Socialista Morena
Cultura

Dicas literárias para um Natal vermelho (sexta edição)

Tão infalíveis quanto as rabanadas, tão onipresentes quanto o peru e tão indispensáveis quanto o panetone: estão saindo do forno as dicas literárias do Socialista Morena

Cynara Menezes
14 de dezembro de 2017, 11h16

Tão infalíveis quanto as rabanadas, tão onipresentes quanto o peru e tão indispensáveis quanto o panetone: estão saindo do forno as dicas literárias do Socialista Morena! Por princípio somos anticonsumistas, mas se você for gastar, que seja com livros (e quadrinhos também). Clique aqui para conferir as dicas anteriores.

Este ano a lista tem duas seções especiais, uma dedicada à Revolução Russa e outra à filósofa norte-americana Judith Butler, que visitou o Brasil e foi perseguida, para nossa vergonha, por reaças que nunca leram um livro seu. Portanto, ficam aqui as dicas para que os brucutus, quem sabe, tentem entender do que ela fala antes de sair por aí falando em “ideologia de gênero”.

A lista pode ser atualizada a qualquer momento até o Natal e também durante as férias de janeiro (para quem não foi vítima da nefasta reforma trabalhista do consórcio PMDB-PSDB e ainda tem férias). Feliz Natal e fora Temer!

HQs

Rosa Vermelha – No ano em que se comemoram os 100 anos da Revolução Russa, sai no Brasil a incrível biografia em quadrinhos de Rosa Luxemburgo, onde a escritora e desenhista Kate Evans, além de abordar a trajetória política da socialista e feminista alemã de origem polonesa, também mostra sua vida pessoal e seus amores… Kate consegue aproximar mesmo o leitor menos engajado do pensamento à frente do seu tempo de Rosa, que acabou perseguida e morta, como tantos comunistas ao longo da história. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla e apresentação de Isabel Loureiro. WMF Martins Fontes, 232 págs., R$44,90.

Carolina – A biografia da escritora negra, descoberta pelo jornalista Audálio Dantas em uma favela do Canindé em 1958, foi indicada ao prêmio Jabuti como uma das melhores histórias em quadrinhos do ano. Roteirizada por Sirlene Barbosa e desenhada por João Pinheiro, acompanha a trajetória de Carolina desde sua infância em Sacramento, Minas, até a vida sofrida em São Paulo, para onde migrou na juventude. Clique aqui para ler a entrevista de Sirlene ao site. Editora Veneta, 128 págs., R$39,90.

Angola Janga – Uma História de Palmares Marcelo D’Salete, autor de Encruzilhada e do sucesso internacional Cumbe, se preparou durante 11 anos para transformar em quadrinhos a história do Quilombo de Palmares, chamada por seus habitantes de Angola Janga (em kimbundu, “pequena Angola”). O resultado é um impactante romance histórico sobre Palmares e seus personagens: além de Zumbi, Ganga Zumba, Ganza Zona e também o algoz de Angola Janga, o bandeirante Domingos Jorge Velho. Editora Veneta, 432 págs., R$71,92.

Ghost World – O clássico de Daniel Clowes é relançado no Brasil em edição comemorativa de 20 anos. Transformado em filme por Terry Zwigoff em 2001, Ghost World conta a história de duas amigas adolescentes, as cínicas e nerds Enid Coleslaw e Rebecca Doppelmeyer, que passam o dia ironizando tudo e todos. Se você ainda não conhece os quadrinhos e humor peculiar de Clowes, comece por este gibi e com certeza nunca mais vai largá-lo. Tradução de Érico Assis. Editora Nemo, 144 págs., R$54,90.

FICÇÃO

Casei com um comunista – O norte-americano Phillip Roth nunca poderia imaginar que seu livro, lançado em 1998 em seu país natal, pudesse se tornar uma realidade no Brasil de 2017. No romance, Roth utiliza a ficcional vida de Ira Ringold, um ator de rádio meio bronco e comunista assumido, para contar a história, real, da perseguição de professores pelo macarthismo, exatamente como estamos vivendo agora aqui, com o famigerado projeto Escola Sem Partido. As semelhanças são assustadoras. Tradução de Rubens Figueiredo. Companhia das Letras, 424 págs., a partir de R$20 no sebo Estante Virtual.

Silêncio na cidade – Em 1973, a menina Ana Lídia Braga, de 7 anos, aparece morta, com sinais de violência sexual, num terreno baldio de Brasília. As investigações levam a seu próprio irmão e a filhos de políticos importantes do regime militar, entre eles Alfredo Buzaid Jr., filho do ministro da Justiça de Médici e cuja morte até hoje é suspeita. O caso, emblemático da impunidade durante a ditadura, é o ponto de partida do primeiro romance do jornalista Roberto Seabra. Na ficção, o investigador Tino Torres tem seu trabalho dificultado a todo momento por “ordens superiores”. Sintomaticamente, no facebook, saudosistas do regime militar atacaram o autor dizendo que o crime “não teve nada a ver” com a ditadura. Editora Camará, 284 págs., R$40. Pedidos pelo email [email protected].

RELIGIÃO

O Livro dos Santos – Não se deixe enganar pelo título: este livro se inscreve na tradição herética e seu autor, em outros tempos, seria excomungado. Nesta “biogafia não-autorizada”, Rogério de Campos faz, de forma sarcástica, uma compilação das frases mais escabrosas ditas ou escritas pelos santos católicos, onde exibem toda a sua misoginia, hipocrisia, crueldade e preconceitos variados. O autor sustenta, por exemplo, que são Expedito, padroeiro das causas difíceis e urgentes, nunca existiu. Nem são Francisco escapa da língua ferina de seus contemporâneos: é acusado de amar a pobreza ao ponto de “sentir inveja” dos mais pobres do que ele. Para quem venera os santos, será uma paulada. Para quem não se importa com eles, é divertidíssimo. Editora Veneta, 368 págs., R$29,95.

POESIA

Etiópia – Uma foto de seu pai na Etiópia, em 1967, é o ponto de partida para Francesca Angiolillo construir os poemas da primeira parte do livro, repleto de lembranças e relatos de família e também seus. Na segunda parte, ela viaja, em 2006, até o país africano visitado pelo pai para constatar que a terra de Haile Selassie não é a nação longínqua no espaço e no tempo da fotografia borrada, e sim que a Etiópia está em toda parte, ela é enorme/ Ela é o berço da humanidade/ Ela é a pátria não dos que têm fome/ mas dos que suportam a fome. Editora 7 Letras, 128 págs., R$38.

NÃO-FICÇÃO

“Existe índio gay?” – A Colonização das Sexualidades Indígenas no Brasil – O livro tenta responder à pergunta tantas vezes ouvida pelo antropólogo Estevão R. Fernandes enquanto pesquisava as sexualidades indígenas. Fernandes mostra como os vários povos indígenas do país aceitavam, sem maiores problemas, um conjunto de práticas às quais o colonizador viria a se opor por não se enquadrarem em seus modelos de sexualidade, moral, religiosidade ou ciência. Ou seja, a homofobia chegou nas caravelas, e por aqui ficou, assim como a heterossexualização forçada desses povos. Editora Prismas, 245 págs., R$68.

A Praga – O Holocausto da Hanseníase – Mais do que estar enfermo, ser um “leproso” era se transformar num pária diante da sociedade, ser afastado do convívio de familiares e amigos, numa estratégia de “cura” que hoje se mostra equivocada. Para vencer o medo da lepra, foi necessário vencer a palavra, substituindo-a por “hanseníase” no Brasil a partir dos anos 1960. Ao conhecer um representante das vítimas, a repórter Manuela Castro se espantou ao descobrir que existiam leprosários ativos no país até 1986. Foi reconhecido o direito à indenização pelo Estado de nada menos que dez mil pessoas. A autora recolheu depoimentos tocantes de vítimas da hanseníase e seus familiares sobre uma doença até hoje cercada pelo preconceito. Geração, 280 págs. + 20 fotos, R$42.

REVOLUÇÃO RUSSA

Dez Dias que Abalaram o Mundo – Um clássico é um clássico e, se você quer entender a Revolução Russa, este livro é o número um. O jornalista e membro do Partido Socialista norte-americano John Reed tinha 30 anos quando foi testemunha ocular dos acontecimentos de outubro de 1917. Esteve diversas vezes com o  próprio Lenin (o líder soviético inclusive escreveu a introdução da edição de 1922) e situa Trotsky como o principal coadjuvante da revolução, o que provocou a ira de Stalin, a quem cita apenas duas vezes. Você pode baixá-lo gratuitamente na rede, em inglês ou português. Há várias edições novas também, como esta da Penguin/Companhia das Letras que ilustra o post, com tradução de Bernardo Ajzenberg (504 págs., R$34,90). No sebo Estante Virtual tem a partir de R$5,50.

Minha Vida –  Escrito em 1929, quando Leon Trotsky encontrava-se no exílio em Prinkipo, na Turquia, a autobiografia do revolucionário russo traz a história de sua vida desde a infância. Publicado pela primeira vez em 1930, o livro dá a visão de Trotsky sobre as divergências surgidas entre os líderes soviéticos e que culminaram na sua expulsão do país.  Nesta edição, foi acrescentado o Posfácio à edição abreviada de Minha Vida, de dezembro de 1933, o Prefácio à edição, de 1935, publicado pela primeira vez em língua portuguesa, o Testamento de Trotsky Como aconteceu, de Natália Sedova, em que ela relata o último dia de vida do marido e seu assassinato por Ramon Mercader a mando de Stalin. Tradução Rafael Padial. Editora Sundermann, 692 págs., R$60.

Stalin  Trotsky escrevia a biografia do seu arqui-inimigo Josef Stalin, em agosto de 1940, quando foi assassinado a mando deste em sua casa em Coyoacán, México. Reza a lenda que as páginas do original ficaram manchadas com o seu sangue. Uma versão da obra, editada nos EUA a partir dos manuscritos inacabados, foi contestada durante anos pelos familiares e colaboradores do revolucionário russo por terem sido adulteradas por um tradutor inescrupuloso, até que, recentemente, uma nova edição apareceu, coordenada pelo teórico britânico Alan Woods, e que seria mais fidedigna ao original. É esta edição, baseada nos manuscritos originais em russo, que foi lançada agora no Brasil. Editora Marxista, 533 págs., R$70.

Do Czarismo ao Comunismo – Uma boa introdução, em linguagem bastante acessível, aos acontecimentos que antecederam e se sucederam a outubro de 1917 é este livrinho de Marcel Novaes. O escritor tenta explicar quais foram as circunstâncias históricas, quais as mazelas da Rússia czarista que levaram o país à grande aventura de se tornar o primeiro do mundo a mergulhar numa experiência comunista. Três Estrelas, 280 págs., R$34,90.

JUDITH BUTLER

A Vida Psíquica do Poder – Teorias da Sujeição – Neste livro, Judith Butler concilia teoria social, filosofia e psicanálise para uma análise que já estava implícita em outros trabalhos seus, como Corpos que contam: sobre os limites discursivos do “sexo” e Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. A autora se vale de Hegel, Nietzsche, Freud, Foucault e Althusser para propor uma teoria da formação do sujeito que considere a ambivalência dos efeitos psíquicos do poder social. Para ela, o poder não é entendido como algo que o sujeito “internaliza”, ao contrário: o sujeito é gerado como efeito ambivalente do poder. Ufa! Será que o Alexandre Frota irá entender? Tradução Rogério Bettoni. Editora Autêntica, 208 págs., R$49,80.

Caminhos Divergentes – Judaicidade e Crítica do Sionismo – A partir de uma urgência pessoal, Butler retoma e corrobora uma das últimas ideias de Edward Said: a ideia de que é possível forjar um novo éthos para uma solução uniestatal se considerarmos a despossessão palestina em relação às tradições diaspóricas judaicas. Butler usa as posições filosóficas judaicas para articular uma crítica do sionismo político e suas práticas de violência estatal ilegítima, nacionalismo e racismo patrocinado pelo Estado. Além de Said, reflete sobre o pensamento de Emmanuel Levinas, Hannah Arendt, Primo Levi, Martin Buber, Walter Benjamin e Mahmoud Darwish para articular uma nova ética política, que transcenda a judaicidade exclusiva e dê conta dos ideais de convivência democrática radical, considerando os direitos dos despossuídos e a necessidade de coabitação plural. Não, definitivamente não é para o bico dos reaças. Boitempo Editorial, 240 págs., R$46.

INFANTIS

Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes – Para empoderar sua menina e fazer seu menino crescer sem preconceito, o best-seller das italianas radicadas nos EUA Elena Favilli e Francesca Cavallo traz pequenas biografias de 100 mulheres extraordinárias, em todas as áreas. Estão lá desde a pintora Frida Kahlo até as irmãs tenistas Venus e Serena Williams, da rainha Cleópatra à educadora Maria Montessori. Resultado do que é considerado o maior crowdfunding da história até hoje, o livro conseguiu arrecadar 675 mil dólares para a bem-cuidada edição, ilustrada por mulheres de várias partes do mundo. A campanha para o volume 2 já alcançou mais de 800 mil dólares. Uma grande ideia e um grande livro. Tradução de Carla Bitelli, Flávia Yacubian e Zé Oliboni. Editora V&R, 210 págs., R$99,90.

 

 

 

 

 

 

 


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