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Macri também pode ter usado “estratégias” da Cambridge Analytica

Câmara Nacional Eleitoral argentina abriu investigação para elucidar atuação política no país da empresa britânica que ajudou a eleger Trump

Parças. Foto: Sheilah Craighead/Casa Branca
Da Redação
01 de abril de 2018, 14h09

A Cambridge Analytica, a empresa que roubou dados de pelo menos 50 milhões de perfis no facebook para ajudar a eleger Donald Trump, também pode ter jogado um papel fundamental na vitória de outro presidente de direita, Mauricio Macri, da Argentina. A Câmara Nacional Eleitoral argentina abriu uma investigação para elucidar a atuação política da empresa britânica no país.

Em um dos vídeos gravados por um repórter disfarçado do Channel 4, Alexander Nix, o CEO da Cambridge Analytica, aparece contando sobre as técnicas de manipulação de sua “consultoria” e do trabalho que realizaram em mais de 200 eleições no mundo, citando textualmente o Quênia, a Nigéria, a República Tcheca e a Argentina. A eleição de Macri, em 2015, foi uma surpresa, porque a maioria das pesquisas o colocava bem atrás do candidato de Cristina Kirchner, Daniel Scioli.

Alexander Nix, o CEO da Cambridge Analytica, aparece contando do trabalho que realizaram em mais de 200 eleições no mundo, citando textualmente o Quênia, a Nigéria, a República Tcheca e a Argentina

Em junho de 2014, Scioli aparecia em primeiro, com 22%, e Macri em terceiro, com 16%; em setembro do ano seguinte, Scioli aparecia com 40%, em média, contra 30% de Macri; a onze dias da votação, em novembro, o candidato de Cristina ainda aparecia como vencedor, no primeiro turno, por 40% contra 25%. O atual presidente acabaria ganhando apertado, no segundo turno, por 51,34%, ante 48,66% de Scioli, ou 678. 774 votos de diferença.

Trump também ganhou apertado de Hillary Clinton, em uma vitória também surpreendente, porque as pesquisas diziam o contrário, que os democratas ganhariam raspando. E há quem defenda inclusive que Trump não ganhou, já que recebeu 337.636 votos a mais que seu opositor, o que não representa vitória pelo confuso sistema eleitoral norte-americano. Fato é que a mesma empresa que impulsionou Trump também pode ter impulsionado Macri.

O chefe de gabinete de Macri, Marcos Peña, admitiu que Nix lhe ofereceu seus préstamos profissionais, mas garante que recusou. Os “métodos” de Peña para promoção do presidente e seus aliados, porém, se assemelham muito às “estratégias” da Cambridge. A equipe de trolls de Macri, atualmente transformada em Unidade de Opinião Pública dentro do governo e gerida por Peña, é acusada pela oposição de impulsionar más notícias contra adversários, criar cortinas de fumaça e puxar o saco de defensores do governo na mídia.

O que causa desconforto até hoje é a mudança brusca no comportamento do eleitorado em 2015. Variou 20 pontos em seis meses enquanto havia uma campanha forte nas redes sociais que instalava um estado de ânimo negativo e contra o governo

Nem Macri nem Scioli admitem ter utilizado os serviços da Cambridge Analytica, mas, como ganhou a disputa, o impacto das descobertas será maior sobre o presidente. O jornalista Daniel Seifert, do site BorderPeriodismo, afirma que Nix viveu na Argentina e visitou o país com frequência a partir de 2004, “através de um hobby ideal para os negócios que interessam aos ricos e poderosos: o polo”. Fez um intenso círculo de amizades na elite Argentina e pelo menos um sócio do britânico aparece ao lado do próprio Macri.

“Ainda não há provas de que Nix tenha atuado em nenhuma campanha política. Descobrimos que Macri estava nesta fundação onde se juntavam todos os contatos dele, mas havia pessoas de todas as cores políticas”, disse Seifert à repórter Antonieta Cádiz, do portal Univision.

Sem evidências da “ajudinha” da Cambridge a Macri, o que causa desconforto até hoje é a mudança brusca no comportamento do eleitorado em 2015. “Foi variando 20 pontos em seis meses e o que houve neste momento de maneira muito marcada foi uma campanha muito forte nas redes sociais que instalava um estado de ânimo negativo e contra o governo antes da eleição”, comentou Javier Blanco, doutor em informática e professor da Universidade Nacional de Córdoba.

No início de 2015, o governo de Cristina aparecia rejeitado por 70% dos argentinos.

 

 


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Demian em 01/04/2018 - 14h44 comentou:

Olá, Cynara. Não sei se você se lembra mas até bem pouco tempo atrás (com certeza até 2017) era possível programar anúncios para atingir quem curtiu uma determinada página. Se eu quisesse direcionar um post exclusivamente para as pessoas que curtiram a página da socialista morena p.ex.. era possivel. Hoje em dia não tem como mais.

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