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Cultura

Daniel Pxeira, o cartunista brasileiro que ganhou o mundo pelas mãos de Demi Lovato

Cantora norte-americana se posiciona nas redes sociais contra a absurda proposta de "cura gay" utilizando palavras em português e charge de recifense radicado em Brasília

"Pensando em você hoje Brasil. Espero que esta decisão errada seja corrigida logo"
Rogério Tomaz Jr.
22 de setembro de 2017, 15h33

Como não poderia deixar de ser, toda a mídia comercial brasileira registrou em seus portais a mensagem da cantora norte-americana Demi Lovato, publicada nesta quarta-feira, 20 de setembro, contra a malfadada proposta de “cura gay”.

A ideia, encabeçada por Silas Malafaia e seus pastores amestrados, é mais uma tentativa de extrair recursos públicos (e privados) para o bilionário negócio das igrejas-empresas. Após sofrerem derrotas consecutivas no Congresso Nacional, os fanáticos –por dinheiro!– conseguiram encontrar um juiz que viabilizasse a operação.

Firme defensora dos direitos igualitários e da população LGBT, a estrela pop norte-americana –que tem 37,7 milhões de seguidores no Facebook e 49,1 milhões no twitter– se manifestou sobre o tema. “Espero que vejamos essa decisão errada corrigida em breve”, escreveu a artista, que ainda emendou um “Eu amo vcs” e usou as tags #respeito e #amor em português,

Antes da publicação da famosa militante, porém, a imagem já tinha viralizado no Brasil e converteu-se em símbolo da luta contra a homofobia. O autor da obra, entretanto, pouca gente conhece. E a grande mídia, obviamente, o ignora.

A charge original

Daniel Queiroz Galvão, o Pxeira, 42 anos, é recifense de nascimento e foi “criado na Boca do Lixo de São Paulo” (região do bairro da Luz na capital paulistana), conta, com orgulho. Brasiliense de adoção, morou ainda 10 anos em Belém, onde se apaixonou pela Amazônia e pelo seu povo. O chargista também é ator, escritor, grafiteiro, músico e sociólogo. “Mas sonho mesmo é em ser poeta”, assume Daniel, pai de dois filhos, um goiano e um candango.

Militante de direitos humanos, tem afinidade especial com a luta LGBT. “É constrangedor, é aviltante alguém passar por qualquer tipo de violência por causa da sua forma de amar”, diz.

Um dos momentos mais marcantes do seu envolvimento com o tema da diversidade sexual ocorreu em dezembro de 2012, numa audiência pública na Câmara sobre o assassinato do jornalista Lucas Fortuna, 28, destacado militante das entidades LGBT.

O crime, com motivação homofóbica, teve lugar justamente na terra natal de Daniel, a praia de Calhetas, a pouco mais de 40 quilômetros da capital pernambucana. Da audiência participaram o irmão e o pai de Lucas Fortuna, Avelino, que não demorou em abraçar a luta do filho perdido para o ódio.

A poucos metros de Avelino, que ainda guardava o luto pelo falecimento da esposa, meses antes, vítima de um câncer, Daniel se emocionou e se inspirou com a força de um pai que não demonstrava rancor ou ódio, embora a realidade o empurrasse para isso.

Muitas lágrimas e algumas horas depois daquele encontro, Pxeira lançou a campanha “Quem ama, se declara”, a partir de um texto que questionava o sentido pesado e eventualmente negativo dos termos “assumir” ou “sair do armário”. A iniciativa foi bem recebida pelo deputado Jean Wyllys, mas não empolgou muito o movimento LGBT.

Com a imagem criada para repudiar a “cura gay” foi diferente. Claramente inspirada na escultura Mão, de Oscar Niemeyer, no Memorial da América latina, a charge foi reproduzida pela presidenta Dilma Rousseff e por personalidades como Gal Costa, Pablo Vittar, Djavan, Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Karol Conca, Nando Reis, Camila Pitanga, Dani Bolina, entre outras.

“Que bom que conseguimos internacionalizar essa denúncia, já que a luta maior por igualdade, por respeito, contra a discriminação, é internacional”, comemorou o chargista, que se sentiu especialmente tocado com a reprodução da imagem pela presidenta afastada pelo golpe de 2016.

“Ela também sentiu na pele, teve a sua sexualidade atacada, foi vítima do preconceito e do ódio que o golpe está aprofundando no Brasil. Por isso fiquei muito emocionado quando vi que ela também publicou”, revelou o autor, que gravou um vídeo especial para o Socialista Morena.

Antes do “punho do amor”, outra imagem de Pxeira que viralizou foi o “Vice Vigarista”, adaptação de personagem da “Corrida Maluca” ao Brasil de Michel Temer. A obra, além de rodar meia internet, estampou cartazes em atos contra o golpe consumado em agosto de 2016 e foi selecionada para o 43º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, um dos maiores e mais tradicionais do gênero.

Em janeiro deste ano, a convite do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), Pxeira reproduziu a peça no gabinete deste, na forma de grafite. A intervenção artística foi uma resposta aos ataques do prefake João Dória à cultura de rua da maior cidade brasileira.

Rogério Tomaz Jr. é jornalista brasileiro, mora em Montevidéu e é militante de direitos humanos

 

 


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(6) comentários Escrever comentário

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Felipe em 22/09/2017 - 16h11 comentou:

Parabéns pela matéria. Todos contra a homofobia!!!

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Antonio Jacinto Indio em 22/09/2017 - 16h54 comentou:

Prezada Cynara, editora do Socialista Morena, a luta e o trabalho do nosso companheiro Daniel ganhou o mundo, e com muito orgulho, fruto da sua contribuição e de toda militância que luta por um outro mundo possível.

Parabéns!

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Jackson Filgueiras em 22/09/2017 - 22h34 comentou:

A arte sensibiliza, emociona, convida à reflexão, tira do eixo, e muito mais.
Às vezes, conhecer e ‘pessoalizar’ o artista faz isso tudo isso ganhar novas cores (por trás de uma criação há sempre uma história, algum sofrimento, luta).

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Luiz Carlos P. Oliveira em 23/09/2017 - 08h59 comentou:

O Malafaia só poderia estar por trás dessa aberração de cura gay. É mais um jeitinho para conseguirem dinheiro fácil, pois todas as falcatruas possíveis para enganar os fieis já foram feitas. Com a cura gay eles abrem novos “poços” de dinheiro fácil. Tudo em nome de Deus. Falsos moralistas que fazem qualquer coisa para ganhar dinheiro sem trabalhar, aproveitadores da fé e dos desavisados que aibda seguem esses crápulas.

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MOL em 23/09/2017 - 14h04 comentou:

Pq será que ninguém fala de quem mata cristãos por pregarem amor? Pq ser cristão dentro da igreja e muito fácil. Difícil é ir a lugares onde ninguém vai. Que por amor a Cristo, fazem sua obra. E levam o amor Dele para todas as nações. Pq também diz a palavra que Deus não faz acepção de pessoas.

Responder

    Cynara Menezes em 23/09/2017 - 18h03 comentou:

    estão matando cristãos no brasil? onde?

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