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José Geraldo: “engraçado ver imprensa cobrar ‘outro lado’ de doc sobre a Vaza-Jato”

Para o crítico, dificuldade de fazer autocrítica ou vergonha por ter feito papel de linha auxiliar tornam filme de Maria Augusta Ramos incômodo à mídia

Moro é premiado por João Roberto Marinho, da Globo, em 2014. Foto: divulgação
Da Redação
20 de junho de 2022, 17h41

O crítico de cinema José Geraldo Couto postou em seu facebook um texto curto, mas esclarecedor sobre o papel da mídia comercial em relação aos eventos dos últimos anos no Brasil. A mesma imprensa que cobriu a Lava-Jato sem nenhuma crítica, passando por cima das ilegalidades e sem checar qualquer informação que lhes era vazada por Sergio Moro, Deltan Dallagnol e companhia, agora cobra “imparcialidade” do documentário de Maria Augusta Ramos sobre a Vaza-Jato, Amigo Secreto.

“É engraçado ver a grande imprensa cobrar de Amigo Secreto, um documentário autoral, aquilo que ela própria não fez durante cinco anos: ouvir o outro lado”, escreveu Zé Geraldo. “Um filme não tem a mesma responsabilidade de um órgão de imprensa. Pode defender o ponto de vista que bem entender. Quem quiser que faça outro, apresentando outra versão. É o que vive fazendo a produtora bolsonarista Brasil Paralelo, por exemplo.”

“Criminoso é um jornal, ou uma emissora de TV, apresentar uma versão unívoca e tendenciosa dos fatos como se fosse ‘a verdade’. E ainda se vender como pluralista e apartidário. A dificuldade de fazer a autocrítica, ou a vergonha por ter feito papel de linha auxiliar da operação caça-Lula e erigido Sergio Moro em paladino anticorrupção, torna muito incômodo para essa gente o documentário de Maria Augusta Ramos”, conclui o crítico.

O documentário, da mesma autora de O Processo, estreou nos cinemas na última semana, e traz os bastidores da descoberta dos diálogos secretos dos integrantes da Lava-Jato, na cobertura jornalística iniciada pelo site The Intercept Brasil e apelidada de “Vaza-Jato”. As gravações, facilitadas por um hacker, deixaram evidente a parcialidade do juiz Moro e sua parceria com membros do Ministério Público na acusação ao presidente Lula, o que é ilegal. Os protagonistas são os jornalistas que participaram da cobertura.

“É engraçado ver a grande imprensa cobrar de Amigo Secreto, um doc autoral, aquilo que ela não fez durante 5 anos: ouvir o outro lado. Um filme não tem a mesma responsabilidade de um órgão de imprensa. Pode defender o ponto de vista que bem entender” “

Foi a revelação destes diálogos que tornou possível a anulação em abril do ano passado, pelo Supremo Tribunal Federal, de todas as condenações do petista. Mas o filme vai além, e questiona a própria operação como destruidora da Petrobras e da indústria da construção civil no país. Na crítica que publicou sobre o documentário no site do Instituto Moreira Salles, José Geraldo Couto já havia previsto que a acusação de “parcialidade” viria, e defendeu o direito da Maria Augusta, cineasta de esquerda, de escolher o caminho que escolheu, até porque esta visão dos fatos havia sido escamoteada dos brasileiros todos estes anos para justificar a prisão de Lula.

“Durante cinco anos, edificou-se na nossa mídia hegemônica uma narrativa favorável, de modo uníssono e acrítico, à atuação lavajatista, a ponto de erigir Sergio Moro em salvador da pátria e paladino anticorrupção. Se a grande imprensa, nesse período, não se preocupou em investigar e apontar as evidentes distorções e desvios de conduta da Lava-Jato e de seu personagem-símbolo, Amigo secreto toma para si o direito de construir uma alternativa a essa mitologia”, escreveu o crítico.

E não deu outra. A Folha de S.Paulo, por exemplo, apontou a “visão parcial” do documentário, como se tivesse feito a cobertura mais isenta do mundo sobre a Lava-Jato. “O filme provavelmente desapontará os que estiverem em busca de uma narrativa equilibrada. Ele adota sem ressalvas o ponto de vista dos críticos mais contundentes da Operação Lava-Jato e abre pouco espaço para visões alternativas”, diz o texto.

Por que não cobraram “imparcialidade” quando José Padilha fez O Mecanismo?

 

 

 


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Bernardo Santos Melo em 20/06/2022 - 22h34 comentou:

Globo & Cia .
A entrega do Estado Brasileiro , uma verdadeira hora da Xepa Nacional , liquidação geral . Eletrobras & Petrobras jamais brasileiras .
Privataria e Milícia .
Obedeçam ou mataremos !
Cuidado Lula , todo cuidado será pouco.
Mas que tal um samba , canta Chico !
Um sambinha esperançoso , uma brisa de poesia cantada , um vento democrático pra varrer 2022 .
Chico é pé quente , embala este povo Chico , bota essa gente pra cantar forte e tirar de nossa frente esta pestilência da morte .

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Luís Carlos Kerber em 27/06/2022 - 21h21 comentou:

É necessário ter uma diversidade maior no que é chamado de grande imprensa, como são poucas as famílias donas da grande imprensa, essa grande imprensa acabou se tornando um partido político, como partido político a grande imprensa tem lado e geralmente não é o lado da verdade, é o lado dos interesses econômicos e políticos dos donos da grande imprensa. Somente com uma Ley de Medios que regule o papel da imprensa, permitindo uma diversidade de visões de mundo que não existe hoje, que obrigue a produção de conteúdo local pelas famílias ou grupos empresariais, que impeçam o surgimento ou o funcionamento de um monopólio sobre a notícia como há hoje, que situações como essas da Lava-Jato, do impeachment fraudulento de Dilma, da eleição do genocida Bozo deixariam de ocorrer. Hoje a grande imprensa é um verdadeiro Big Brother orwelliano devido ao seu alto grau de “siamenismo”, o que se vê na sonegadora Globo é semelhante ao que se vê na Bandeirantes, que não é diferente do que se vê no SBT, na Folha, no Estadão ou Veja.

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