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IBGE reage a Bolsonaro: metodologia segue recomendações de organismos internacionais

Instituto desmente "informação" do presidente de que usuários do bolsa-família aparecem como "desempregados" nas estatísticas

Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
Da Redação
02 de abril de 2019, 18h46

Como previsto, em vez de apresentar algum projeto para promover o emprego, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro preferiu atacar o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que apontou um aumento no número de desempregados no país. Na última sexta-feira, o instituto informou que a taxa de desemprego trimestral, o que inclui os dois primeiros meses do governo Bolsonaro, subiu 0,9 ponto percentual em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2018. Passou de 11,6% para 12,4%, ou 892 mil desempregados a mais, totalizando 13,1 milhões de pessoas sem emprego.

“Essa metodologia, em que pese ser aplicada em outros países, não é a mais correta”, disse Bolsonaro, ao ser questionado sobre os números, em Israel. “Como é feita hoje em dia a taxa? Leva-se em conta quem está procurando emprego. Quem não procura emprego, não está desempregado. Então, quando há uma pequena melhora, essas pessoas que não estavam procurando emprego, procuram, e, quando procuram e não acham, aumenta a taxa de desemprego. É uma coisa que não mede a realidade. Parecem índices que são feitos para enganar a população.”

Bolsonaro fez questão de soltar duas iscas para assanhar os bolsominions e manipular a população, já que elas não têm rigorosamente nada a ver com a Pnad Contínua, pesquisa sobre emprego e renda do IBGE: os usuários da bolsa família e os presos que recebem auxílio-reclusão, que representam 0,1% do total de benefícios pagos pela Previdência Social no Brasil. “Quem está, por exemplo, recebendo bolsa família, é tido como não empregado. Quem recebe o auxílio-reclusão também tá tido como empregado”, disse, além de tudo fazendo a maior confusão.

Nesta terça-feira, o instituto contestou as “informações” do presidente em nota oficial. “A metodologia adotada segue as recomendações dos organismos internacionais, em especial a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o intuito de garantir a comparabilidade com outros países. A utilização de conceitos, classificações e métodos internacionais pelos órgãos de estatística de cada país promove a coerência e a eficiência dos sistemas de estatística em todos os níveis oficiais, conforme preconizam os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais”, informou o IBGE em nota oficial.

O instituto esclareceu que “os beneficiários do Bolsa Família são retratados especificamente por uma edição anual da PNAD Contínua, que investiga os rendimentos provenientes de todas as fontes” e que, ao contrário do que disse o presidente, eles não estão catalogados como “não empregados”, mas se enquadram em diversas categorias. “Em 2017, este universo abrangia cerca de 9,5 milhões de domicílios do país. Os beneficiários que vivem nestes domicílios podem encontrar-se em diferentes condições, em relação ao mercado de trabalho: desempregados, trabalhando apenas para consumo próprio, fora da força de trabalho e outros, ainda, desalentados”, afirmou o IBGE.

A metodologia adotada segue as recomendações dos organismos internacionais, em especial a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o intuito de garantir a comparabilidade com outros países

Não é a primeira vez que Bolsonaro faz críticas ao instituto. Em novembro passado, prometeu “mudar a metodologia” empregada pelo IBGE. “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa. Quem recebe Bolsa Família é tido como empregado, quem não procura há mais de um ano é tido como empregado, quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Nós temos que ter uma taxa não de desempregados, mas uma taxa de empregados no Brasil.”

Na época, o IBGE também rebateu as afirmações do então presidente eleito, assim como a própria OIT. Em duas postagens no twitter, Rafael Diez de Medina, chefe de estatísticas e diretor do Departamento de Estatísticas da OIT, se mostrou preocupado com a reação de Bolsonaro. “A OIT apoia fortemente a metodologia seguida pelo IBGE para estimar o emprego e o desemprego, seguindo padrões internacionais”, afirmou. “O sistema internacional de estatísticas estará em alerta e pronto para reagir a esses tipos de reações na Era da Pós-Verdade”, criticou. Ele acabou apagando as publicações após reclamações da embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, aquela que bateu boca com Jean Wyllys em Genebra.

Leia abaixo a íntegra da nota do IBGE.

Nota técnica sobre a PNAD Contínua

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE investiga as condições do mercado de trabalho do país a partir de uma amostra com mais de 210 mil domicílios, distribuídos por cerca de 3.500 municípios. Esta amostra é visitada, a cada trimestre, por cerca de 2 mil agentes de pesquisa. A PNAD Contínua levanta informações sobre os trabalhadores do país, inclusive aqueles sem vínculo de trabalho formal.

A metodologia adotada segue as recomendações dos organismos internacionais, em especial a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o intuito de garantir a comparabilidade com outros países. A utilização de conceitos, classificações e métodos internacionais pelos órgãos de estatística de cada país promove a coerência e a eficiência dos sistemas de estatística em todos os níveis oficiais, conforme preconizam os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais.

Segundo o IBGE, ao contrário do que disse Bolsonaro, os beneficiários do bolsa-família não aparecem apenas como desempregados, mas como trabalhando apenas para consumo próprio, fora da força de trabalho e outros, ainda, desalentados

A PNAD Contínua monitora o número de pessoas desocupadas no país, isto é, aquelas que não têm emprego e estão em busca de uma ocupação: em fevereiro deste ano, o Brasil tinha 13,1 milhões de pessoas nessa condição. Além disso, também são investigadas as diversas formas de subutilização da força de trabalho, um universo com quase 28 milhões de pessoas em diferentes situações precárias, incluindo os subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e, ainda, aqueles que necessitam e gostariam de poder buscar um emprego, mas não conseguem, por terem que cuidar de crianças ou de pessoas idosas, por exemplo. Sem mencionar os chamados desalentados, aqueles que desistiram de buscar uma ocupação. Em fevereiro último, o país tinha 4,9 milhões de pessoas nessa condição.

Os beneficiários do Bolsa Família são retratados especificamente por uma edição anual da PNAD Contínua, que investiga os rendimentos provenientes de todas as fontes. Em 2017, este universo abrangia cerca de 9,5 milhões de domicílios do país. Os beneficiários que vivem nestes domicílios podem encontrar-se em diferentes condições, em relação ao mercado de trabalho: desempregados, trabalhando apenas para consumo próprio, fora da força de trabalho e outros, ainda, desalentados.

O IBGE mantém um diálogo permanente com os diversos segmentos da sociedade brasileira na busca de um aprimoramento de suas pesquisas. O Instituto está aberto a sugestões e se coloca à disposição do governo e dos cidadãos para esclarecimentos a respeito do seu trabalho.

Rio de Janeiro, 2 de abril de 2019

 

 

 


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