Socialista Morena
Politik

O fracasso do ídolo da “nova” direita brasileira: Macri quebra a Argentina

Risco-país da Argentina hoje é quase o dobro do que tinha o Brasil no auge da crise que levaria ao golpe contra Dilma Rousseff

"Ele é o cara": Bolsonaro e Macri no Itamaraty em janeiro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Martín Fernández Lorenzo
06 de maio de 2019, 17h59

Em menos de quatro anos o governo de Mauricio Macri, um dos ídolos da “nova” direita brasileira, conseguiu levar a Argentina à ruína e a um provável calote que já está batendo à porta. A revista Forbes publicou no último dia 17 de abril que o país irá repetir o default dos anos de Fernando De la Rúa (1999-2001): “Prepare-se para outro default argentino!”, alertava a publicação. Naquele dia, o dólar estava em 42,36 pesos; nesta segunda-feira está em 45,70 pesos. “A Argentina está à beira do abismo”, ecoava o Financial Times uma semana depois.

A situação começou a se agravar (ainda mais do que já estava) na terça-feira, 16 de abril, quando o governo neoliberal de Mauricio Macri divulgou o índice de inflação de março: 4,7%. Em 2016, Federico Sturzenegger, ex-presidente do Banco Central (que, não por acaso, também trabalhou para o governo de De la Rúa) havia previsto que em 2019 a inflação anual seria de 5%. Este, na verdade, é agora o índice de inflação mensal do país.

Depois do impactante número de março, que soma 11,8% em apenas três meses, anunciaram que o presidente daria uma mensagem ao povo argentino propondo novas medidas. Estava previsto que Macri falaria às 10h do dia 17 de abril e, depois de um atraso de 30 minutos, o presidente se dirigiu ao povo argentino através de um vídeo no youtube, editado e com a presença de “gente do povo” (que tinham sido visitados um ano atrás).

O pacote completo de medidas foi anunciado mais tarde pelo ministro das Finanças, Nicolás Dujovne, em uma coletiva de imprensa: o congelamento dos aumentos tarifários e de 64 produtos no mercado. Mas dos 64 itens, apenas 20 são saudáveis. Os demais são pouco nutritivos e relacionados com o aumento da obesidade na Argentina.

A notória ausência de Macri na coletiva de imprensa, e a mensagem no youtube onde se via um presidente com aparência de derrotado e continuando com o discurso falacioso de que a culpa ainda é do governo anterior, imediatamente fizeram as ações e títulos argentinos caírem 8% em Wall Street.

O pacote ridículo de medidas, que foi chamado de “plano de alívio”, não enganou ninguém. O salário das pessoas não consegue chegar ao final do mês há tempos e todos os dias há mais aposentados que afirmam que só podem comer uma vez por dia.

– Como a senhora faz para chegar ao final do mês, malabarismos?, pergunta a jornalista a uma mulher aposentada.
– Não, querida, como uma vez por dia.

Casos como este se multiplicam a cada dia. Na semana passada, uma mulher aposentada tentou tirar a própria vida se jogando nos trilhos do metrô por não ter o mínimo suficiente para comprar remédios ou comida.

O suposto pacote de medidas seria implementado a partir de segunda-feira, 22 de abril, mas foi transferido para segunda seguinte, dia 29. Após o anúncio fracassado, a economia foi novamente abalada. O dólar subiu 1,6%, para o valor de 43,69 pesos, e o risco-país atingiu o pico mais alto em quatro anos, 858 pontos, fechando em 846. As ações argentinas em Wall Street caíram 7%. Em 2018, a Argentina foi o país em que o risco-país mais cresceu na região, superando folgadamente a Venezuela. Com a nova desvalorização, o pacote de medidas “congeladas” modificou novamente seus preços. Um vexame.

Depois de uma terça-feira (23 de abril) de aparente calma, o risco-país subiu para 868, mas a tempestade voltou no dia seguinte, quando o dólar alcançou os 44,92 pesos e o risco-país 963 pontos. As ações argentinas em Wall Street baixaram 13,6%. Quando questionado sobre a crise, o presidente declarou: “O risco-país aumenta porque o mundo acredita que os argentinos querem voltar atrás”, uma clara alusão ao retorno de Cristina Kirchner, à frente em todas as pesquisas.

Em 2018, a Argentina foi o país em que o risco-país mais cresceu na região, superando folgadamente a Venezuela. Chegou a 1.006 pontos, enquanto no Brasil de Dilma, em 2015, era de 539,40

A crise e a incerteza tornaram-se uma questão cotidiana. Na quinta-feira 25 de abril o dólar superou o recorde de 47,51 pesos e o risco-país chegou a 1.006 pontos, respectivamente. Para ter uma comparação, no auge da crise que levaria ao golpe contra Dilma, em 2015, o risco-país chegou a 539,40. Macri quase dobra o índice. Com a intervenção do Banco Central, houve um declínio. O dólar fechou a sexta 26 de abril em 46,13 e o risco país em 944 pontos. As ações em Wall Street caíram novamente 9,8%.

Não é que a equipe econômica de Macri (chamada por ele de “a melhor equipe dos últimos 50 anos”) tenha se equivocado. Suas ações foram propositais. Não se entende como o ministro das Finanças Dujovne “errou” em 32 pontos a projeção inflacionária de 2018 (de 15,7% para 47,6%) e permanece no cargo. Para 2019, projetou 23% ao ano. Nos primeiros cinco meses se alcançará esse número. Mentem de um jeito nunca visto antes.

Não se entende como o ministro das Finanças “errou” em 32 pontos a projeção inflacionária de 2018 (de 15,7% para 47,6%) e permanece no cargo. Para 2019, projetou 23% ao ano. Nos primeiros cinco meses se alcançará esse número

Nesta última semana, numa tentativa desesperada de conter o dólar, o FMI autorizou o Banco Central a usar as reservas para continuar o assalto ao Estado, e os juros chegaram ao patamar mais alto desde o ano de 2002: 74%. Com isso o, risco-país teve a queda mais importante, de 38 pontos, e ainda assim ficou em 926.

“Coincidentemente”, na semana em que o dólar e o risco-país alcançaram valores históricos, se ampliaram os processos judiciais sobre Cristina Fernandez de Kirchner. E o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, se juntou aos que a atacam, dizendo estar “preocupado” que a Argentina se torne “uma nova Venezuela”, como se a fome e a miséria já não tivessem chegado ao país com Macri.

Uma coisa está clara: o povo está passando fome e a ponto de explodir. Se tentarem fazer com Cristina o que fizeram com Lula, será a faísca que falta para que todas as ruas sejam tomadas e que se incendeiem. Recordemos que a popularidade do presidente no contexto atual é nula. Macri é um presidente que não pode discursar em público em nenhuma cidade do país. Nenhuma.

Se sua solução é aprisionar aquela que lidera amplamente as pesquisas, o resultado poderá ser uma explosão social com consequências incalculáveis.

 


Apoie o autor

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

(3) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

José Roberto Alonso em 06/05/2019 - 18h31 comentou:

O que esperamos é que povo argentino vá para as ruas,como sempre fez, e não se comporte como se comportaram os brasileiros no impeachment da Presidenta Dilma Rousseff e na prisão política do ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Responder

João Junior em 06/05/2019 - 20h23 comentou:

Estamos vendo o futuro do Brasil em breve. Sejamos fortes.

Responder

Pedro em 10/05/2019 - 16h14 comentou:

Acho que não precisa de muito mais para se entender que o mundo precisa ser mudado urgentemente. Outro mundo, sim, é possível. O que não é mais possível é o atual.

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Feminismo

Rosário pede proteção à Câmara e à PF contra ameaças e insultos de Bolsominions


Assediada cotidianamente por seguidores do deputado Jair Bolsonaro há quase 15 anos, a deputada petista clama por providências. E agora, a PF finalmente vai fazer alguma coisa?

Politik

9 coisas que não existiriam mais se a esquerda acabasse, como quer a direita


O que aconteceria se em nosso país só existisse o pensamento de direita?