Não é só a cerveja: o shoyu brasileiro também é feito de milho
No Brasil, ao contrário dos países asiáticos, o principal ingrediente do molho de soja vendido nos mercados é o milho

Por Rodrigo de Oliveira Andrade
No mundo todo, o principal componente do shoyu, condimento fundamental da culinária asiática, é a soja. No Brasil, é diferente. Aqui, muitas empresas substituem, ou trocam, a soja pelo milho. A conclusão é de um grupo de pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ambos da Universidade de São Paulo, que analisou a composição química de 70 amostras de shoyu de marcas comercializadas no país.
No Japão, China e Coreia do Sul, o molho shoyu é feito de soja com proporções pequenas de outros cereais como trigo ou cevada
Em países como Japão, China e Coreia do Sul, o molho shoyu é feito de soja com proporções pequenas de outros cereais como trigo ou cevada. “O que a indústria brasileira oferece ao consumidor não é shoyu propriamente dito, é um molho escuro e salgado elaborado a partir de milho, que deveria ter outro nome”, destaca a bióloga Maristela Morais, uma das coordenadoras do grupo, ao lado do engenheiro agrônomo Luiz Antonio Martinelli. Ambos são do Cena-USP.
Para identificar os ingredientes usados na elaboração do molho, os pesquisadores mediram a proporção de duas variantes do elemento químico carbono encontradas nas amostras. Soja, arroz e trigo são plantas que absorvem o gás carbônico da atmosfera e, sob a luz solar, realizam reações químicas que geram moléculas de açúcar contendo três átomos de carbono – é o chamado sistema de fotossíntese C3. Já o milho é uma planta de via fotossintética C4, por produzir açúcares com quatro carbonos. Esses açúcares continuam a existir nos alimentos, mesmo depois de os grãos serem processados, e funcionam como uma assinatura química de sua origem.
O que a indústria brasileira oferece ao consumidor não é shoyu propriamente dito, é um molho escuro e salgado elaborado a partir de milho, que deveria ter outro nome
Ao analisar as amostras, os pesquisadores verificaram que o milho era o principal componente do shoyu comercializado no Brasil (Journal of Food Composition and Analysis, 3 de abril). Em média, as amostras analisadas tinham menos de 20% de soja em sua composição. Acredita-se que o uso de milho na produção do condimento esteja relacionado ao preço do grão, consideravelmente mais barato que o da soja. Entre 2007 e 2017, o preço médio da soja foi o dobro do preço médio do milho no Brasil. “O uso de milho na produção de shoyu não é ilegal, já que a legislação brasileira não especifica qual deve ser a proporção de cereais usados na sua fabricação”, afirma Maristela.
Artigo científico:
MORAIS, M.C. et al. Stable carbon isotopic composition indicates large presence of maize in Brazilian soy sauces (shoyu). Journal of Food Composition and Analysis. v. 70, p. 18-21. abr. 2018.
Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.
João Junior em 25/04/2018 - 18h22 comentou:
O nome disso é fraude.
Stella em 27/04/2018 - 15h47 comentou:
A que situação chegamos? Agora quem quer consumir soja tem que comprar azeite de oliva.
Humberto Luiz Lima de Oliveira em 28/04/2018 - 16h33 comentou:
São garapas com álcool que fazem muito mal do que podem oferecer prazer. Mas, uma coisa deve ser dita, sempre foi assim. Agora é que estamos “descobrindo”, ou não?
ALEXANDRE OLIVEIRA FALCAO em 29/04/2018 - 12h50 comentou:
A utilização do milho na produção do molho shoyu nas proporções utilizadas aqui no Brasil pode não ser ilegal. Entretanto, é, no mínimo, propaganda enganosa, ferindo o direito básico dos consumidores brasileiros à informação adequada e clara sobre os produtos que consumem. Infelizmente essa é uma prática costumeira da maioria das empresas brasileiras, pois sabem que a fiscalização é falha. É Brasil! Mas temos que reverter essa situação.
Omar Dario em 29/04/2018 - 18h03 comentou:
Porra! É cerveja adulterada, leite adulterado, agora soja adulterada, e sabe mais lá o quê é adulterado. Empresário brasileiro é tudo filho da puta!
EUGÊNIO em 02/05/2018 - 20h53 comentou:
Uma vez colônia, colônia até morrer…
No Mineirão ou no Maraca — vá lá pra ver –, a patuleia entupida de Globo e Ambev entra e sai a mijar pelos corredores e ruas, quebrando mudas de árvores e vomitando seu ódio, outrora contra o time contrário, agora contra a Democracia e seus defensores.
Milho transgênico é pro povaréu, inclusive esse que paga caro pra ver um futebol de merda e pensa que não se inclui no adjetivo.
Alguém aqui pensa que a moçada bacana engole isso?
Dão lá uma passada nos supermercados chiques, cerveja e vinhos e tudo o mais o que
promete pureza está lá…
Excelentes preços e — fique tranquilo — não se vê um só preto que não esteja no devido lugar.
E que deliciosas loiras espumosas, portuguesas, espanholas, alemãs…