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Eric Hobsbawn (1917-2012)

Morreu hoje, aos 95 anos, o historiador marxista Eric Hobsbawn. Como homenagem, algumas frases pinçadas de entrevistas do escritor: “Fui um leal membro do partido comunista por duas décadas até 1956 e portanto omisso sobre muitas coisas sobre as quais é razoável não ser omisso.” “A impotência alcança tanto os que acreditam em um capitalismo […]

Cynara Menezes
01 de outubro de 2012, 17h43

(caricatura de John Minnion)

Morreu hoje, aos 95 anos, o historiador marxista Eric Hobsbawn. Como homenagem, algumas frases pinçadas de entrevistas do escritor:

“Fui um leal membro do partido comunista por duas décadas até 1956 e portanto omisso sobre muitas coisas sobre as quais é razoável não ser omisso.”

“A impotência alcança tanto os que acreditam em um capitalismo puro, sem intervenção do Estado, de mercado, uma espécie de anarquismo burguês internacional, quanto os que acreditam num socialismo planejado e sem contaminação pela busca de benefícios privados. Ambos estão na bancarrota. O futuro, como o presente e o passado, pertencem às economias mistas, onde público e privado convivem de uma maneira ou de outra. Mas como? Este é o problema de todo mundo hoje, mas especialmente das pessoas de esquerda.”

“Se a mobilidade física é uma condição essencial de liberdade, a bicicleta provavelmente foi o maior dispositivo inventado desde Gutenberg para alcançar o que Marx chamou de realização plena das possibilidades do ser humano, e o único sem as óbvias desvantagens.”

“Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem -a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.”

“Minha convicção de ser de esquerda continua. Me posiciono fortemente contra o imperialismo e contra as forças que acham que fazem um bem a outros países ao invadi-los, e contra a tendência de pessoas que, por serem brancas, são superiores. Essas certezas eu não abandono. Mas algumas das minhas convicções mudaram. Não creio mais que o comunismo, como foi aplicado, poderia dar certo. E não sou mais revolucionário. Porém, não acho que tenha sido mau para mim e para minha geração termos sido revolucionários. Cresci na Alemanha de Hitler, sempre odiarei totalitarismos.”

“Lula fez um trabalho maravilhoso não somente para o Brasil, mas também para a América do Sul. Ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas.”

“Me fascinam os recentes avanços no estudo do DNA, que torna possível uma cronologia e um mapa da propagação da espécie humana por todo o globo. Como historiador, as duas obras inovadoras, ambiciosas que mais me impressionaram foram The Birth of the Modern World (O Nascimento do Mundo Moderno), de Christopher Bayly, uma história autenticamente global, e Framing the Early Middle Ages (Formação da Alta Idade Média), de Chris Wickham,  que deve alterar nossas perspectivas sobre o que ocorreu após a queda do Império Romano.”

“A queda das torres do World Trade Center foi certamente a mais abrangente experiência de catástrofe que se tem na história, inclusive por ter sido acompanhada em cada aparelho de televisão, nos dois hemisférios do planeta. Nunca houve algo assim. Agora, elas representam uma guinada histórica? Não tenho dúvida de que os EUA tratam o 11/9 dessa forma, como um turning point, mas não vejo as coisas desse modo. A não ser pelo fato de que o ataque deu ao governo americano a ocasião perfeita para o país demonstrar sua supremacia militar ao mundo. E com sucesso bastante discutível, diga-se.”

“Nós de fato caminhamos em direção à Era do Declínio Americano. As guerras dos últimos dez anos demonstram como vem falhando a tentativa americana de consolidar sua solitária hegemonia mundial. Isso porque o mundo hoje é politicamente pluralista, e não monopolista. Ainda assim, não devemos subestimar os EUA. Qualquer que venha a ser a configuração do mundo no futuro, eles ainda se manterão como um grande país e não apenas porque são a terceira população do planeta. Ainda vão desfrutar, por um bom tempo, da notável acumulação científica que conseguiram fazer, além de todo o soft power global representado por sua indústria cultural, seus filmes, sua música, etc.”


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(3) comentários Escrever comentário

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Lenir Vicente em 01/10/2012 - 20h27 comentou:

Toda deferência ao grande pensador!O amigo de Lula .

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João H. Venturini em 04/10/2012 - 18h08 comentou:

O esgoto do jornalismo brasileiro, a revista Veja, chamou o Hobsbawn de "idiota moral". Não dá pra acreditar e levar a sério essa revista.

Responder

Garoto do Brazil em 05/11/2012 - 18h11 comentou:

“Cresci na Alemanha de Hitler, sempre odiarei totalitarismos.”

O da União Soviética ele só foi começar a odiar DEPOIS de 1956, com o discurso do Khrushchev criticando aquele bom-moço que matou milhões e invadiu a Lituânia, Letônia e Estônia, Josef Stalin, que foi vazado pela imprensa americana e depois reconhecido por Moscou, é isso?

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