Socialista Morena
Cultura

Para Gostar de Ler: mini-entrevista divertida com Clarice Lispector

Na coleção que marcou a infância e adolescência de muitos estudantes, um bate-papo com a escritora

Clarice Lispector em 1961 por Claudia Andujar
Cynara Menezes
10 de fevereiro de 2014, 18h27

Quando eu era adolescente, nos anos 1980, fazia sucesso entre os estudantes a coleção Para Gostar de Ler, da editora Ática. Naquela época se valorizava muito o texto curto, a crônica; hoje, ao contrário, me parece subvalorizado, o que é uma pena. A pessoa não precisa começar por um catatau de 500 páginas! Acho que para transmitir o gosto pela leitura vale a máxima “devagar se vai ao longe”.

Ao lado de Monteiro Lobato e José Mauro de Vasconcelos, aquelas crônicas e contos do Para Gostar de Ler foram bastante responsáveis por minha paixão pela literatura… E eis que neste fim de semana, numa feira de troca de livros, acabei levando o volume 9 da coleção, com contos de Clarice Lispector, João Antônio, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Moacyr Scliar, Murilo Rubião e Wander Piroli. Que livrinhos bacanas aqueles. Deu vontade de reler todos.

Cada volume traz uma pequena entrevista com o autor, e no meu tem uma hilária com Clarice Lispector (1920-1977), que sempre aparece tão séria nas fotos, né? Mas tinha senso de humor, uma qualidade imprescindível. Não existe, para mim, pior tipo de gente do que os mal-humorados. Confiram as perguntas e respostas de Clarice.

– Qual é sua origem?

– Nasci na Ucrânia, numa aldeia que não existe no mapa, Tchetchelnik, e vim com dois meses para o Brasil, para o Recife. Minha primeira língua foi o português. Muitas pessoas pensam que eu falo com sotaque por ser russa de nascimento. Mas é que eu tenho a língua presa. Há a possibilidade de cortar, mas meu médico falou que dói muito. Tem uma palavra que eu não posso falar, senão todo mundo cai para trás: aurora.

– Como começou a se interessar por histórias?

– Antes de aprender a ler e a escrever, eu já fabulava. Inventei junto com uma amiga minha, muito passiva, uma história que nunca terminava, porque quando eu dizia: “Então todos estavam mortos”, ela replicava: “Não tão mortos assim”. Então eu continuava a história.

– Cada escritor tem o seu jeito de escrever. Qual o seu?

– Eu trabalho do modo mais esquisito do mundo: sentada numa poltrona, com a máquina no colo. Por causa de meus filhos. Quando eles eram pequenos, eu não queria que tivessem uma mãe fechada num quarto a que não pudessem ter acesso. Então eu me sentava no sofá, com a máquina no colo, e escrevia.

– Em que você se baseia para escrever os seus textos?

– Meus romances, meus contos me vêm em pedaços, anotações sobre as personagens, tema, cenário, que depois vou juntando mas que nasceram de uma realidade interior, vivida ou imaginada, sempre muito pessoal.

– E os livros? Quando começou a se interessar por eles?

– Quando eu era criança, durante muito tempo pensei que os livros nascessem como as árvores, como os pássaros. Quando descobri que existiam autores, pensei: também quero fazer um livro.

 

 


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(9) comentários Escrever comentário

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Josué Rowstock em 10/02/2014 - 21h01 comentou:

Tem uma entrevista dela em que ela diz as mesmas coisas que está escrito, é uma entrevista muito bacana que tem no Youtube. Eu também concordo com você que devagar se vai ao longe no que diz a literatura, também comecei devorando livros pequenos e hoje em dia costumo ler muito! ótimo post. Beijos

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Ariane Modesto em 11/02/2014 - 14h56 comentou:

Muito legal!

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Cayero em 11/02/2014 - 16h01 comentou:

Olá!

.
Estes livros e autores que cita, também fizeram parte de minha iniciação no universo do livro e da leitura.
.
A entrevista da Clarice é uma grata surpresa e ainda não conhecia.

Tomei a liberdade de reproduzir este artigo em um blog sobre livros e leitura do qual participo, com um link para esta página.
.
Esperamos que não tenha objeções. Se sim, o nosso endereço é: http://blogdolinho.blogspot.com
.
Um abraço

Responder

    morenasol em 12/02/2014 - 15h32 comentou:

    imagina. basta dar o crédito, obrigada

Rodrigo SB em 12/02/2014 - 12h44 comentou:

Os reaças adoram "A Hora da Estrela", sabia disso? (Pelo menos os mais inteligentes, que já leram) Por causa da visão que o narrador tem do nordestino…

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Ita em 18/02/2014 - 16h44 comentou:

A Diva da literatura brasileira. Adoro!!!!!

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Maria Vittória em 21/02/2014 - 02h06 comentou:

Cynara, sou de 92 e peguei a epoca dessa coletanea!! adorava!!! Clarice como sempre maravilhosa!

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Risomar Fasanaro em 22/12/2014 - 12h56 comentou:

Pra mim, a melhpor entrevista de Clarice está no livro "Clarice- Outros Escritos", em que ela foi entrevistada por Afonso Romano de Sant'Anna, Marina Colasanti e João Salgueiro. Nessa ela conta muita coisa, muitaas das quais eu nunca tinha ouvido falar.
Essa entrevista foi dada ao MIS, mas já tentei localizá-la no site do museu e não consegui, não pude acessá-la. Mas tenho no livro.

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Rosangela em 27/02/2015 - 19h08 comentou:

Oi pessoal, meu nome é Rosangela e quero desenvolver um trabalho sobre o livro de Altay Velloso chamado Ogundana, será que alguém tem esse livro? Não encontro em nenhuma livraria.

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