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Campeã em “brancura”, Faculdade de Medicina da USP aprova cotas raciais

Com apenas dois alunos autodeclarados pretos aprovados no vestibular 2016 contra 238 brancos, a Faculdade de Medicina da USP decidiu adotar parcialmente o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para o ingresso de estudantes e, com isso, terá parte de suas vagas reservada a estudantes da rede pública que se autodeclararem pretos, pardos e indígenas (PPI). […]

(Reprodução Facebook)
Cynara Menezes
03 de julho de 2017, 19h51
(Reprodução Facebook)

(Foto: reprodução Caoc/Facebook)

Com apenas dois alunos autodeclarados pretos aprovados no vestibular 2016 contra 238 brancos, a Faculdade de Medicina da USP decidiu adotar parcialmente o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para o ingresso de estudantes e, com isso, terá parte de suas vagas reservada a estudantes da rede pública que se autodeclararem pretos, pardos e indígenas (PPI). Ou seja, pela primeira vez em sua história terá cotas raciais.

A USP, como é estadual (e governada pelo PSDB), não aderiu automaticamente ao programa de cotas do governo federal, ampliado em 2012 para todas as universidades e institutos, com o voto contrário apenas do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira. O movimento negro da USP luta desde então pelas cotas raciais para que a universidade se torne mais diversificada etnicamente, já que o número de negros que ingressam é cada vez menor.

Segundo dados da Fuvest, a quantidade de alunos pretos e pardos aprovados no vestibular de 2016 da USP foi menor que em 2015: os pretos passaram de 391 para 328, e os pardos caíram de 1642 para 1427. É um movimento oposto ao que vem acontecendo desde que as cotas raciais começaram a ser aplicadas no país, em 2001. Em 2015, a revista CartaCapital entrevistou o ÚNICO aluno negro em uma sala com 100 alunos na FEA (Faculdade de Economia e Administração).

Em junho do ano passado, os estudantes pró-cotas raciais divulgaram um manifesto onde defendem que é preciso “derrubar os portões que impedem negros, indígenas e estudantes de baixa renda de estudarem na Universidade de São Paulo”. Eles também lembravam que “todas as Universidades Federais brasileiras já possuem uma política de cotas. E, pelo menos, 30 das outras 38 universidades estaduais, desde 2003, reservam vagas como parte de uma política de inclusão social.” No último dia 30 de maio, a Unicamp, que é estadual, aprovou a implementação de cotas sociais e raciais para o ingresso na universidade.

Com a aprovação pela congregação, em 2018 a Faculdade de Medicina da USP vai, pela primeira vez, utilizar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar estudantes oriundos de escolas públicas, mas o exame da Fuvest continuará a ser aplicado. A decisão ainda passará pelo Conselho Universitário (Consu). A medida prevê que, das 175 vagas do curso de medicina, 50 serão selecionadas via Sisu. Desse total, dez serão reservadas para ampla concorrência; 15 para estudantes da rede pública que se autodeclararem pretos, pardos e indígenas (PPI); e 25 vagas para candidatos que tenham feito o ensino médio em escola pública.

As outras 125 vagas serão preenchidas por meio da prova da Fuvest, sendo que os estudantes oriundos de escolas públicas que fizerem o exame poderão acessar o bônus do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp). O bônus é de 15% nesses casos. Os que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas recebem bônus adicional de 5%.

“A adoção do Sisu é uma forma de propiciar maior acesso de alunos de todo o Brasil aos cursos de graduação da Faculdade de Medicina da USP”, disse, em nota, o diretor da FMUSP, Jose Otavio Costa Auler Jr.

“O Centro Acadêmico Oswaldo Cruz considera essa vitória extremamente importante, uma vez que representa um primeiro passo para a democratização do acesso a universidade. A Faculdade de Medicina é um dos últimos cursos a aderir ao SISU, mantendo-se um dos mais brancos e elitizados de toda a USP. Esperamos que, com essa vitória, esse panorama se altere e a FMUSP se pinte de povo”, comemoraram os representantes dos alunos no Facebook.

A mudança também valerá para outros cursos da Faculdade de Medicina. Das 25 vagas ofertadas no curso de fisioterapia, três serão preenchidas por candidatos do Sisu que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas. O mesmo número será adotado na terapia ocupacional, sendo que das três vagas, uma será reservada para aluno que se autodeclarar preto, pardo ou indígena. Na fonoaudiologia, a reserva será de cinco vagas, sendo três para candidatos de escolas públicas e duas para alunos de escolas públicas que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas.

(Com informações da Agência Brasil)

 


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