uma vida de quase cárcere privado”, queixa-se o deputado. “Mas, quando estou me deslocando pelo aeroporto, por exemplo, mesmo a presença da escolta não impede canalhas de me insultarem à distância por conta de fake news que leram a meu respeito. Tem sido muito difícil viver assim.”

No documento, a comissão considera que Jean Wyllys “se encontra em uma situação de gravidade e urgência, postos que seus direitos à vida e à integridade pessoal estão em grave risco”. Ela insta o Estado brasileiro a adotar “as medidas necessárias para proteger os direitos à vida e à integridade pessoal do senhor Jean Wyllys de Matos Santos e do seu núcleo familiar” e “informe sobre as ações realizadas para investigar os fatos que deram lugar à adoção da presente medida cautelar”.

Percebe-se nas mensagens citadas na decisão pela CIDH que todas elas são estimuladas por fake news, como por exemplo as que apontam Jean como “pedófilo” em vez de homossexual. Por isso a comissão também instou o Estado brasileiro a investigar também as calúnias disseminadas pelas redes sociais por perfis de extrema-direita que apoiam o deputado e presidente eleito Jair Bolsonaro.

Em 2015, a magistrada do TJ do Rio, Marília Castro Neves, defendeu no facebook um “paredão profilático” contra o deputado. “Jean Wyllys, embora não valha a bala que o mate e o pano que limpa a lambança não escaparia do paredão”

As ameaças partem inclusive de personagens públicos, abertamente. Em 2015, a magistrada do Tribunal de Justiça do Rio, Marília Castro Neves, defendeu no facebook um “paredão profilático” contra o deputado. “O Jean Wyllys, por exemplo, embora não valha a bala que o mate e o pano que limpa a lambança não escaparia do paredão”, escreveu a juíza, a mesma que espalhou fake news sobre Marielle e foi obrigada a se desculpar. O PSOL entrou com um processo contra ela no CNJ pelas ameaças a Jean Wyllys, mas até hoje o órgão não se pronunciou.

Outras mensagens citadas pela CIDH ameaçam diretamente matar o deputado: “eu vou matar você e toda a sua família se não renunciar ao cargo”; “você pode ser protegido, mas sua família, não”; “Jean Wyllys, vamos acabar com você e sua família. Vamos nos dedicar integralmente a isso”. Após as ameaças se estenderem a membros de sua família, o deputado mandou instalar câmeras de segurança em sua casa e na de sua mãe.

A Comissão deu ao governo um prazo de 15 dias para informá-la sobre as medidas adotadas para proteger a vida de Jean Wyllys. Leia a íntegra da decisão aqui.

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
Nenhum comentário Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

Quem paga os blogueiros “limpos”?


Há um mês, desde que anunciei a independência deste blog, tenho sido atacada sem trégua nas redes sociais por direitistas que me acusam de “receber dinheiro do governo” por conta de um convite que recebi…

Cyberia

Nova enquete: é possível ser filhinho de papai e não ser reaça?


Por causa do post dos roqueiros reaças, muita gente me pergunta: –Mas, Cynara, não é preconceito de classe de sua parte? Só porque a pessoa é rica tem que ser reacionária? Vejam bem: toda regra…