Socialista Morena
Feminismo

O lugar que a extrema-direita quer para a mulher. Ou: fotografaram o patriarcado

Nos anos PT, tínhamos uma mulher sentada na presidência da República; nos anos Bolsonaro, lugar de mulher é no colo do marido

O deputado Amauri Ribeiro com a esposa no colo. Foto: reprodução
Cynara Menezes
04 de fevereiro de 2019, 16h16

A imagem que causou furor nas redes sociais no final de semana tinha como protagonistas o deputado estadual Amauri Ribeiro, do PRP, aliado do governo Jair Bolsonaro, e a esposa, Christiane, sentada em seu colo em plena Assembleia Legislativa de Goiás durante a posse dos novos parlamentares. Segundo Ribeiro disse depois, ele teria colocado a mulher sobre as pernas para ceder espaço a uma senhora. Que seja. O simbolismo da cena com a visão que a extrema-direita tem da mulher é inegável.

Até bem pouco tempo atrás tínhamos uma mulher sentada na cadeira da presidência da República. Hoje temos uma mulher sentada no colo do marido deputado. Fato. Em menos de três anos, decaímos de existir no Brasil uma mulher protagonista mundial, entre as mais poderosas do planeta, para a posição subalterna de primeira-dama nos anos Temer e Bolsonaro. Lugar de mulher é a reboque (no colo?) do homem, é essa a mensagem que a foto traz. Fotografaram o patriarcado.

Ribeiro justificou depois que ele teria colocado a mulher sobre as pernas para ceder espaço a uma senhora. Que seja. O simbolismo da cena com a visão que a extrema-direita tem da mulher é inegável

Detalhe: o político que colocou a mulher no colo foi acusado pela própria filha, em 2015, de espancá-la, quando era prefeito de Piracanjuba (GO). “Tenho três filhas e me acho um bom pai, não bato, no máximo dou um tapa na boca, não sou de espancar meus filhos nem muito menos minha esposa. As fotos são verdadeiras, minha filha tomou um corretivo, e não me arrependo”, disse Ribeiro na época. Ele também declarou que não se arrependia de ter colocado a mulher no colo.

Na extrema-direita, o tipo de mulher que se senta no colo é bem-vinda, assim como são bem-vindas as parlamentares mulheres que herdaram seus mandatos de maridos e pais; são bem-vindas as mulheres que atacam o feminismo; e são bem-vindas as mulheres que se tornam inimigas das outras para agradar os homens. Mulher que recusa se prestar a este papel é xingada, caluniada, agredida. Quem não lembra o que fizeram com Dilma por ousar ser uma mulher que não aceitava ser subjugada por ninguém?

Dilma foi xingada de tudo quanto é palavrão, sempre relacionados à sua condição de mulher: “vaca”, “puta”, “gorda”, “quenga” . Zombaram dela em incontáveis vídeos, como se fosse burra. Chegaram a confeccionar um adesivo em que a presidenta do Brasil aparecia de pernas abertas para colocar no tanque de gasolina do carro. Empossada para seu segundo mandato, Dilma foi comparada a um bujão de gás pela forma como estava vestida –inclusive por mulheres. O patriarcado não admite mulher que não senta em colo de homem.

Na extrema-direita, o tipo de mulher que se senta no colo é bem-vinda, assim como são bem-vindas as parlamentares que herdaram os mandatos de maridos e pais; e são bem-vindas as mulheres que atacam o feminismo

Agora temos uma ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (sic) que defende que a mulher não trabalhe fora, que fique em casa para cuidar dos filhos e que tenha um marido que “lhe encha de joias”. De preferência sentando no colo do sinhô no final da tarde, quem sabe? Temos um presidente que se refere à própria filha, única mulher, como resultado de uma “fraquejada”. E que não se furtou em chamar para sua equipe de transição um homem com três denúncias na Maria da Penha nas costas.

A definição que Marcella Temer deu a si mesma é quase uma regra de como a extrema-direita quer a mulher: “bela, comportada e do lar”. A mulher que não se enquadrar neste perfil nos anos Bolsonaro será submetida a todo tipo de violência verbal, virtual e real. O exemplo vem de cima. E o exemplo que estão dando é que mulher só serve se sentar, quietinha, no colo do marido, concordando com tudo o que ele diz. Senão…

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(9) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Stavros Argonopoulos em 04/02/2019 - 19h08 comentou:

Ele cedeu o lugar para que uma idosa pudesse sentar e daí a mulher ficou no colo. A explicação já existe, favor não julgar sem antes pesquisar a respeito

Responder

    Cynara Menezes em 04/02/2019 - 22h48 comentou:

    isto está escrito na abertura do texto. certeza que você leu?

William em 05/02/2019 - 07h38 comentou:

Esposa, provavelmente vc não tenha visto aquela senhora, sendo assim vc gostaria de sentar no meu lugar? Eu fico em pé sem problema algum…

Mas nao, ele preferiu o jeito clássico dos anos 80…

Responder

Renato em 07/02/2019 - 19h08 comentou:

Bom tirando a causa nobre do fato, achei que foi uma demonstração de carinho do homem com a mulher.
Ou até nisto vcs irão implicar?

Responder

Fabio Francisco Ramos em 02/04/2019 - 21h49 comentou:

Impressionante como a mente de vocês é limitada, deviam se preocupar com coisas que realmente denigrem a imagem da mulher como, por exemplo, o que a globo fez hoje na sua nova novela , defender a ideia de as mulheres mostrarem os peitos e em praça pública é uma forma de defender seus direitos.

E quanto a Dilma, quando é que vai entrar em suas cabeças “brilhantes” que ela foi constitucionalmente retirada do poder por causa de INCOMPETÊNCIA e não pelo fato de ser mulher?

Responder

    Cynara Menezes em 03/04/2019 - 10h57 comentou:

    “denegrir” é uma expressão racista

Júlia Barbosa em 22/05/2019 - 18h07 comentou:

Texto muito bom!

Responder

Júlia Barbosa em 22/05/2019 - 18h11 comentou:

As mulheres mostrarem os peitos em praça pública é uma afronta à sociedade patriarcal que impõem regras de pudor ao seus corpos, é uma mensagem – aos conservadores de plantão – que diz que só as próprias mulheres que vão decidir o que vai ou não ser mostrado. E, sim, “denegrir” é uma expressão muito racista. *Resposta ao Fábio Francisco.

Responder

Jorge Torres em 19/02/2020 - 11h30 comentou:

Me engana que eu gostio!
Conversa pra boi dormir. Qualquer indivíduo que tiver dois neurônios e um deles pode estar meia boca, se olhar para a prova do crime, digo, para a foto, verá que ao lado do deputado e de sua recatada e do lar, não há nenhuma senhora idosa, mas dois barbados sentados. Mas né, tem gente que se sente melhor sendo enganada. Tem bolsominions que vão encontrar justificativa pra tudo, mesmo onde não há. Por isso são minions.

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Trabalho

O dia em que um bando de vigaristas destruiu os direitos de milhões de…


Por Katia Guimarães* As bravas mulheres da oposição bem que tentaram: protagonizaram o ato político mais surpreendente dos últimos tempos na tentativa de barrar a aprovação da macabra reforma trabalhista defendida pelo governo Temer. Por…

Politik

Os cascões e cebolinhas cresceram e viraram uns machistinhas gordofóbicos (com o apoio das…


Sempre fui fã de Mauricio de Sousa e de seus personagens. Mas ando relendo seus gibis com outros olhos, olhos do século 21. A maioria das trapalhadas da Turma da Mônica continua hilária. É impossível,…