Socialista Morena
Politik

Ir para Paris se tornará uma obrigação moral para Ciro se continuar apelando à baixaria

Ataques abaixo da linha de cintura feitos a Lula tornam cada vez mais complicada uma composição com o PDT se houver segundo turno

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Cynara Menezes
25 de abril de 2022, 15h14

Na semana passada, diante dos últimos números da pesquisa Ipespe, o sociólogo Antonio Lavareda publicou uma extensa análise no twitter onde afirma, com todas as letras, que é muito improvável que haja espaço para outro nome fora da polarização Lula X Bolsonaro. “Temos um governo e seu candidato firmemente ancorados em cerca de um terço do eleitorado, o que é suficiente como barreira de entrada quase intransponível para alguém da ‘terceira via’ ingressar em campo”, escreveu Lavareda num trecho da sequência.

No dia seguinte, também no twitter, o pré-candidato do PDT Ciro Gomes soltou uma sequência com pérfidas insinuações sobre Lula, que a este ponto parece ser seu principal adversário no pleito. Segundo Ciro, o ex-presidente não comentou o indulto dado a Daniel Silveira por Bolsonaro por duas razões: a primeira, porque já se julga eleito e acha que “não deve satisfação às instituições”; a segunda é que pretende indultar seus “companheiros íntimos” se voltar ao Planalto.

Poderia ter sido Bolsonaro a apelar dessa forma, mas foi Ciro –por sinal, está se tornando difícil distinguir as frases do candidato do PDT e de seus seguidores nas redes sociais do que dizem o “mito” e seus bolsominions.

Ciro, com pouca ou nenhuma chance de ir ao segundo turno mais uma vez, claramente tenta atrair Lula para o confronto, como derradeira tentativa de sair da “margem de erro” nas pesquisas. O petista já disse que pretende deixá-lo sem resposta. “Pode ficar certo que eu não vou, durante todo o processo de campanha, responder às ilações que o Ciro faz com relação a mim. O Ciro foi meu parceiro, me ajudou a governar. Se ele está falando o que está falando é porque ele acha que vai dar voto para ele. Eu não vou responder”, disse Lula, em outubro passado.

O pedetista também já atacou Dilma Rousseff, mas dela recebeu troco, ao chamar a ex-presidenta de um “aborto na História brasileira” em pleno Dia Internacional da Mulher. Segundo Dilma, Ciro “parece querer ser uma variante de Bolsonaro”.

De fato, como o atual ocupante do Planalto, Ciro tem se esmerado em chafurdar no lamaçal. Justiça seja feita, o pedetista sempre defendeu a baixaria como estratégia; portanto, nada mais coerente que as “críticas” que faz a Lula venham descambando ladeira abaixo. Em 2020, Ciro criticava o petista pelas alianças com “políticos corruptos”, por seu “neoliberalismo”, pela “proteção” dos governos do PT aos banqueiros e pela “quadrilha” que o partido se tornou, em suas palavras. À medida, porém, que a candidatura não decolava, Ciro foi baixando cada vez mais o nível dos ataques, embora se gabe de ser “o único candidato com projeto”. O “projeto” é atacar Lula?

Seria absolutamente razoável (e quem sabe mais eficaz) a Ciro se estabelecer como opção a Lula e Bolsonaro sem recorrer à baixaria. Ou gerar engajamento é a única arma possível a um candidato que se diz “de esquerda”? Qual é o limite? Falar do “kit gay”?

Em outubro de 2021, Ciro Gomes chegou a acusar Lula de ter “conspirado”, em 2016, para derrubar Dilma do cargo, sem nenhuma evidência que corroborasse isso. “Hoje eu estou seguro que o Lula conspirou pelo impeachment da Dilma, estou seguro”, afirmou o pedetista. Em março deste ano, voltou a lançar mão de teorias rocambolescas para declarar que o ex-presidente “planejou” a derrota de Fernando Haddad em 2018. “O Lula planejou o que está acontecendo no Brasil. Perder as eleições para que o povo esquecesse o escândalo da ladroeira generalizada, da corrupção generalizada, e a crise econômica mais grave do Brasil”, disse.

No mesmo mês, chamou Lula, de quem foi ministro, de “sub-Hitler”. “Querem entupir que o povo tem que votar nele (Lula) para poder não engolir o Bolsonaro. Ora, é a mesma coisa de você votar no sub-Hitler para derrotar o Hitler”, atacou. O pedetista recorreu até a uma fake news contra o petista, insinuando que Lula estaria usando um jatinho da Prevent Senior, empresa investigada na CPI da Covid-19, para viajar ao Nordeste. A própria empresa declarou que, na verdade, a aeronave havia sido alugada a preço de mercado.

Ao mesmo tempo que, desde 2018, tem insistido ser o único candidato capaz de derrotar Bolsonaro no segundo turno, Ciro patina nas pesquisas. A intenção de votos no pedetista tem oscilado entre os 5% e os 9%, tendo alcançado os dois dígitos apenas na última pesquisa Exame/Ideia, em que aparece com 10%. Pelo visto, a “chance” que ele e seu marqueteiro enxergam para sair do buraco é atacar Lula nos termos mais rasteiros possíveis. Funcionará? Até Caetano Veloso, entusiasmado eleitor de Ciro em 2018, duvida.

“Não me parece que venha a ser tão eficaz como ele e talvez João Santana pensem. E depois não me agrada a agressividade contra Lula, porque Lula é uma figura na história do Brasil que eu não consigo não admirar e não sentir afeto”, disse o cantor na entrevista de lançamento do novo disco. Outro eleitor de Ciro em 2018, o humorista Gregório Duvivier chamou, no Programão da Fórum, a estratégia atual de “horrorosa” e disse que o pedetista “tomou o veneno do rancor”.

Como candidato do campo progressista, o mínimo que se esperava de Ciro Gomes é que fizesse uma campanha limpa, de alto nível. Seria absolutamente razoável (e quem sabe mais eficaz) ao pedetista se estabelecer como opção a Lula e Bolsonaro sem recorrer à maledicência, à calúnia e às fake news. Poderia, por exemplo, dizer de que forma exatamente um governo seu se diferenciaria dos dois. Ou gerar engajamento nas redes é a única arma possível a um candidato que se diz “de esquerda”? Qual é o limite disso? Falar do “kit gay”?

Ciro Gomes fica furioso quando os petistas o acusam de ter viajado a Paris na última eleição presidencial, lavando as mãos diante da disputa entre Fernando Haddad e Bolsonaro. Mas, nesta campanha, os ataques feitos a Lula por Ciro estão tornando cada vez mais complicada uma composição com o PDT se houver segundo turno. Não é fácil simplesmente deixar de lado as diferenças quando elas deixaram de ser críticas normais a um adversário e se tornaram ataques desleais, abaixo da linha de cintura. Desse jeito, não há ambiente possível para uma composição.

Se Ciro continuar utilizando a baixaria como tática de campanha, ir para Paris deixa de ser uma simples fuga à responsabilidade para se tornar uma obrigação moral. Deixar-se guiar pelo rancor é um caminho sem volta.

 

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(3) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Bernardo Santos Melo em 26/04/2022 - 06h48 comentou:

Certamente a ética política ñ tem acento para metralhadora verbal do Ciro Gomes .
Por outro lado não opinar sobre ridículo INDULTO do Brucutu Nazista é no mínimo esperteza política de Lula .
Não há dúvida , na luta pela campanha presidencial os golpes abaixo da cintura ocorrerão , principalmente pelo MILICIANO de plantão .
Ideal seria , liquidarmos GENÔ no primeiro turno . Seja por um embate de Lula ou de Ciro Gomes contra O COISO FÉTIDO . Mas será que não há espaço civilizado para Lula e Ciro Gomes harmonizarem-se , A DEMOCRACIA combalida merece um pacto demolidor contra O ESPANTALHO e seu canalha TCHUCA .
Aguardemos pelo BOM SENSO …

Responder

ERANANDO PELUSO em 26/04/2022 - 16h59 comentou:

O candidato Ciro Gomes está absolutamente equivocado quanto aos rumos de sua campanha. Entrará pequeno e sairá menor.
Quanto à Lula não se pronunciar a respeito dos atos do “escroto do planalto”, com razão o presidente Lula. Pois é o que quer o “escroto do planalto”, fala uma bobagem, comete um desatino, e todos ficam falando por dias acerca daquilo, mas continuam falando dele. Então está certo. Não dê palanque a quem nada apresentou nos seus 4 anos de governo e nem tem a apresentar. LULA 2022.

Responder

veranise Ferreira em 27/04/2022 - 11h27 comentou:

Matéria cirúrgica, Cynara! Tenho um cunhado cirista que anda espalhando aos quatro ventos todos esses argumentos contra Lula e o PT. Tive que ouvir que o PT acabou com o Brasil por isso Bolsonaro foi eleito. Além de dizer que o PT já mandou matar dois prefeitos. Ciro Gomes é ridículo e seus seguidores estão se comportando como tal.

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

Lula decidirá entre lançar Haddad ou Josué Alencar como vice (ou apoiar Ciro)


Semana decisiva para o PT: Jaques Wagner levará a proposta ao ex-presidente nesta quinta-feira em Curitiba

Politik

Sergio Moro ficou rico com a Lava-Jato, não há o que discutir


Enquanto isso, 4,4 milhões de vagas de empregos foram perdidas com a operação, que destruiu o setor da construção civil no país